A viagem pela Rodovia dos Bandeirantes foi um testamento de silêncio e tensão. A Hilux rasgava a noite como um predador de metal, isolando-nos do mundo exterior, mas prendendo-nos uns aos outros numa bolha de segredos não ditos. No banco de trás, eu observava a nuca do meu pai e o perfil iluminado pelos faróis da minha mãe. O cheiro de couro novo do carro se misturava ao perfume de jasmim dela — que agora me parecia enjoativo, mascarando o odor de sexo e traição que eu testemunhara na suíte — e ao aroma de sândalo e tabaco dele.
Ricardo dirigia com uma mão, a outra repousando casualmente sobre a coxa da minha mãe. A cada quilômetro, o aperto dos dedos dele na carne dela parecia reafirmar a posse. E ela aceitava. Ela, que mancava e arrastava a perna por causa da brutalidade dele, sorria para a estrada.
Eu estava preso num paradoxo que ameaçava rachar meu crânio. Eu queria proteger a "mãe" que foi humilhada pela irmã no passado, mas eu odiava a "fêmea" que mentiu para mim sobre a exclusividade do seu corpo. E esse ódio... Deus, esse ódio estava se acumulando no meu baixo ventre, duro, quente e pulsante.
Quando os pneus morderam o cascalho da entrada da "Chácara Oásis", o relógio marcava quase nove da noite. O calor do interior de São Paulo era opressivo, úmido, carregado com o som ensurdecedor das cigarras que pareciam gritar em uníssono. O cheiro de terra molhada, esterco distante e cloro de piscina nos atingiu assim que as portas se abriram.
E lá estava ela. A causa e a consequência de tudo.
Tia Marina estava parada no topo da escadaria da varanda colonial, banhada pela luz amarela dos refletores. Se a minha mãe era a beleza clássica e (supostamente) frágil, Marina era a pornografia personificada. Aos 42 anos, ela era uma afronta à decência. O inventário físico dela era uma arma de guerra: cabelos num tom de loiro-mel, cortados num long bob assimétrico e impecável; um rosto de traços felinos, maçãs altas e lábios carnudos pintados de um nude brilhante.
Ela usava um vestido de seda verde-esmeralda, fluido e perigosamente fino. Não usava sutiã. O tecido aderia aos seios fartos e empinados, os mamilos marcando a seda como dois botões de alerta. A cintura de 65cm era realçada por um cinto dourado, e os quadris largos — aqueles quadris que minha mãe dizia serem "vulgares" — balançavam com uma promessa de ruína.
— Finalmente! — A voz dela era aveludada, arrastada, carregada de um sarcasmo que mirava direto na jugular da minha mãe.
Marina desceu os degraus. O cheiro dela chegou antes: Baccarat Rouge 540. Açafrão, âmbar e uma doçura metálica que revirou meu estômago e endureceu meu pau ao mesmo tempo.
Ela abraçou a Ana. Foi um abraço de cobra constritora. — Ana, querida... — Marina se afastou, os olhos âmbar descendo para as pernas da irmã. — Você está andando de um jeito estranho. Problemas na coluna de novo? Ou o Ricardo andou "exigindo" demais da esposa troféu?
Minha mãe empalideceu, segurando o braço do meu pai com força. O mancar dela — a marca que o Ricardo fizera questão de aprofundar antes de sairmos — era a isca que a Marina estava esperando. — Só a viagem, Marina. O trânsito estava horrível — Ana mentiu, a voz trêmula.
Ricardo sorriu. Foi um sorriso mínimo, quase imperceptível. Ele estava adorando. — A Ana sabe cumprir seus deveres, Marina. Em todos os cômodos — ele disse, com uma ambiguidade que fez a Marina lamber os lábios.
Então, ela se virou para mim. — E você, Fernando... — Os olhos dela me dissecaram. Não era o olhar de uma tia. Era o olhar de uma comerciante avaliando uma peça de carne nobre. — Você cresceu. Está mais largo. Mais... perigoso.
Ela tocou no meu peito. A mão dela estava quente, as unhas longas e pintadas de vermelho-sangue arranharam levemente minha camisa de linho. Eu não recuei. O ódio pela minha mãe (pela mentira do espelho) me fez querer usar a Marina para ferir as duas.
— Oi, tia — respondi, a voz rouca. Não desviei o olhar.
Matheus, meu primo, surgiu das sombras da varanda. Ele era o meu reflexo distorcido: pálido, ombros caídos, segurando uma bandeja de drinks como um garçom glorificado. A dominância da mãe o havia castrado. Ele sorriu para mim, um sorriso amarelo e fraco. — E aí, primo.
Ricardo colocou a mão no meu ombro, apertando o músculo trapézio com força. — Vamos entrar. Tenho certeza de que a Marina preparou um espetáculo para nós.
O jantar foi servido na varanda dos fundos, com vista para a piscina iluminada de azul e para a escuridão da mata atlântica que cercava a propriedade. O vinho tinto — um Malbec pesado — corria solto.
A dinâmica à mesa era um campo minado. Marina sentou-se de frente para mim, ao lado do Ricardo. Ana estava à minha esquerda, ao lado do Matheus.
A cada garfada, Marina lançava uma farpa. — Lembra daquele verão em Angra, Ana? Quando você torceu o tornozelo porque tentou correr atrás do Lucas? — Marina riu, girando a taça de vinho. — Você sempre foi tão... desajeitada com os homens que gostava.
Ana baixou os olhos para o prato. Eu vi a mão dela tremer. — Isso foi há vinte anos, Marina. Esqueça.
— Como esquecer? — Marina se inclinou sobre a mesa, o decote se abrindo perigosamente, revelando o vale profundo e suado entre seus seios. — Foi o verão em que você aprendeu o seu lugar, não foi?
Senti o pé de alguém roçar na minha canela por baixo da mesa. Subiu pela minha panturrilha, passando pelo joelho, indo em direção à minha coxa interna. Olhei para a Marina. Ela mantinha o contato visual, os lábios entreabertos, sugando um pedaço de carne malpassada com uma obscenidade calculada.
Meu sangue ferveu. Eu olhei para a minha mãe. Ela estava encolhida, vítima. Mas então, lembrei do espelho. Lembrei dela gemendo "É seu, Ricardo" enquanto o pai a destruía. Será que ela era vítima mesmo? Ou será que ela gostava dessa humilhação pública tanto quanto gostava da privada?
— O calor está insuportável — Marina disse de repente, empurrando o prato. — A adega subterrânea deve estar mais fresca. Fernando... — ela sorriu, um convite explícito. — Preciso de alguém forte para me ajudar a trazer mais uma garrafa daquele Barolo que seu pai gosta. O Matheus tem medo de descer lá. Diz que tem aranhas.
Matheus baixou a cabeça, humilhado.
Eu olhei para o meu pai. O "Rei". Ele limpou a boca com o guardanapo de linho, tomou um gole de uísque e me olhou. Os olhos dele brilhavam com a inteligência fria de quem escreveu aquela cena. — Vá, Fernando. Ajude sua tia. Ela precisa de um homem que não tenha medo do escuro.
Era a permissão. Era a ordem. Vai lá e destrói.
Levantei-me. Minha mãe tentou segurar meu braço. — Nando, não demore... — ela sussurrou, os olhos implorando por proteção.
Mas eu vi, por um milésimo de segundo, a dilatação nas pupilas dela. Ela estava excitada. Ela sabia o que ia acontecer. Ela queria que acontecesse para poder sofrer depois.
Soltei meu braço com um puxão brusco. — Eu sei me cuidar, mãe — respondi, frio.
Segui a Marina pelo jardim. O cheiro de dama-da-noite era sufocante. Ela caminhava na minha frente, o quadril balançando num ritmo hipnótico, o vestido de seda colando nas nádegas suadas. Ela sabia que eu estava olhando. Ela sabia que eu estava furioso.
A entrada da adega ficava num anexo de pedra, perto do antigo estábulo. Assim que entramos, o ar mudou. Ficou frio, cheirando a terra, mofo e vinho envelhecido. Ela acendeu uma luz amarela fraca que apenas criava sombras longas nas paredes de pedra bruta.
Marina se virou. O sorriso dela sumiu. A máscara da tia socialite caiu, revelando a predadora faminta. — Você me olhou o jantar inteiro, Fernando. Com esse ódiozinho nos olhos. — Ela se aproximou, o cheiro de Baccarat me invadindo. — Você acha que me odeia porque ama a sua mãe. Mas você não sabe de nada.
— Eu sei que você é uma vadia que tentou destruir a vida dela — rosnei, prensando-a contra uma estante de vinhos. As garrafas tilintaram.
Ela riu. Não foi uma risada nervosa. Foi uma risada de escárnio. — "Destruir a vida dela"? — Ela colocou as mãos no meu peito, descendo para o meu cinto. — Sua mãe te contou a história da estufa, não contou? O aniversário de 18 anos. A pobre Ana vendo a irmã má roubar o namorado.
— Cale a boca.
— Ela te contou que ela filmou? — Marina sussurrou, e a revelação foi como um soco no estômago. — Ela te contou que ela ficou na janela, assistindo, com a mão na calcinha, enquanto o Lucas me fodia? Ana não é uma santa, Fernando. Ela é uma voyeur. Ela gosta de ver a dor. Ela precisa de monstros como eu e seu pai para se sentir viva.
Minha mente girou. A imagem do espelho voltou com força total. Ana olhando para mim enquanto era fodida. Ela gosta de ver. Ela gosta de ser vista. A dúvida se instalou como um câncer.
Mas o ódio... o ódio paradoxalmente aumentou. Eu odiava a Marina por dizer a verdade (se fosse verdade) e odiava a Ana por ser quem era. E a única saída para essa pressão insuportável era a violência.
— Você fala demais, tia — falei, e a minha voz não era mais minha. Era do Ricardo.
Agarrei o pescoço dela. Não com carinho. Com força de estrangulamento. Ela engasgou, os olhos arregalados de surpresa e excitação. — Nngh... Fernando...
Girei o corpo dela com brutalidade, jogando-a de bruços sobre uma mesa de carvalho maciço usada para degustação. O vestido de seda verde rasgou quando eu o puxei para cima, expondo a lingerie preta de renda — vulgar, cara, convidativa.
— Você quer um homem, Marina? — gritei, abaixando minha calça com mãos trêmulas de raiva. — Você quer provar que pode ter o filho da Ana? Então toma.
Eu não pedi permissão. Eu não usei lubrificante. Eu cuspi na minha mão, passei no pau duro como pedra e mirei no ânus dela.
— Não! Espera... é muito gran... AAAARGH!
Eu a empalei. Entrei com uma estocada única, cruel, de quem quer ferir. O grito dela ecoou na adega, um som gutural de dor que se transformou num gemido quebrado quando eu a preenchi completamente.
Pah! Pah! Pah!
Comecei a estocar com uma cadência de extermínio. Eu batia meu quadril contra as nádegas dela com tanta força que a mesa se movia centímetros no chão de pedra. Eu segurava o cabelo dela como rédeas, puxando a cabeça dela para trás.
— Diz! Diz quem é que tá te fudendo! — eu rugia, sentindo o esfíncter dela apertado, tentando me expulsar, mas cedendo à invasão.
— É vo-você... Fernando... aahhh! Meu Deus! — Marina chorava, mas ela rebolava contra mim. Ela estava amando a brutalidade. Ela estava vencendo, mesmo sendo usada como um objeto. — Sua mãe... nnn-ngh... ela nunca aguentaria isso... ela é fraca!
Aquilo foi o gatilho. A menção à minha mãe.
Eu aumentei a força. Eu queria rasgá-la. Eu queria que ela sentisse a dor que eu estava sentindo na alma. Era um paradoxo insano: eu estava protegendo a honra da minha mãe punindo a irmã dela, mas ao mesmo tempo, eu estava traindo a minha mãe da forma mais suja possível, e gostando disso. Gostando de fuder a "piranha" que aterrorizava nossa família.
— Cala a boca! — Soquei a mesa ao lado da cabeça dela. — Você não é nada! Você é só um buraco!
A anatomia do ato era grotesca e magnifica. No reflexo de uma garrafa de vidro escuro, eu via a cena: eu, curvado sobre ela como um animal, suando bicas; ela, com o rosto esmagado na madeira, a maquiagem borrada, o corpo tremendo sob o meu impacto. O cheiro de Baccarat Rouge agora se misturava ao cheiro de merda, suor e sêmen.
E então, eu vi.
No canto da adega, onde as sombras eram mais densas, havia uma pequena janela que dava para o jardim rebaixado. E lá, iluminado pela luz da lua, estava o brilho de um cigarro aceso.
Ricardo.
Ele estava lá fora. E ao lado dele, uma silhueta feminina segurava o braço dele. Ana.
Eles estavam assistindo. Meu pai tinha planejado isso. Ele mandou eu vir aqui sabendo que eu explodiria. E a minha mãe... ela não tinha ido me salvar. Ela estava lá, parada.
Parei por um segundo, o pau pulsando dentro da tia. Olhei para a janela. O brilho do cigarro se moveu, como um aceno.
— Não para... por favor, não para... — Marina implorou, sentindo minha hesitação, alheia à plateia.
O ódio se tornou absoluto. Eles queriam um show? Eles queriam ver o monstro que criaram?
— Eu vou te arrebentar, Marina — sussurrei no ouvido dela.
Voltei a estocar, agora com uma frieza mecânica. Não era mais vingança. Era performance. Eu fodi a minha tia olhando para a janela onde meus pais estavam. Eu fodi com ódio dela, com ódio da Ana, com ódio do Ricardo.
Marina entrou em colapso, gozando com gritos estridentes que deviam estar sendo ouvidos lá fora. O corpo dela amoleceu, mas eu não parei. Continuei até sentir a minha própria explosão.
— Aaaaahhh! — Urrei, despejando tudo dentro do rabo dela, marcando-a, sujando-a, transformando-a em propriedade da linhagem.
Quando terminei, saí de dentro dela bruscamente. Ela escorregou da mesa, caindo de joelhos no chão frio, ofegante, o vestido rasgado, o rímel escorrendo. Uma ruína completa.
Mas então, ela olhou para mim. E ela sorriu. Um sorriso quebrado, cheio de dentes sujos de batom.
— Você viu? — ela sussurrou, apontando para a janela com a mão trêmula. — Eles estavam lá. Ela estava lá.
Senti um gelo no estômago.
— O quê?
— Sua mãe... — Marina riu, uma risada rouca e dolorosa. — Ela não desviou o olhar, Fernando. Ela nunca desvia. Eu te disse. Ela gosta de ver a gente se destruir.
Saí da adega tropeçando, fechando o zíper da calça. O ar da noite parecia gelado agora. Olhei para o jardim. Estava vazio. Apenas o cheiro de tabaco do meu pai permanecia no ar, uma assinatura fantasma.
Caminhei de volta para a casa. Pela porta de vidro da sala, vi meus pais. Eles estavam sentados no sofá, como se nunca tivessem saído. Ricardo lia um jornal. Ana estava bordando, a cabeça baixa.
Mas quando entrei, minha mãe levantou os olhos. Eles estavam brilhantes, úmidos. E as bochechas dela estavam coradas com aquele mesmo rubor que eu vi no espelho horas antes.
Ricardo baixou o jornal. Ele me olhou, e depois olhou para a minha mão, que ainda tremia. — O vinho, Fernando? — ele perguntou, calmo. — Esqueceu o vinho?
Eu tinha esquecido. Eu tinha deixado a garrafa e a dignidade da minha tia na adega.
— Esqueci — respondi, sentindo que estava pisando em vidro moído.
— Tudo bem — disse Ricardo, levantando-se e indo até o bar. — Acho que hoje à noite vamos beber algo mais forte. Para celebrar a união da família.
Olhei para a Ana. Ela sorriu para mim. Um sorriso tímido, de mãe. Mas agora eu via a sombra por trás dele. Eu via a voyeur que a Marina descreveu. Eu via a mentirosa do espelho.
Eu tinha fodido a tia piranha para proteger a mãe santa, mas descobri que talvez a santa fosse a cafetina e a piranha fosse apenas a vítima mais honesta daquele hospício.
— Senta aqui, filho — Ana bateu no lugar ao lado dela no sofá. — Me conta... a adega estava muito escura?
A pergunta tinha um subtexto obsceno que me fez querer vomitar e gozar de novo.
Eu me sentei. A guerra tinha mudado. Não era mais eu contra a Marina. Era eu contra todos eles. E o pior de tudo: eu estava começando a gostar do jogo.
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>> Em breve a próxima parte!