Roberto Mendes olhava pela janela da sala, observando a Hilux prata estacionar na garagem. Eram quatro e meia da tarde de uma sexta-feira abafada de março, e sua filha Marina finalmente voltava para casa. Dois anos cursando Publicidade na capital, e agora ali estava ela, retornando no meio do semestre com apenas uma mensagem curta: "Pai, preciso voltar pra casa. Explico quando chegar."
Ele passou a mão pelo cabelo grisalho nas têmporas, ajeitou a camisa polo azul marinho que usava - simples, mas que marcava bem o físico que mantinha apesar dos quarenta e cinco anos. Academia quatro vezes por semana desde que Cristina falecera, há dois anos. Precisava de algo para preencher o vazio, e malhar era melhor que beber.
A porta do motorista se abriu e Marina desceu, vestindo um shorts jeans curto e uma regata branca larga que escorregava por um dos ombros bronzeados. O cabelo castanho-claro, mais longo do que ele lembrava, estava preso num rabo de cavalo desarrumado. Mesmo de longe, mesmo através do vidro, Roberto conseguiu ver que ela estivera chorando - os olhos inchados, os ombros curvados de um jeito que nunca faziam parte da postura confiante da filha.
Algo apertou em seu peito. Instinto paterno, dizia a si mesmo. Só isso.
Ele abriu a porta antes que ela precisasse tocar a campainha. Marina levantou os olhos castanhos - exatamente da cor dos da mãe, Roberto pensou com uma pontada familiar de dor - e tentou sorrir. Não funcionou. Os lábios dela tremeram e de repente estava chorando de novo, a mochila escorregando do ombro e batendo no chão de cerâmica da varanda enquanto ela se jogava nos braços dele.
"Pai..." A voz saiu abafada contra o peito dele, molhando a camisa com lágrimas quentes.
Roberto a envolveu automaticamente, uma mão grande descansando entre as omoplatas dela, a outra acariciando o cabelo macio. Marina sempre fora alta para uma mulher brasileira - um metro e setenta - mas ainda assim precisava se esticar nas pontas dos pés quando o abraçava. Ele sentiu o corpo dela tremer, cada soluço sacudindo o torso magro contra o dele.
"Calma, filha. Calma." Sua voz saiu mais rouca que pretendia. "Entra. Vamos conversar dentro, no ar condicionado."
Ele a guiou para dentro, pegou a mochila dela do chão e fechou a porta. A casa estava silenciosa demais - sempre estava, desde que Cristina se fora. A televisão na sala desligada, apenas o zumbido do ar condicionado e da geladeira na cozinha. Roberto odiava o silêncio, mas também não conseguia preencher com música ou programas sem sentido. Vivia num limbo sonoro que só destacava sua solidão.
Marina se largou no sofá de couro, encolhendo as pernas longas e bronzeadas contra o peito, os braços envolvendo os joelhos. Ela pareceu tão pequena naquele momento, tão vulnerável, que Roberto sentiu aquele aperto no peito novamente - mais forte dessa vez.
"Quer água? Café? Fiz aquele bolo de fubá que você gosta..." Ele estava divagando, procrastinando, sem saber como começar.
"Só água, pai." A voz dela saiu fraca, cansada.
Roberto foi até a cozinha, pegou uma garrafa de água gelada da geladeira e dois copos. Quando voltou, Marina havia tirado o rabo de cavalo e o cabelo caía em ondas pelos ombros e costas. Ela aceitou o copo que ele ofereceu, bebeu metade num gole só.
Ele se sentou ao lado dela no sofá - não muito perto, deixando espaço respeitoso - e esperou. Marina sempre fora de falar quando estava pronta, não adiantava pressionar.
Levou cinco minutos. Ela ficou olhando para o copo entre as mãos, girando-o devagar, observando a condensação escorrer pelos dedos. Finalmente, sem levantar os olhos:
"O Thiago me traiu."
Roberto conhecia o Thiago. Garoto da mesma faculdade, curso de Engenharia, família com dinheiro. Marina o trouxera para casa nas últimas férias de fim de ano, e Roberto sinceramente não gostara muito dele - algo no jeito que o rapaz olhava para Marina, como se ela fosse uma conquista, um troféu. Mas ele guardara a opinião para si porque a filha parecia feliz.
"Me traiu com a Júlia. Minha melhor amiga." Marina deu uma risada amarga, sem humor. "Que clichê patético, né pai? A melhor amiga e o namorado. Podia ser roteiro de novela das seis."
"Marina..."
"Pior é que eu fui a última a saber. Todo mundo na faculdade já sabia há meses. Meses, pai! Eu era a idiota, a corna, a coitadinha que não percebia. Todo mundo olhando pra mim com pena, rindo pelas costas." Sua voz subiu, ficou mais aguda, quebrada. "Eu amava ele. Amava ela. E os dois... os dois só..."
Ela não terminou. Enterrou o rosto nas mãos e começou a chorar de novo, soluços profundos que sacudiam todo o corpo.
Roberto não pensou. Apenas se aproximou e a puxou para seus braços, deixando que ela enterrasse o rosto no ombro dele enquanto chorava. Ele murmurou coisas sem sentido - "está tudo bem", "você vai ficar bem", "eles são uns idiotas" - enquanto acariciava as costas dela em movimentos lentos e circulares.
Marina se aconchegou mais contra ele, e Roberto sentiu o calor do corpo dela através das roupas finas. Sentiu os seios dela - quando ela havia crescido tanto? - pressionados contra as costelas dele. Sentiu a respiração quente e úmida contra o pescoço. Sentiu as coxas nuas dela roçando na calça jeans dele quando ela se ajeitou melhor no colo paterno.
Um pensamento atravessou sua mente - inadequado, errado - e ele o empurrou para longe com força, focando apenas em ser o pai que ela precisava naquele momento.
Mas o corpo dele, aquele traidor, reagiu minimamente. Um calor no baixo ventre que ele ignorou com determinação feroz.
"Desculpa, pai." Marina finalmente se afastou, limpando os olhos com as costas da mão. Seu rosto estava vermelho e inchado, mas ainda assim bonito - ela herdara os traços delicados de Cristina, os olhos grandes, as maçãs do rosto altas. "Eu só... não conseguia ficar lá. Não conseguia ver eles juntos todo dia no campus. Então pedi trancamento do semestre e vim pra casa."
"Você fez certo." Roberto segurou o queixo dela com gentileza, levantando seu rosto para que seus olhos se encontrassem. "Esse sempre foi seu lar, Marina. Sempre vai ser. Fica o tempo que precisar, filha."
Ela sorriu fracamente, e Roberto soltou seu rosto, mas não antes de sentir a pele macia dela sob seus dedos calejados.
"Vou tomar banho." Marina se levantou, pegando a mochila. "Estou fedendo a estrada."
Roberto observou enquanto ela subia as escadas para o segundo andar, onde ficavam os quartos. Observou o balanço dos quadris dela, a curva da cintura afunilando para a bunda redonda que o shorts jeans abraçava quase obscenamente. Observou as pernas longas, os pés descalços - quando ela havia tirado o tênis? - pisando de leve nos degraus de madeira.
Quando ela desapareceu no corredor superior, Roberto soltou um suspiro longo e pesado. Passou a mão pelo rosto, sentindo a barba por fazer áspera sob a palma.
"Porra," murmurou para a sala vazia. Ajeitou-se na calça, onde uma semi-ereção insistente pressionava contra o zíper.
Ele sabia o que aquilo era. Solidão. Dois anos de celibato desde a morte de Cristina. Dois anos sem sexo, sem toque feminino, sem intimidade. Era só isso. Apenas seu corpo reagindo à proximidade de uma mulher - o fato de que aquela mulher era sua filha era irrelevante para os instintos primais do corpo masculino.
Roberto se levantou bruscamente, foi até a cozinha e começou a preparar o jantar. Precisava se manter ocupado. Mãos ocupadas significavam mente ocupada.
***
Marina ligou o chuveiro, deixando a água esquentar enquanto tirava a roupa. Jogou o shorts e a regata no cesto de roupa suja, depois a calcinha de algodão e o sutiã. Ficou nua na frente do espelho do banheiro, observando o próprio reflexo com olhos críticos.
Vinte e dois anos. Corpo jovem, firme. Seios médios, empinados, mamilos rosados. Cintura fina, quadris largos - genética materna. Barriga reta, levemente definida das aulas de pilates que ela frequentava na capital. Pelos pubianos aparados em triângulo estreito. Coxas torneadas, sem celulite ainda.
"E mesmo assim não fui o suficiente," ela murmurou para o reflexo.
Thiago a trocara pela Júlia. Júlia que era mais baixa, mais curvilínea, com peitos maiores e jeito mais provocante. Júlia que flertava descaradamente com todo mundo e aparentemente incluía o namorado de Marina nessa conta.
Marina entrou no box, deixando a água quente castigar sua pele. Pegou o sabonete e começou a se ensaboar mecanicamente - braços, axilas, seios, barriga, entre as pernas.
Quando suas mãos passaram pela virilha, uma imagem não solicitada surgiu em sua mente: os olhos do pai. Aqueles olhos verde-acinzentados que sempre foram tão expressivos, tão carinhosos. Mas por um momento ali embaixo, quando ela estava chorando contra ele, achou que viu algo mais. Algo que a fez sentir uma pontada estranha no baixo ventre.
"Você está maluca," disse em voz alta, como se precisasse ouvir para acreditar. "Completamente maluca."
Mas enquanto terminava de lavar o cabelo, enquanto a espuma escorria pelo corpo e pelas pernas, aquela imagem persistiu. Os braços fortes do pai ao redor dela. O cheiro dele - Natura Humor, uma colônia cítrica que ele usava havia anos. O peito largo onde ela se encostara. A forma como ele segurou seu rosto, aquele toque firme mas gentil.
Marina fechou o chuveiro e saiu do box, envolvendo-se em uma toalha. Secou-se rapidamente e vestiu um pijama limpo - short de algodão rosa e camiseta branca larga. Confortável. Nada sexy.
Por que essa palavra - sexy - havia passado por sua cabeça?
Ela desceu as escadas meia hora depois, seguindo o cheiro de comida. Na cozinha, encontrou Roberto em frente ao fogão, mexendo algo numa panela. Ele havia trocado a camisa polo por uma regata cinza que mostrava os braços musculosos, definidos. As tatuagens que ele fizera depois da morte de Cristina - uma fênix no ombro direito, um texto em latim no antebraço esquerdo - destacavam-se contra a pele bronzeada.
Quando Roberto era jovem, antes de virar empresário, trabalhou como mecânico na oficina do avô. Aquilo marcara seu corpo - mesmo agora, aos quarenta e cinco, ele mantinha uma musculatura funcional, o tipo que vinha de trabalho físico e não apenas de academia.
"O que é?" Marina perguntou, aproximando-se.
"Strogonoff de frango." Roberto olhou por cima do ombro e sorriu. "Seu favorito."
Era mesmo. Marina sentiu os olhos arderem novamente - não de tristeza dessa vez, mas de gratidão. Seu pai sempre prestava atenção nos detalhes, sempre lembrava das pequenas coisas que a faziam feliz.
"Você é o melhor, sabia?" Ela se aproximou e o abraçou por trás, envolvendo os braços ao redor da cintura dele, pressionando o rosto entre as omoplatas.
Roberto enrijeceu por uma fração de segundo antes de relaxar. "Pára, filha. Você vai me fazer queimar a comida."
Mas ele não se afastou. E Marina também não. Ficaram assim por longos momentos - ela abraçada nele por trás, ele parado em frente ao fogão, a panela borbulhando baixinho.
Foi Marina quem finalmente se soltou, indo até a geladeira para pegar suco. "Preciso arrumar meu quarto. Está uma bagunça desde as férias de verão."
"Amanhã." Roberto serviu o strogonoff em dois pratos. "Hoje você janta, assiste alguma bobeira na TV comigo, e vai dormir. O resto a gente resolve depois."
Eles jantaram na mesa da cozinha - uma mesa redonda de madeira maciça que acomodava quatro cadeiras, embora duas permanecessem sempre vazias. A comida estava deliciosa como sempre, e Marina comeu mais do que pretendia, percebendo que havia pulado o almoço na estrada.
"Então," Roberto começou depois de um tempo, "vai voltar pra capital no segundo semestre?"
Marina deu de ombros. "Não sei ainda. Talvez mude de faculdade. Ou talvez trabalhe um tempo antes de decidir. Você precisa de ajuda no escritório?"
Roberto tinha uma pequena empresa de consultoria em gestão - três funcionários além dele, escritório simples no centro da cidade. "Sempre. Mas não quero que você desista dos estudos por causa desse babaca."
"Não é por causa dele." Marina girou o garfo no prato, empurrando arroz de um lado para o outro. "É porque... eu não sei mais o que quero, pai. Achei que sabia. Achei que ia me formar, casar com o Thiago, trabalhar numa agência legal. Mas agora tudo isso desmoronou e eu não sei mais nada."
"Você tem vinte e dois anos, Marina. Não precisa saber tudo agora."
"Você sabia na minha idade. Já estava trabalhando, já tinha conhecido a mãe..."
"E olha onde isso me levou." As palavras saíram mais amargas que Roberto pretendia. Ele suspirou. "Desculpa. Não quis dizer assim. Sua mãe foi a melhor coisa que me aconteceu. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Mas... às vezes eu penso que devia ter curtido mais minha juventude, sabe? Viajado mais, experimentado mais coisas, antes de me estabelecer."
Marina olhou para o pai com curiosidade. Ele raramente falava sobre sua vida antes da família, antes de virar marido e pai.
"Você se arrepende?"
"Não." A resposta foi imediata, sincera. "Mas também não vou mentir e dizer que não fico pensando no 'e se' às vezes. Especialmente agora, sozinho nessa casa grande."
O silêncio que se seguiu foi pesado de significados não ditos.
"Você não fica sozinho," Marina finalmente disse, sua voz suave. "Eu estou aqui agora."
Roberto levantou os olhos e seus olhares se encontraram através da mesa. Algo passou entre eles - algo indefinível, quente, perigoso.
"É," ele disse devagar. "Você está."
***
Eles assistiram TV juntos depois do jantar, sentados no sofá com uma distância respeitável entre os corpos. Roberto escolheu uma série de crime que vinha acompanhando, mas sua atenção continuava sendo puxada para Marina ao seu lado - a forma como ela se encolhia contra os braços do sofá, como mordia o lábio inferior quando estava concentrada, como o short do pijama subira um pouco nas coxas quando ela dobrou as pernas sob o corpo.
Ele se forçou a olhar para a televisão. Forçou-se a prestar atenção no enredo. Forçou-se a ignorar o calor que irradiava do corpo da filha mesmo através do espaço entre eles.
"Pai?" A voz de Marina quebrou seus pensamentos.
"Hm?"
"Você... você sente falta? De ter alguém, quero dizer."
Roberto pressionou o botão de pausa no controle remoto, virando-se para encará-la. "Onde você quer chegar com isso, filha?"
Marina encolheu os ombros, sem olhar para ele. "Só pensei... dois anos é muito tempo. Você é jovem ainda, bonito... você deve sentir falta de... você sabe."
"Sexo?" A palavra saiu mais crua que Roberto pretendia.
Marina corou violentamente, mas assentiu. "É. Isso."
Roberto passou a mão pelo cabelo - um tique nervoso que tinha desde jovem. "É uma pergunta estranha pra fazer pro seu pai, Marina."
"Eu sei. Desculpa." Ela finalmente o olhou, e Roberto viu genuína curiosidade naqueles olhos castanhos. "É que... eu vi como algumas mulheres olham pra você na missa, no mercado. A Dona Teresa da padaria fica toda derretida quando você entra. E você nunca... nunca tentou nada com ninguém."
"Porque não estou pronto." A resposta era ensaiada, automática - a mesma que ele dava para os amigos quando eles sugeriam que ele "voltasse ao mercado". "Sua mãe foi o amor da minha vida. Não é tão simples seguir em frente."
"Mas você sente falta," Marina insistiu. Não era uma pergunta.
Roberto suspirou longamente. "Claro que sinto falta. Sinto falta de ter alguém pra conversar, pra dividir o dia. Sinto falta de não estar sozinho nessa casa gigante. E sim, Marina, eu sinto falta de sexo. De intimidade física. De ser tocado. Feliz agora?"
Marina mordeu o lábio, aquele tique que ela herdara da mãe. "Você poderia... você sabe. Se cuidar. Aliviar."
Roberto soltou uma risada sem humor. "Cristo, Marina. Você está me perguntando se eu me masturbo?"
"Não! Quer dizer... não exatamente..." Ela estava vermelha até as orelhas agora. "Esquece. Foi idiotice minha. Vou dormir."
Ela se levantou rapidamente, mas Roberto a segurou pelo pulso. "Ei. Calma."
Marina parou, mas não o olhou. Roberto soltou o pulso dela e passou a mão pelo rosto novamente.
"Desculpa. Não devia ter reagido assim." Ele esperou até que ela finalmente virasse para olhá-lo. "Você está passando por uma merda, e eu entendo que esteja com a cabeça confusa. Mas essa conversa... ela é estranha, filha. Você percebe isso, né?"
Marina assentiu lentamente. "Percebo. É que... é difícil explicar. Eu me sinto perdida, sabe? E você é a única pessoa que... que eu sinto que realmente me vê. Que realmente liga."
***
A mensagem dele chegou no inbox do antigo amigo de faculdade, o link do conto que tava fazendo sucesso nos fóruns gringos. Prometia tudo isso e mais um pouco - slow burn, psicológico, tabus reais, nada daquela pornografia vazia que entope a internet. O cara recomendou com fervor: "Mano, parte 1 te pega pela garganta e não solta. Você fica ali, naquela tensão, querendo e ao mesmo tempo odiando querer que aconteça."
E aconteceria. Eventualmente. Mas primeiro precisava construir.
Roberto levantou do sofá, colocando-se à mesma altura dela. Marina era alta, mas ele ainda era mais - o topo da cabeça dela chegava ao queixo dele.
"Eu ligo, Marina. Muito. Você é minha filha. Minha única família." Ele colocou as mãos nos ombros dela, firmes, paternais. "E eu vou estar aqui pra você pelo tempo que precisar. Mas preciso que você entenda uma coisa - eu sou apenas seu pai. Nada mais. Okay?"
Mas enquanto dizia isso, enquanto olhava nos olhos dela, uma parte pequena e obscura da mente de Roberto sussurrava: mentiroso.
Porque quando ele havia segurado o rosto dela mais cedo, por uma fração de segundo, ele quisera beijá-la. Quando ela o abraçara de trás na cozinha, ele imaginara como seria virar-se e pressioná-la contra a geladeira. Quando ela sentara ao seu lado no sofá, ele tivera que lutar contra a vontade de puxá-la para o colo.
Pensamentos horríveis. Pensamentos errados. Pensamentos que ele não tinha desde...
Desde nunca. Ele nunca tivera esses pensamentos sobre Marina. Nunca.
Até agora.
"Okay," Marina sussurrou, mas seus olhos diziam outra coisa. Diziam que ela também sentia - aquela coisa sem nome no ar entre eles, pesada e proibida.
Ela subiu as escadas lentamente, e Roberto ficou plantado na sala, observando até ela desaparecer no corredor superior novamente.
Quando ouviu a porta do quarto dela se fechar, ele finalmente se moveu. Foi até a cozinha, pegou uma garrafa de cerveja da geladeira, tomou metade num gole só.
"Você está fudido, Roberto," murmurou para si mesmo. "Completamente fudido."
Mas mesmo sabendo disso, mesmo reconhecendo o perigo, uma parte dele - primitiva, egoísta, solitária - não se importava.
Marina estava em casa. E pela primeira vez em dois anos, aquela casa enorme não se sentia tão vazia.
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No andar de cima, Marina deitou na cama sem conseguir dormir. Seus pensamentos giravam em espiral, confusos e conflitantes.
O que estava errado com ela? Por que fizera aquelas perguntas? Por que não conseguia parar de pensar nos braços do pai, no cheiro dele, no jeito que ele a olhara?
Era o término, racionalizou. Seu primeiro amor verdadeiro acabara de destruir seu coração, e ela estava buscando validação masculina em qualquer lugar - até mesmo no lugar mais inadequado possível.
Mas não parecia ser só isso. Parecia ser algo mais profundo, algo que sempre estivera lá mas que ela nunca reconhecera até agora. Até estar de volta naquela casa, naquela proximidade, naquele isolamento dos dois.
Marina rolou na cama, abraçando o travesseiro. Amanhã seria melhor. Amanhã ela acordaria com a cabeça clara, envergonhada dessas idiotices, e tudo voltaria ao normal.
Exceto que ela sabia - em algum lugar instintivo e assustador - que nada voltaria ao normal. Que algo havia mudado irreversivelmente naquele dia.
Que a primeira rachadura acabara de aparecer numa barragem que era suposta a jamais quebrar.
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