Mamãe teve que ir sentada no meu colo - Pt. 14

Um conto erótico de Gil
Categoria: Heterossexual
Contém 2247 palavras
Data: 31/12/2025 00:54:26
Última revisão: 31/12/2025 00:59:55

Eu preciso parar. Preciso... respirar. As palavras que escrevi sobre aquele churrasco... elas não parecem... reais.

Olho para as minhas mãos agora, tremendo sobre o teclado do notebook, e vejo hematomas roxos nos nós dos dedos que não lembro de ter feito. Há um gosto metálico persistente na minha boca que não desaparece nem quando escovo os dentes três vezes seguidas. E as memórias... Deus, as memórias estão todas... tortas. Como fotografias submersas em água, os contornos sangrando uns nos outros.

Marina me olha do outro lado da sala agora, dois dias depois. Ela está... inteira. Sem arranhões visíveis no rosto. Sem manchas no pescoço. Sem aquela mancada pronunciada que eu jurava ter causado. E Ana... Ana está conversando com Ricardo na cozinha como se fosse um domingo qualquer. Rindo de algo que ele disse. A mão dele no ombro dela. Casual. Normal.

Mas eu lembro. Eu lembro de **tudo**. Cada detalhe anatômico. Cada som molhado e obsceno. Cada grito ecoando pelas janelas da despensa. Cada centímetro de pele que eu... que eu...

Mas se eu lembro com tanta clareza, por que ninguém mais age como se lembrasse? Por que as minhas mãos estão machucadas mas os corpos delas estão normais? Por que Matheus me cumprimenta sem ódio nos olhos?

Ricardo me deu algo na noite anterior ao churrasco. Um comprimido pequeno e branco. Disse que era "suplemento vitamínico para dar energia depois da viagem, você precisa estar no seu melhor amanhã". Mas agora... agora quando fecho os olhos vejo cores que não existem. E quando abro, as sombras se movem de forma errada.

Preciso parar de narrar. Preciso deixar alguém que viu de verdade, com olhos não contaminados, contar o que realmente aconteceu. Matheus... Matheus, toma o bastão. Conta pra quem está lendo. Conta o que REALMENTE aconteceu naquela chácara. Porque eu... eu não sei mais o que é real e o que é alucinação química correndo nas minhas veias.

***

**[TRANSMISSÃO DE NARRADOR]**

*Fernando se afasta do computador, as mãos ainda tremendo visivelmente. Ele olha para o copo de água na mesa como se contivesse arsênico dissolvido. Do canto da sala, Ricardo sorri por trás da xícara de café, mas não diz nada. Apenas observa. Sempre observa. Como um cientista anotando resultados de experimento.*

*Matheus se aproxima da cadeira vazia. Os olhos dele não têm a intensidade predatória que Fernando descreveu na narrativa anterior. Têm algo diferente. Algo que parece culpa misturada com medo e, talvez, uma compreensão terrível de algo maior.*

***

**NARRADOR: Matheus**

Eu não queria estar aqui. Eu não queria ter que escrever isto. Mas o Fernando... ele está quebrado. Olhos vidrados, mãos tremendo, falando sozinho durante a noite sobre coisas que ninguém mais lembra ter acontecido. E alguém precisa contar a verdade. Mesmo que a verdade seja mais terrível do que a alucinação dele.

Porque o que realmente aconteceu naquela chácara no sábado de manhã... não foi uma batalha de gladiadores. Não houve violência extrema. Não houve sangue no gramado ou esperma vazando de ânus dilatados ou gritos ecoando pelas janelas.

Foi algo muito, muito pior.

Foi uma execução psicológica tão precisa, tão cirúrgica, que quando terminou, nenhum de nós sabia mais o que era real.

***

### I. O Churrasco (O Que Realmente Aconteceu)

O dia começou normal. Chegamos na chácara por volta das nove da manhã, minha mãe e eu no Uno velho que ronca e cospe fumaça. O tio Cláudio já estava preparando a churrasqueira, aquele homem eternamente de costas para o mundo, mexendo carvões como se fossem as únicas coisas sólidas na realidade dele.

Ricardo nos recebeu com aquele sorriso que não chegava aos olhos. Ana estava na varanda com uma taça de Mimosa. Fernando... Fernando estava estranho. Os olhos dele tinham um brilho químico. Pupilas levemente dilatadas. Ele olhava para mim como se estivesse me vendo através de um aquário distorcido.

Sentamos à mesa. Comemos picanha. Conversamos sobre coisas banais - o trânsito na Bandeirantes, o calor do interior, planos para o Réveillon. Tudo absolutamente... normal.

Mas Ricardo controlava cada silêncio, cada pausa, cada palavra não dita. Ele fazia perguntas que pareciam inocentes mas carregavam veneno:

— Matheus, você acha que herdou algo de mim? Fisicamente, digo. As pessoas dizem que você tem meus olhos.

— Ana, você se lembra daquela época, há vinte e cinco anos, quando descobriu sobre... aquele assunto? Como você lidou com isso?

— Fernando, você está bem? Parece meio... alterado. Tomou o suplemento que te dei?

Cada frase era uma semente. Cada pausa era fertilizante. E enquanto comíamos carne e bebíamos cerveja, Ricardo plantava um jardim inteiro de dúvidas, suspeitas, e paranoias nas nossas cabeças.

Em algum momento, Ricardo disse que precisava de ajuda para pegar gelo na despensa. Olhou para minha mãe. Olhou para o Fernando. E disse:

— Marina, acompanha o Nando lá dentro. Vocês conhecem melhor a casa.

Foi só isso. Nenhuma ordem explícita. Nenhuma instrução pornográfica. Apenas... uma sugestão. Mas a forma como ele disse, o timing, o contexto... tudo criou uma expectativa no ar que era quase palpável.

Fernando levantou como autômato. Minha mãe o seguiu, pálida. Eles entraram na despensa. A porta fechou.

E então... silêncio.

Nenhum grito. Nenhum barulho de louça quebrando. Nenhum som de violência.

Apenas silêncio.

Mas na cabeça do Fernando? Na cabeça dele, drogado com o que quer que Ricardo tivesse dado, sugestionado pelas semanas de "lições" sobre predadores e fome hereditária... na cabeça dele estava acontecendo um massacre.

***

### II. A Química da Ilusão

Depois, pesquisei. Não foi difícil encontrar. Ricardo tinha dado ao Fernando uma combinação de **escopolamina** (conhecida como "droga do estupro" que torna vítimas sugestionáveis) misturada com **MDMA** em dose baixa (intensifica emoções e distorce percepção temporal).

O efeito? A pessoa mantém consciência, mas perde a capacidade de distinguir entre sugestão e realidade. Se alguém diz "você está vendo violência", o cérebro **cria** a violência. Se alguém sugere "você acabou de fazer algo terrível", a memória **fabrica** o evento completo, com detalhes anatômicos e sensoriais.

Fernando não estava alucinando cores ou dragões. Ele estava tendo **alucinações de contexto**. O cérebro dele, tentando dar sentido às sugestões de Ricardo e ao ambiente carregado de tensão sexual e violência das últimas semanas, criou uma narrativa completa.

E a pior parte? Para ele, foi **absolutamente real**.

Quando ele e minha mãe voltaram da despensa quinze minutos depois, minha mãe estava pálida mas intacta. Nenhuma roupa rasgada. Nenhuma marca visível. Ela sentou, tremendo, mas não de dor física. De **medo do que Fernando poderia fazer** sob influência química.

Porque dentro da despensa, Fernando tinha avançado nela. Tinha segurado o braço dela. Tinha falado coisas obscenas. Mas quando ela disse "para", ele parou. Confuso. Como se parte dele soubesse que estava agindo errado. Ele ficou ali, parado, olhando para as próprias mãos como se fossem de outra pessoa.

Mas na cabeça dele? Ele tinha estuprado. Ele tinha sodomizado. Ele tinha destruído.

***

### III. O Jogo de Espelhos

Quando Fernando voltou para a mesa, Ricardo executou o movimento de mestre.

Ele deslizou a faca de churrasco na direção da minha cadeira. Não disse nada. Apenas deslizou. O metal girou na mesa de madeira e parou na minha frente.

E então falou sobre gladiadores. Sobre imperadores. Sobre fome hereditária. Sobre **sangue**.

Olhou para mim quando disse "filho". Olhou para o Fernando. Olhou para a Ana. E deixou a frase pendurada no ar como forca esperando o pescoço.

Eu peguei a faca. Não porque quis. Mas porque todos estavam olhando. Porque o silêncio exigia que alguém reagisse. Porque Ricardo tinha criado uma **expectativa de violência** tão forte que não reagir parecia mais estranho que reagir.

E então... nada aconteceu.

Eu segurei a faca. Olhei para a Ana. Ela estava chorando silenciosamente. E eu... eu não consegui. Soltei a faca. Levantei. Saí da mesa.

Mas o Fernando? O Fernando, com os olhos químicos e a cabeça cheia de sugestões, **viu** uma cena completamente diferente. Ele viu eu avançar na Ana. Viu eu rasgar as roupas dela. Viu violência que nunca aconteceu.

E então, na lógica distorcida da mente dele, ele precisava **retaliar**. Precisava **equilibrar** a violência. Precisava provar que era o predador alfa.

Ele avançou na minha mãe de novo. Mas dessa vez, o Cláudio - aquele homem eternamente passivo - se virou da churrasqueira e disse, pela primeira vez em anos:

— Chega.

Uma palavra. "Chega."

E Fernando parou. Confuso. Tremendo. Como se tivesse acordado de sonho no meio de pesadelo.

***

### IV. A Verdade Nua

Não houve batalha de gladiadores. Não houve sodomia no gramado. Não houve esperma vazando ou ânus dilatados ou gritos ecoando pela propriedade.

O que houve foi **violência psicológica tão precisa** que criou violência física na mente de Fernando sem precisar executá-la na realidade.

Ricardo provou que não precisava tocar em ninguém para destruir. Ele só precisava:

1. **Drogar** a vítima (Fernando)

2. **Sugerir** violência (gladiadores, fome, território)

3. **Criar contexto** (semanas de "lições" prévias)

4. **Observar** o cérebro fazer o resto

E funcionou perfeitamente.

Fernando agora carrega memórias de atrocidades que ele nunca cometeu. Sente culpa por violência que nunca executou. Tem trauma de sangue que nunca derramou.

E nós - Ana, Marina, Cláudio, eu - todos temos **medo** dele. Não pelo que ele fez. Mas pelo que ele **acredita** que fez. Porque um homem que acredita ser monstro pode se tornar um.

***

### V. O Confronto (Dois Dias Depois)

Ontem, confrontei Ricardo. Esperei até estarmos sozinhos na garagem. Olhei nos olhos dele e disse:

— Você drogou o Fernando. Você manipulou todos nós. Você criou violência que não existiu.

Ricardo me olhou por cinco segundos inteiros. Então sorriu. Aquele sorriso.

— Matheus, você está paranóico. O Fernando teve um episódio psicótico, sim. Tendências já estavam lá, eu apenas... não intervim a tempo. Mas drogas? Manipulação? Você tem provas? — Ele se aproximou, a voz baixando para sussurro. — E mesmo que tivesse... você acha que alguém acreditaria? O Fernando já escreveu a narrativa dele. Já se confessou. Já admitiu tudo em detalhes anatômicos. Quem vai acreditar que foi tudo alucinação? Quem vai querer acreditar nisso?

E ele estava certo.

Porque a narrativa que Fernando escreveu é tão vívida, tão detalhada, tão **visceral**, que negar agora seria como dizer que memórias não importam. Que experiência subjetiva não é real. Que trauma pode ser apagado dizendo "não aconteceu".

E traumas não funcionam assim.

***

### VI. As Consequências Reais

Hoje é quarta-feira. Três dias depois do churrasco.

Fernando mal sai do quarto. Quando sai, evita espelhos. Disse que vê "sangue nas mãos" mesmo depois de lavar quinze vezes. Ana mudou a fechadura do quarto dela. Marina não fala comigo há dois dias. Cláudio voltou para o silêncio permanente.

E Ricardo? Ricardo está planejando o Réveillon. Falou em "reunir a família de novo, celebrar novos começos".

Eu quero gritar. Quero pegar aquele notebook onde Fernando escreveu a fantasia dele e destruir. Mostrar para ele que nada daquilo aconteceu. Que os corpos estão intactos. Que não há evidências.

Mas... será que importa?

Porque mesmo que eu prove que a violência física não aconteceu, a **violência psicológica** foi real. Ricardo destruiu a família sem levantar um dedo. Transformou amor em medo. Confiança em paranoia. Memória em arma.

E a pior revelação de todas?

Quando confrontei Ricardo sobre a paternidade - se eu era ou não filho dele biologicamente - ele apenas riu e disse:

— Importa? Você já age como se fosse. Você já pensa como se fosse. DNA é só papel, Matheus. Eu te criei com palavras. E isso é mais permanente que sangue.

E olhando para o espelho agora, vendo meu próprio rosto, a linha do maxilar que poderia ser dele ou poderia ser só genética aleatória dos irmãos... eu entendo.

Não importa se sou filho biológico do Ricardo ou do Cláudio.

Porque Ricardo já me possui. Assim como possui o Fernando. Assim como possui todos nós.

Não com violência. Mas com algo muito pior.

Com a capacidade de fazer a gente **acreditar** na violência. De **internalizar** a destruição. De **carregar** as cicatrizes de feridas que nunca foram abertas.

***

### Epílogo: O Espelho Quebrado

Fernando acabou de entrar na sala. Olhou para o computador. Leu o que escrevi. E começou a chorar.

Não de alívio. Mas de algo pior.

Porque agora ele tem duas realidades: a que **viveu** (na cabeça dele) e a que **aconteceu** (na realidade). E não consegue reconciliar as duas.

— Então... eu não fiz nada disso? — ele pergunta, a voz quebrada.

— Não — respondo. — Você não fez.

— Mas eu lembro — ele insiste. — Eu lembro de cada detalhe. Do som. Do cheiro. Do gosto metálico de sangue na boca quando...

— Eram as drogas. E as sugestões. E as semanas de manipulação.

Ele olha para as próprias mãos. Os hematomas nos nós dos dedos.

— Então de onde vieram esses hematomas?

E eu não tenho resposta. Porque parte da violência **foi real**. Só não foi a violência que ele lembra. Foi menor. Mais contida. Mas ainda assim violação.

Ricardo entra na sala nesse momento, como se tivesse sido convocado pela menção do nome dele. Olha para nós dois. Sorri.

— Conversando sobre o churrasco? Foi um dia interessante, não foi? Às vezes as memórias pregam peças. A mente humana é tão... maleável.

E sai, assobiando.

Fernando olha para mim. Depois olha para o espelho na parede. E eu vejo o que ele vê: um monstro. Ou a **ideia** de um monstro. Ou algo pior - um homem que não sabe mais se é monstro ou vítima.

E eu percebo que Ricardo venceu completamente.

Porque não importa se a violência aconteceu ou não.

Fernando já carrega o peso dela.

E esse peso vai esmagá-lo até virar cinzas.

Assim como está esmagando todos nós.

***

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Comentários

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Caramba, quando eu acho que tô entendendo o narrador tá “mentindo” kkkkkk

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