Talita sempre achou que o mundo se organizava melhor quando havia uma trilha sonora adequada. Fazia playlists para quase todos os momentos. Tinha uma para começar o dia, outra para escrever e outras dezenas para seus treinos de dança. A música era o modo como ela se compreendia, como encarava o mundo e como se entregava à vida. Ou seja, a música era parte essencial da sua existência.
Aos 25 anos, Talita equilibrava a vida entre ensaios de dança teatral e matérias para seu conhecido blog underground, onde ajudava a divulgar as bandas que pulsavam nas veias ocultas da cena musical da cidade. Por isso, estava sempre ligada à cena musical local e fazia questão de sempre conhecer e escrever sobre as bandas que mais lhe chamavam atenção.
Certa noite, rolando distraída pelo feed do celular, um cartaz chamou sua atenção. Fundo escuro, tipografia irregular, quase feia de propósito. O nome do local acima: Mosh Pub – um porão onde o cheiro de cerveja e cigarro se misturavam ao som cru; abaixo, o nome das bandas – a maioria delas Talita já havia resenhado em seu blog. A exceção era a última banda: Verborragia.
Talita franziu o cenho, curiosa. Não reconhecer uma banda era raro. Clicou, investigou, não encontrou quase nada. Um perfil recém-criado, fotos granuladas de ensaios, frases soltas, referências vagas aos anos 90. Aquilo bastou. Salvou o cartaz e, sem perceber, já imaginava o texto que escreveria – caso valesse a pena.
* * *
No dia do show, vestiu-se como quem não quer impressionar, mas sabe que impressiona. Um cropped de couro que deixava expostas suas curvas salientes e uma saia que roçava suas coxas grossas. O corpo, carnudo e cheio de curvas, preenchia as roupas com naturalidade. Os cabelos cacheados, curtos, moldavam o rosto de traços delicados.
Quando a Verborragia subiu ao palco, o ar estava denso de fumaça, os amplificadores zumbindo e Talita ainda conversava próximo ao balcão do bar com seus colegas da banda anterior. O primeiro acorde do contrabaixo, porém, atravessou o ambiente como um chamado. Um som grave, arrastado, que parecia vibrar no chão antes de alcançar os seus ouvidos. Ela se virou devagar, conectando-se de imediato com aquele som.
Ruben estava ali – alto, esbelto, cabelo castanho caindo solto pelos ombros, o olhar quase sonolento e um leve sorriso concentrado nos lábios – dominando as quatro cordas do instrumento. Tocava como se o baixo fosse uma extensão do seu corpo, extraindo dele um idioma próprio, que Talita parecia entender – estava hipnotizada com o que ouvia… e com o que via.
A guitarra de Abel emergiu em seguida, explodindo junto com a bateria agressiva de Silas. A voz grave de Ruben, quando surgiu, não competiu com o baixo – deslizou por cima, arrastada, quase preguiçosa. Juntos, os três construíam uma sonoridade que soava como um eco dos anos noventa – sombria, sensual e explosiva.
Talita sentiu o corpo responder antes da mente. As pernas, acostumadas ao ritmo, absorveram a pulsação e se mexeram instintivamente. Os ombros relaxaram. Ela dançava em frente ao palco. Era um som alternativo, lembrava os grunges que ela amava, mas havia algo moderno e mais denso escondido nas entrelinhas. Para ela, foi como um convite a algo novo.
Depois do show, o local já estava se esvaziando. Talita se aproximou da mesa onde a banda Verborragia estava e se apresentou sem rodeios. Foi convidada a sentar-se com eles. Conheceu Abel, o guitarrista – era extrovertido e já bebia sua oitava cerveja. Depois o Silas, o baterista, que era o mais jovem e simpático do trio. Por fim, Ruben, o que mais chamou sua atenção durante o evento e era o mais reservado dos três – mas adorava conhecer pessoas novas e falar sobre música.
— Sou Talita. Escrevo sobre música – fez uma pausa curta, sincera. — E gostei muito do que vocês apresentaram aqui esta noite.
Abel sugeriu logo que ela iria escrever algo sobre eles, cheio de empolgação – depois saiu correndo para vomitar no banheiro. Silas agradeceu o elogio e em seguida saiu acompanhado de uma garota que estava ficando. Ruben sorriu com certa timidez e o cheiro de cannabis veio junto com sua fala.
— Eu sou Ruben. Muito obrigado, Talita – e, como se precisasse completar: — Além de escrever, você também dança, não é?
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Como você sabe? – ela perguntou surpresa.
— Pelo jeito que se mexia enquanto tocávamos – respondeu ele, simplesmente.
“Então ele também reparou em mim”, ela pensou.
Passaram um bom tempo a sós. Conversaram sobre bandas esquecidas e sobre como adoravam post-punk, shoegaze, darkwave e afins. Falaram sobre como estes subgêneros ainda soavam bem até os dias atuais, mesmo quando misturados às novas influências. Mas foi quando Ruben mencionou seu gosto por Trip Hop que os olhos de Talita brilharam – um gênero que destoava, psicodélico, lento, atmosférico, com uma sensualidade latente.
Depois de quase uma hora, Abel apareceu com mais uma cerveja na mão, expansivo e esbravejando sobre o ódio que sentia pelo imperialismo norte-americano; Silas, risonho e brincalhão, enquanto concordava com o amigo bêbado, ofereceu um cigarro de maconha que Ruben prontamente deu uns dois tragos rápidos.
— As pessoas ficam mais extrovertidas e sinceras quando estão bêbadas, porém o Abel já é naturalmente assim – disse Ruben com bom humor, passando o cigarro para Talita, que também deu alguns pegas.
A noite foi incrível para os dois. Não trocaram mais do que palavras e seus números de celular naquela primeira vez. Mas, intimamente, sabiam que se encontrariam outras noites depois daquela.
* * *
No dia seguinte, Talita escreveu um artigo sobre a Verborragia em seu blog. Descreveu a banda como “uma releitura do que havia de melhor nos anos noventa” e as linhas de baixo de Ruben como “ondas pulsantes que invadem o corpo”. Ela passou a acompanhar e registrar cada passo do trio, tornou-se íntima deles e começou a participar ativamente da divulgação dos eventos.
Os dias viraram semanas e não foi só a relação entre a banda e Talita que evoluiu. Ela estava criando algo especial e mais íntimo com Ruben. Era com ele que ela se conectava melhor e interagia mais naturalmente. Fumavam maconha juntos, trocando ideias antes e depois dos shows. Trocavam mensagens com bastante frequência. Enviavam playlists musicais diversas um para o outro – ela enviava seleções cuidadosamente nomeadas; ele respondia com faixas obscuras, versões ao vivo, demos imperfeitas.
Encontravam-se de novo, e de novo. Em shows, ensaios e cafés barulhentos. A atração entre eles crescia sutilmente, como uma música que se constrói devagar com um refrão repetido demais para ser ignorado.
Uma noite, em um pub abafado do centro da cidade, após o set da banda, Talita e Ruben conversavam num canto discreto do local, corpos bem próximos de maneira que era possível sentir o calor um do outro. Ele acendeu um baseado, compartilharam tragos por alguns minutos. O efeito logo subiu à cabeça, relaxando os músculos. Seus olhares se enlaçaram e a primeira quebra aconteceu com um beijo faminto, cheio de intenções há muito reprimidas.
Os dois se esgueiraram para dentro de um dos banheiros do pub, trancaram-se e as luzes piscavam quase de forma maliciosa. O som da banda que tocava chegava abafado pela porta. O espelho embaçado refletia as formas dos amantes: ela, com curvas salientes e o volume do corpo pressionado contra a pia; ele, alto, com as mãos enormes deslizando pelas coxas grossas dela. Os corpos se encaixaram com urgência, exploravam-se com força e fome sob as roupas – sabiam que o tempo era curto, mas não havia pressa, era apenas necessidade.
A língua de Ruben percorria a região abaixo do queixo de Talita, enquanto erguia sua saia. Ela gemia baixinho, as mãos agarradas nos cabelos dele, puxando com força. Ele desceu, ajoelhando-se no piso frio e puxou a calcinha dela até os joelhos. A boca dele finalmente encontrou a umidade entre as pernas dela. Agora a língua de Ruben traçava linhas lentas e intensas – como seus dedos nas cordas do contrabaixo –, fazendo-a arquear o corpo e cravar seus dedos nos ombros dele.
As coxas robustas de Talita tremiam, sentindo a aspereza aveludada da língua de Ruben deslizando sobre os lábios da sua boceta. “Mais”, sussurrava ela, com a voz rouca. Ele obedecia, sugando e penetrando os dedos enquanto ela se contorcia. Ela gozou rápido, o corpo carnudo convulsionando sobre a pia.
Sem mais rodeios, Ruben se ergueu puxando o cinto e desabotoando a calça. Talita ainda sentia os efeitos do orgasmo quando puxou o pênis dele para fora da roupa, masturbando-o e pincelando sua glande sobre os fluídos da boceta dela, lubrificando-o. Estava totalmente rígido, pulsando de prazer. Então ele a penetrou em um ritmo envolvente, como uma batida de Trip Hop. Os suor dos dois se misturavam, as respirações quentes se encontravam e os minutos passavam sem que percebessem, até que Ruben também explodiu em um gozo intenso.
Quando se afastaram, seus olhos estavam mais escuros e suas faces coradas. Não podiam acreditar no que tinham acabado de fazer naquele banheiro e, ao mesmo tempo, estavam satisfeitos por terem feito. Era um segredo que selava uma nova fase da relação deles. Talita sorriu para Ruben, ele respondeu com um beijo furtivo. Então os dois saíram separados, misturando-se novamente à multidão entre as luzes oscilantes do pub.
A partir dali, tornaram-se amantes casuais. Construíam uma intimidade em pequenos gestos: construindo playlists juntos, dividindo fones de ouvido e fumando nas varandas dos casarões onde a Verborragia tocava. Tudo fluía naturalmente.
* * *
O tempo passou. A Verborragia finalmente gravou seu primeiro EP num estúdio improvisado no porão de um amigo de Abel, que foi lançado numa noite úmida de primavera. Foram seis faixas. Ruben mixou tudo sozinho, chapado, com seus fones de ouvido. Talita e Silas cuidaram da organização do evento para o show de lançamento.
Semanas correram, as pessoas ouviam e compartilhavam as músicas recém lançadas da banda. O trio começou a ganhar ouvintes fora da sua cidade natal. Quando o dia do evento chegou, o show deles tinha um público maior que o de costume. Venderam todo material físico que prensaram de forma independente – embora não fosse muito. Dezenas de pessoas foram falar com eles depois do show. Era um excelente começo e todos estavam orgulhosos, inclusive Talita. Porém, depois disso, as coisas mudaram de ritmo.
Convites começaram a chegar de festivais pequenos no interior, casas de show em capitais próximas, noites divididas com bandas que já tinham algum nome na cena underground. A van velha de Silas virou casa sobre rodas: bancos cheios de caixas de som, mochilas, garrafas d’água e sacos de dormir. Tudo isso acontecia e Talita não podia mais acompanhá-los a cada passo, ela tinha suas próprias responsabilidades e rotina.
Na estrada, Abel dirigia cantando alto, cheio de animação; Silas dormia no banco de trás com a cabeça no colo de quem estivesse mais perto; Ruben ficava no passageiro, janela aberta, fumando alguma pontinha de maconha que sobrara da noite anterior, observando mais um nascer do sol – e, apesar do assédio que começou a receber das garotas pelos locais que tocava, sentia falta de Talita.
Os assédios começaram com mensagens tímidas nas redes sociais da banda: “Adorei o show de ontem”, “Vocês são incríveis ao vivo” e etc. Depois vieram as que esperavam na saída dos eventos, com os olhos brilhando cheios de intenção. Algumas só queriam fotos ou abraços apertados demais.
Uma vez deixaram o número do celular no bolso da calça de Abel, outra vez deslizaram as mãos pelo braço ou pela barriga de Silas enquanto compravam camisetas da banda. Ruben, mais quieto, recebia olhares demorados e sorrisos convidativos. Ele sorria de volta, demonstrava simpatia, mas se desviava. Às vezes aceitava um baseado oferecido, conversava sobre música, mas nada muito além disso. Ao contrário dos seus dois amigos, que sempre passavam as noites acompanhados de alguém dentro da van.
Talita acompanhava tudo de longe: os stories da banda, os posts dos pubs, as marcações de fãs. Via as fotos de Ruben no palco, com o suor escorrendo pelo pescoço, cabelo grudado na testa, o baixo pendurado baixo na cintura; depois, nos bastidores, cercado por rostos desconhecidos, mãos alheias pelos ombros dele, recebendo todo calor que só bandas undergrounds – que normalmente não têm barreiras com seu público – podem receber.
Ruben e Talita ainda se viam quando a banda voltava à cidade, geralmente se encontravam na casa dele, conversavam sobre as novas faixas, criavam novas playlists e, claro, faziam boas horas de sexo. Mas o espaço entre um encontro e outro crescia. E, no silêncio desse espaço, ela se perguntava onde exatamente ficava dentro da vida dele agora.
Uma noite, após um show num interior, Ruben chegou em casa de madrugada. Abel o deixou na porta, o motor da van chegou tossindo. Ele entrou, acendeu a luz fraca da cozinha e foi preparar um baseado. O celular vibrou, era uma mensagem de Talita. Só uma foto – ela no espelho do quarto, vestindo uma camiseta velha dele, com os seios médios marcados no tecido fino, as coxas carnudas à mostra e o olhar direto para a câmera. Embaixo, a legenda: “Saudade do teu grave”. Foi a primeira vez que ele pensou que ela também sentia a falta dele e notou a insegurança nas palavras dela – talvez um pouco de ciúmes.
Ruben ficou olhando a foto por minutos. Sentiu o peso das últimas semanas: as estradas, as noites barulhentas e os belos corpos desconhecidos que se ofereciam. Então percebeu, ali na cozinha vazia, enquanto tragava seu beck, que o que mais queria era o corpo conhecido de Talita, o cheiro Talita, a voz Talita pedindo mais devagar ou mais forte… queria Talita.
Não era só tesão. Era algo que já tinha nome – mas que nenhum dos dois havia dito até então. Era amor e ele precisava provar que sentia aquilo por ela. Mas como?! Nunca foi bom em expressar sentimentos e, muito menos, de longos discursos. Sentou-se no chão, de costas na parede, e começou a arranhar alguns acordes no violão enquanto pensava. Foi assim que ele teve a ideia de compor algo sobre Talita.
O dia já nascia quando Ruben finalizou sua nova música, carregada de significados e metáforas que só Talita entenderia com facilidade. Ele chamou a música de “Teus Acordes”. Ainda não tinha dormido quando ligou para Silas e Abel, falando sobre a nova composição e os convencendo a gravá-la o quanto antes e lançá-la como um single – afinal já estava na hora de lançarem algo novo para aquecer seus novos ouvintes. Gravaram no velho porão do amigo de Abel, em uma sessão rápida. Agora era só Ruben lapidar as pistas no seu notebook em seu programa mixagem.
Demorou algumas semanas para terminar as mixagens. Quando Abel e Silas receberam a faixa finalizada, aprovaram de imediato. Nem sequer perceberam que, por trás daquelas metáforas obscuras sobre saudade, solidão e êxtase, Ruben fazia uma declaração de amor para Talita. E mesmo se tivessem percebido, não seria um problema.
Talita já estava empolgada e ansiosa com a notícia da nova música. As vezes que se encontrou com Ruben durante o processo, perguntou sobre o andamento da mixagem. Ela foi a primeira a receber o arquivo da música para ouvir, antes do lançamento oficial.
Era uma madrugada de sábado. Ouviu sozinha, deitada na cama só de calcinha e com o fone no máximo. O som era sombrio, experimental e sensual de um jeito implícito. Ela reconheceu cada frase, cada pausa, cada respiração dele na gravação. Sentiu o peito apertar e, ao mesmo tempo, o corpo arrepiar. Primeiro chorou, depois sorriu e, por fim, gozou – com os dedos entre as coxas, imaginando a boca dele ali, ao som da música que era dela.
Minutos depois, Talita enviou para Ruben uma seleção de músicas, repleta de Shoegaze, Post-punk, mas principalmente Trip Hop – Massive Attack, Portishead, faixas lentas, sensuais, atmosféricas… um ritmo que pedia proximidade e calor. O título que ela deu à seleção era quase uma confissão: “MEU TESÃO TEM PLAYLIST”.
Ruben ainda estava acordado e logo visualizou a mensagem. Pensou que ele e Talita haviam descoberto juntos um território comum na música e no prazer. Sorriu sozinho antes de responder a mensagem:
— Isso precisa ser ouvido junto!
Talita respondeu com um enorme “SIM!!!”.
Marcaram de se encontrar no mesmo dia, na casa de Ruben – aquele velho apartamento cheio de pôsteres nas paredes, CD’s, vinis, livros antigos e o cheiro doce de cannabis no ar. Lugar que ela achava estranhamente organizado e aconchegante. Sentia-se em casa.
* * *
Ruben limpou o apartamento, acendeu alguns incensos e providenciou uma garrafa do vinho tinto seco preferido de Talita. Conectou o celular numa caixa de som e deixou rolando uma playlist de stoner enquanto tomava um banho quente. Vestiu-se com uma camiseta básica, sua tradicional bermuda longa, prendeu o cabelo em um coque desajeitado e borrifou um pouco do perfume que Talita adorava. Ficou na sala, deitado no sofá, ouvindo a playlist e lendo as notificações da sua rede social enquanto ela não chegava.
Talita chegou no início da noite, usava um vestido solto que acentuava suas curvas, com seus seios livres sob o tecido fino. Seu cabelo, com cachos perfeitos acima dos ombros, exalavam um cheiro semelhante a um jardim florido. E seu perfume cheirava à sedução. Ela subiu as escadas até o terceiro andar – que era o último daquele pequeno prédio. Tocou a campainha do 13º, onde morava Ruben.
Quando ele abriu a porta, pequenos fios de fumaça ondularam no ar e ela viu seus olhos levemente avermelhados, chapados. Ela usava o batom escuro que ele adorava ver nos lábios dela. Ele estendeu a mão até Talita, passando o baseado.
— Entre, minha querida. Seja bem vinda outra vez!
Talita respondeu com um sorriso enorme, expondo seus dentes perfeitos, e foi entrando no seu antro de amor dando seus primeiros tragos e sentindo o gosto denso do skunk. Percebeu o som preencher o espaço com aqueles acordes graves e vozes etéreas. Logo reconheceu sua nova seleção musical: “MEU TESÃO TEM PLAYLIST”, criada exatamente para esses momentos com Ruben.
Sentou-se no chão, encostada no sofá e o encarou por alguns segundos antes de falar.
— Obrigada, querido! – disse ela, simplesmente, com os olhos marejados e a voz meio trêmula.
Ruben entendeu na mesma hora que aquele agradecimento tão cheio de emoção não se tratava da recepção que ela acabara de receber, mas sim por ele ter expressado seu amor por ela da forma mais sincera que podia. Para Talita, aquela música foi a mais pura prova de amor que ele poderia dar para ela. Seu coração ficou tranquilo outra vez e suas inseguranças se tornaram passado. Ele se aproximou do sofá e sentou ao lado dela.
Abraçaram-se com uma urgência inédita, sentindo o calor e os batimentos do coração um do outro. Sussurravam “Eu te amo!” entre beijos e apertos. Enfim, o que havia iniciado com um lance casual, tornara-se algo real. E, passada toda a emoção inicial daquele reencontro após a prova de amor, a noite transcorreu de maneira suave. Os dois foram para a cozinha pequena e começaram a preparar uma lasanha.
Beberam algumas taças de vinho seco enquanto cozinhavam. Talita bebia com calma, sabia que era questão de tempo para que, os efeitos daquele vinho misturados aos do skunk, pouco a pouco aflorassem sua libido. Ruben também não era ingênuo, não comprou o vinho preferido dela por acaso. A noite teria que ser especial.
Conversaram bastante, principalmente sobre música – como era de costume. Com todos os assuntos em dia, aquietaram-se no quarto. Agarrados, compartilhando calor. O vinho já havia descido suave e a cannabis fez relaxar. Ruben a puxou para o colo, beijando-a sem nenhuma pressa. As mãos dele começaram a explorar os seios médios e macios dela, os mamilos endureceram sob os dedos dele. Talita o montou, com os quadris se movendo ao ritmo de “Teardrop” da banda Massive Attack.
♬ “Love is a doing word / Fearless on my breath”
As roupas foram abandonadas, como se cada camada retirada acompanhasse a música. Talita ergueu o vestido, revelando a nudez, pressionando as pernas dela com suas coxas robustas. Ruben se livrou da camisa, a pele alva contrastava com a dela.
Nesse primeiro instante, era Talita quem guiava o ritmo com seu corpo sobre o de Ruben, ondulava os quadris em uma dança sugestiva. A umidade da boceta dela já havia ultrapassado o tecido rendado da calcinha, fazendo-a deslizar sobre uma das coxas dele. Ruben apenas se deixava dominar, mas atento aos sinais, explorando-a inteira com as mãos.
Talita desceu devagar do colo de Ruben e ajoelhou entre suas pernas dele – o tapete macio sob os joelhos. Puxou a bermuda para baixo, libertando o pau já duro e quente contra a palma da mão dela. Inclinou-se, os cabelos cacheados roçando as coxas dele, e tomou-o na boca devagar, sentindo o peso na língua, o gosto salgado da pele, a veia pulsando contra o céu da boca.
♬ “Shakes me makes me lighter / Fearless on my breath”
Seguiu chupando Ruben em um ritmo cadenciado. Apertava os lábios deslizando até a base do pênis dele. Circulava a língua na glande, em voltas molhadas. Sugava com força, fazendo-o inspirar fundo e soltar gemidos roucos. As mãos dela seguravam a base, masturbando em sincronia com a boca que subia e descia. A saliva escorria pelos cantos e um som úmido misturava-se ao baixo grave da música. Ele enfiou os dedos nos cachos dela, apenas sentindo enquanto ela o engolia inteiro, com a garganta relaxada e olhos erguidos encontrando os dele.
Quase explodindo de prazer, ele a virou de bruços na cama, expondo aquela bunda enorme que ela tinha e admirando suas curvas salientes. Beijou-a nas costas e foi descendo até lamber o ânus dela com delicadeza, fazendo-a pedir por mais. Talita empinou ainda mais os glúteos, apertando o lençol entre os dedos, enquanto sentia a língua quente de Ruben explorá-la por trás.
♬ “Night, night of matter / Black flowers blossom”
Ruben a virou outra vez, agora com as costas na cama. Separou as coxas dela com as mãos firmes, abrindo caminho para a boceta molhada que brilhava sob a luz fraca do quarto. Inclinou-se, sentiu o cheiro dela e a lambeu de baixo para cima bem devagar. Deslizou a língua plana pelos lábios carnudos, saboreando o gosto quente dela. Circulou o clitóris com a ponta da língua, sugando suavemente, depois mais forte, enquanto dois dedos entravam fundo, curvando-se para dentro da boceta e atingindo o ponto G.
Talita tremia inteira, abafava os gemidos mais altos com o travesseiro e seguia movendo os quadris contra a boca dele. Sucos escorriam pelo queixo de Ruben até que ela gozou gritando, o corpo convulsionando… contraindo e relaxando os músculos do assoalho pélvico, apertando os dedos dele dentro de si. Ruben, por sua vez, continuou com a boca voraz, até ela puxá-lo para cima.
— Por favor, me fode agora! – murmurou no ouvido dele, suplicando.
Ruben obedeceu, posicionando-se entre as coxas de Talita, a pele quente dela roçando a dele enquanto ele guiava a cabeça do pau até a entrada molhada. Penetrou-a devagar, centímetro por centímetro, sentindo as paredes internas quentes e úmidas se moldarem e contraírem ao redor da rigidez do membro dele, em um aperto pulsante que o fez soltar um suspiro rouco.
O cheiro de sexo e maconha pairava no ar, misturado ao som grave das faixas de Trip Hop que saía dos alto-falantes, ditando o ritmo: investidas profundas, demoradas, saindo quase inteiro só para voltar até o fundo outra vez. O pênis deslizando facilmente no calor escorregadio de Talita. As mãos de Ruben agarraram os quadris salientes dela, com os dedos cravando na carne macia, puxando-a contra si a cada estocada, sentindo o corpo dela responder com tremores sutis que vibravam contra o peito dele.
♬ “Teardrop on the fire”
Sentindo o segundo orgasmo se aproximando, Talita empurrou Ruben para o lado e montou nele. A bunda polpuda dela desceu lentamente até engoli-lo por completo, sua carne quente e macia batia contra as coxas dele a cada nova descida, produzindo um estalo abafado e úmido. Seus seios balançavam, os mamilos sensíveis e endurecidos roçavam no peito dele. Ruben aparou um deles com a boca, sugando-o, circulando a língua no bico antes de mordiscar de leve, arrancando dela mais gemidos.
Talita cavalgava em ritmo inebriante. Seus quadris giravam envolvendo o pênis de Ruben, apertando-o dentro de si. A garrafa de vinho, na mesinha ao lado da cama, tombou quando Ruben bateu uma das pernas por acidente. O líquido rubro se espalhou pelo lençol como sangue quente, misturando-se ao suor que escorria deles.
Ruben sentiu seu êxtase chegando. O pau pulsava mais intensamente dentro de Talita, cada contração quente dela o levava ao limite. Ela também estava perto de atingir um novo orgasmo e acelerou o ritmo, com os quadris se movendo mais rápido. “Estou quase”, ela murmurou para ele, com uma voz ofegante e o hálito quente roçando a orelha.
De repente, os dois se dissolveram em júbilo na cama, juntos, sobre o vinho derramado e cruzando seus olhares no ápice.
Talita gozou antes, soltando um grito longo e trêmulo. Seu corpo convulsionava e sua boceta se contraia em espasmos fortes ao redor do membro pulsante dele. Sucos quentes escorreram densos pelas coxas dela e pingaram sobre as dele.
Ruben a seguiu no mesmo instante, jorrando fundo dentro dela em pulsos grossos e ardentes, o prazer explodia da base da espinha até a nuca. Deixou escapar um grunhido animalesco enquanto sentia cada onda de sêmen ser sugada por ela.
♬ “Fearless on my breath”
Passaram a noite repetindo a dose: fumando, bebendo, fodendo em posições variadas – ela de joelhos no sofá, ele por trás no banheiro, ela contra a parede da cozinha... Pararam por pouco tempo, para matar a larica com porções generosas da lasanha... Mas a playlist loopava, cada faixa era uma nova onda de prazer. No dia seguinte, um domingo ensolarado, acordaram entrelaçados, com os corpos doloridos, cheirando a sexo, maconha e suor. Mas satisfeitos.
Permaneceram um tempo deitados, compartilhando olhares apaixonados e um silêncio sugestivo. Era como parte da canção deles.
Pela primeira vez em meses, Talita havia dormido sem aquele aperto no peito.
* * *
No mês seguinte, a Verborragia lançou “Teus Acordes” como single, que foi muito bem recebido pelo público da banda e alcançou novos ouvintes, projetando o trio para outros Estados. Dias depois, quando tocaram o novo single ao vivo pela primeira vez, no Mosh Pub, Talita estava na plateia. Ruben a encarou do palco, cantou olhando para ela. Pela primeira vez ele cantava em público sobre sentimentos que, até então, nunca havia conseguido falar.
Depois de “Teus Acordes”, o assédio das garotas não cessou. Muito pelo contrário, só cresceu. Os olhares externos continuaram a rondar Ruben e seus companheiros de banda. Talita via as fotos que as fãs marcavam a banda nas redes – grudadas em Ruben, ou com as mãos nos cabelos dele, ou fingindo sussurrar algo safado ao pé do ouvido – mas ela já havia superado a insegurança. O ciúme, antes uma nota dissonante que vibrava no peito, transformou-se em confiança.
Para Talita, nada daquilo mais importava. A música era dela. Prova de um amor que era todo seu naquele momento. Ruben cantava olhando para a plateia, mas era o grave dela que ecoava nos acordes que ele tocava. E, à noite, quando ele voltava e se deitava ao lado do seu corpo volumoso, ainda cheirando a estrada e suor alheio, Talita sorria contra o travesseiro. O tesão deles tinha playlist, uma bem longa, escutada no volume máximo.
Talita e Ruben não viveram nada pela metade. Mesmo sabendo que tudo na vida tem um fim, inclusive o amor.
“Love is a doing word” ~ Teardrop (Massive Attack).
[ FIM! ]
