Mamãe Teve Que Ir Sentada no Meu Colo - Pt. 15 (A Invasão da Voz)

Um conto erótico de Gil
Categoria: Heterossexual
Contém 1339 palavras
Data: 31/12/2025 16:15:28
Última revisão: 31/12/2025 17:27:49

Vocês perceberam, não é?

Aquele momento no capítulo anterior. Aquele instante preciso em que a minha voz sumiu e a voz *dele* assumiu o comando. Como se ele tivesse arrancado a caneta da minha mão. Como se ele, Matheus, tivesse se tornado o dono da história, confessando seus planos, narrando seus motivos, explicando o tabuleiro de xadrez com uma frieza cirúrgica.

Pareceu um recurso literário, eu sei. Uma mudança de perspectiva.

Mas não foi.

Aquilo foi um sintoma.

Levei quarenta e oito horas de terror absoluto para entender o que aconteceu dentro da minha cabeça. Fui pesquisar. Li bulas. Li relatos de usuários em fóruns obscuros da deep web. E descobri que o que me deram não foi apenas algo para me "soltar".

Foi **Ketamina**. Em dose cavalar. Misturada com algum análogo de MDMA.

A Ketamina é uma droga dissociativa. Ela não cria alucinações coloridas como o LSD. Ela faz algo muito pior: ela separa o "Eu" do "Observador". Ela fragmenta a narrativa interna. Quando você está sob efeito pesado de dissociativos, a barreira entre o que você pensa e o que os outros dizem se dissolve. A sua voz interior se cala, e qualquer sugestão externa entra como um comando divino.

Durante a batalha no jardim, enquanto eu estava fora de mim, o Matheus não estava calado. Ele estava sussurrando.

*"Você é um predador, Nando..."*

*"O Ricardo te criou para isso..."*

*"Olha como ela te quer..."*

O meu cérebro, quimicamente castrado de sua identidade, pegou essas frases e construiu uma nova personalidade para preencher o vácuo.

Aquele capítulo onde "Matheus narrou"? Aquilo não foi ele falando. Aquilo foi a minha mente, quebrada e sugestionada, tentando processar o trauma. Eu alucinei a narrativa dele. Eu *construí* a voz dele dentro da minha cabeça para explicar o inexplicável. Ele invadiu a minha psique tão profundamente que eu contei a história dele como se fosse minha.

Essa é a violação final. Ele não estuprou apenas a minha moral. Ele estuprou a minha própria voz.

Mas agora o efeito passou. A química saiu do sangue. O "Eu" voltou.

E agora eu sei o que é real.

A batalha dos gladiadores? Aconteceu. Mas não foi aquela ópera épica e gloriosa que eu descrevi antes. Não houve música de fundo. Não houve honra. O que houve foi suor, grunhidos, cheiro de fezes e sangue, e violência crua. Eu violei a Marina. O Matheus violou a Ana. O Ricardo assistiu. Isso é a realidade física, suja e indelével.

Mas quem colocou a arma na minha mão... ah, isso é o que todos nós erramos.

Eu acordei no sofá com a certeza absoluta de que o Ricardo tinha feito isso. Quem mais seria? O Grande Arquiteto. O homem que passou a vida fazendo jogos mentais. Ele devia ter colocado algo na minha bebida para testar meu "instinto assassino". Era a cara dele.

Eu queria matá-lo.

Levantei do sofá sentindo cada músculo gritar. Minhas mãos estavam esfoladas. Havia sangue seco debaixo das minhas unhas — sangue da Marina? Meu? Eu não queria saber. Fui até a cozinha, movido por uma sede de vingança que queimava a garganta mais que a bile.

Eles estavam lá. O quadro da manhã seguinte a um massacre.

Ana, destruída, olhando para o nada.

Marina, curvada, servindo café com mãos trêmulas.

Ricardo, sentado à cabeceira.

Eu entrei pronto para voar no pescoço do meu pai. Pronto para gritar que ele tinha ido longe demais, que drogar o próprio filho e a esposa para um experimento sádico era o limite final.

Mas então eu olhei para ele.

Ricardo não estava sorrindo. Ele não estava com aquela postura de imperador satisfeito com seu circo. Ele estava... cinza. As mãos dele tremiam levemente sobre a mesa. O olhar dele estava vidrado, perdido, aterrorizado. Ele parecia um homem que tinha visto seu império pegar fogo e não sabia onde estava o extintor.

Ele tinha sido pego de surpresa.

Aquele não era o rosto de quem planejou a noite. Aquele era o rosto de uma vítima.

Meu estômago gelou. Se não foi o Ricardo...

Meus olhos correram a mesa.

Ana estava em choque.

Marina estava servil, quebrada.

Cláudio estava lá fora, irrelevante como sempre.

E então, meus olhos pararam nele.

Matheus.

O primo quieto. O "cordeiro". O garoto que a mãe castrou. O nerd da química que nunca olhava ninguém nos olhos.

Ele estava comendo uma torrada.

Passava manteiga com uma calma meticulosa. Mordia. Mastigava. Bebia um gole de suco de laranja.

E sorria.

Um sorriso pequeno. Quase imperceptível. Não para nós, mas para si mesmo. Como alguém que acabou de resolver uma equação complexa e gostou do resultado.

A memória estalou na minha cabeça como um chicote.

*Sábado de manhã. O calor. Ele chegando no carro com aquela mochila térmica.*

*"Trouxe vitamina C efervescente, primo. Pra hidratar. Tá muito sol."*

*O gosto levemente amargo no fundo do copo que eu ignorei porque confiava nele. Ou porque eu o achava uma ovelha, não um lobo.*

*"Toma, tio Ricardo. Fiz um café expresso especial pro senhor."*

Não foi o Ricardo.

O Ricardo bebeu o café e ficou lento, sedado, incapaz de reagir quando a violência começou.

Eu bebi a "vitamina" e virei um monstro dissociado.

O Ricardo não era o mestre do jogo. O Ricardo era apenas mais uma peça. O Rei que foi derrubado do tabuleiro.

O verdadeiro jogador estava ali, limpando um pingo de geleia do canto da boca com o dedo mindinho.

Eu senti uma onda de frio percorrer minha espinha, seguida imediatamente por um calor vulcânico. O tipo de calor que não vem da raiva, mas do ódio puro e cristalizado.

Aquele filho da puta.

Aquele lobo em pele de ovelha.

Ele usou a minha força física. Usou a reputação do Ricardo. Usou o trauma da Marina. Ele orquestrou tudo para destruir a mãe do "primo perfeito" e a esposa do "tio rico", enquanto ele saía limpo, assistindo de camarote a destruição mútua.

Ele me viu olhando.

Matheus levantou os olhos da torrada. Encontrou os meus.

Por um segundo, a máscara caiu. O olhar tímido sumiu. O que vi ali foi um abismo. Escuro, inteligente e zombeteiro. Ele sabia que eu sabia.

Ele piscou devagar. E depois, com a voz mais inocente do mundo, perguntou:

— Tá tudo bem, Nando? Você parece tenso. Quer um pouco de suco?

Eu olhei para o copo de suco na mão dele. A arma do crime.

Eu poderia pular nele agora. Poderia espancá-lo até ele confessar. Mas o que adiantaria? O Ricardo ainda estava grogue. A Ana e a Marina estavam em choque. Se eu atacasse o "pobre Matheus" agora, eu pareceria o louco. O drogado agressivo que perdeu o controle de novo.

Não.

Ele jogou xadrez comigo sem eu saber que estava jogando. Ele usou química. Ele usou psicologia.

Ele quer guerra?

Ele acha que venceu porque derrubou o Rei e a Rainha. Mas ele esqueceu que o Peão, quando atravessa o tabuleiro e sobrevive ao inferno, pode se transformar em qualquer coisa.

Eu respirei fundo, engolindo o gosto de metal e bile. Forcei os músculos do meu rosto a relaxarem. Puxei a cadeira e me sentei de frente para ele.

— Não, obrigado, primo — eu disse, minha voz saindo assustadoramente calma. — Eu estou ótimo. Na verdade, nunca estive tão lúcido.

O sorriso do Matheus vacilou por uma fração de milímetro.

O jogo mudou. O Ricardo é passado. A guerra agora é minha. E eu não preciso de drogas para destruir alguém. Eu aprendi com o melhor, antes dele cair.

— Passa a manteiga, por favor? — pedi.

Matheus me estendeu o pote. Nossos dedos se tocaram. A pele dele estava fria. A minha estava fervendo.

Que comece a carnificina.

————————

"Se você acorda numa hora diferente, num lugar diferente, você acordaria como uma pessoa diferente?"

"Só depois de perdermos tudo é que estamos livres para fazer qualquer coisa."

"Você não é o seu trabalho. Você não é o quanto você tem no banco. Você não é o carro que você dirige. Você não é o conteúdo da sua carteira."

- O Clube da Luta

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Comentários

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Contradio, foi bem corajoso e arriscado vc colocar mecanismos de meta narrativa e dissociativos nessa história, eu realmente não esperava por nada disso. Achei que você fosse se perder (nos meus próprios contos, eu evito colocar esse tipo de coisa pq é meio nichado e tenho medo de me enrolar). Mas acho que tu se saiu extremamente bem! Só uma dúvida: o Matheus manja tanto de química como mesmo? Posso ter papado mosca nessa parte, mas resumindo: GENIAL. ANSIOSA PELO INÍCIO DA GUERRA SANGUINÁRIA

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