Ela me via só como amigo - Cap. 6

Um conto erótico de Bruno (por Carlos_Leonardo)
Categoria: Heterossexual
Contém 13491 palavras
Data: 01/12/2025 10:54:51
Última revisão: 01/12/2025 10:55:30

Novamente, muito grato por todos os comentários nos capítulos anteriores. Leio todos, sempre tomando nota.

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Tive um lapso de memória, como se a imagem de Wanda tivesse feito meu cérebro reiniciar. Senti o aperto reconfortante de Adriana no meu braço, e ela me puxou gentilmente, como um lembrete de estar presente. À minha frente, Trajano caminhando em minha direção, de braços abertos e um sorriso de satisfação por me ver.

- Meu querido Bruno, que bom que você veio. E você também, Adriana. Que felicidade!

Cecília vinha atrás dele, com um sorriso radiante, maquiagem impecável e um vestido dourado. Ambos me abraçaram efusivamente. Em seguida, Cecília deu um abraço apertado em Adriana enquanto Trajano foi em direção a minha mãe.

- Faz tanto tempo que não te vejo, Adriana. Você está mais linda ainda!

- Muito obrigada, Dona Cecília. A senhora está maravilhosa!

- Bruno – Cecília virou-se para mim, ainda abraçando Adriana – sua namorada é linda, sabia?

Assenti timidamente e Adriana corou, feliz com o elogio.

Em seguida, Cecília foi cumprimentar minha mãe, interrompendo alguma conversa engraçada que ela tinha com Trajano.

- Marluce, querida, eu estava contando as horas para você chegar – Cecília falava enquanto beijava minha mãe no rosto, sussurrando algo inaudível para mim. Então, ela falou em alto e bom som – Olha, eu acho que seu filho e Adriana serão o casal da noite.

- Eu tô pagando para ver isso – minha mãe concordou, aos risos.

Adriana e eu nos entreolhamos, com um meio sorriso confuso. Trajano, talvez percebendo que aquela troca de figurinhas demoraria bastante, voltou suas atenções a mim.

- Venha, Bruno! Tenho pessoas que quero te apresentar…

Ele colocou sua mão em meu ombro e foi me guiando por entre os convidados, como se soubesse exatamente onde queria me levar. Olhei para Adriana e ela me deu um leve aceno enquanto se juntava a Cecília e a minha mãe, que vinham nos acompanhando atrás.

Enquanto cruzávamos por um mar de homens de paletó e mulheres de vestido longo, um flash passou pela minha mente, enchendo-me de questionamentos inquietantes. Era ela mesma? Eu realmente a vi? Wanda! Olhava para os lados tentando encontrá-la novamente, mas nada. Terá sido uma miragem? “Impossível”, eu pensei. Era o aniversário do pai dela, óbvio que ela estaria presente. Mas onde ela estava?

Trajano me levou numa roda de conversa para fazer uma social. Ali, estavam pessoas importantes como executivos das principais financeiras do país, investidores com patrimônio de mais de R$ 100 milhões e empresários. O assunto, óbvio, variava desde a crise política até o mercado de opções. Eu interagia com naturalidade, afinal, aquela engenharia social também fazia parte do meu trabalho.

Vez ou outra, eu desviava meu olhar para Adriana, que me encarava com um misto de admiração e também de desconforto. Ela me parecia um pouco dispersa, não interessada no que minha mãe, Cecília e outras mulheres, na rodinha delas, estavam conversando. Chamei Adriana para ficar ao meu lado, mas ela recusou, dizendo que estava tudo bem.

Pouco tempo depois, no auge da conversa, Trajano desculpou-se e saiu da roda, pois precisava recepcionar outros convidados. Ele estava elétrico, mas disse que voltaria para continuar a conversa.

Assim que ele saiu, Adriana e minha mãe vieram até mim dizendo que iam para a nossa mesa reservada. Até me ofereci para acompanhá-las, mas elas recusaram, me lembrando sutilmente a importância de fazer networking. Só me restou vê-las indo por um instante, até que a roda de conversa recapturasse minha atenção.

Os assuntos pareciam intermináveis. Em qualquer outro evento, eu manteria o foco. Porém, eu estava fazendo muito esforço para não me dispersar, tentando ignorar a sensação de perigo que me rondava ao imaginar que Wanda poderia reaparecer a qualquer momento. Comecei a ficar com ansiedade e, também, a me preocupar com Adriana e minha mãe, achando que não estivesse dando atenção a elas. Pedi licença à roda e fui até elas, prometendo voltar.

A nossa mesa parecia grande demais para apenas três pessoas. No centro de mesa, havia plaquinhas com nossos nomes, tudo requintado. Senti-me importante. Adriana e minha mãe conversavam algo engraçado, pois riam bastante. Isso me tranquilizou um pouco. Dei um beijo em Adriana e voltei a circular pela festa.

Reconheci vários clientes, compartilhei ideias, troquei contatos e conheci familiares distantes de Trajano. E em todo esse tempo, não vi Wanda, mas... vi Vitor, o que não foi uma surpresa para mim, apesar de ter me impactado. Ele conversava com… Gustavo. Isso, sim, era estranho.

Os dois estavam sozinhos, em pé, perdidos em meio ao mar de convidados alheios a presença deles. Eles olhavam de um lado para outro, parecendo procurar alguém para se conectarem. Antes que me vissem, virei-me de costas. Se Vitor estava ali, só poderia ser por Wanda. Provavelmente, eles ainda eram namorados. Isso me causou um pouco de desânimo.

A presença de Gustavo, por outro lado, me parecia sem sentido. Ele era amigo de faculdade de Vitor e não de Wanda. Será que Gustavo e ela se tornaram amigos e por isso ele estava entre os convidados? Além disso, será que Wanda sabia que foi Gustavo quem aconselhou Vitor a terminar o namoro no passado? Essas perguntas começaram a me causar um temor inexplicável.

Procurei ficar longe do campo de visão deles, mas tentando observá-los de longe. Senti até um pouco de pena, mas não durou muito porque ela, enfim, apareceu. Naquele momento, sem choque e qualquer lapso de memória, era a vida real, nua e crua. E vê-la depois de tanto tempo me trouxe sentimentos há muito esquecidos.

Wanda chegou ao lado de Vitor demonstrando certa impaciência. Ele puxou-a para perto, pela cintura, como se quisesse encorajá-la de algo. Ele tentou um selinho, mas ela deu-lhe apenas a bochecha. Sorri com deboche, admito. Então, eles conversaram algo, mas pela expressão dela e a cara de súplica dele, parecia que algo não estava dando certo.

Gustavo, de lado, permanecia calado. “Um trio hahaha”, pensei comicamente. Vendo a cena, até senti um certo alívio por ela ser namorada de Vitor e não do asqueroso do Gustavo. Percebi também que eles estavam distantes de onde se encontravam Adriana e minha mãe, o que me trouxe um alívio curiosamente inesperado.

Aos poucos, as pessoas foram se acomodando em suas mesas, pois a cerimônia de parabéns estava prestes a iniciar. A cerimonialista ia informando aos convidados e eu fui para a minha mesa, procurando um caminho seguro que não denunciasse minha presença ao trio.

Quando me sentei, a conversa de Adriana e minha mãe já tinha cessado. Ambas estavam caladas, um pouco tensas talvez, mas olhando atentamente para toda aquela movimentação pré-cerimônia. O trio tinha sumido de vista. Eu e Adriana demos as mãos.

Nossa mesa ficava muito próxima do palco onde estava o bolo. A mesa principal, de Trajano e sua família, ficava praticamente vizinha a nossa. Nesse momento, caiu uma ficha: eu e Wanda ficaríamos perto um do outro. Seria impossível não nos vermos. Fiquei um pouco inquieto, balançando a perna. Adriana percebeu e me olhou confusa, mas não disse nada.

A primeira pessoa a chegar na mesa principal foi Cecília seguida de Wendy, que usava um vestido na cor de vinho. Fazia anos que não a via também. Ela era a irmã do meio de Wanda, aquela que diziam ser a sua cópia exata, mas alguns anos mais nova. Ela e sua mãe sentaram lado a lado. Faltavam ainda Trajano, Wanda e Wis.

Trajano chegou logo depois, sendo conduzido pela cerimonialista, mas nada de Wanda. Não conseguia entender porque ela demorava tanto. Estava se amassando com o Vitor? Ou procurando a Wis? Então, perto de mim, escutei uma voz familiar, uma que não escutava há muito tempo.

- Tia.

Virei-me rapidamente a tempo de ver Wanda e minha mãe se cumprimentando com um abraço caloroso, íntimo até, e um beijo.

- Oi, minha filha – respondeu minha mãe – Como você está? Faz tanto tempo que a gente não se vê, não é?

- Tudo bem, tia e a senhora? Pois é, acho que… nos vimos ontem, é isso?

Ambas caíram na gargalhada, como se rissem de uma piada interna.

- Estou bem. Nossa! Você está linda, Wanda. Esse vestido lhe caiu muito bem.

- Obrigada. A senhora também. Vou apressar aqui porque já vão cantar os parabéns do papai.

Então, Wanda dirigiu-se em direção a Adriana, que estava ao meu lado, e para minha surpresa, elas se cumprimentaram como... velhas amigas.

- Adriana! Quanto tempo! Tudo bem?

- Oi, Wanda! – minha namorada respondeu largando minha mão, levantando-se para dar um abraço nela – Pois é, quanto tempo não nos falamos né?

- Pois é, mulher, precisamos tirar esse atraso. Depois, eu volto aqui pra gente conversar.

- Tá certo! Te aguardo.

Como assim elas se conheciam? Fiquei em choque. Nesse meio tempo, meu olhar encontrou o de minha mãe, que me encarava com uma expressão indecifrável, talvez analisando minha reação.

Largando Adriana, Wanda veio até mim, passando por trás, tocando levemente no meu ombro, demonstrando um certo carinho que pareceu durar um instante a mais.

- Oi, Bruno! – ela me cumprimentou com certa timidez e a voz falhando um pouco.

Fingi uma surpresa, como se não esperasse que ela falasse comigo.

- Ah, oi! – e foi o máximo que consegui dizer.

Ela não parou ao meu lado e não insinuou qualquer tentativa de abraço. Ela simplesmente seguiu em direção à mesa principal, sem olhar para trás, não me dando qualquer importância. Isso me… magoou, mesmo depois de tanto tempo.

Ainda atordoado com aquela interação, senti a mão de Adriana voltando a se entrelaçar com a minha. Virei para ela com certa relutância e ela me dava um olhar indecifrável, igual o de minha mãe. Forcei um sorriso.

- Que foi? – ela me perguntou, curiosa.

Balbuciei até que consegui dizer algo: – nada, acho que me perdi em pensamentos.

- Que pensamentos?

Encarei-a por um segundo ou dois antes de responder algo:

- Investimentos. O que mais poderia ser? Só penso nisso.

Não sei que expressão fiz, mas tentei ser o mais casual possível.

- Você ficou estranho.

- Claro, eu estava no meio de um raciocínio e fui interrompido. Não gostei.

Ela riu, parecendo satisfeita com a resposta, como se reconhecesse isso como meu modus operandi. Senti um pouco de alívio, pois Adriana, aparentemente, não percebera o quanto eu estava vacilante.

Adriana voltou sua atenção para o palco. Antes que eu fizesse o mesmo, notei que minha mãe continuava me encarando. Sustentei o olhar, querendo entender a dela, mas logo ela desviou, voltando sua atenção para o palco, o que acabei fazendo também.

A cerimônia começou com pompas. Em um telão, começou a passar fotos e vídeos contando um pouco da trajetória de Trajano como estudante, trabalhador, empresário, investidor, consultor financeiro e pai de família. Observei Wanda em alguns momentos, algo facilitado por ela estar no meu campo de visão. Ela, sentada ao lado do pai, parecia tão apática.

Veio os parabéns e todos se levantaram para cantar. Apenas Trajano ficou atrás do bolo, apagando as velinhas quando a cantoria cessou. Então, a cerimonialista lhe deu um microfone. Ele veio ao centro do palco para fazer um discurso.

Inicialmente, começou com agradecimentos e, em seguida, falou da organização e da felicidade de estar ao lado de tanta gente que apreciava. Depois, ele contou que dez anos antes, no seu aniversário de 50 anos, ele presenteou pessoas importantes na sua vida com uma plaquinha de agradecimento, uma espécie de lembrancinha para guardar. E disse que repetiria isso novamente.

- Quem me conhece de verdade, sabe que meu maior presente é ser um presente na vida das pessoas que amo. E aos 60 anos, graças a Deus muito bem vividos, eu quero repetir essa homenagem com algumas das pessoas mais importantes da minha vida.

A cerimonialista colocou uma pequena mesa ao lado de Trajano que continha sete lembrancinhas. Ele pegou uma e olhou para Cecília:

- A primeira, é claro, tinha que ser para você, meu amor. Cecília é a base de tudo, quem me faz forte, o pilar da nossa família. Sem ela, ficamos perdidinhos.

Cecília se levantou, foi até Trajano, dando-lhe um beijo, para aplausos de todos. Olhei para minha mãe que aplaudia efusivamente, genuinamente satisfeita. Trajano deu a lembrancinha para Cecília e ela posicionou-se ao seu lado direito.

- A segunda é minha filha Wanda, cuja lucidez e independência iluminam minha vida e fazem de mim um pai orgulhoso.

Foi a vez de Wanda se levantar e receber sua lembrancinha. Seu pai lhe falou algo longe do microfone, o que lhe trouxe um sorriso genuíno, talvez o mais verdadeiro que ela tenha dado àquela noite. Isso me trouxe lembranças do passado. Em seguida, Wanda foi para o lado esquerdo de Trajano.

- Agora, a próxima homenageada é minha filha Wendy, que adoça meus dias com sua doçura e serenidade, trazendo calma justamente quando tudo parece tempestade.

Wendy se levantou e foi até seu pai receber a lembrancinha. Surpreendi-me com sua semelhança com Wanda. Wendy ficou ao lado de sua mãe.

- A próxima homenageada é minha filha Wis Nara, uma joia rara em talento e determinação, que sempre transformou números em vocação. Hoje, ela não pôde estar presente porque está em Nova Iorque, onde iniciou sua formação universitária para seguir carreira no mercado financeiro, bem no coração de Wall Street. Tenho imenso orgulho do caminho que ela escolheu trilhar.

Trajano deu a lembrancinha dela para Cecília segurar.

- Agora, chamo dois pilares da PHX: Ricardo Monteiro e Marcelo Prestes. Foram eles que acreditaram comigo no projeto de criar nossa consultoria e, juntos, transformamos uma ideia ousada em uma empresa que hoje supera R$ 1 bilhão em patrimônio sob gestão. Nada disso teria sido possível sem a competência e a parceria de vocês. Meu muito obrigado.

Os dois subiram ao palco, receberam suas plaquinhas e abraçaram Trajano. Eles também cumprimentaram cordialmente Cecília para depois se posicionarem ao lado de Wendy.

- Por fim, quero chamar alguém que ocupa um lugar especial na minha trajetória. Conheci o Bruno por intermédio da minha filha Wanda e, desde o início, vi nele um potencial raro. Antes mesmo de concluir a faculdade, já o trouxemos para a PHX, e hoje ele se tornou parte essencial da empresa, contribuindo diretamente para tudo o que construímos. É um profissional exemplar e, acima disso, um amigo. Venha ao palco, Bruno.

Senti um frio na barriga, meu coração parecia que ia parar. Aplausos ecoavam por todas as mesas. Adriana me deu um abraço, murmurando um parabéns. Minha mãe tinha os olhos marejados, claramente orgulhosa de mim. Levantei-me corado, surpreso para ser sincero. Não me achava merecedor de tal honraria. Quando cheguei em Trajano, ele me cumprimentou com um aperto de mão firme e um abraço apertado.

- Eu não ia esquecer de você, meu rapaz. Você é minha família desde que te conheci – ela sussurrou aos meus ouvidos.

- Obrigado, Seu Trajano. Sei nem o que dizer… - foi o que me limitei a dizer.

Ele pôs a mão em meu ombro e me virou para aquela plateia.

- E há ainda uma última novidade. Tenho a honra de anunciar que Bruno acaba de se tornar o novo sócio da PHX, aprovado por unanimidade pelos atuais sócios. Uma conquista absolutamente merecida. Recebam-no com aplausos. – Trajano se afastou me aplaudindo também.

Não imaginava ser convidado para ser sócio da PHX, ainda mais nessas circunstâncias, e ele já contava com o meu sim. Eu nunca me senti tão lisonjeado na vida. Essas demonstrações públicas, recheada de aplausos e de admiração, era algo que eu não estava acostumado. Só lembro de assentir e fazer gestos contidos com a mão, como forma de agradecimento.

Quando terminou aquela ovação, diferente dos outros homenageados, Trajano me guiou explicitamente para ficar ao lado do Wanda, o que me causou certa surpresa. Fui até lá, fugindo do seu olhar, parando ao seu lado. A minha frente, uma infinidade de mesas, convidados com celulares empunhados, tirando fotos ou gravando vídeos. Havia, também, um profissional fazendo a gravação oficial da cerimônia. Procurei Adriana e vi orgulho em seu semblante. Minha mãe levantava o seu celular para tirar fotos.

Trajano continuou:

- Encerrando, quero dizer que homenagear cada um de vocês é o meu verdadeiro presente de aniversário. Minha esposa e minhas filhas são a luz dos meus dias; tudo nelas me inspira. E aos meus sócios, agradeço por tornarem possível a virada profissional da última década, permitindo que eu não apenas exerça o que faço, mas o faça por convicção e alegria. Muito obrigado.

Por fim, Trajano respirou fundo, abriu um sorriso amplo e levantou levemente as mãos, pedindo a atenção final da plateia.

- E agora, antes que eu seja expulso do palco… me perdoem pela demora. Sei que a fome já deve estar batendo. É com satisfação que anuncio: o jantar está servido.

O salão respondeu com risos e aplausos calorosos enquanto ele se afastava do microfone.

E pareceu que os convidados realmente estavam com fome. Rapidamente, uma imensa fila se formou no buffet. Eu comecei a sair do palco para voltar à minha mesa e Wanda fez o mesmo. Nós nos cruzamos em um X. Ambos até paramos um pouco, vacilantes, mas, no fim, cada qual seguiu seu caminho, sem qualquer aceno, exceto que, quase imperceptivelmente, nossos braços se tocaram de leve. Foi sutil, mas o suficiente para causar uma ebulição completa de todas as células do meu corpo.

Cheguei na minha mesa, ainda impactado por tanta surpresa e pela pequena proximidade que tive com Wanda. Adriana me recebeu com um abraço caloroso, seguido de um beijo gostoso.

- Meus parabéns, meu amor. É muito merecido, sabia? Eu sou prova viva do seu esforço e da sua dedicação na PHX. E para ser sincero, eu já sabia da sua promoção a sócio – ela me deu uma piscadela, rindo.

- Sua “cruel” – ri de volta – Como você conseguiu esconder isso de mim?

- Eu queria muito te contar, mas também queria ver sua cara de espanto. Eu te achei tão fofinho, todo envergonhado. E estou muito orgulhosa de você. Você não imagina o quanto!

- Você queria me ver como um camarão, né?

Antes que ela pudesse responder, minha mãe veio até nós, nos abraçando também:

- Eu também sabia, Bruno. Trajano tinha me contado em off.

- As duas estavam conspirando contra mim. Vocês me pagam…

- Ora, Bruno – minha mãe me deu aquele sorriso que me desarmava – você acha mesmo que iriamos estragar a surpresa? Você vai aceitar, certo?

- É claro, mas – respirei um pouco, ajustando minha postura – fiquei todo errado de ser anunciado assim, no aniversário dele. Foi… diferente, inesperado.

- Trajano disse que isso seria o presente dele. Ele é um homem bastante peculiar.

- É – olhei desconfiado para minha mãe, que desviou o olhar.

- Ah, Bruno – Adriana nos interrompeu, rindo maliciosa – vou te contar um segredinho.

- O que é, Dri?

- Posso contar, Dona Marluce? – ela olhou para minha mãe, como se pedisse autorização.

- Tem mais coisa que não sei?

- Conta, Adriana. – minha mãe deu uma risadinha maliciosa – Conta, mas… Bruno, você tem que me prometer que vai guardar segredo e fingir surpresa, ok?

- Certo. O que é? Me contem… vocês tão me deixando ansioso.

- É o seguinte… você vai ter uma sala só para você.

- Sério?

- Sim – Adriana deu pulinhos de alegria.

- Meu filho está virando um executivo importante. Mamãe tá orgulhosa demais!

Adriana se aproximou de mim, colando-se no meu corpo, me abraçando novamente. Seus lábios encontraram meus ouvidos, sussurrando novos desejos:

- Imagina o que podemos fazer na sua sala, amor, só nós dois...

Olhei para ela espantado, fazendo-a rir com vontade.

- Pelo amor de Deus, Adriana!

E rimos mais ainda, com minha mãe certamente percebendo a safadeza.

- Vocês não estão com fome? Acho que vou para fila. – minha mãe questionou, nos interrompendo.

- Eu não. Foram tantas novidades que me fez perder a fome. Vou comer depois.

- Eu vou com sua mãe. Vamos, Dona Marluce.

Elas foram e eu sentei na cadeira, observando-as ir. Então, uma voz vagamente familiar ecoou ao meu lado, atraindo minha atenção. Virei-me de lado e me surpreendi ao ver Wendy, querendo conversar comigo em particular.

Antigamente, ela sempre procurava ficar junto de mim e de Wanda, mas mais pela irmã, por quem demonstrava uma admiração profunda. Ela era uma graça, educada, uma “mini Wanda” a época. Agora, era como ver a Wanda daquela época. Wendy tinha se tornado uma bela mulher.

- Olá, Bruno! Quanto tempo! – Ela me cumprimentou com um beijo no rosto, ao qual retribuí.

- Quanto tempo, Wendy!

- Pois é… então, a Wis Nara pediu que eu te mandasse felicitações por você se tornar sócio na empresa do meu pai. Ela disse que ficou muito feliz com isso.

- Sério? A Wis? Que surpresa! Por favor, mande meus agradecimentos a ela, pode ser? Até estranhei ela não estar aqui, se escondendo de mim… lembra?

- Lembro sim – ela riu da lembrança, exalando a mesma desenvoltura da Wanda – Ela era muito tímida e envergonhada, mas mudou muito. Acho que você não a reconheceria agora.

- Eu não tenho dúvidas disso. Aposto que ela é a versão feminina do Seu Trajano. Acertei?

- Se duvidar, é pior ainda… ou melhor, dependendo do ponto de vista.

Rimos.

- Bom, eu vou indo, Bruno. Foi um prazer revê-lo.

- O prazer foi meu, Wendy.

Quando ela saiu, voltei minhas atenções a Adriana e minha mãe. Essa, aparentemente, tinha parado no meio do caminho para conversar com algumas conhecidas, mas minha namorada não estava ao lado dela. Nada anormal até aí, “deve ter ido pra fila”, pensei. E sim, ela estava na fila, mas quem estava atrás dela, fez meu estômago embrulhar.

Adriana estava de braços cruzados, parecendo bem desconfortável com a situação. E a pessoa se esforçava para capturar sua atenção, querendo quebrar a barreira que provavelmente minha namorada tinha montado.

A pessoa gesticulava, depois apontava para algo, mas ela se mantinha firme, não querendo dar cabimento. Até que ele falou algo e ela deu uma risada leve e contida, quase envergonhada, para depois parar repentinamente, talvez arrependida de ter feito isso.

A pessoa, então, me pareceu mais confiante, tentando pôr a mão em seu ombro, mas Adriana fez um movimento para desviar do toque, fechando a cara. E eu, vendo aquilo, não queria acreditar no que se passava, principalmente porque essa pessoa era o Gustavo. E, por mais óbvio que pudesse parecer agora, ali, aquilo me causava espanto por pensar que eles se… conheciam?

De súbito, fui acometido por um ciúme avassalador, algo que nunca sentira antes, pois Adriana nunca – veja bem, nunca – tinha me dado motivo. Senti a raiva ferver em meu peito. Eu estava prestes a me levantar e ir até lá, firmar minha posição, mas então, vi minha mãe caminhando até eles, o que me fez esperar um pouco e aguardar que mais surpresas poderiam acontecer.

Quando minha mãe chegou, Gustavo se afastou um pouco, de modo que ela ficasse entre eles. Minha mãe estava de costas para mim e, pela forma como Adriana e Gustavo a olhavam, ela provavelmente reclamava de algo. Segundos depois, Gustavo saiu balançando a cabeça, dando uma risada irônica. E Adriana me pareceu aliviada. Então, por um pequeno instante, minha namorada olhou em minha direção e eu vi um traço de hesitação, talvez medo, antes dela desviar o olhar apressadamente, como se não conseguisse sustentar o peso de me encarar depois de tudo que vi. E isso ativou diversos alertas em mim.

Continuei observando-as e Gustavo não voltou a se aproximar. Logo, elas voltaram para a mesa. Havia pouca comida em seus pratos. Eu fiquei em silêncio, fingindo olhar para o ambiente, ignorando o que tinha visto por um momento. Minha mãe fez algum comentário sobre a comida, mas Adriana apenas assentiu com a cabeça, ficando por isso mesmo. O único som à mesa era o tilintar dos talheres.

Na minha mente, porém, uma profusão de questionamentos, estranhas coincidências, situações para refletir. No peito, uma inquietação crescente por suspeitar que estava sendo enganado de alguma forma. O que mais estavam escondendo de mim? Porém, ainda não era hora de colocar essas engrenagens para funcionar. O ativo ainda estava em queda, não era o momento para fazer uma análise mais apurada.

Mas para deixar tudo mais complexo, Wanda chegou a nossa mesa inesperadamente. Na realidade, eu tinha esquecido completamente dela.

- Oi! Voltei! – ela nos cumprimentou, mas apenas olhando para Adriana, já se sentando ao lado dela.

O ar parecia sair do meu peito. Procurei fingir tranquilidade, como se quisesse ficar alheio a elas, mas não consegui. Eu estava em estado máximo de alerta.

- Quanto tempo, né, amiga? – Wanda falou, com uma intimidade que me assustou.

- Põe tempo nisso.

- Você já se formou?

- Sim. A formatura será nas próximas semanas.

- Que incrível! Fico feliz por você, Adriana!

- E você? Já se formou também?

- Ah, já sim! Faz um tempinho já. Antes da pandemia. Até a tia Marluce esteve na minha formatura. Foi bem legal.

A revelação foi um choque para mim.

- Foi muito bonito mesmo, Wanda – minha mãe respondeu – Você estava tão maravilhosa naquele dia!

- E o que você está fazendo da vida? Trabalhando onde? – perguntou Adriana.

- Ah, comecei um estágio na Folha de São Paulo. Faz um ano.

- Ah, que ótimo. Fico feliz por você, amiga.

- Obrigada! Eu era contratada por um escritório de comunicação, mas pedi demissão quando veio a pandemia. Agora, tô me recolocando no mercado de trabalho novamente. Ir para a Folha era um dos meus objetivos nessa altura da vida.

Antes que Adriana pudesse responder, tudo tinha que piorar mais ainda. Vitor e Gustavo se aproximaram da mesa como se fossem donos do pedaço.

- Adriana! Quanto tempo? Tudo bem? – Vitor aproximou-se dela, dando a mão e um beijo em sua testa.

- Olá, Vitor. Pois é, quanto tempo. Tudo bem sim e com você?

- Tudo bem – ele virou-se para minha mãe e depois para mim – Oi, tia Marluce... e aí, Bruno, beleza?

Olhei-o por um instante, ele com aquele sorriso sincero e educado de sempre, muito respeitador e acolhedor. Fiz um aceno leve e desviei novamente meu olhar, me tremendo por dentro. Não percebi se minha mãe fez algum aceno a ele.

- Vi que você está muito bem na PHX – Vitor continuou, falando para Adriana – Quando Seu Trajano me perguntou sobre você, ainda na época da sua contratação, eu enchi sua bola. Não porque você é minha amiga, mas porque sempre soube que você tinha o perfil certo para o que ele queria.

- Obrigada, Vitor. Boas referências são tudo.

- Não sabia que meu pai tinha falado contigo – era a voz de Wanda agora.

- Falou sim – Vitor se explicou – Na realidade, ele me ligou. Parei tudo que tava fazendo pra atender o homem. Você sabe…

- E por que não me falou?

- Não falei? Ah, devo ter esquecido ou me confundido mesmo.

- Sei – a voz de Wanda denotava desconfiança – Ela se formou e a festa de formatura será em breve. Sabia, am... Vitor?

- Opa! Meus parabéns, Adriana! Estamos convidados?

Minha curiosidade ficou atiçada pela ousadia do Vitor. E eu fiquei muito interessado em saber o que Adriana responderia, mas antes que o fizesse, Gustavo, querendo atenção, talvez por perceber que estava sobrando ali, me fez entender que eu estava sendo feito de otário:

- Festa? Tenho boas lembranças, hein? Me surpreendi por te ver aqui, Adriana. Você está mais linda ainda. E… senhora Marluce, não é? Deve se lembrar de mim, mas se não, muito prazer, sou Gustavo!

Isso foi a gota d’água para mim. Ajeitei-me na cadeira, ainda sem olhar para todos eles. Cerrei os punhos, respirando profundamente, numa tentativa cada vez mais difícil de controlar minha fúria crescente. Talvez, eles tenham percebido, mas pouco me importava. Concentrei todas as minhas forças em me levantar e sair dali. Eu não iria ficar vendo aquele circo se desenrolar na minha frente, onde, aparentemente, o único palhaço era eu.

Mas então, duas mãos pousaram em meus ombros, um gesto familiar que tantas vezes aconteceu comigo. Só poderia ser uma pessoa para me trazer alento naquela momento mais difícil. Trajano.

- Senhoritas, senhora, rapazes… imagino que a conversa esteja ótima. Mas vou precisar sequestrar meu novo sócio por alguns minutos. Surgiu uma questão importante e não podemos deixar para depois. Peço licença. Continuem à vontade, não parem por nossa causa. Prometo devolvê-lo em breve, embora eu desconfie que ele não vá querer voltar tão cedo. Vamos, meu sócio.

Levantei-me no automático, sendo guiado mais uma vez por Trajano, que mais parecia meu herói improvável. Era a segunda vez só no seu aniversário. Ele me conduziu novamente com sua mão em meu ombro. Até tentei olhar de volta para mesa, mas ele evitou que eu fizesse isso.

- Bruno, não se preocupe com aquilo. Aqueles dois advogadinhos de meia tigela não valem sua atenção. Você já passou por eles faz tempo. E eles sabem disso, por isso a implicância. Acredite: vivem tentando oferecer serviço para a PHX. Querem ser nossos consultores jurídicos! – Trajano riu com deboche. – Mas falta chão para eles. Nós estamos em outro patamar, lidando com portfólios de verdade, de gente grande. É ali em cima que você está agora. E esse é o lugar que separa homens feitos de meninos mimados como aqueles.

De um jeito peculiar, Trajano parecia entender o que eu sentia. Senti-me reconfortado com suas palavras. Logo, nos encontramos com os outros dois sócios. Anteriormente, eles discutiam impressões sobre algumas conversas importantes que tiveram. Num dado momento, perceberam que eu deveria estar presente também. Por isso, Trajano foi me buscar. Eles me atualizaram da novidades: possibilidade de um acordo com um fundo de investimentos americano.

Passamos um bom tempo trocando opiniões e percebi que haviam assuntos que antes estavam fora da minha alçada, mas que agora eu seria parte ativa nas decisões. Os sócios deixaram isso bem claro para mim. Mesmo com sentimentos ruins em relação a todos em minha volta, essa reunião me trouxe uma satisfação tremenda, deixando-me com pensamentos bem arrogantes sobre mim mesmo.

Quando voltei à mesa, não havia mais ninguém. Olhando em volta, vi minha mãe e Adriana, sozinhas, na mesa de docinhos. E nenhum sinal de Wanda, Vitor e Gustavo. Quando me aproximei, Adriana virou-se para mim com um sorriso claramente forçado, querendo transparecer naturalidade.

- Estávamos te esperando, amor – Ela veio em minha direção praticamente enfiando um docinho de chocolate na minha boca – Tá bom?

- Tá sim.

- Você terá mais alguma reunião para fazer?

- Acho que não. Por que?

- Queremos ir embora. Estamos cansadas.

- Acho que esse aniversário já deu, meu filho – minha mãe pontuou, agora sem me encarar.

- Ok, então vamos.

Procuramos Trajano e Cecília para nos despedirmos. Não queria ver Wanda e felizmente ela não apareceu. A irmã dela, Wendy, se despediu de mim com um abraço caloroso. Minha mãe, como era de se esperar, deu mais um daqueles seus abraços apertados e cheio de significados em Trajano e em Cecília, o que me deixando constrangido. Adriana agradeceu o convite e recebeu uma convocação de Cecília:

- Apareça qualquer dia desses para nossa noite das meninas.

- Noite das meninas?

- Sim. Eu, você, Marluce, Wanda e Wendy. Só sai papo bom.

- Ela vai adorar – riu minha mãe.

- Pode deixar, apareço sim.

“O que mais eu não sei?”, me questionei enquanto tentava manter uma cara de paisagem.

No carro, voltando para casa, o silêncio era desconfortável. Nenhum de nós disse qualquer palavra e achei melhor assim, pois coloquei minhas engrenagens mentais para funcionar. Descobri muita coisa numa noite só e estava atordoado com isso. Será que esconderam tudo isso de mim? Ou eu nunca me interessei em saber? Ou acharam que eu não me importaria em saber? Doeu saber que minha mãe sabia de coisas que certamente me afetariam. Será que ela não me contou por medo de eu colapsar novamente? Será que ela não confiava na minha resiliência?

Fui rememorando conversas antigas e atuais, sinais que eu deveria ter percebido e questionado mais. Frases começaram a flutuar em meus pensamentos: “Adriana é conhecida do meu genro”. “Tenho uma conhecida que gosta dessa música”. “Tive um namorado possessivo, muito pra frente”. “Um casal de amigos ajudou ele a superar”. “Quanto tempo, Adriana”. “Estamos convidados?”. “Muito prazer, sou Gustavo”. Eu estava enojado, tendo razão ou não para estar assim.

Em casa, o silêncio persistiu. Minha mãe se trancou em seu quarto com um “boa noite” seco, parecendo estar fugindo de mim. Também não insisti com ela. No meu quarto, o constrangimento era evidente. Depois que nos aprontamos e nos deitamos, eu e Adriana ficamos calados por um bom tempo, com a luz de um abajur fraco evitando a escuridão total e nossa respiração um pouco acelerada, como se temesse a inevitável conversa que estava por vir.

- Bruno – Adriana tomou iniciativa, sussurrando para mim.

- Oi?

Ela respirou fundo, como se quisesse criar coragem.

- Eu preciso te contar… o Gustavo é o meu ex-namorado, aquele que optamos por nunca nomear. Wanda e Vitor foram o casal de amigos que fizeram ele superar o nosso término e me ajudaram o ficar livre dele.

Eu tinha imaginado isso. Haviam muitas coincidências envolvidas para que essa não fosse a verdade. Felizmente, ela me contou sem rodeios. Admirei essa atitude, por mais que tivesse me incomodado bastante.

- Quando o vi lá – ela continuou – me surpreendi porque não imagina que ele pudesse estar presente no aniversário do meu chefe. Mas, não via a hora de chegar em casa e te contar isso, porque não quero segredos entre nós. Não quis contar lá para não estragar o clima, temendo sua reação.

- Por que temeu minha reação? O que imaginou que eu faria?

- Não sei, mas tive medo mesmo assim.

- Era por isso que você estava tensa nos últimos dias, não era? Medo de encontrá-lo lá?

Notei que ela hesitou por um instante. Ela parecia procurar as palavras certas, mas tudo o que fez foi me deixar sem respostas. Isso parecia me dizer tudo. Eu continuei:

- Parece que todos vocês se conhecem de longa data e eu ser ter a menor ideia disso. Até minha mãe está no meio…

- Não entendi, sua mãe... isso te incomodou?

- Sim. Muito.

- Olha, eu também não sabia que você conhecia o Vitor e o… Gustavo.

- É… já tive esse desprazer.

- Quando?

- Encontrei eles em uma calourada e não gostei do jeito deles.

- Entendo. Faz tempo que não falava com eles. É passado para mim.

- OK! E tem algo mais que queira me contar? Algo que eu deva saber?

Ela pareceu hesitar novamente, antes de me responder:

- Não.

- Tem certeza?

- Tenho. Por que? Desconfia de algo?

- Não. Do que vocês conversavam na fila do jantar? Vi você rindo de algo que o Gustavo falou.

- Ah, ali… ele fez um comentário idiota, mas tão idiota que eu não resisti e ri.

Suspirei desconfortavelmente.

- Me desculpa, amor – ela se explicou – Não quis te passar uma impressão errada. Ele falou algo como “vamos todos comer essa comida boa para ter diarreia amanhã”. Vê? É uma idiotice.

- E você riu disso? Uau!

- Ele é um idiota, tanto que terminei faz tempo.

- Um idiota que te fez rir.

- Não foi uma risada por achar engraçado. Ri da idiotice apenas, da falta de noção. Foi uma risada de desprezo.

Ficamos em silêncio, com meus ciúmes ardendo.

- Vai convidá-los para sua festa de formatura?

- Não pretendo.

- Está considerando?

- Não. Não penso em chamá-los. Não vou chamá-los. Tá bom assim?

Não respondi.

- Também não sabia que você conhecia a Wanda, mas me parece óbvio já que você conheceu Vitor e Gustavo – agora foi a vez dela me questionar.

- Ah – engoli em seco, medindo bem minhas palavras, temendo o peso do que viria a seguir – minha mãe é amiga íntima do Seu Trajano e da Dona Cecília. Conheci Wanda, e suas irmãs, em um ou outro evento em conjunto. Apenas isso. Conheci Vitor e Gustavo através dela.

- Ela falou contigo como se te conhecesse bem.

- Bem? Pera lá, mal falamos. Só um ”oi”. Você viu coisa que não existe. Eu e ela não temos intimidade. Aliás, nunca tivemos.

- Você tem certeza?

- Tenho. O que te preocupa? Me conta…

Ela deu um suspiro profundo, mas não respondeu.

- Parece – continuei – que agora estamos um desconfiando do outro...

O silêncio que se seguiu foi bem desconfortável. Eu só escutava o som da respiração dela e o resto estava quieto. Quando achava que dormiríamos assim, ele repentinamente virou-se para mim, me abraçando, deitando a cabeça em meu ombro, passando o braço pelo meu peito.

- Você me ama, Bruno?

A pergunta me pegou desprevenido.

- Claro que amo. Por que a dúvida agora?

- Eu tenho medo de sofrer.

- Alguma vez te fiz sofrer nesse tempo todo que estamos junto?

- Não. E eu? Já te fiz sofrer?

- Nunca.

- Eu tenho medo de te perder.

- E quem disse que você vai me perder?

Ela não respondeu. Ficamos em silêncio por um tempo.

- Bruno?

- Hum…

- O Gustavo… ele não significa mais nada para mim. É você quem amo. É você quem quero no meu presente e no meu futuro também. Não esquece de disso, tá?

Senti meus olhos marejar, toda aquela tensão e as descobertas tinham me consumido bastante. Abracei forte minha namorada, dando-lhe um beijo em sua testa.

- Também te amo, Adriana. Não esquece também.

Ficamos um bom tempo abraçados, em silêncio, até que caí no sono. Lembro de, ainda de madrugada, acordar por um instante e ver Adriana sentada na cama, de frente para mim, de modo que seu celular ficasse fora do meu campo de visão. Ela conversava com alguém pelo ritmo alternado em que digitava algo e depois observava a tela. Sua expressão parecia tensa, um pouco preocupada talvez. Tentei observar por mais um tempo, mas estava muito cansado. Não resisti e acabei voltando a dormir.

Acordei primeiro que Adriana, que dormia pesadamente. Ciente disso, fiz algo que não me orgulho. Olhei seu celular. Sabemos a senha um do outro, isso nunca foi um segredo entre nós. Nas mensagens, não havia uma sequer cujo marcador de horário fosse de madrugada. Depois, voltei atenção aos contatos, procurando os que acessaram por último de madrugada e não havia nenhum digno de nota.

A única coisa que me chamou atenção foi a presença do contato de Wanda. Perguntei-me há quanto tempo ela tinha o contato dela. Desde sempre? Achei improvável. Abri o chat com Wanda e observei sua foto, que era de ontem, do aniversário do seu pai. Ela estava linda, olhando de lado, numa pose em que ao mesmo tempo me encantou e me resignou. Fechei o chat. Adriana não tinha redes sociais, então não tinha mais nada que eu pudesse olhar. Guardei seu celular no mesmo canto e me levantei.

Depois de fazer minha higiene, encontrei minha mãe sentada à mesa da cozinha, tomando seu café. Ela estava pensativa, em silêncio. Sentei-me também. Não nos encaramos, sequer trocamos bom dia. Eu estava desconfortável com ela, decepcionado até. Demorou um pouco, até que ela falasse:

- Não fiz nada errado ontem.

- Não estou acusando a senhora de nada – devolvi de imediato.

- Eu tenho conheço, Bruno. Você deve estar pensando o pior de mim.

Não respondi, ela continuou:

- Você parou de andar na casa do Trajano. O motivo… todos nós sabemos. Bom, a Adriana não sei, acho que ela não sabe. Se ela soubesse, você saberia também, afinal, ela não esconde nada de você – ela parou para tomar mais um gole do seu café – Continuando, eu não parei de andar na casa do Trajano. Você sabe disso. É óbvio que eu encontrei Wanda e Vitor muitas vezes. E algumas vezes, encontrei Adriana e Gustavo, quando eles ainda namoravam. Eles apareciam lá como um casal amigo de Wanda e Vitor. Eles interagiam entre eles, eu não fazia parte disso. Eu estava lá pelo Trajano e pela Cecília, minha amizade é com eles. Eu não te contei isso porque deduzi que você não iria querer saber mais nada da Wanda, principalmente depois que ela voltou com o Vitor. Até ontem, acho que fiz o certo de te poupar esses detalhes. Nem mesmo quando você me falou de Adriana, eu pensei em contar. Eu já conhecia Adriana, é claro, mas até onde eu sabia, ela já tinha terminado com o Gustavo há muito tempo. Então, fiquei tranquila quanto a isso, mesmo surpresa por você estar se relacionando com ela. Mesmo assim, conversei com Trajano sobre ela e ele me garantiu que a contratação dela foi por mérito próprio e que a aproximação de vocês dois se deu naturalmente, sem nenhuma intervenção externa. É isso. – ela deu mais um gole – Agora, pergunte-me o que tiver te incomodando. Não vou lhe esconder nada, mas acho que já te contei tudo.

- Aquele Gustavo parecia te conhecer bem.

Minha mãe deu uma risada irônica antes de continuar.

- Me conhecer bem, é? Se eu falei com esse menino uma vez, foi muito. Deve ter sido no máximo um “oi” e provavelmente para todos eles de uma vez. Nem eu, nem Trajano e nem Cecília gostávamos dele. Eu sempre achei Adriana muita areia para o caminhãozinho dele. Ele só tem muita arrogância e uma postura de homem que aposta na aparência, mas é oco por dentro. Adriana sofreu para terminar, mas conseguiu com ajuda de Wanda e de Vitor. Não sei mais detalhes que isso, nunca me interessei. A única coisa que posso te confirmar é que Adriana ama você e tem muito nojo do Gustavo.

- O que aconteceu na fila do jantar? O que você falou para Adriana e Gustavo?

- Eu disse ao Gustavo que, caso ele não soubesse ainda, a Adriana era namorada do meu filho e que se ele não respeitasse isso, ele iria se ver comigo. Também garanti a ele que não estava brincando.

- Uau! Por isso que ele saiu rapidamente.

- Eu não sou tão alheia ao que acontece ao meu redor, Bruno. Eu estava atenta a muitas coisas ontem. Como te disse, uma coisa eu posso te garantir: Adriana te ama. O que não posso garantir é se você a ama na mesma intensidade que ela.

Olhei-a perplexo, como se um grande segredo meu tivesse sido revelado. Rapidamente, me defendi.

- Mãe, eu amo a Adriana.

- Eu acredito que sim, mas… não é só ela que está no jogo.

- Só tem ela no jogo. E outra, histórias antigas já morreram num passado distante. Sei de quem fala e pelo que vi ontem, essa pessoa está muito feliz com o amor da vida dela.

- Será? Não acho que temos a mesma opinião. Enfim, não quero falar disso.

- Melhor.

- Ok, mas só para concluir, aconteça o que acontecer, sua namorada não merece sofrer. Seja justo com ela. É o que espero de você. Te criei com o melhor que pude para que nesses momentos, você não me decepcione.

- A senhora me assusta falando assim. Parece até que está prevendo algo ruim.

- Você entendeu.

- Não entendi, sendo bem sincero.

Ela não me respondeu e limitou-se a encher novamente sua xícara de café. Eu continuei:

- E essa noite das meninas que a Dona Cecília falou?

- Ah, aquilo – ela deu ombros – não é nada de mais. Só uma forma de dizer que ficamos conversando até altas horas, mas quase sempre é Cecília e eu. Às vezes, raramente, a Wanda se junta a nós e, ultimamente, a Wendy. A Wis Nara, não. Essa, quando ainda morava aqui, só queria saber de estudar e conversar sobre investimentos com o pai.

Nesse momento, escutei a porta do meu quarto abrindo. Minha mãe e eu encerramos o assunto. Adriana entrou na cozinha desejando bom dia e sentando-se à mesa. Minha mãe se levantou dizendo que ia se arrumar para ir ao mercantil, nos deixando sozinhos. Minha namorada encheu uma xícara de café enquanto minha mãe saía da cozinha.

- Dormiu bem? – ela me perguntou.

- Sim. E você?

- Também.

- Pensei tivesse tido insônia.

Ela hesitou um pouco – por que?

- Teve um momento que acordei e vi você conversando no celular.

- Ah, isso… foi mesmo, tava conversando com a Wanda.

Eu engoli em seco, mas ela nem percebeu, pois estava com os olhos voltados para a xícara de café. Ela continuou:

- Foi logo depois de você dormir. Eu demorei a pegar no sono, aí acabei conversando com ela.

- Ah…

- Fazia tempo que não nos falávamos, então colocamos a conversa em dia.

- Imagino o tanto que tiveram pra conversar…

- Você não me contou tudo sobre a Wanda, né?

Senti um frio na barriga.

- Ela me disse que você, ela e Vitor estudaram juntos por muitos anos na mesma escola, mas que mal se falavam. E só conversaram um pouco quando seus pais se conheceram. Por que me escondeu isso?

- Ela disse isso? – fiquei genuinamente surpreso.

- Sim. Ela esqueceu de algo?

- Não... quer dizer, ok, estudamos na mesma sala, mas ela tinha a galera dela e eu tinha a minha, a dos nerds. Não nos misturávamos. Não havia um assunto que nos unisse. Então, ela e ele não eram relevantes pra mim.

Por algum motivo, Wanda escondeu aquele ano que vivemos no Jornalismo. Nunca contei a Adriana que tinha feito esse curso.

- Deve ter vindo daí sua raiva do Vitor, né? Galeras diferentes...

- Não sei, talvez. Não penso nele, sabia nem que existia mais… vocês passaram a madrugada falando de mim, por acaso?

- Não.

Eu estava muito curioso para saber o que elas conversaram, ainda mais sabendo que ela apagara a conversa. E eu também tinha uma infinidade de perguntas, quase todas relacionadas à época em que as duas eram amigas. Mas eu não queria correr o risco de Adriana saber que um dia colapsei por causa de Wanda.

Além disso, eu realmente sentia que amava minha namorada. Até o ciúmes que senti na noite anterior, a meu ver, era uma justificativa para reforçar esse sentimento. Então, quanto menos eu falasse de Wanda, melhor seria, menos riscos eu correria.

O restante do dia prosseguiu numa aparentemente normalidade. Eu tentei agir como sempre fazia, porque queria deixá-la confortável e confiante nos meus sentimentos por ela. Ela, por sua vez, também fez de tudo para que ficássemos bem. À noite, antes de deixá-la em casa, fomos em uma sorveteria, onde tivemos momentos românticos, com ela me dando um pouco do seu sorvete para eu provar. Antes de nos despedirmos, já em frente a sua casa, trocamos beijos apaixonados, com um vontade que me surpreendeu.

Assim que pisei em casa, minha mãe me questionou se estava realmente tudo bem entre eu e Adriana. Fiquei surpreso com a pergunta porque tinha achado nosso domingo bom.

- Por que me pergunta isso, mãe?

- Não sei… achei vocês mais quietos, menos falantes, sem aquela alegria, sabe? E outra, num momento em que você foi ao banheiro, flagrei Adriana olhando seu celular. Já vi ela fazendo isso outras vezes, sei que vocês não tem muitos segredos, mas hoje, achei ela mais ansiosa que o normal, com pressa de olhar seu celular antes que você saísse do banheiro. Talvez, ela esteja desconfiada de você.

- Mas eu não dei motivos de nada. Do que ela poderia desconfiar? Meu celular não tem nada para esconder dela.

- Será? – minha mãe me fuzilou com o olhar e foi para o seu quarto, não me dando chance de fazer qualquer explicação. Porém, estava claro que uma chama havia sido despertada entre Adriana e eu. A chama da desconfiança.

Como no domingo, as semanas seguintes também passaram numa aparente normalidade. Eu fui oficializado como novo sócio da PHX, com contrato assinado e reconhecido em cartório. Conforme esperado, ganhei uma nova sala e fiz cara de surpresa quando isso me foi informado pelos os outros sócios. Dei total autonomia para que Adriana decorasse minha nova sala, o que ela aceitou com entusiasmo.

Adriana, já formada, também subiu de cargo e agora era coordenadora de Projetos e Relacionamento Institucional da PHX. Ela ainda se reportaria a mim, especialmente, mas suas demandas aumentaram consideravelmente. Ela também se sentia parte importante e crucial da empresa, o que de fato era. Tais mudanças em nossos papeis renderam algumas comemorações íntimas e carnais.

A festa de formatura de Adriana aconteceu conforme eu desejava: sem a presença de Wanda, Vitor e Gustavo. Seus pais, alguns tios, tias, primas, eu e minha mãe fomos seus convidados. Nos divertimos bastante e ela bebeu um bocado, “estragando” o final da noite que tínhamos planejado num motel. Porém, presenciar sua felicidade compensou esse pequeno contratempo e vê-la dormindo em meus braços, totalmente embriagada, me trouxe uma alegria tremenda.

As desconfianças foram diminuindo aos poucos, mas nunca cessadas de verdade. Eu ainda olhava o celular dela escondido, mas nunca encontrei nada de relevante. Nunca peguei, por exemplo, uma conversa dela com Wanda. Aposto que ela também fuçou meu celular, mas quanto a isso, eu estava tranquilo, pois não tinha nada a esconder.

Um certo final de tarde na PHX foi realmente impactante para mim. O expediente terminava quando percebi que Cecília e Wanda estavam na sala do Trajano. Gelei por um momento, surpreso por ver as duas lá. Em sete anos, eu nunca tinha visto qualquer uma das duas pisando na empresa, então aquilo era uma novidade e tanto. Fiquei curioso para saber porque estavam ali. Pensei em ir até lá e cumprimentá-las, mas algo me travou. Olhei para Adriana, mas ela parecia bastante concentrada no seu monitor, totalmente alheia ao que estava acontecendo.

No meio dessa indecisão, resolvi chamar Adriana para um passeio rápido, tentando fugir de qualquer situação embaraçosa. Ela me olhou confusa, até um pouco irritada por eu ter atrapalhado sua linha de raciocínio.

- Eu não posso agora, Bruno. Eu realmente preciso terminar esse relatório.

- Você termina quando voltarmos. E eu fico aqui até você terminar. E compro comida, se precisar. Vamos?

- Por que quer ir? Me diz.

- Quero passar no entorno de um prédio novo, aqui perto. Pertence a um novo fundo imobiliário. Eu quero projetar como será a dinâmica quando estiver em pleno funcionamento. Eu só consigo fazer isso estando lá, visualizando de perto.

- E precisa ser hoje? Precisa ser agora?

- Essa é uma das melhores horas para avaliar. É a hora do rush. Então, vamos? – tentei usar a melhor das minhas expressões para convencê-la, mas ela entendeu “errado”.

- Você está querendo aprontar, não é?

- E se for? Vai recusar?

Ela me deu um sorriso malicioso, como se tivesse entendido algo nas entrelinhas. Não seria a primeira vez que fazíamos algo assim e ela gostava disso. E isso me fez sentir bem, pois mesmo com Wanda a poucos metros de nós, o desejo por Adriana se mantinha intacto.

Parei o carro numa rua lateral pouco movimentada e que dava uma visão ampla ao prédio praticamente pronto. Adriana começou a alisar minha coxa e me encarar com um olhar provocante.

- E então? O prédio vale o investimento?

- Ainda não sei.

- E se eu te chupar aqui, te ajuda a decidir?

- Sim! Com certeza sim! – respondi de imediato, quase desesperado, fazendo-a rir e morder os lábios naquele jeitinho que gosto.

Ela desabotoou e baixou minha calça, revelando meu pau duríssimo, empolgado pelo perigo de estar no meu carro, onde nossa única proteção era o fumê.

- Nossa! Está tão duro assim?

- Culpa sua, Adriana. A mulher mais linda da PHX é a chupadora do meu pau.

- Sou, é?

Adriana, então, ficou de quatro no seu banco, revelando a bela curva do seu traseiro em formato de coração, me dando uma visão do paraíso. Ela baixou o rosto e começou a chupar meu pau com vontade, como se quisesse extrair todo prazer e tesão que eu sentia.

- Chupa, minha putinha gostosa. Depois que você engolir meu leite, você vai acabar a planilha num instante. Ah, que delícia.

Ela continuou sugando meu pau, como se fosse um aspirador, agasalhando dentro de sua boca quente. Ela intensificou os movimentos, como uma profunda conhecedora daquele membro que era seu. Não consegui resistir por muito tempo e enchi sua boca com meu sêmen. A safada engoliu tudo e ainda limpou meu pau com a mesma maestria de sempre.

- Decidiu se o prédio é bom? – ela me perguntou após me limpar, ainda lambendo os lábios.

- Ainda não. Vou precisar vir mais vezes aqui para ter certeza.

- Safado! – e nos beijamos um bocado antes de voltarmos.

Quando voltamos para a PHX, mal o elevador se abriu e Adriana correu para sua mesa:

- Preciso terminar o relatório. Pede comida.

Sorri satisfeito com o jeito responsável dela, uma das muitas coisas que me fazia amá-la. Mas a sensação não demorou muito quando vi a porta da sala de Trajano abrindo. Ele, Cecília e Wanda estavam saindo e vindo em minha direção. Por um momento, fiquei sem reação, até que Denis, numa mesa do lado, meu chamou. Fui até ele, entregando-lhe totalmente minha atenção para qualquer assunto que ele fosse falar.

Denis me mostrou a conclusão de um estudo sobre criptomoedas que estava fazendo há algumas semanas. Ele analisou a relação entre o preço do Bitcoin com alguns marcadores como Fear and Greed e Múltiplo de Mayer, e, com base nisso, definiu um intervalo ótimo para compra e outro para venda também. Começamos a debater e ele gesticulava efusivamente. Isso não passou despercebido por Trajano, que veio ao nosso encontro.

- Parece que o estudo sobre cripto deu resultado, não é, Denis?

- Sim, Seu Trajano, olhe isso... – Denis repetiu tudo que havia me falado, capturando a atenção dele. Eu acompanhei em silêncio, mas não pude deixar de olhar, de canto de olho, para Cecília e Wanda, que estavam próximas, olhando especificamente para nós.

Quando Denis terminou sua explicação, Trajano pareceu satisfeito e pediu que Denis organizasse uma apresentação para os próximos dias, dizendo que havia informação suficiente para ser compartilhada com o time. Ele ficou empolgado.

- Confio em você, Denis – finalizou Trajano – Agora, preciso ir. Minha filha Wanda... – Trajano virou-se para sua filha, com um sorriso de orgulho no rosto, antes de continuar – ...foi efetivada na Folha de São Paulo. Estamos indo comemorar sua promoção.

Cecília virou-se para ela também, esbanjando um sorriso de satisfação. Wanda deu um sorriso tímido, baixando um pouco os olhos, mas quando os levantou, eles vieram em direção aos meus. Isso me fez tremer, quase me fazendo perder a compostura, mas consegui me recuperar rápido o suficiente para dizer:

- Parabéns, Wanda!

- Obrigada – ela retribuiu com um sussurro baixo, quase suspirando.

Seguiu-se alguns segundos de silêncio e de expectativa, como se as pessoas ao redor esperassem que eu e Wanda trocássemos mais algumas palavras, mas eu acabei fazendo outra coisa, como querendo me livrar de um fardo. Fui cumprimentar Cecília, indo ao seu encontro.

- Dona Cecília, sempre bom ver a senhora – eu a abracei, dando um beijo em seu rosto.

Quando tentei me afastar, a esposa de Trajano me segurou por um momento, com as mãos em meu rosto, dando-me um carinho maternal:

- É sempre bom te ver, meu filho. Você está tão lindo e elegante, um sócio de verdade. Estou tão orgulhosa, Bruno, você não sabe o quanto.

- Obrigado, Dona Cecília! Não sei se mereço tanto…

- Merece!

Trajano nos interrompeu com um sorriso no rosto, aparentemente feliz por aquela interação:

- Bom, temos que ir ou perdemos a reserva – ele apertou minhas mãos e depois olhou para sua mulher e sua filha – Vamos?

- Até mais, Bruno! Apareça! – Cecília retribuiu meu abraço, me dando um beijo no rosto.

Quando Cecília me soltou, me virei para Wanda e, juro por Deus, eu apenas pensei em fazer um aceno respeitoso com a mão, mas ela tinha outros planos.

Wanda me abraçou inesperadamente, me deixando completamente sem reação. Seu rosto pousou em cima do meu ombro direito e sua mão caminhou até minha nuca, me dando um carinho leve que me arrepiou por inteiro e que foi demorado o suficiente para perceber que havia algo mais ali. Então, depois do que parecia uma eternidade para mim, ela se afastou, sem beijos, mas me olhando profundamente, querendo me dizer tantas coisas com se fosse possível apenas com o olhar.

- Tchau! – foi o que ela se limitou a dizer.

Acompanhei os três indo em direção ao elevador até que entrassem e a porta se fechasse. Internamente, porém, eu estava em choque. Num simples gesto, Wanda evocou todas as lembranças e sentimentos daquele período que éramos apenas nos dois. E o que me deixava pior era saber que a saudade dela nunca havia diminuído, só estava escondida pelo tempo. Meu lado racional era todo de Adriana, mas e o coração? Eu precisava lutar contra meu próprio coração? Que loucura!

Fui até Adriana temendo sua reação. Será que ela viu? Ela aparentava estar completamente concentrada na conclusão da planilha. Quando cheguei ao seu lado, ela sequer virou-se para mim, tamanha era sua dedicação.

- Em vez de pedir comida, vamos sair pra comer?

- Não sei que horas vou terminar – ela respondeu secamente, ainda sem me olhar.

- E se for para comer sushi?

- Mesmo sendo sushi.

- Queria comer polvo, mas só vale a pena se for contigo.

Tinha conseguido capturar sua atenção.

- Polvo, Bruno? Da onde surgiu essa ideia?

- Vi num documentário que se come isso e agora quero experimentar.

- Tá querendo aprontar de novo, né?

- Sim, como você sempre consegue adivinhar meus pensamentos? – fingi surpresa, o que a fez rir.

- Tá bom, vamos comer polvo, mas se eu ficar com muito fome sem terminar essa planilha, você vai ter que trazer esse polvo até aqui, nem que você precise pescar no fundo do mar. Combinado?

- Sim, senhora, madame! – bati continência, ela riu mais ainda antes de continuar seu trabalho: - Seu bobo.

Bom, ela terminou a planilha a tempo, a fome não foi um empecilho. E comemos polvo num restaurante famoso no Jardins. Ambos gostamos.

- Até que você foi bem nessa ideia de comer polvo.

- Mereço um prêmio?

Terminamos a noite num motel, transando deliciosamente. Minha pequena interação com Wanda tinha me deixado desconfiado dos meus próprios sentimentos, mas sempre que estou com Adriana, principalmente nos momentos de afeto, ela sempre domina meus pensamentos.

Teve um momento em que sentei no sofá, com meu pau em riste e ela sentou em cima, agasalhando meu membro com a bocetinha. Ela foi cavalgando devagarinho, focando apenas em mordiscar e apertar meu pau com a bocetinha.

- É tão bom sentir teu pau.

- Continua, vai, isso tá muito bom mesmo.

- Ai, Bruno, quanto mais transamos, mais eu sinto vontade.

- Eu também, meu amor.

Ela começou a rebolar também, uma rebolada que fazia meu pau ir da direita para a esquerda, para frente e para trás, parecendo uma marcha de carro manual, me fazendo delirar de prazer.

- Eu não vou aguentar... eu vou gozar dentro de ti.

- Goza, então. Goza para mim, enche a tua mulher, a única que te ama de verdade.

E então, eu gozei muito, encharcando seu útero. Foi uma gozada diferente das outras porque não houveram estocadas firmes ou cavalgadas fortes, e sim apenas o uso da pressão da sua própria bocetinha, somado as reboladas caprichadas.

- Foi diferente dessa vez. Você não seduziu somente a mim, mas o meu pau também. Onde aprendeu isso, hein?

- Acha que não sou mais capaz de surpreender meu namorado?

Continuamos nessa posição por um bom tempo, nos beijando, trocando carícias e palavras de carinho.

Já em casa, depois de deixar Adriana, o grupo de mensagens com meus colegas estava mais movimentado que o normal:

> Denis: vocês precisavam ver a filha do chefe, nunca vi mulher mais linda e mais gostosa, sério mesmo

> Remo: cadê a ficha técnica?

> Denis: nome dela é Wanda, trabalha na folha, filha do seu Trajano e o Bruno conhece ela, mas nunca nos falou dela, que fdp

> Remo: bruno tem essa mania de ficar escondendo as delícias, sacanagem

> Erika: vocês acham mesmo que o bruno tem tempo pra ficar olhando pra outra mulher? ele só tem olhos pra a Adriana

> Remo: meu ex-soldado :(

> Denis: ele tá comprometido, eu não, vou saber mais dela, agora ela é minha nova musa inspiradora

> Erika: meu deus kkk

> Remo: kkkk manda o resultado da pesquisa pra gente admirar junto

> Denis: e tu roubá-la de mim? sai fora, fdp

> Remo: que isso, cara kkk

Não respondi as mensagens, não queria me associar a Wanda mais do que já tinha sido percebido pelo Denis. A verdade era que minha vida estava acostumada sem a presença dela. Antes do aniversário do Trajano, eu temia o reencontro. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, isso aconteceria, eu não poderia fugir para sempre. Até me surpreendi que esse reencontro tenha demorado tanto. Às vezes, achava que nossos pais agiram para que ficássemos longe um do outro. Se for verdade, talvez devesse agradecer a eles. Eu não teria qualquer relação com Wanda, mesmo de amizade, com ela namorando o Vitor. Jamais.

O colapso de anos atrás era uma porta que não tinha sido fechada ainda. Entretanto, encontrei Wanda duas vezes e ela, de fato, mexeu comigo. Mexeu mais do que eu esperaria como aceitável. Contudo, eu sobrevivi. Claro, isso me custou introduzir o componente da desconfiança no meu relacionamento com Adriana, mas minha namorada e eu continuamos firmes apesar de Wanda. Isso me fez sentir confiante com o passar do tempo. Talvez, eu já pudesse encarar Wanda com naturalidade, fechando a última ponta daquele passado doloroso, mas que me rendeu, entre outras coisas, Adriana.

Em muitos momentos, tive a tentação de comparar as duas, mas procurei evitar ao máximo. Nas poucas vezes que não resisti, eu me senti mal, como se não tivesse sido justo com Adriana. Entenda, Adriana é espetacular, a mulher que mais conheço nessa vida além da minha mãe. Mas, nos únicos parâmetros que eu podia comparar com dados, Wanda me parecia melhor. Só que, o que isso quer dizer no fim das contas? Eu sempre achei Vitor melhor que eu em tudo e, por um momento, achei que Wanda iria preferir a mim em vez dele. Ser melhor em um parâmetro ou outro, acaba sendo relativo.

Adriana, por exemplo, poderia ter caras melhores que eu e escolheu estar comigo. Isso deveria ser valorizado também. O Gustavo, aquele ser asqueroso que ela namorou, é um cara muito mais bonito que eu e ela terminou com ele, sem qualquer chance de volta. Então, mesmo que os parâmetros indiquem que Wanda seria a melhor, sentia que, no final das contas, Adriana era a melhor para mim, principalmente por tudo que passamos.

Essas reflexões fizeram alimentar novamente a ideia de pedir Adriana em noivado. Senti um misto de expectativa e ansiedade pela reação dela. Então, algumas semanas depois, numa sexta-feira após o almoço, eu disse que precisaria passar a tarde fora para resolver algo pessoal. Adriana insistiu em saber, demonstrou uma preocupação genuína, mas disse-lhe que falaria depois e que ela confiasse em mim. Ela aceitou resignada.

À noite, quando voltei para casa, encontrei Adriana sentada no sofá, ainda vestida com a roupa do trabalho. Seu olhar era de desespero e preocupação comigo. Ele veio em minha direção, me abraçando forte.

- Bruno, meu amor, me desculpa. Me desculpa! Você nunca fez isso antes de sair sem me dizer para onde ia ou o que ia fazer… eu… eu fiquei preocupada e não tive coragem de te ligar sem parecer uma pessoa controladora e que não te dá espaço. Me desculpa por estar aqui, me desculpa…

Eu a afastei um pouco, mas continuei segurando-a com minhas mãos em seus braços. Seus olhos estavam marejados. Sua postura derreteu meu coração. Eu tinha motivos para não falar porque tinha saído e ela, por não estar acostumada, quase surtou e foi bastante sincera ao confirmar isso. Eu só tive mais certeza do que ia fazer.

- Eu preparei uma surpresa pra você.

- Pra mim? – ela me olhou confusa, surpresa.

- Sim. Minha ideia era vir aqui em casa, tomar banho e ir pra sua casa, mas já que você está aqui, vai ser aqui mesmo. Eu não vou esconder. Quer viajar comigo amanhã de manhã?

- Viajar? – ela arregalou os olhos – Pra onde?

- Sim, pra Campos do Jordão, pra uma pousada, só nós dois, algo bem romântico. Eu preparei um roteiro especial para aproveitarmos bem. O que me diz?

- Eu quero. Nossa, eu quero muito. Por que não me falou logo? Foi por isso que passou a tarde fora?

- Sim. Não queria preparar o roteiro na sua frente sem estragar a surpresa, né?

- Entendi, mas… você está tão misterioso.

- Eu prefiro assim.

No dia seguinte, chegamos na pousada pouco antes do almoço. O local era lindo, aconchegante e romântico, conforme eu esperava. Depois do almoço, pedi que ela se preparasse porque passearíamos pelo Parque Amantikir, com seus jardins temáticos, inspirado em padrões europeus e orientais.

O Parque é composto por quase 30 jardins distribuídos em colinas e campos, com vistas amplas da serra. É um local onde não há barulho, nem música e nem uma multidão densa. É uma área onde impera o silêncio natural. Era um ambiente que claramente favorecia climas românticos devido sua beleza visual e a privacidade.

Caminhamos pelos jardins por quase duas horas. Ela estava encantada e expressando uma excitação evidente. Talvez, ela desconfiasse do que viria, suspeitei disso. Por volta das 16h30, estávamos no Mirante, que ficava na parte mais alta do parque. O local oferece uma vista ampla das montanhas e de pequenos vales da Mantiqueira. O vento leve, o horizonte e a luz do final de tarde propiciava o cenário perfeito para mim.

Enquanto ela se perdia na beleza daquela visão, eu me ajoelhei ao seu lado, mostrando um anel de 18 quilates que tinha comprado especialmente para aquela ocasião. Quando ela se virou para mim, seu choque foi instantaneamente, colocando a mão na boca.

- Adriana! – sussurrei do fundo da minha alma – Você aceita se casar comigo?

Vi seus olhos marejando e uma sorriso genuíno brotando em seu rosto. Sua expressão não negava que aquele também era seu desejo e que seu coração era meu.

- Sim! Sim, Bruno! Eu quero me casar com você! Eu quero muito! Eu te amo!

Então, levantei-me só o tempo suficiente dela pular em meus braços, me enchendo de beijos enquanto eu a rodopiava. Coloquei o anel em seu dedo e tiramos várias fotos, algumas com ajuda de uma visitante bastante simpática.

À noite, levei-a a um restaurante para comer fondue. Ela sorria sem parar, muitas vezes se emocionando enquanto admirava o anel. Nesse momento, eu lhe entreguei uma carta escrita a mão, que continha o seguinte:

“Adriana,

Quando ler essa carta, você já terá dito sim ao meu pedido de casamento. Resolvi escrever para tentar colocar em palavras, com toda calma do mundo, o que eu sinto por você.

Você é a melhor coisa que me aconteceu. Lembro até hoje a forma como nos conhecemos, com você vindo até minha mesa e eu paralisado, admirado com a sua presença. Não sei se percebeu à época, mas eu estava travado, encantado por sua beleza.

No meu pior momento, você esteve ao meu lado, não se deixando afetar pela minha confusão e meu negativismo. Quando eu estava prestes a te mostrar o meu pior, você me surpreendeu e me pediu em namoro. Que prova de amor maior que essa eu poderia ter de você?

Para mim, é como se você sempre fizesse parte da minha vida pois não consigo me ver sem você. Como eu existi todo esse tempo sem você? Eu não sei. É como se eu sempre tivesse esse sentimento e ele fosse sempre seu. Apenas seu.

Eu fico empolgado só de imaginar o futuro que teremos pela frente. O nosso lar. Nossos filhos, quem sabe? Eu quero tudo isso e muito mais.

Mas o que eu quero mesmo é você, Adriana. Você é meu passado, meu presente e meu futuro. E eu te amo mais que tudo!

Do seu noivo,

Bruno!”

Quando terminou de ler, vi lágrimas derramando em seu rosto. Fui até ela e enxuguei delicadamente, dando-lhe, depois, um beijo em cada um dos seus olhos.

- Muito obrigada por isso, Bruno. Você não sabe o quanto essas palavras significam para mim. Eu te amo.

Voltamos à pousada e nos trancamos no quarto. Ela pegou sua mala de viagem e entrou no banheiro, pedindo apenas que eu a esperasse de cueca box. Eu já estava excitado, contando os minutos para possuí-la.

Algum tempo depois, ela saiu me deixando embasbacado. Ela vestia uma lingerie preta minúscula, mal cobrindo suas partes íntimas. A visão era obscena, o que fez meu pau pulsar involuntariamente.

Ela parou em frente a cama, próximo aos meus pés e começou a fazer uma dança contorcionista absurdamente sensual. Ela parecia em êxtase, no nirvana, enquanto revirava os olhos e arfava de prazer apenas por fazer aquilo para mim.

Ela ofegava sem eu tocá-la. Suas mãos percorriam o próprio corpo como se quisesse me mostrar o caminho que eu deveria percorrer. Então, ela parou e me encarou com aqueles olhos sedutoramente fatais, o anel brilhando em seu dedo, mordendo os lábios:

- Eu preciso que você me possua, Bruno… que faça o que quiser comigo. Hoje, você ganhou esse direito e eu serei a sua bonequinha, a sua putinha para seus desejos mais profanos e deturpados.

Ela se afastou da cama, andando para trás, até encostar numa penteadeira, com suas mãos pousando nela. Seu corpo voltou a se contorcer, numa dança hipnótica lenta, seus cabelos esvoaçando de um lado para outro, como uma onda de prazer prestes a me enlouquecer. Caminhei até ela, faminto. Ele me olhou:

- Eu tô morrendo de tesão, Bruno. Só de te ver me desejando, já me deixou prestes a gozar… eu nunca senti isso antes, eu não sabia que alguém poderia me fazer sentir assim. Só você consegue…

Voei em cima dela, beijando-a com vontade, aproveitando cada parte do seu corpo. Não demorou muito e rasguei sua lingerie inteira e minha cueca box também. Coloquei-a de joelho e fodi sua boca por um bom tempo, ela com as mãozinhas para trás, engasgando, mas sem reclamar.

Eu estava prestes a gozar, mas consegui parar a tempo. Levei-a para cama e a fiz gozar rapidamente com uma chupada gostosa, bastante molhada com seu néctar e minha própria saliva.

E enquanto ela curtia o prazer do seu orgasmo, eu meti nela sem piedade, na posição de frango assado, fazendo-a gritar manhosamente. E meti com força, rapidamente gozando dentro dela também.

Logo nos recuperamos e voltamos para mais sessões de sexo. Comi-a em várias posições: de quatro (nossa especialidade), papai e mamãe, de ladinho, de bruços, em pé, no chuveiro, em cima da penteadeira, com cara dela esmagada pela porta e de tantos outros jeitos possíveis e inimagináveis. Não lembro quantas vezes gozamos, mas garanti pelo menos uma gozada no seu cuzinho e na sua boca também.

Depois, quando nos acalmamos mais, mas ainda sem sono, ela reforçou o quanto aquele fim de semana era o mais feliz da sua vida. Era tanta felicidade que ela queria espalhar para o mundo inteiro. Deitada de bruços, nua, enquanto eu tinha uma visão magnifica da sua bunda, ela mexia no seu celular, dizendo que ia fazer uma pequena surpresa para mim. Quando terminou, ela disse:

- Recriei minha conta no Instagram. Postei uma foto nossa, destacando o anel e o pedido de casamento. Quero mostrar para todo mundo a minha felicidade. Olha aqui…

- Essa foto ficou linda, meu amor. Eu adorei.

- Cria uma conta também para eu te marcar.

- Eu tenho.

- Já tem? – ela arregalou os olhos, surpresa.

- Sim, mas faz tempo que não uso e nunca postei foto. Vou tentar recuperar a senha, pera…

Instalei novamente o Instagram no meu celular e rapidamente recuperei minha conta. Quanto ao resto, deixei que Adriana mesma atualizasse meu perfil. Ela passou boa parte da madrugada fazendo isso, com bastante afinco, e quanto terminou, eu já estava dormindo. Só vi o resultado no outro dia, quando cheguei em casa.

Pela manhã, ainda como parte do roteiro que planejei, tivemos uma incrível sessão de massagem para casal feita por duas massoterapeutas extremamente experientes e profissionais. Quando terminamos, Adriana me olhava com um relaxamento visível, completamente satisfeita.

- Obrigada por isso também, meu amor. Eu amei demais, mas não deixei de perceber uma coisa.

- O que?

- Por que você não escolheu um massagista homem para mim? Seria o mais justo já que você teve uma mulher massageando o seu corpo... que deveria ser só meu.

- Negativo! O único homem que pode tocar o seu corpo... sou eu – isso me fez sentir um arrepio na espinha, mas que logo passou. Adriana não percebeu, limitando-se a rir da minha resposta.

O retorno para casa foi um pouco caótico por conta do transito infernal. Devido a isso, Adriana dormiu na minha casa, o que achei bom pois minha mãe tinha dito que dormiria na casa do Trajano. Eu demorei a pegar no sono e quanto olhei meu celular, havia dezenas de notificações, quase todas do Instagram.

Adriana tinha atualizado meu perfil completamente, mudado minha foto e postado algumas fotos nossas e outras individuais também. Além disso, atualizou minha lista de amizades. Ou seja, ela fez o serviço completo. Eu poderia ter ficado chateado com a intromissão, mas, ao contrário, eu estava satisfeito. Eu não conseguiria fazer melhor.

Olhando os comentários das fotos, muitos conhecidos comentaram como meus amigos da faculdade e os tios, as tias e as primas dela. O comentário de Vitor, na foto dela, me chamou atenção: “felicidades ao casal”. Contudo, Wanda ter comentado fez meu coração errar a batida. O comentário dela foi simples, apenas um emoji de coração, que parecia querer dizer tudo e ao mesmo tempo nada.

Perdi um tempo observando as amizades que ela seguiu e, por um instante, temi que ela tivesse seguido o Gustavo, mas, felizmente, ela só seguiu Vitor e Wanda. Quanto ao Vitor, ela poderia ter evitado, mas decidi que não a questionaria sobre isso. No meu perfil, ela fez questão de seguir Wanda, o que me surpreendeu, mas nada de Vitor. Ainda bem. Wanda, por sua vez, não comentou a foto no meu perfil, só no de Adriana.

No dia seguinte, na PHX, quase todos no escritório nos deram os parabéns. Trajano, em especial, nos chamou em sua sala.

- Fico genuinamente feliz por vocês, meu querido e minha querida. O casamento é um marco decisivo na vida de qualquer pessoa, e sei o quanto vocês se dedicam um ao outro. Só posso desejar que essa união seja plena, sólida e repleta de felicidade. Que caminhem juntos com sabedoria e alegria.

Agradecemos o carinho e reforçamos o quanto ele tinha sido importante para nos unir.

- Fico realmente lisonjeado pelo que disseram, mas o mérito é de vocês. Se tenho algum talento, é o de reconhecer potencial. E é justamente por isso que estão aqui. A família que vocês construirão tem tudo para ser extraordinária.

Assentimos, ainda agradecidos.

- Mas voltando aos assuntos da PHX: preciso que você viaje aos Estados Unidos nas próximas semanas. A parceria com o fundo americano avançou, e é essencial que alguém do nosso time esteja lá para conhecer o escritório e assinar o memorando de intenções que ampliará nossa atuação conjunta. Como nosso mais novo sócio, essa experiência é sua. E será importante para todos nós. Posso contar com você?

- Claro, com certeza. Não vejo a hora disso. Qual cidade é?

- Nova Iorque. Além disso, verifique também se haverá algum congresso ou conferência importante no período da viagem. Quando eu vou, faço isso. Talvez aconteça a Inside ETFs Conference ou ETF Global Conferences. Isso seria uma boa pedida para você durante a estadia lá.

Quando saímos da sala de Trajano, pensei que Adriana ficaria preocupada por eu viajar sozinho, mas ela estava empolgadíssima com a ideia.

- Amor, Nova Iorque é o centro financeiro mundial. Será uma experiência incrível para você.

De noite, após deixar Adriana, minha mãe me chamou para uma conversa tão logo entrei em casa. O olhar dela era, no mínimo, intrigante.

- Você tem certeza do casamento?

- Claro, ué. Não foi a senhora que disse que Adriana me amava?

- Sim. Ela é uma mulher especial.

- E como é…

- Mas eu sei que ela não é a única mulher nisso tudo, não é?

- Não, mãe, ela é a única mulher sim. É com ela que quero me casar. Quer saber, vamos dar nomes aos bois. A senhora fala da Wanda, acertei?

- Sim.

- Wanda é passado. Eu já a encontrei duas vezes e sim, senti alguma coisa, um incomodo, mas longe, muito longe daquelas coisas que senti e que me fizeram colapsar. Sinto que passei na prova de fogo. A tendência é que eu me acostume a isso, até que Wanda se torne indiferente para mim. É passado, mãe. Além do que, ela parece estar muito feliz com o Vitor, que é o homem da vida dela.

- O homem da vida dela... – minha mãe ironizou.

“Sou eu”, algo sussurrou em minha mente, me causando uma certa aflição.

- Enfim, pensei que a senhora estaria feliz por mim. Fico chateado com essa sua postura.

- Desculpa, Bruno. Eu estou muito feliz por você, sim. Se tem alguma dúvida em relação aos meus sentimentos, converse com Adriana. A gente passou horas conversando, projetando o casamento e eu, assim como ela, estou empolgadíssima. Porém, como mãe, não posso negar que sinto uma preocupação por você.

- Não se preocupe, mãe. Eu amo a Adriana. Seremos felizes juntos.

- Então… amém.

No quarto, enquanto não dormia, notificações continuavam não paravam de pipocar nas nossas fotos publicadas. Havia curtidas e mensagens da minha mãe, da Cecília, da Wendy, da Wis Nara, do Remo, da Erica, do Denis e de tantos outros. As mensagens eram todas no mesmo teor, de desejar felicidade pelo nosso noivado e futuro casamento.

Não resisti a tentação de estar sozinho e resolvi olhar o perfil da Wanda. Ela tinha acabado de postar uma foto, coisa de três horas antes. E a foto não poderia ser mais significativa. Era uma foto que ela tirou anos atrás, quando fomos no cinema, assistir Divertidamente. Ela estava sozinha, fazendo uma selfie em um espelho, o mesmo em que tiramos uma foto juntos. Eu não lembrava dela ter tirado uma foto sozinha, isso me deixou muito surpreso. O título da foto dizia: “Às vezes é preciso um choque de realidade para entender o que se quer”. Engoli em seco.

Nos comentários, um mar de gente. Ela parecia mais famosa que antes. Porém, o comentário de Adriana foi que mais me chamou atenção: apenas um emoji de um braço flexionando o músculo. Significativo? Eu achei. E sentir um temor. Talvez, minha mãe tenha razão, mas não quis pensar muito nisso. Disse a mim mesmo que estava decidido. Seria Adriana e ponto final. Larguei o celular.

Dias depois, para dar mais razão a minha genitora, recebo um e-mail de quem eu mesmo esperaria: Wanda. Ela enviou através do seu endereço corporativo na Folha de São Paulo. A mensagem era simples:

“Bruno,

Me encontre no McDonald’s às 15h da sexta-feira que vem. E não conte a ninguém, nem mesmo aos nossos pais. O endereço segue abaixo.

Att,

Wanda”.

Fiquei em choque, não sabendo como reagir. Eu li e reli diversas vezes, tomando cuidado para ninguém ler, especialmente Adriana, que sequer foi citada no corpo da mensagem. Pensei em responder, dizer que não poderia ir, mas não consegui fazer isso. Com o passar dos dias, soube que Adriana passaria a tarde dessa mesma sexta-feira em uma série de palestras internas, onde ela seria a palestrante principal. Coincidência? Ou coisa do destino? Tudo conspirava para eu ir.

Chegou o dia e eu ainda estava indeciso. Fui almoçar mais tarde, alegando estar ocupado com um balanço. Adriana foi na frente, não esperando por mim, o que era de se esperar pois ela também tinha compromissos inadiáveis, estando focada nisso. Quando saí, fui ao McDonald’s, que ficava do outro lado da cidade, tão distante que seria impossível alguém nos reconhecer. Uma escolha proposital.

Quando cheguei ao local, rapidamente avistei Wanda, que estava sentada sozinha numa mesa de canto. Ao me sentar, nossos olhos se encontraram e o passado inteiro faiscou entre nós. Sustentamos a troca com uma intensidade amarga e uma frieza obstinada, cada um esperando o outro ceder primeiro. Nenhuma palavra fora proferida inicialmente. E nem precisava. Tudo estava implícito. Mas tive que quebrar o gelo, pois senti que precisava respirar um pouco:

- Vou pegar comida pra gente.

Ela não disse nada, apenas continuou sentada. Comprei, é claro, batatinha frita. Quando voltei com duas porções e sentei, ela continuou me encarando, aparentemente impassível. Voltei a sustentar meu olhar nela e nada indicava que algum de nós daria um primeiro passo para o que viria a seguir.

Então, como se tivesse caído de um penhasco de autoconfiança, eu a admirei. Ela continuava tão linda quanto antes, talvez mais. A mulher mais linda que conheci na vida. Lembrei de Adriana, sentindo o remorso corroendo meu peito e me fazendo baixar, um pouco, os olhos. Wanda havia vencido a primeira batalha e, como numa explosão repentina, ela me encurralou, inclinando-se sobre a mesa, os olhos fixos nos meus, a voz baixa, mas aguda:

- Por que, Bruno? Por que você me abandonou? Por que disse que nunca mais queria me ver? Por que pediu para que eu saísse da sua vida ? O que eu te fiz de tão ruim? Tudo que vivemos foi uma mentira para você? Nada daquilo importou? NADA?

Acuado, só pude arregalar os olhos. As perguntas não faziam o menor sentido para mim.

Continua…

Espero que gostem. Desde já, ficarei grato com qualquer comentário, crítica ou elogio. Próximo capítulo em alguns dias.

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