O sobrado que abrigava a pensão era um esqueleto de madeira em um bairro de reputação duvidosa da cidade. As paredes rangiam como se tivesse vida própria. Eu, Camila, 34 anos, ghostwriter falida, coração estilhaçado e buceta carente, aluguei o quarto no terceiro andar porque precisava de silêncio. Ou talvez porque queria me enterrar viva. A editora misteriosa que me contratou para escrever um romance com uma premissa de merda não importava mais. Eu só queria um canto onde pudesse lamber minhas feridas e fingir que ainda sabia juntar palavras que fizessem sentido.
O quarto era uma porra de relíquia macabra: uma cama de ferro velha, um armário com portas prestes a desabarem, um espelho oval manchado que parecia me julgar, e uma janela trancada com grades que não deixavam entrar nem um sopro de ar. Tudo cheirava a passado, a vidas que não deram certo. Deitei na cama na primeira noite, exausta, com a calcinha úmida de suor e frustração. Tentei escrever, mas as palavras escorregavam como merda líquida saindo do rabo. Então, apaguei a luz e deixei o escuro me engolir.
Foi na madrugada que ele veio.
Não ouvi a porta abrindo. Não ouvi passos. Só senti o colchão afundar ao meu lado, o peso de um corpo que não deveria estar ali. Meu coração disparou, mas antes que eu pudesse gritar, uma mão quente deslizou pela minha coxa, subindo até o meio das pernas com uma certeza que me desarmou. Dedos calejados abriram caminho, tocando exatamente onde eu precisava, como se conhecesse cada canto da minha buceta. Eu deveria ter lutado. Deveria ter gritado. Mas meu corpo, esse vadio traidor, se abriu como uma flor faminta. Ele me penetrou sem dizer uma palavra, o pau grosso e pulsante, me rasgando com uma precisão que doía e curava ao mesmo tempo. Minha respiração engasgava, meus gemidos ecoavam no quarto, e quando gozei, foi como se meu corpo explodisse em cacos de vidro e luz.
Acordei suada, com os lençóis embolados e a calcinha jogada no canto. Meu corpo doía como se tivesse sido fodido por um demônio. As coxas marcadas, o pescoço sensível, e uma umidade pegajosa entre as pernas. Não foi um sonho. Eu sabia. O espelho embaçado me encarava, e juro que vi algo se mover dentro dele, um vulto que não era meu.
Na segunda noite, tentei resistir. Tranquei a porta com a corrente, virei a cama contra a parede, me cobri até a cabeça como uma criança assustada. Mas ele voltou. O ar ficou pesado, quente, como se o quarto respirasse com ele. A corrente da porta tilintou, inútil, e a cama gemeu quando ele se deitou. Dessa vez, foi pior. Ou melhor. Ele me agarrou pelos cabelos, puxou minha cabeça para trás e sussurrou no meu ouvido: “Minha morta viva.” A voz era grave, líquida, como se viesse de um poço. Ele fodeu minha xoxota com uma violência sagrada, os dedos apertando meu pescoço até eu ver estrelas, a língua traçando linhas de fogo na minha pele. A pica invadindo a minha buceta com fúria, martelando, socando fundo, as bolas dele batendo no meu grelo inchado. Gozei tão forte que achei que ia morrer, que meu coração ia explodir dentro do peito. Quando acabou, ele evaporou, e eu fiquei ali, ofegante, com o nome errático que ele sussurrou ecoando na minha cabeça.
Confrontei Dona Zefa, a velha cega que cuidava da pensão. Ela estava na cozinha, mexendo uma panela de sopa que cheirava a ervas estranhas. “Quem é o homem que entra no meu quarto à noite?” perguntei com a voz tremendo. Ela riu, os olhos leitosos fixos no nada. “A cama tem memória, filha. E saudade é pior que assombração.” Não disse mais nada, só voltou a mexer a sopa, como se eu fosse um inseto zumbindo.
As semanas seguintes foram uma descida ao inferno. Ou ao paraíso. Eu não saía mais do quarto. Esqueci o livro, a editora, o mundo. Passava o dia nua, deitada na cama, me tocando com os dedos febris, tentando recriar o que ele fazia comigo. Escrevia bilhetes e deixava sobre o travesseiro: “Você vai voltar hoje?” “Me chame pelo nome que quiser.” “Deixo você fazer qualquer coisa comigo.” Era uma súplica, uma rendição. E ele vinha, toda noite, sem rosto, sem nome, só um corpo etéreo que me possuía como se eu fosse uma puta carente. Cada foda era mais profunda, mais suja, mais sacrílega. Ele lambia a minha buceta e o meu cu até eu chorar, me penetrava, me sodomizava até eu me perder por completo, me sufocava com as mãos até eu flutuar entre a vida e a morte.
Uma noite, encontrei um bilhete na cama, escrito com uma caligrafia trêmula: “Eu sempre estive aqui.” Meu sangue gelou, mas minha buceta latejou. Eu estava louca. Ou ele estava certo.
Queria vê-lo. Precisava saber quem ele era. Na noite seguinte, no meio do sexo, quando ele estava com a pica dentro do meu rabo, me fodendo com uma fúria que parecia rasgar o véu entre os mundos, tentei virar o rosto. Queria olhar nos olhos dele. Mas ele sumiu. Evaporou no ar, no meio de um gemido, deixando meu corpo convulsionando de prazer e pavor.
Entrei em colapso. Comprei uma câmera, um gravador, espalhei sal pelo quarto como uma bruxa amadora. Nada funcionou. Nenhum aparelho captava ele. Só a cama sabia. Só a cama guardava o calor dele, o cheiro dele, o peso dele.
Julinha, uma travesti idosa que morava no primeiro andar, me encontrou chorando na escada. Ela acendeu um cigarro e contou, com a voz rouca de quem já viu tudo: “Há 20 anos, nesse mesmo quarto, um casal se matou naquela cama. Ele era possessivo, dizia que o amor deles não podia acabar. Encharcaram os lençóis com vinho e porra, se sufocaram com os panos. Dizem que ele ainda ronda por aqui, procurando por ela.”
Eu não dormi naquela noite. Pintei o corpo com tinta vermelha, espalhei velas pelo quarto, deitei nua na cama e abri as pernas como uma oferenda. Escrevi um último bilhete: “Me leva com você. Eu sou tua agora.” Ele veio. O sexo foi um afogamento. Ele me fodeu como se quisesse me dissolver, me engolir, me apagar. Minha visão escureceu, meu corpo se despedaçou em um orgasmo que parecia a morte. Perdi a consciência, flutuando num vazio quente e úmido.
Quando acordei, o quarto estava silencioso. A cama, impecável. Meu corpo, pálido, frio. Toquei o peito. Não havia batimento cardíaco. No espelho manchado, escrito no vapor, uma frase: “Agora a cama é só nossa.”
