Meu nome é Dante. Tenho 39 anos, sou sommelier de vinhos e já fui casado três vezes. Minhas ex-mulheres têm uma coisa em comum: todas me chamaram de “pau gourmet”.
Não foi elogio.
O problema começou aos 27. Antes disso, transava como todo mundo. Pau duro, fricção, ejaculação. Às vezes sem graça, às vezes uma maravilha. Mas aí fiz uma viagem à região de Puglia, no sul da Itália, e comi um prato chamado orecchiette alla cime di rapa, regado a azeite trufado e um vinho tinto que só os pastores locais produziam. Depois dessa refeição, fui para cama com uma italiana que havia comido a mesma coisa. E na hora de meter, algo aconteceu.
Meu pau estalou.
Sério. Como se um tímpano tivesse estourado dentro da glande. E no instante seguinte, ele sentiu.
Sabor.
Não era só tesão. Era degustação. A vulva dela tinha um toque de brócolis selvagem, ácido como rúcula embebida em mosto de uva, com um final de boca que lembrava cereja negra fermentada. Quase desmaiei gozando.
Desde então, nunca mais foi igual.
Hoje, se a buceta não tem gosto de nada, meu pau brocha. Se o cu tem sabor de sabonete, ele se recusa a entrar. Se a pele cheira a xampu neutro, o pau chora em silêncio e murcha como uma flor desidratada.
Fiz testes. Tentei transar vendado. Falhei. Tentei gozar com camisinha. Impossível. Tentei sexo por pena, por amor, por vingança. Mas meu pênis é um gourmet arrogante. Um sommelier genital.
Meu pau tem um paladar.
E não aceita menos que experiências sensoriais memoráveis.
Conheci Rafaela num evento de degustação de vinhos orgânicos. Ela era sommelière de queijos artesanais. Fui atrás pelo cheiro — sim, literalmente. O odor dela me lembrava um camembert vivo, desses que escorrem do prato e têm a acidez do cio fresco.
Conversamos sobre fermentações, bactérias boas, leveduras selvagens.
Ela sorriu e disse:
— Já provaram você? Como se você fosse um prato?
— Nunca. Mas eu posso provar você. No escuro, com o pau.
Ela arregalou os olhos. Depois riu.
— Que porra é essa? Pau sinestésico?
— Paladar peniano. Patente pendente.
Rafaela topou.
No apartamento dela, tudo cheirava a casca de queijo mofado. Era bom. Familiar. Tínhamos sincronia. Ela abriu as pernas como se fossem duas tábuas de frios. E eu mergulhei.
Mas com a rola.
Na primeira lambida com a glande, veio o sabor: flor de leite envelhecida em cavernas úmidas. Toques de cogumelo cru. Notas de suor matinal. Um toque de medo.
Gozei quase chorando.
— Uau — ela disse. — Você tremeu todinho.
— Seu cu tem gosto de queijo de cabra curado.
Ela mordeu o lábio.
— Você quer mais?
— Quero o prato principal. Quero cada dobra sua com uma especiaria diferente. Quero que você esfregue canela nos mamilos e azeite defumado nas axilas. Quero passar a pica entre suas coxas untadas com foie gras.
— Tá maluco.
— Tô com fome.
E assim começou. Rafaela virou prato. Cada encontro era uma experiência. Um dia ela vinha marinada em vinagre balsâmico. Outro dia, com a vagina recheada de frutas secas e hortelã fresca. Uma vez, ela inseriu meia colher de harissa dentro da xoxota e me fez gemer de dor e prazer enquanto meu pau decidia se era pela comida ou pelo tesão.
Mas o apetite foi ficando perigoso.
Meu pau começou a exigir sabores mais raros. Carnes curadas. Sangue de menstruação misturado com vinho do Porto. Peitos untados com alho negro. Um dia, meu pau recusou Rafaela.
Ele queria carne crua.
Literalmente.
***
Depois que meu pau rejeitou Rafaela, tive uma crise. Tremores. Suor gelado. Era como abstinência.
Ela me encarou, nua e levemente untada com manteiga clarificada.
— O que houve, Dante?
— Ele… recusou. Disse que você está insossa hoje.
— Ele disse?
— Não com palavras. Mas com repulsa. Ele enrijeceu e murchou como um chef que cheira uma sopa estragada.
Rafaela ficou em silêncio. Depois, com frieza:
— Talvez seu pau tenha ficado mais exigente que você.
— Talvez.
Ela me serviu uma taça de vinho branco natural com aroma de maçã fermentada e cogumelo. Não ajudou.
Fui embora como um derrotado.
Degustação Secreta
Nos dias seguintes, testei de tudo.
Uma tailandesa suada do yoga? Não.
Uma dominatrix embalsamada em óleo de baunilha? Meh.
Uma virgem punk com piercing na buceta e gosto de bala de anis? Sem chance.
Meu pau rejeitava todas.
Até que um homem entrou na minha loja. Quarenta e poucos anos. Camisa manchada. Dentes escuros. Olhos vivos demais. Nome: Cícero.
Veio procurar um vinho natural de uva Baga.
— Difícil encontrar — comentei.
Ele sorriu, estreito.
— Mais difícil ainda é encontrar quem entenda o paladar da carne viva.
Me arrepiei.
— O que você quer dizer com isso?
— Ouvi falar de você. O sommelier genital. O homem que sente gosto com o pau. Você precisa ir ao lugar certo. Há uma casa em Cotia onde mulheres se oferecem como banquetes vivos. Mas não é pra qualquer um. Só gourmets extremos.
Pedi o endereço.
— Não é simples assim — disse. — É por convite. E o prato principal é o risco.
Ele me entregou um cartão vermelho. Nele, só duas palavras: Les Carnets.
O Clube do Gosto Impuro
À meia-noite de sábado, um táxi me deixou num galpão decadente em Cotia. Chovia leve. O portão abriu sozinho. Dentro, um corredor de veludo escuro, cheiro de carne assada e sexo recente.
Fui recebido por uma mulher gorda, de mamilos lambuzados com glacê. Ela me olhou com ternura e disse:
— Seu pau é paladar ou olfato também?
— Paladar. A língua é a glande.
Ela lambeu os próprios dedos, como se estivesse provando um recheio.
— Então venha. Temos menus sensoriais preparados.
Entrei.
Na sala principal, corpos nus deitados sobre mesas. Homens e mulheres cobertos com folhas, frutas, especiarias. Alguns gemiam. Outros dormiam. Um estava sendo penetrado por um pepino enquanto alguém derramava sangria quente na barriga dele.
Rodei as mesas, tentando sentir algo. Meu pau continuava apático.
Até que uma moça me chamou.
— Você é o Dante? O faminto?
Ela estava de quatro, com fios de açafrão no ânus. Pingava óleo de pimenta do clitóris. Seu cheiro era puro cio e vinagre de arroz.
— Você pode provar, mas só uma vez — sussurrou. — E depois, nunca mais.
Coloquei a glande na entrada da buceta dela. A pele parecia pulsar. O calor subia como fermentação ativa.
E então veio o sabor.
Salmoura de choro. Gema de ovo cru. Fruta fermentada com traços de sangue. Um toque de pecado. E algo mais... algo metálico, primitivo, quase tumular.
Meu pau tremeu. Gozou em espasmos, como se cuspisse séculos de fome.
Caí de joelhos. Ela virou-se para mim, olhos brilhando.
— Você ainda tem fome?
— Agora tenho medo.
Ela riu.
— O medo é o novo tempero.
Na saída, Cícero me esperava.
— Sabia que você ia gostar. Mas saiba: quanto mais profundo você for, menos caminho de volta existe.
— Quero mais. Quero algo que me destrua.
Ele sorriu.
— Então você está pronto para o Menu Cruento.
***
Na semana seguinte, Cícero mandou um envelope. Papel grosso, manchado de gordura. Dentro, havia um único bilhete:
"Prepare-se. Três dias de jejum. Nem comida, nem sexo. O paladar precisa ser purificado."
Jejuei.
No primeiro dia, meu pau ficou inquieto. No segundo, começou a babar sem ereção. No terceiro, sonhei que ele lambia uma mulher feita de queijos mofados e cogumelos vivos.
Na noite marcada, fui guiado até um antigo açougue desativado, entre Arujá e um terreno baldio cheio de cães.
Dentro, havia velas negras, cortinas de plástico, e uma mesa com um corpo estendido: uma mulher viva, nua, deitada sobre folhas de bananeira, com a pele pincelada com manteiga de ossos e ervas do cerrado.
Ela sorria. Mas algo no olhar dela estava morto. Ou pior: resignado.
— Ela se ofereceu. — sussurrou Cícero. — Se alimentou por semanas de carnes raras, pimentas específicas, e fez lavagens internas com vinho espumante e gel de cogumelo. É um prato vivo. Um sacrifício gourmet.
— Isso é... canibalismo?
Cícero riu.
— É erotogastronomia radical. Você só vai provar. Nada de dentes. Só língua. Ou seja… só pau.
Meu pau estremeceu.
Sentiu o cheiro antes de mim. Algo entre cogumelo podre, flor de maracujá, e ferro recém-cortado.
A mulher abriu as pernas. Seu sexo fumegava.
— Ela vai gozar antes que você prove. O sabor se fixa no clímax — disse uma garçonete nua, de avental ensanguentado.
E ela gozou.
Um gozo quente, salgado, acre, que molhou minhas coxas e deixou minha glande em chamas.
Toquei nela. A língua do meu pau provou o néctar do sacrifício.
E o sabor foi indescritível.
Uma mistura de amor proibido com feto de fruta em fermentação. De dor ancestral com alívio súbito. De útero queimando com altar de oferenda.
Meu pau gozou sem toque, sem aviso. Um jorro de gratidão e terror.
A mulher sorriu, fraca.
— Agora você pertence à fome — disse, antes de desmaiar.
O Banquete Final
Depois disso, fui conduzido a um tanque com três mulheres submersas em leite de cabra, com pétalas de hibisco nos olhos. Elas se revezavam numa dança onde lambiam-se mutuamente, enquanto a garçonete trazia garfos para que os convidados — homens e mulheres — retirassem pedaços da pele descamada e mergulhassem no fondue de sêmen e vinho tinto reduzido.
— Quer provar? — sussurrou um homem de olhos vendados, entregando-me um garfo feito de osso.
— Não. Só como com o pau agora.
— Então vai adorar o próximo intercurso — disse ele. — Chama-se Os Quatro Temperos da Loucura.
Antes que eu pudesse perguntar, duas mulheres com línguas bifurcadas me puxaram para trás de uma cortina.
— Vai demorar — disse uma delas. — Mas ao final, seu pau não será mais apenas uma língua. Será um oráculo.
A cortina fechou.
E o sabor do medo se misturou com o da expectativa.
Fui despido, untado com óleo de tamarindo e pimenta-da-jamaica por mãos que não vi, apenas senti. Uma venda cobriu meus olhos, mas eu via. Sentia com a pele. O mundo tinha sabor e textura.
Cícero apareceu, ou talvez fosse apenas sua voz:
— Para que o paladar transcenda, é preciso provar os quatro temperos da loucura. Cada um ativa uma camada do seu pau-oráculo.
— Pau-oráculo?
— Sim. Ele já não é mais só língua. Agora ele decide. Ele escolhe. Ele julga.
Minhas veias pulsavam com antecipação.
As duas mulheres de línguas bifurcadas começaram o ritual.
🜃 1º Tempero – Sal da Nostalgia
Uma mulher de quase 70 anos foi trazida. Corpo tatuado com cenas da juventude, cheirando a chá de avenca e lençóis antigos.
Ela se ajoelhou, abriu as pernas enrugadas e olhou para minha glande como se fosse um neto perdido.
— Eu tive treze abortos — sussurrou. — Cada um foi uma receita. Guardei o tempero deles dentro de mim.
Meu pau estalou.
Ela o encaixou na buceta flácida com lentidão ritualística, e minha glande lambeu suas memórias.
O gosto era como arroz doce com sangue. Um trauma com cravo. Lembrança salobra de colo de vó, misturada com o lodo de um pântano de arrependimentos.
Gozar ali seria fácil. Mas fui contido. Meu pau queria mais. E ele agora mandava.
🜁 2º Tempero – Açúcar de Pesadelo
A segunda mulher veio engatinhando, vestida de colegial, mas com os olhos costurados.
Tinha um aroma doce, irreal. Algo como algodão-doce fermentado e baunilha vencida.
Ela se esfregava em mim como um gato, e gemia como criança castigada.
— Fui criada para adoçar demônios — disse. — Toda minha dieta foi feita para deixar meu gozo insuportavelmente viciante.
Meu pau lambeu-a.
O gosto: caramelo queimado, doce demais, com um fundo de vômito infantil e chantilly contaminada.
Comecei a delirar. Vi minha infância derreter. Brinquedos ganharem bocas. O parquinho da escola cheio de homens nus com bigodes de açúcar.
A mulher gargalhava enquanto meu pau babava, faminto.
— Ainda não — sussurrou Cícero, com uma colher de absinto na mão. — Controle. O oráculo não goza por impulso.
🜄 3º Tempero – Vinagre do Esquecimento
A terceira figura era andrógina, talvez nem humana.
Veias verdes. Pele de pergaminho. Dentes como pregos enferrujados.
— Eu sou o sabor do que se perde — disse, lambendo o chão. — Quem me prova esquece os nomes. Esquece os rostos. Esquece o próprio gosto.
Meu pau hesitou.
Mas já era tarde.
A figura tocou minha glande com um líquido viscoso extraído de seu próprio umbigo.
O gosto foi como vinho azedo com formol. Uma acidez que apagava lembranças e trocava palavras por grunhidos.
Me vi gritando nomes que não existiam.
Senti meu pau encolher de medo e depois crescer de euforia.
E ali, no limiar da amnésia, ele falou pela primeira vez:
— Mais.
🜂 4º Tempero – Pimenta da Revelação
A última mulher foi trazida em uma cadeira de rodas. Queimaduras por todo o corpo.
Ela era muda, mas seus olhos gritavam.
Segurava uma tigela com um creme espesso e escuro. Fui instruído a mergulhar minha glande no cu dela até o talo.
O toque queimou.
O gosto veio em seguida: pimenta de outra dimensão. Gengibre com enxofre. Lava com mostarda ancestral.
Vi a mim mesmo do lado de fora do corpo.
Vi meu pau crescer até engolir minha cabeça.
Vi Cícero sendo engolido por um cu que falava iorubá.
Vi o mundo dissolvendo em um caldo de luxúria e danação.
E então, gozei.
Mas não sêmen.
Gozei palavras.
Do meu pau saíram frases em diversos idiomas.
Versos. Profecias. Receitas. Maldições.
Cícero caiu de joelhos.
— O oráculo despertou...
🜹 Epílogo do Capítulo:
Na manhã seguinte, acordei nu no meio do supermercado Carrefour. Meu pau falava baixo, recitando ingredientes para uma nova ceia.
No espelho do banheiro, alguém escrevera com sangue de porco:
“Você agora é o cardápio.”
***
“Antes era só carne. Agora é verbo. E o verbo se fez carne com tempero.”
Acordei diferente. Não só pelo fato de meu pau sussurrar receitas enquanto mijava. Nem só porque eu conseguia reconhecer o sabor de intenções nos cheiros da rua. O mundo inteiro tinha se transformado num bufê sagrado. E eu era o garçom. O prato. O deus baco.
Logo a notícia se espalhou.
O Homem com o Pau Profeta.
Padarias começaram a vender hóstias feitas com cópias moldadas da minha glande.
Influencers se ajoelhavam em supermercados para lamber pepinos na esperança de obter revelações.
As igrejas me chamavam de herético. Mas também de receita divina.
🍴 A Seita dos Paladares Revelados
Cícero fundou a primeira igreja: A Congregação do Pau e da Gula Sagrada.
Tudo era baseado nas palavras que meu pau recitava de madrugada.
Cada nova ejaculação era considerada uma nova epístola.
A multidão vinha sedenta. Mulheres, homens, andróginos. Queriam provar. Queriam ser provados.
Mas meu pau agora era exigente. Ele só se erguia diante de sabores raros, intenções profundas, corrupções intensas.
Uma vez, uma freira virgem foi apresentada.
Meu pau a rejeitou.
— Muito crua — ele disse. — Sem sal. Sem pecado. Sem passado.
🥩 O Banquete da Carne Viva
Veio então a festa final, onde todos os crentes trariam seus corpos temperados com suas histórias mais profundas.
Uma mulher se ofereceu com um recheio de confissão:
– Já enterrei três maridos no quintal, e comi o último, com ervas finas.
Outra trouxe o cu com uma hemorróida que parecia uma polpeta viva.
Um homem se apresentou com a uretra marinada em vinagrete de infância.
Meu pau analisava, provava, julgava.
A cada prova, ele cuspia uma nova frase:
– “Teu gozo tem gosto de vaidade.”
– “Teu cu é um deserto com mel.”
– “Tu mijas ressentimento.”
A multidão aplaudia. Gritava. Orgasmos coletivos explodiam como fogos.
Línguas por todos os lados. Sabores nunca antes experimentados: gozo defumado, suor fermentado, lágrimas grelhadas com pitada de dor.
Eu era apenas o canal.
Meu corpo tremia.
Meu pau crescia.
A carne sabia.
A carne sentia.
🔥 O Êxtase e a Queima
Mas o paladar final não era humano.
Meu pau queria algo além.
E então Cícero se ajoelhou e disse:
— Se quer o prato absoluto, então devora-me.
Sem hesitar, ele se deitou numa bandeja de metal. Foi banhado em mel, vinho, fel e sêmen de seis seguidores.
Meu pau, faminto, mergulhou nele com um rugido de trovão.
E eu desapareci.
🌍 Epílogo – A Boca da Nova Era
Hoje, todos se ajoelham diante da estátua de carne exposta no templo.
É o meu pau empalhado. Ele vive. Alimentado pelas oferendas do mundo.
O paladar se expandiu. Agora há discípulos que se mutilam para saborear o sofrimento.
Meninas treinam anos para que suas vaginas tenham gosto de framboesa com tristeza.
Homens reeducam seus cus para oferecer sabores cítricos com memória de infância quebrada.
As palavras continuam saindo.
Agora esculpidas em suor, poros e porra.
Receitas do fim. Do início. Do meio.
O pau fala.
E o mundo mastiga.
