O calor de domingo parecia anunciar algo, embora nenhum de nós dois ainda soubesse nomear. Um vento seco varria a estrada de terra quando Leandro estacionou a moto na antiga fazenda, o lugar onde tudo começara, onde o desejo tinha nascido de forma tão abrupta quanto inevitável, onde a nossa vida, por alguns instantes, parecia ter encontrado uma brecha impossível de liberdade.
Depois de algumas semanas do nosso último encontro, conseguimos uma outra rara oportunidade para retornar àquela fazenda que tanto nos marcara. Na quietude daquele lugar isolado, aninhado no meio dos morros e do mato, Leandro e eu reencontramos nosso santuário. A casa de fazenda, um refúgio secreto, era nossa fuga dos olhares curiosos do mundo, um espaço onde nossos desejos podiam correr livremente.
Eu pulei da moto primeiro. Olhei o terreiro vazio, a varanda silenciosa, a mangueira enorme que fazia sombra sobre o caminho de tijolos quebrados. O cenário parecia intacto, mas havia algo diferente: eu sentia, pela primeira vez, uma hesitação. Uma sensação fina, cortante, de que estávamos empurrando os limites além do que era prudente.
Leandro veio atrás, parando muito perto de mim.
— Estava com saudade — disse, num sussurro quase culpado.
Eu não respondi verbalmente; apenas pousei a mão no ombro dele, com um carinho que ardia. A saudade também me consumia, mas havia algo mais: uma sombra que me perseguia desde que percebemos que não erámos mais tão discretos quanto achávamos.
Nos últimos dias, um colega de Leandro fizera comentários atravessados sobre sua “distração”. A esposa começara a fazer perguntas a mais. Minha mãe, uma noite, me perguntara por que eu sorria sozinho. A sensação de risco estava ali, crescendo como um vazamento inevitável.
Mas naquele fim de semana, nós escolhemos, talvez inconscientemente, fingir que o tempo ainda nos pertencia. Ao menos, por uma última vez.
Dentro da casa, o silêncio era cúmplice. O cheiro de madeira antiga, o ranger dos assoalhos, o barulho distante dos pássaros… Tudo parecia conspirar para suspender a realidade.
A casa fechada estava imersa em uma escuridão acolhedora, interrompida apenas pela luz trêmula das frestas de sol no telhado e nas janelas, que dançavam sobre os móveis antigos.
O ar estava pesado, saturado com aquele cheiro de “guardado” de casa de vó, misturado ao aroma inconfundível de desejo e segredo. Leandro e eu sabíamos, talvez instintivamente, que aquela poderia ser a última vez que estaríamos juntos, ao menos daquela maneira, e a urgência pairava entre nós como uma sombra silenciosa, pronta para nos consumir.
Nós nos aproximamos com uma pressa contida, como quem tenta prolongar algo antes do fim. Nos abraçamos por um longo tempo, apertado, quase doloroso. Nos beijamos com urgência, com a mistura complexa de amor, medo, culpa e fome que sempre definira aquele encontro impossível.
Ali, longe de tudo e de todos, nos permitimos o que não podíamos viver no mundo real. A intimidade entre nós aconteceu de forma intensa, profunda, cheia de carinho, cuidado, desejo: pele contra pele, mãos explorando caminhos já conhecidos, suspiros compartilhados, corpos entrelaçados num ritmo que falava mais do que qualquer palavra.
Chegando ao quarto, Leandro, a força dominante dentro da nossa dinâmica, ficou de pé junto à janela, sua silhueta forte emoldurada pelos raios de sol que entravam pelos vidros e frestas. Seus olhos, escuros e intensos, estavam fixos em mim, parado no meio do quarto, a cabeça baixa em submissão. O ar estava carregado de expectativa, o silêncio quebrado apenas pelo suave farfalhar das folhas lá fora.
- Olha só para você – murmurou Leandro, sua voz um rosnado baixo que me fez estremecer – Tão ansioso para agradar, tão desesperado por mim.
Estremeci, meu corpo respondendo às palavras de Leandro. Senti uma tensão familiar na virilha, meu pau endurecendo sob o tecido da calça jeans. Eu ansiava por ser tocado, por ser reivindicado, por ser consumido pela paixão de Leandro.
Leandro atravessou a sala, seus passos lentos e deliberados, cada passo dele ecoando no silêncio da casa. Sua presença era dominante, quase palpável, enchendo o espaço ao nosso redor. Quando finalmente parou diante de mim, estendendo a mão para erguer o meu queixo, forçando nossos olhares a se encontrarem, sua voz rouca e cheia de autoridade quebrou o silêncio.
- Dessa vez – disse ele, em um sussurro – quero testar seus limites. Quero ver até onde você consegue ir por mim.
A minha respiração falhou, meu coração batendo forte no peito. Assenti, sem nunca desviar o olhar de Leandro.
- Sim, senhor – sussurrei, a voz quase inaudível.
Os lábios de Leandro se curvaram em um sorriso, um sorriso predatório que prometia prazer e dor em igual medida. Ele estendeu a mão, os dedos traçando a linha do meu maxilar, o polegar roçando meus lábios.
- Bom garoto – murmurou, a voz um carinho suave.
Leandro me deixou de joelhos no chão sob o tapete, minha postura uma mistura de submissão e paixão. Meus olhos, brilhando com uma intensidade quase dolorosa, estavam fixos em Leandro, como se buscassem nele uma resposta para perguntas que nem mesmo sabiam formular.
— Você é meu, Mateus — sussurrou Leandro, suas palavras carregadas de uma possessividade que me fez tremer.
Eu assenti, um sorriso tímido e obediente nos lábios. Estendi as mãos, e nelas, uma tira de tecido macio já estava preparada, como se soubesse exatamente o que Leandro desejava. Leandro pegou a faixa de tecido, seus dedos roçando os meus por um instante, antes de prender os meus pulsos. O som do pano se ajustando à pele foi um pequeno estalo que ecoou no quarto, um selo de propriedade.
Leandro me puxou para cima, e os nossos corpos se encontraram em um abraço desesperado, como se temêssemos que o mundo lá fora nos pudesse roubar daquele momento. Beijos famintos foram trocados, línguas se entrelaçando em uma dança frenética, como se tentássemos nos fundir um no outro.
As mãos de Leandro se moveram para a barra da minha camisa, a levantando lentamente, os dedos desenhando padrões na minha pele enquanto subiam. Estremeci ao seu toque, meu corpo arqueando-se contra as mãos de Leandro, buscando mais. Leandro deu uma risadinha, um som baixo e rouco que enviou outro arrepio pela minha espinha.
Leandro deslizou as mãos pelo meu corpo, sentindo a pele macia e quente sob seus dedos. Eu gemi baixinho, meu corpo já respondendo ao seu toque, como se cada carícia fosse uma promessa de algo maior.
Com um movimento ágil, Leandro me empurrou contra a parede fria, o corpo grande dele se moldando ao contato. Suas mãos exploraram cada curva, cada canto, possessivas e ávidas. Leandro inclinou a cabeça, seus lábios roçando meu ouvido enquanto sua voz se tornava um rosnado.
— Você é só meu, entendeu? — perguntou, sua respiração quente contra a minha pele.
— Sim, senhor — respondi, a voz ofegante e cheia de entrega.
Leandro sorriu, um sorriso que era mais uma expressão de poder do que de alegria. Suas mãos desceram até os meus jeans, desabotoando-o lentamente, os dedos roçando o meu cacete endurecido. Eu arfava, os quadris se movendo para frente, buscando mais do toque de Leandro.
- Paciência, meu benzinho – murmurou Leandro, rindo baixinho novamente.
Ele puxou as minhas calças para baixo, expondo meu corpo à luz trêmula que entrava pelas gretas da janela, me deixando nu e vulnerável diante dele. Eu fechei os olhos, me entregando completamente, como se aquele momento fosse o único que importava. Os olhos de Leandro percorreram o meu corpo, o olhar demorando-se no meu pau duro e úmido, na minha bunda grande e firme, implorando por atenção.
A mão de Leandro envolveu o meu cacete, o aperto firme, o polegar roçando a ponta, espalhando o líquido pré-gozo que ali se acumulara. Eu gemia, os quadris se movendo para frente, o corpo buscando mais do toque de Leandro.
A outra mão de Leandro se moveu para o meu peito, os dedos beliscando meus mamilos tesos, torcendo-os levemente. Eu arquejava, meu corpo se arqueando ao toque de Leandro, meu pau pulsando nas mãos dele.
"Leandro," eu gemi, a voz em súplica, o corpo desesperado por alívio.
A mão de Leandro moveu-se mais rápido, o aperto mais firme, o polegar roçando o ponto sensível logo abaixo da glande. Eu gemia, o corpo tremendo, o orgasmo se aproximando, o corpo desesperado por alívio.
"Leandro, por favor," implorei, a voz em súplica desesperada, o corpo convulsionando à beira do clímax.
- Goza para mim, Mateus – ordenou Leandro, a voz um rosnado baixo que me fez estremecer – Goza para mim agora.
Meu corpo obedeceu, meu pau pulsando, o orgasmo me dominando, o sêmen escorrendo pela mão de Leandro, o corpo tremendo com a força da ejaculação.
A mão de Leandro diminuiu o ritmo, o aperto afrouxando, o polegar roçando a ponta sensível do meu cacete, prolongando o orgasmo, estendendo o prazer.
Eu ofegava, o corpo tremendo, a mente um turbilhão de prazer e tesão, o corpo exausto e saciado.
A mão de Leandro deslizou até o meu queixo, erguendo meu rosto e forçando nossos olhares a se encontrarem.
- Você se saiu bem, meu benzinho – murmurou Leandro, a voz um carinho suave – Mas nosso dia está longe de terminar.
Meus olhos se arregalaram, o corpo tremendo com a promessa na voz de Leandro. Eu assenti, o corpo ávido por mais, a mente uma enxurrada de antecipação e desejo.
As mãos de Leandro se moveram até os meus pulsos atados, me libertando momentaneamente, apenas para puxar os meus braços para trás das costas e me amarrar novamente. Eu arquejei, meu pau endurecendo novamente, o corpo ansioso por mais.
Eu me ajoelhei novamente, meus olhos fixos no membro duro e pulsante de Leandro, aquele aríete de 22cm que já havia me arrombado algumas vezes. Com um movimento lento e deliberado, meus lábios encontraram a pele sensível, e eu comecei a chupar, devagar e profundo. Leandro se contorceu, suas mãos segurando os meus cabelos, enquanto gemidos roucos escapavam de sua boca.
— Vai, Mateus... mais... — ele mandou, sua voz quebrada pelo prazer.
Eu sorri contra a vara de Leandro, aumentando o ritmo. Minha língua brincava, meus lábios sugavam, e Leandro estava à beira do abismo, seu corpo tensionado, pronto para explodir. Mas eu parei, me levantando de repente, deixando Leandro frustrado e desejoso.
— Ainda não, meu lindo. Ainda tenho muito para te dar — disse, zombeteiro, minha voz calma, mas cheia de promessa.
Leandro me virou, me empurrando contra a parede mais uma vez. Suas mãos deslizaram até a minha bunda, a apertando com força, desferindo alguns tapas contra as minhas nádegas, me punindo pela minha ousadia.
Seus dedos longos e grossos marcaram a minha pele branca, o polegar roçando o meu cuzinho. Ele começou a pressionar a entrada em meu cuzinho, umidificado com saliva, o polegar roçando o ponto sensível do meu períneo, logo na entrada.
Os dedos de Leandro se moviam para dentro e para fora, me abrindo, sua outra mão indo até o meu pau, envolvendo-o, seu aperto firme.
Suas mãos seguraram os meus quadris com firmeza, e então, com um movimento lento e deliberado (depois de nos lubrificar bastante), Leandro entrou dentro de mim, me preenchendo completamente. Eu gritei, meu corpo se ajustando ao tamanho de Leandro e, por um momento, o mundo ao nosso redor desapareceu.
Leandro começou a se mover, primeiro devagar, depois mais rápido, mais profundo. Cada estocada era uma declaração de posse, de amor, de desespero. Com as mãos atadas atrás das costas, eu tinha que me equilibrar usando somente as pernas, meu corpo apoiado contra à parede, tremendo a cada movimento.
— Leandro... não para... por favor... — choraminguei, minha voz um fio de prazer e necessidade.
Leandro acelerou, suas mãos me segurando com força, como se temesse que eu pudesse escapar, de alguma forma. Nossos corpos suados se colaram, a respiração entre nós se misturando em um ritmo frenético, o som seco de sexo bruto ecoando pela casa.
Eu gritei, meu orgasmo explodindo pela segunda vez, como uma onda, meu corpo se contorcendo sob o peso do prazer. Leandro me seguiu, me preenchendo com seu próprio êxtase, nossos nomes nos lábios um do outro.
Nós caímos no chão, ofegantes, abraçados, como se temêssemos que o mundo lá fora pudesse invadir nossa bolha de paixão e desejo. Leandro me beijou, seus dedos traçando padrões suaves nas minhas costas.
— Você é meu — murmurou Leandro, sua voz agora suave, quase carinhosa.
Eu sorri, meus olhos brilhando com lágrimas que não ousavam cair.
— Sempre fui — respondi, minha voz um sussurro.
E enquanto nos beijávamos mais uma vez, o segredo que nos unia começou a rachar, e o mundo lá fora esperava para invadir nossa bolha. Mas, naquele momento, nada mais importava. Eram apenas Leandro e eu, perdidos em um abraço que era efêmero, mas eterno em nossos corações.
Foi bonito. Foi desesperado. Foi a última vez.
Passamos o dia assim, deitados, ofegantes, os dedos entrelaçados, os olhos fitando o telhado colonial e os caibros de madeira.
— A gente não vai conseguir manter isso pra sempre — eu disse, num tom quase neutro, mas com o coração em frangalhos.
Leandro demorou a responder.
— Eu sei.
A simplicidade daquela frase tinha o peso de um destino.
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Alguns dias depois, Leandro me ligou. A voz dele estava trêmula.
— Eu… preciso te contar uma coisa.
Silêncio.
— Minha esposa… ela está grávida.
Eu senti o corpo inteiro amortecer. A notícia vinha como um golpe, mas também como um fechamento inevitável do caminho que nós vínhamos tentando não enxergar. Não era só a gravidez. Era tudo: o casamento, a cidade pequena, a moral esmagadora, a vida dupla, os olhares desconfiados, o risco crescente.
— Entendi — eu disse, e minha voz saiu surpreendentemente firme.
Firme demais para meus poucos anos.
Leandro engoliu seco.
— Eu não planejei isso. Nem ela. Aconteceu… eu juro que não foi porque…
— Eu sei — interrompi.
E sabia mesmo.
Havia ali, em minha maturidade precoce, uma sabedoria dura: a consciência de que eu não tinha o direito de interferir na família de Leandro. Que aquele bebê, planejado ou não, mudava tudo. Que o nosso caso, por mais intenso e verdadeiro que tivesse sido, não tinha futuro possível.
— Leandro… — disse, com a voz baixa — Você precisa ficar com a sua família. E eu… eu tenho que cuidar da minha vida também. Estudar, me formar, crescer. Eu não posso viver preso num segredo que só machuca a gente.
Do outro lado, ouvi o primeiro soluço abafado de Leandro. Foi a primeira vez que ouvi Leandro chorar. E a última.
O rompimento foi silencioso, respeitoso, decisivo. Nós não brigamos. Não discutimos. Apenas aceitamos o que nenhum dos dois podia mudar.
Continuamos a nos cumprimentar de longe, uma cordialidade discreta, quase melancólica. Alguns meses depois, nasceu uma menina, a filha que prenderia Leandro definitivamente à vida que ele já tinha, e não à que ele sonhara, por um breve momento, ao meu lado.
Leandro se dedicou inteiramente à família. Era o correto. E ele sabia.
Eu segui a minha vida. Estudei, me formei, me mudei para a capital. Cresci. Sofri. Amadureci. Nunca esqueci.
Não porque ainda o amasse. Mas porque haviam histórias que, por mais proibidas ou improváveis, deixam marca, não como ferida, mas como tatuagem interna, invisível e permanente.
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EPÍLOGO I
Os anos passaram como passam para todos: silenciosos, inevitáveis, mudando as pessoas por dentro sem pedir licença. Eu segui a minha vida, concluí a escola, depois a faculdade, depois o primeiro emprego, depois a mudança definitiva para a capital. Aprendi a ser homem longe de casa, longe do interior, longe das estradas de terra que testemunharam minha juventude inquieta.
E, ainda assim, havia dias em que um cheiro, uma música, um pôr do sol laranja demais faziam algo dentro de mim despertar. Não era dor, nem saudade romântica. Era outra coisa, a estranha consciência de que eu tinha vivido um amor que, se não foi possível, tinha sido verdadeiro.
A vida não nos dá garantias, eu aprenderia mais tarde; dá apenas caminhos e consequências. E eu trilhei o meu com a maturidade precoce que sempre carreguei.
Leandro, por sua vez, tornou-se um homem mais silencioso. Os filhos cresceram saudáveis, inteligentes, cheios de personalidade, e ele se dedicou a eles com uma intensidade que vinha, talvez, da necessidade de dar sentido ao que a vida tinha escolhido por ele. Às vezes, nos silêncios entre os compromissos e os afazeres, lembrava de algo que nunca contou a ninguém: a sensação de ter amado alguém de um jeito que só se ama uma vez.
E, depois, de ter deixado ir. Não por covardia. Mas por responsabilidade.
O tempo, sábio como sempre, fez seu trabalho. A lembrança que antes ardia tornou-se macia. Depois, rarefeita. Depois, parte fundamental de quem ele havia sido.
Quase um ano depois de eu ter me mudado, Leandro e eu nos encontramos por acaso na minha cidade natal, em uma ocasião que eu visitava a minha família. Não havíamos marcado nada. Não tínhamos falado sobre nos reencontrar, na verdade, fazia anos que não nos falávamos. Mas a vida, vez ou outra, gosta de encenar seus próprios epílogos.
Leandro estava sozinho. Eu também. Eu estava um rapaz feito, então com vinte e poucos anos, cheio de energia e juventude. Já Leandro não era mais um jovem, mas um belo homem com seus 30 anos, o corpo ainda mais forte, o olhar grave, as linhas de expressão marcando o seu semblante adulto.
Os nossos olhos se encontraram ao mesmo tempo e o choque foi breve, substituído pelos sorrisos maduros de dois homens que já não precisavam fugir nem correr.
— Quanto tempo — Leandro disse, com aquela voz grave que nunca mudara.
— É mesmo… — respondi, e o meu sorriso tinha algo de afeto, mas também de distância.
Uma distância boa, construída, saudável.
Conversamos poucos minutos. Perguntamos sobre trabalho, sobre família, sobre saúde. Nada profundo demais, nada arriscado. Apenas duas vidas que um dia se tocaram com força demais, e agora se reconheciam com respeito.
Quando a conversa terminou, houve um momento curto de silêncio, carregado de tudo o que não precisava mais ser dito. Leandro foi quem falou, baixinho:
— Fico feliz que você esteja bem.
Eu assenti.
— Eu também fico feliz por você.
E era verdade. Profundamente verdade.
Depois, nos despedimos com um aperto de mão firme, demorado, mais íntimo do que qualquer abraço poderia ser naquele contexto. E seguimos caminhos opostos, sem olhar para trás.
Não porque doesse. Mas porque doía menos assim.
Naquela noite, já em casa, eu acessei um HD com fotos antigas, dentro de uma pasta de recordações que raramente abria. Procurei algumas fotos da minha adolescência e encontrei o que estava procurando: algumas fotos que tirei com Leandro, na fazenda. Nós dois abraçados, sorrindo. Os sorrisos congelados no tempo. Para sempre. Não era uma lembrança para ser exibida. Era uma memória para ser guardada.
Leandro, por sua vez, passou pela sala e viu a filha brincando no chão, os cabelos desalinhados, o sorriso cheio de vida. Sentiu um aperto bom no peito. Pensou, por um instante, na fazenda, no passado, no que poderia ter sido. E então olhou para a filha e sentiu a certeza calma de que a vida, mesmo quando é dura, sabe o que faz.
Leandro e eu nunca mais tivemos nada além de cordialidade. Mas o que vivemos não foi apagado. Não se transformou em vergonha, nem em arrependimento.
Transformou-se, simplesmente, em parte da história de cada um. Uma parte silenciosa. Uma parte guardada. Uma parte eterna.
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EPÍLOGO II
Foi numa tarde abafada de um evento profissional, durante este ano, que eu, já homem feito, ouvi alguém chamar meu nome no meio do saguão.
— Mateus? Mateus?
Me virei e meu coração simplesmente parou. Por um segundo, achei que estava vendo um fantasma. Ou vendo o passado materializado diante de mim.
O rapaz era tão parecido com Leandro que o mundo pareceu travar. Mas havia diferenças: era mais baixo, mais jovem, mais espontâneo no sorriso.
— Você não lembra de mim, né? — disse o jovem, rindo — Sou o filho do Leandro.
Fiquei sem ar. Nós conversamos rapidamente, rimos, tiramos uma foto. O rapaz, animado, mandou a imagem para o grupo da família.
Horas depois, longe dali, Leandro abriu a mensagem do filho. A foto apareceu na tela: eu, adulto, bonito, seguro de mim. E seu filho, sorridente, abraçado a mim.
Leandro sentiu os olhos marejarem. Não de arrependimento, mas de memória. De saudade boa. Daquele capítulo enterrado, impossível, mas cheio de verdade.
Guardou a foto. E, por um longo momento, ficou olhando para ela, sem dizer nada a ninguém.
Porque aquela lembrança, a paixão perdida, proibida, mas nunca esquecida, agora tinha um rosto duplo: o do jovem que ele amou, e o do homem que ele se tornou.
E, pela primeira vez em muitos anos, Leandro sorriu sozinho.