Dessa vez foi inevitável, precisei atender ao pedido do meu pai para ir até a fazenda resolver umas pendências que só poderiam ser solucionadas pelo meu pai ou por mim, uma vez que éramos os donos daqueles quase incontáveis alqueires de terra no tórrido Estado do Mato Grosso.
- Será que não tem outro jeito de resolver o problema, pai? Só de me imaginar indo até aquele fim de mundo já fico cheio de urticárias. – questionei, quando meu pai me ligou da Europa onde ele e me minha mãe estavam passando uma merecida temporada de férias.
- Não entendo essa sua resistência em ir até a fazenda, Gabriel. Quando criança era difícil arrancar você de lá ao término das férias escolares para voltar para São Paulo, era uma choradeira tão grande que deixava sua mãe e eu nos sentindo culpados durante dias. – respondeu ele.
- Disse bem, pai. Isso foi quando criança e antes de passar a detestar aquele lugar. – devolvi, ao mesmo tempo em que me voltavam à memoria os motivos pelos quais nunca mais voltei a fazenda. – Será que não dá para simplesmente fazer uma videochamada para o capataz e pedir para ele resolver o problema, hoje grandes empresários resolvem muita coisa mundo afora pela Internet. – argumentei, tentando me livrar da obrigação.
- Por mais competente e confiável que o capataz seja, não é algo que esteja na alçada dele. Se fosse, eu já teria solucionado o problema. A presença de um dos proprietários é crucial nessa questão, pois você terá que assinar uma papelada do Incra. – informou ele. – Ademais, Gabriel, está na hora de você começar a assumir o controle daquilo que um dia será seu, você completou 25 anos, não é mais um garotão que pode se esquivar de certas responsabilidades. Eu e sua mãe não estaremos sempre aqui e você precisa começar a se inteirar do seu patrimônio. – argumentou, me deixando com uma sensação de culpa. – Em pouco mais de duas horas o jatinho da empresa de compartilhamento de aeronaves vai te deixar na pista de pouso da fazenda, ligue para eles e agende a viagem, não vai te dar trabalho algum. Ah, e aproveite para ficar uns dias por lá. Sabe o que diz o ditado – é o olho do dono que engorda o gado – e no nosso caso isso pode ser tomado ao pé da letra. – completou, uma vez que o forte da fazenda era a criação de gado de corte e as lavouras de soja e milho.
- Está bem, pai, me convenceu! Vou dar o meu melhor, prometo! – respondi.
- Eu sei que vai, filhão! Você é nosso orgulho! Te amamos muito! – exclamou ele, tornando a obrigação ainda mais irrecusável.
- Aproveitem bastante as férias! Também amo muito vocês! – devolvi.
Naquela mesma tarde agendei o voo para a manhã do dia seguinte, e juntei toda a papelada que meu pai havia me instruído a levar comigo.
Dormi pessimamente naquela noite, sonhos, ou melhor, pesadelos antigos não me deixaram pregar o olho. Para completar, tive uma discussão, mais uma, para ser bem sincero, com o Júlio por causa dessa ausência de dez dias, o tempo que programei para ficar na fazenda.
- Por que só está me comunicando dessa viagem surpresa na última hora? É para que eu não vá com você? Está levando quem, se é que posso saber? – questionou zangado.
- Porque, como você bem mencionou, foi tudo de surpresa. Meu pai me ligou ontem pedindo que eu fosse. Não estou levando ninguém, de onde surgiu essa desconfiança repentina? Se quiser e isso te deixar mais tranquilo, pode vir comigo. – respondi secamente, pois a cada dia eu sentia que nosso relacionamento estava descendo ladeira abaixo e sem volta.
O ciúme do Júlio estava passando dos limites, a possessividade e a maneira agressiva como vinha me tratando de uns meses para cá, me levaram a suspeitar que estava me traindo com um gay que trabalhava com ele e, que já tinha dado sinais de estar interessado no Júlio nas poucas vezes que estivemos juntos num barzinho ou numa balada. Conhecendo o Júlio como eu conhecia, um cara que não conseguia manter o cacete dentro das calças quando via um rabo de saia ou uma bunda gay dando mole, era ele quem provavelmente estava me botando chifres e não o contrário como ele desconfiava, se baseando em seu próprio comportamento.
- Você sabe muito bem que não posso me ausentar da empresa de uma hora para outra para sair por aí curtindo férias com você! – exclamou irritado.
- Não são férias, tenho questões a resolver por lá, senão nem iria! Por que quer fazer parecer que eu me divirto enquanto você dá uma de responsável consciencioso? Eu estou cheio dessas suas insinuações sem fundamento, Júlio! – retruquei, sem paciência.
- E eu estou cheio dessas respostas que sempre estão prontas na ponta da sua língua! Não se esqueça que o macho da relação aqui sou eu, e você deveria ser bem mais agradecido por ter um macho como eu! – exclamou arrogante, o que me tirou do prumo de vez.
- Agora você se superou, passou de todos os limites! Vá se foder, Júlio! Está me ouvindo, vá se foder! Você e aquela bichinha do seu trabalho que você está comendo enquanto acha que eu sou um idiota que não percebe as coisas! Acabou, Júlio! Vá à merda com a sua macheza que, aliás, nem é tudo isso que você pensa! – despejei, com o sangue fervendo nas veias.
O pior daquela noite insone foi eu ainda por cima me sentir culpado por termos brigado e eu terminado o relacionamento daquele jeito. Nunca fui afeito a brigas, muito menos com o cara que foi meu primeiro homem, mas que infelizmente se mostrou um cafajeste. Estivemos juntos por dois anos e, nesse período, mantivemos o relacionamento em absoluto segredo. Eu não estava pronto para sair do armário e me assumir publicamente, nem mesmo para meus pais, para quem o Júlio não passava de um amigo dos tempos da faculdade.
O piloto e o co-piloto eram dois gatos de fechar o comércio, difícil dizer qual dos dois era mais tesudo e gostoso. Eles já estavam me esperando quando cheguei ao saguão da aviação executiva do aeroporto e, pela secada que deram na minha bunda, deu para perceber que também gostaram do viram. O co-piloto, ligeiramente mais jovem, precisou dar uma ajeitada no pacotão que tinha entre as pernas quando me informou que todos os trâmites para a decolagem estavam prontos e que eu poderia embarcar, pois só estavam esperando a ordem da torre de controle para liberar o voo.
Quando estavam se dirigindo para a cabine de comando, pude ouvir algumas frases da conversa que tiveram a meu respeito. Lisonjeiro e ao mesmo tempo excitante, foi ouvir – que rabão é aquele, meu parceiro? Eu enfiaria a caceta até o talo naquela bunda, só para ouvir o garotão gemer no meu caralho. Nem me fale, minha pica não parou de pulsar desde que botei o olho naquela bunda. Encher aquele rabo com meu leite, é tudo que eu estou precisando – disseram, tomados de tesão. Sempre fui muito recatado, ainda não lidava muito bem com a minha homossexualidade e, devo confessar que, de uma maneira inexplicável eu tinha certo receio dos homens, daquele furor que se acendia dentro deles ao cobiçarem meu corpo e minha bunda. Mas, depois de ouvir aquela conversa e de ainda estar muito puto com o Júlio, eu não hesitaria um segundo em sentar no colo daqueles dois e fazer a alegria deles. Me distraí durante o voo com esses pensamentos libidinosos, sentindo o cuzinho piscar de tesão só de imaginar os dois me enrabando numa orgia a três. Isso até aliviou o que me esperava quando chegasse à fazenda. Lembranças que eu queria esquecer, pessoas que eu pensava nunca mais encontrar, afinal, haviam se passado quinze anos desde que estive lá pela última vez, quando jurei nunca mais pisar naquele lugar. Dizem que o tempo cura todos os males, mas parece que isso não estava funcionando comigo.
Não seja ridículo, Gabriel, ele nem deve estar mais por lá. São passados quinze anos, ele deve ter deixado a fazenda depois que o pai se aposentou e a família foi morar na cidade. Meu pai nunca mencionou o nome dele nesse tempo todo, sinal que ele não estará lá, caso contrário, meu pai teria dito alguma coisa, mesmo não sabendo que foi ele o motivo pelo qual eu nunca mais quis ir para a fazenda. Ninguém sabia do quanto que ele me fazia de alvo de suas brincadeiras sem graça, do quanto me humilhava na frente dos demais garotos, de que me chamava de veadinho quando nem eu mesmo sabia o que aquilo significava, dos safanões que me dava depois de eu ir reclamar com meu avô das maldades que ele fazia comigo, e meu avô lhe passar uma carraspana.
Convidei o piloto e o co-piloto a passarem uns dias na fazenda após o pouso bem sucedido na pista da fazenda. Confesso que foi um convite com segundas intenções, mas eles tinham seus compromissos e precisavam regressar naquela mesma tarde. No entanto, aceitaram o convite para o almoço que, como eu ainda me lembrava, a Dona Arminda sempre caprichava quando alguém de nós passava uma temporada na fazenda.
No meio da tarde eles decolaram deixando seus telefones na agenda do meu celular, talvez querendo garantir um reencontro no qual pudessem por em prática o que o tesão pela minha bunda tinha incutido em seus cacetes. No sobrevoo rasante que fizeram na pista acenando em resposta ao meu aceno, eu o vi surgir pela primeira vez desde que cheguei à fazenda.
Ele caminhava em minha direção contra o sol, o que me impedia de reconhecer seu semblante aquela distância, mas a silhueta parruda e aquele caminhar felino provocaram um rebuliço dentro de mim. Que homem era aquele, de onde surgiu esse macho que mesmo tão distante e pelo simples caminhar fez meu cuzinho piscar, me perguntava eu até que a proximidade me fez reconhecer alguns traços familiares. Era ele, Lucas, em carne e osso e, uma profusão de músculos espalhados por aquele corpão enorme e lindo. Foi o suficiente para eu estremecer da cabeça aos pés, de sentir uma fúria crescente se formando dentro do peito, de fechar a cara e responder apenas de forma seca e monossilábica ao – Olá! - que ele me dirigiu.
- Há quanto tempo! Você cresceu um bocado, fedelho! – exclamou, me examinando como se eu fosse um daqueles bois que vagavam pelos pastos da fazenda. – Seu pai me avisou da sua chegada, mas não disse exatamente quando e eu tive algumas coisas para resolver esta manhã. – emendou, enquanto eu o encarava, não mais com aquele medo de antigamente, mas ciente de que era eu quem mandava naquele lugar e em tudo que estivesse sobre aquelas terras. Foi uma sensação nova e prazerosa.
- Se me chamar mais uma vez de fedelho, está despedido! Para você é Sr. Gabriel, compreendeu? – ordenei de cara fechada. - Não sabia que você ainda estava por aqui! Pode cuidar dos seus afazeres, não preciso de nenhuma recepção especial onde sempre fui o proprietário. – despejei, numa atitude que, horas depois, me pareceu infantil, mas a qual ele não revidou, apenas me devolveu um – Sim, senhor! – meio pomposo. Virei as costas e entrei na casa sede sem olhar para trás.
- É tão bom ter você de volta, Gabriel! Eu sempre perguntava aos seus pais por que você sumiu, por que não ligava mais para a gente? Eu gostava tanto quando você entrava aqui na cozinha todas as manhãs, perguntando o que eu tinha feito de bom e o que ia ter para o almoço, antes mesmo de tomar o café da manhã e me cobria com seus beijos lambuzados. Depois saía por aí, eu tinha que mobilizar um batalhão para ter chamarem para as refeições e, quando você aparecia, estava mais sujo do que os porquinhos do chiqueiro, suas roupas estavam sempre encardidas, não sei onde raios você se enfiava. Seu avô sempre dizia que você era a alegria dessa casa, o raio de sol que aquecia cada canto dela, que Deus o tenha! – disse a Dona Arminda. - Já encontrou o Lucas? Ele não parou de falar em você desde que seu pai ligou para ele avisando da sua chegada. Vocês eram tão amigos quando crianças. Ele saiu cedo para checar um trator que quebrou no meio da plantação de soja, e foi preciso levar o mecânico para consertar. – emendou.
- Nós nunca fomos amigos! O que ele ainda faz por aqui? A família do Seu Otacílio não se mudou para a cidade? – devolvi com firmeza.
- Você não sabe, ele é o capataz da fazenda! O que seu pai havia contratado depois que o Seu Otacílio se aposentou parece que não deu muito certo e quando seu pai foi pedir uma indicação para o Seu Otacílio ele sugeriu o filho que tinha acabado de se formar em agronomia e ele aceitou de pronto. Você sabe o quanto ele é apegado a essa fazenda e a todos vocês, afinal ele foi criado aqui dentro. – revelou ela.
- Não sei de nada! Não fazia ideia de que esse sujeito ainda estava por aqui, meu pai nunca mencionou nada. – retruquei.
- Você parece zangado com ele! Vai me dizer que nesse curto período de tempo da sua chegada vocês já andaram se estranhando de novo? – questionou ela
- Não estou zangado com ele, por que estaria, ele não passa de um simples empregado? Se tivesse me estranhado com ele, já o teria posto no olho da rua! – respondi irado. Ela apenas me encarou sem entender nada, muito menos o cara em que me transformei naqueles quinze anos. Devia estar se perguntando o que foi feito daquele garoto dócil e ingênuo que seria incapaz de qualquer atrocidade com quem quer que seja.
O prazer do Lucas consistia em fazer das minhas férias na fazenda um verdadeiro inferno. Eu era feito de bobinho pelos garotos que ele liderava, fazendo todo tipo de sacanagens comigo. Todos eles eram uns poucos anos mais velhos do que eu, o que me fazia ser a cobaia para tudo que aprontavam sempre levando a pior no final das contas. O Lucas era respeitado por eles, pois se gabava de não ser mais virgem e narrar suas peripécias em relatos picantes para os incautos que o ouviam com curiosidade e devoção. Foi com aquela turma que descobri o significado de inúmeras palavras que eu nem fazia ideia que existiam. O que era uma buceta e sua centena de sinônimos, que o que eu conhecia por pinto tinha também lá diversos sinônimos, que trepar não era escalar uma arvore, mas algo que extraia gargalhadas da molecada quando ele relatava suas proezas com uma das empregadas da casa, uma espevitada que não podia ver um par de calças sem que escancarasse suas pernas até ter uma pica cravada na vagina e, pelo menos dez anos mais velha do que ele, o que tornava tudo ainda mais excitante para quem o ouvia. O boato corria entre os funcionários e isso fez a fama do Lucas como um garanhão bem dotado. Meu avô a despediu quando se deu conta de que pelo menos uma dúzia de rapazes fazia a festa na buceta da garota. Ela se foi e junto com ela a libertinagem do Lucas, embora a fama conquistada nunca tenha desaparecido.
Já passava das 10:00h da manhã do dia seguinte, fazendo um calor infernal, quando me dirigi ao galpão onde ficava o maquinário e a oficina mecânica. Entre caminhões, tratores e colheitadeiras de grãos cujo preço médio oscilava em R$,00 encontrei-o supervisionando o conserto do trator que deu defeito no campo. Ele tinha as mãos cheias de graxa quando falava com o chefe da manutenção, estava sem camisa e seu tronco vigoroso revestido de músculos enormes reluzia com o suor que o cobria e escorria em direção ao cós do jeans justo que cobria suas coxas musculosas e um imenso volume entre elas. Fiquei tão desnorteado com aquela visão que, por uns segundos, nem sabia mais o que tinha ido fazer ali. Lembro-me de ter pensado – Para que raios toda essa profusão de músculos, tão enormes, tão bem torneados? De onde esse sujeito conseguiu esse corpo, um Hulk tropical, um Capitão América do Pantanal? – sacudi a cabeça para espantar esses pensamentos.
- Sr. Bernardo, como vai? A família, como está? – perguntei ao chefe da manutenção que me cumprimentou com deferência. – É um problema sério, a máquina vai ficar parada por muitos dias? – perguntei, pois imaginava que seriam essas as perguntas que meu pai também faria se estivesse ali.
- Tudo bem comigo e com a família, patrão! Obrigado por perguntar! – respondeu o chefe da manutenção. – Não temos a peça que deu defeito no estoque, mas já mandei buscar no representante do trator. Ela chegando hoje, amanhã o trator está pronto para o uso. – acrescentou solícito.
- Por que não temos essa peça no estoque? Em plena época de preparo do solo, uma máquina parada por quase três dias diminui a janela de plantio, não é? Isso é sua responsabilidade, não é Lucas? Como capataz você deveria saber que isso representa perda de dinheiro, ou não sabe? – questionei, dirigindo-me aquela montanha de músculos que eu não tinha coragem de encarar para não sentir meu cuzinho se revolvendo em espasmos.
- O investimento não compensa, é uma peça que raramente dá defeito! Temos outra máquina executando o serviço que não parou pela falta desta. – respondeu o Lucas, com serenidade, fingindo não ter notado a aspereza crítica na minha voz, o que me deixou ainda mais irritado.
Eu estava sendo um imbecil para dizer o mínimo, espezinhava-o na frente dos funcionários, ignorava-o e às suas explicações, dando mais ouvidos a quem estava ao lado dele, tudo para humilhá-lo como ele havia feito tantas e tantas vezes comigo no passado, ao me fazer passar pelo bobinho da cidade com o qual se podia gozar e rir por ele se sentir um peixe fora d’água naquele ambiente rural. Sabia que estava sendo infantil, que deveria me comportar com mais equilíbrio e consideração, mas eu simplesmente não conseguia. Bastava ele estar diante de mim com aquele rosto másculo e viril me encarando com um sinal de interrogação estampado no semblante e um par de olhos que me devoravam que eu perdia completamente a noção do ridículo e agia feito uma criança mimada. Ele, por seu lado, mantinha a compostura, devolvia respostas curtas e objetivas, ignorava minhas provocações e externava um profissionalismo impecável, que em nada lembrava aquele garoto adolescente que liderava os demais e infernizava a minha existência o quanto podia. Pergunta se não é de morrer de raiva de um sujeito desses que, ainda por cima, se transformou no mais lindo e estonteante macho que eu já tinha visto e que enchia a minha cabeça de pensamentos luxuriosos.
Outro embate se deu dias depois quando fui me juntar aos funcionários da casa, indo almoçar com eles na cozinha, pois tinha pedido à Dona Arminda para não me servir mais as refeições na sala de jantar distante do convívio com eles.
- O que ele faz aqui? – perguntei, assim que o vi sentado à mesa do almoço.
- O Lucas costuma almoçar conosco. – respondeu a Dona Arminda que não escondia o quanto gostava dele.
- Pois isso acaba hoje! Ele vai fazer as refeições no refeitório junto com os outros funcionários, já que nada mais é que um deles! – ordenei com rispidez, o que deixou a Dona Arminda estupefata.
- Mas seus pais nunca fizeram objeção do Lucas fazer as refeições na casa sede. – disse ela, protegendo-o.
- Como eles não estão aqui e, o patrão sou eu, essa regalia acaba agora! – exclamei empertigado.
- Está tudo bem Dona Arminda! A partir de agora passo a fazer as refeições no refeitório dos empregados. – disse ele, sem perder a compostura ou demonstrar qualquer emoção e, partindo sem ter terminado de comer.
- Minha idade e meu tempo nessa casa, somados aos anos em que te vi sair das fraldas e começar a andar pela fazenda me autorizam a te dizer que você se transformou num homem muito diferente do que eu esperava. Por que está tratando o Lucas dessa maneira? Vocês foram criados juntos, e seu avô e seus pais sempre o trataram como um membro da família. O que deu em você, Gabriel? – questionou ela. – Não seja assim, meu filho! Isso só vai te deixar infeliz!
- Mas acontece que ele não é um membro dessa família, ele é um funcionário e deve saber seu lugar! Além disso, é um crápula como vocês nem imaginam. – respondi.
- O que você quer dizer com isso?
- Nada, Dona Arminda, nada! Esquece! Não vou perder meu tempo me aborrecendo com esse sujeito.
Sozinho à noite com meu travesseiro o remorso vinha me atormentar. Ele não saía um segundo sequer dos meus pensamentos e, imagens do homão viril de hoje se misturavam com as do garotão parrudo e autoritário que tinha por prazer maior me espezinhar na infância. Não, eu não podia deixar barato, tinha que ir à desforra agora que sabia qual era a minha posição nesse jogo.
- Quero uma picape, vou supervisionar os pastos e o gado, e dar uma espiada como anda o preparo para a próxima safra de soja, providencie uma que não vá me deixar pelo caminho. – ordenei, depois de o ter mandado chamar.
- Sim, senhor! Quer que o acompanhe, posso lhe mostrar como andam os trabalhos? Os peões estão recolhendo os bois-terminados no campo e trazendo para os piquetes para serem embarcados amanhã e seguirem para o abate. – disse ele.
- Não será necessário! Cuide de suas tarefas que já é o bastante! Sei me virar muito bem sozinho! – respondi, tentando ser o mais insolente possível.
- Como estamos na época das chuvas, aconselho a tomar cuidado com os córregos que se espraiaram sobre as estradas para não encalhar, o que é bastante comum. – aconselhou, mas eu vi nisso um jeito de me dizer que eu não sabia onde estava me metendo, e o sangue ferveu, como de praxe. – Ah, e leve um radio comunicador, caso precise de ajuda. - emendou
- Creio que sou inteligente o bastante para identificar o perigo, sem seus conselhos ou sua ajuda! – devolvi, quando assumi o volante da picape e saí cantando pneus.
De fato, chovia torrencialmente todas as tardes até quase o final do dia quando o céu voltava a se abrir para uma noite abafada. Me embrenhei por uma estrada que de início estava bem conservada, mas que foi se estreitando e apresentando verdadeiras crateras, e pior, que eu nem fazia ideia de onde ia dar. Passei pelos pastos onde parei brevemente para ver os peões apartando os bois-terminados e os conduzindo pela estrada até os piquetes. Conversei ligeiramente com o líder da turma, um senhor do qual já não me recordava mais o nome, embora ele tivesse aberto um sorriso quando me identifiquei.
- O senhor cresceu! Vai voltar a vir mais vezes? Quantos anos faz que o senhor não vem mais para a fazenda? – perguntou entusiasmado.
- Quinze anos! Sim, acho que virei mais vezes de agora em diante! – respondi. – Obrigado pelo seu trabalho! – acrescentei, o que o deixou lisonjeado e o fez tirar o chapéu. – Pode me dizer como chego até onde estão preparando o plantio de soja?
- Mais ou menos um quilômetro à frente, pegue a esquerda na bifurcação, depois a segunda à direita e vai dar direto lá. – explicou.
As nuvens carregadas já estavam baixas quando me despedi dele e, na rapidez de sempre, a tempestade desabou com tudo, com direito a raios ramificados que quase tocavam o solo e trovões que reverberavam dentro do corpo.
“Ele disse a segunda à direita ou foi à esquerda? Que merda, o limpador de para-brisas não dá conta de tirar toda essa água da minha visão, não enxergo um palmo adiante do meu nariz!” resmungava eu com meus botões, enquanto a picape sacolejava ao cair nos buracos e fendas da estrada jogando lama para todo lado. “Foi a segunda à direita que ele disse, tenho certeza, ou quase”, mas onde diabos está essa entrada?” De repente, cadê a estrada, ela virou um córrego de lama e antes que eu encontrasse a tal entrada à direita, a picape afundou numa cratera ficando tão atolada que nem mesmo a tração 4x4 deu conta de desencalhar. “Pronto, mais essa, agora estou fodido debaixo desse toró e está anoitecendo” vociferei para mim mesmo.
Eu estava longe de saber como era a vida naquele lugar ermo, que desafios e obstáculos existiam por ali e, imprudentemente, resolvi esperar a chuva passar e então tentar desatolar a picape com os próprios recursos dela. Não sei no que eu estava pensando ao achar que aquilo era um tanque de guerra ou uma engenhoca cheia de tecnologia que podia me safar de uma situação como aquela. O entardecer descia implacável, a escuridão ia se formando ao meu redor, a chuva havia diminuído um pouco, mas ainda não o bastante para eu sair da picape e conferir a situação pelo lado de fora. E agora, Gabriel? Pedir ajuda pelo rádio era o mesmo que passar um atestado de burrice, apesar do aviso e, um prato cheio para aquele sujeito pernóstico ter do que gabar. “Vou resolver sozinho, está decidido! Afinal, estou dentro da fazenda e não perdido, a água vai baixar e essa porra há de desatolar com um pouco de habilidade.” Enquanto isso, as estrelas começavam a pontilhar no céu de um azul escuro e profundo.
- Gabriel, câmbio! Gabriel, está me ouvindo? Onde você está? Está tudo bem? Me responda, Gabriel, está me ouvindo? – mesmo entre os chiados do rádio comunicador dava para reconhecer a voz grossa dele. “Se ele pensa que vou responder a dar o gostinho de se divertir às minhas custas, está muito enganado!”
Meia hora depois, o rádio deu novo sinal de vida, era ele outra vez.
- Gabriel, eu estou preocupado, nós estamos preocupados, onde você está, câmbio? Responde, Gabriel, câmbio! O rádio comunicador que você levou está com o GPS desabilitado, está me ouvindo? Se estiver me ouvindo, entre nas configurações e habilite o GPS, é intuitivo! Me responde, Gabriel, você ouviu a minha mensagem, câmbio? – eu nunca tinha ouvido aquela voz tão preocupada. – Onde será que esse desmiolado foi se enfiar? – ouvi, em seguida, antes de ele soltar a tecla de ativação de voz.
“Desmiolado é o seu cu! Seu ... seu ... troglodita gostosão e arrogante!” resmunguei furioso, tanto pela minha burrice quanto por aquele ar de sabichão que ele tinha. Era hora de ceder, de assumir a cagada, de responder as mensagens para não passar a noite onde quer que eu esteja nesse momento, argumentei comigo mesmo.
- Alô! Alô! Quem estiver me ouvindo, eu estou atolado na estrada! – afirmei, para o rádio comunicador. Um risinho sarcástico ecoou em seguida, dele é claro.
- Câmbio, Gabriel, me ouve? Em que estrada você está? Acione o GPS do rádio para eu te localizar, câmbio. – quinze minutos depois, o GPS estava habilitado e, de intuitivo aquela porra não tinha nada. – OK, Gabriel, te localizei, câmbio! Não saia daí, estou indo te buscar, câmbio! – se eu pudesse sair daqui, não precisaria de ajuda, seu estrupício! “Para onde você acha que eu vou atolado até as tampas nessa porra de picape?” questionei com meus botões.
Passou-se mais de uma hora até eu avistar luzes se aproximando pela estrada e, só então, reparei quão estreita ela era. O ronco do motor de um trator aumentava à medida que que as luzes se aproximavam. A chuva havia parado o ar estava carregado de um calor agradável, o céu pontilhado de estrelas piscando. Ele desceu do trator e veio até mim quando me preparava para descer da picape.
- Fique onde está! Não abra a porta ou vai encher a picape de lama! Você, digo, o senhor está bem? – por que senti uma vontade enorme de cair nos braços daquele mastodonte assim que o vi todo preocupado comigo? Porque você é um babaca sentimentalóide, Gabriel que, mesmo sabendo que esse machão é um tremendo de um escroto, mas que você não o consegue tirar da cabeça desde que o reencontrou. – Vou engatar a picape no trator e te puxar para fora, só mantenha o volante para que as rodas fiquem retas, ok? – ele falando tudo parecia tão fácil.
Com um solavanco forte a picape saiu do atoleiro e chegou a um lugar plano e seco da estrada. O Lucas liberou o engate e abriu a porta da picape para checar se eu estava bem. A lama havia chegado até a metade da porta, o que significava que as rodas ficaram completamente submersas e eu jamais conseguiria tirá-la de lá sem ajuda.
- Tudo com você, digo, com o senhor? – os olhos dele percorreram meu corpo como se quisessem verificar se tudo estava em seus devidos lugares.
- Sim, obrigado! Podemos voltar para casa agora? – perguntei
- Claro! Vou posicionar o trator de lado de modo que possa passar com a picape e seguir na frente. O trator é mais lerdo, e eu chego em seguida. – disse ele. Se eu soubesse para onde ir, já estaria no lucro, mas não vou dar mais esse gostinho a ele.
- Pode seguir na frente, eu te sigo, não importa se demorar um pouco mais! – afirmei. Ele sabia que eu estava perdido, mas não disse nada. – Só para constar, na vinda para cá passei por um trecho da estrada no qual os pastos estavam completamente abandonados e sem manutenção. Não faz parte do seu serviço mantê-los em boas condições? – inquiri petulante.
- Não senhor, esses não fazem parte das minhas responsabilidades! – respondeu com firmeza. – A fronteira da fazenda ficou uns três quilômetros atrás, esses pastos são do vizinho, não sou eu quem cuida deles. – acrescentou, sem se alterar e com aquele mesmo tom de voz que, não sei porque tinha a capacidade de me irritar e me fazer sentir um idiota. Fora da fazenda, era tudo que faltava para ele ter a certeza de que eu não só havia me perdido, como nem desconfiava dos perigos que corri; rosnei comigo mesmo e dei um soco no volante de tão estúpido que me senti.
- Só me tire daqui! – exclamei irado.
- Sim, senhor! Já observou o céu, senhor Gabriel, não está lindo? – perguntou como quem não quer nada.
- Está sim, está lindo! Eu sempre me lembrava desse céu estrelado quando estava na cidade, onde ele parece bem menor do que aqui. – respondi, dessa vez desarmado.
- Vem comigo, sobe na caçamba da picape! Tem um cobertor aqui dentro dela, vou esticá-lo e você, digo, o senhor pode se deitar sobre ele e observar o céu. A constelação de Órion está bem visível hoje com a Três Marias bem destacadas. – disse ele, me estendendo a mão para me ajudar a subir na caçamba.
Ele se deitou ao meu lado, ficou um tempo em silêncio olhando para o céu com os braços cruzados sobre o abdômen; entre os sons de grilos, pererecas e um ou outro grasnar distante, a respiração profunda e forte ressoava nos meus ouvidos. Não fosse o tesão queimando dentro de mim, aquele teria sido um dos momentos mais serenos da minha vida recente. Nossos ombros se tocavam sutilmente de vez em quando, e dava para sentir o calor que o corpão dele emanava. Meu cu não encontrava sossego, talvez apenas se aquele volumão entre as pernas do Lucas se alojasse dentro dele, mas isso era um sonho impossível com o qual eu nem devia estar pensando.
- Me desculpe por tudo! – disse ele, subitamente. Imediatamente eu soube do que ele estava se desculpando, mas não respondi.
Era bastante tarde quando chegamos à sede da fazenda, silenciosa naquele começo de madrugada. Ao recostar a cabeça no travesseiro, concluí que o Lucas talvez não fosse mais aquela peste em forma de gente que me azucrinava na infância, ou seria apenas meu coração se apaixonando por aquele homão sensual?
Acordei cedo e animado, o tesão na caçamba na picape ainda me agitava. A dona Arminda riu misteriosamente quando entrei na cozinha para tomar café.
- Os sonhos devem ter sido bons! – exclamou, num tom zombeteiro.
- Só estou ansioso com a visita dos agentes do Incra, marcaram de vir hoje! – devolvi despretensioso, mas o sorriso enigmático não saiu do semblante dela.
No meio da manhã veio a informação de que os agentes haviam adiado a inspeção para dali a dois dias, o que me deixou com mais um dia de ócio a ser vencido. Para variar, o calor infernal fazia o ar se erguer do solo como o vapor emergindo de um caldeirão de água fervente. Quando criança, a garotada se juntava na cachoeira que distava uns oitocentos metros da sede para se refrescar. Desde a minha chegada ainda não tinha ido até lá. Reminiscências daquele lugar, onde ocorreram as mais torturantes gozações do Lucas para comigo, talvez fosse o motivo de eu não ter ido até lá. Não me propus conscientemente a verificar como ela estava depois desses anos todos, acabei chegando a ela sem me dar conta quando caminhei a esmo. Eram inúmeras quedas d’água, não muito altas, numa sequência de uns 200 metros onde o rio se alargava entre as pedras que formavam pequenas piscinas onde a espuma branca se desfazia sem pressa. Observando-a com nostalgia, constatei que a natureza é menos volúvel e mais perene do que os seres humanos, pois ela estava exatamente como eu me recordava.
Me despi após verificar se não havia ninguém por ali, pois o bosque fechado que a cercava podia não ser o suficiente para algum funcionário me flagrar nu. Amontoei cuidadosamente as roupas numa pedra da margem e me lancei na água fresca e agitada, essa sensação sempre me remeteu à liberdade, e não foi diferente dessa vez. Nadei por uns quinze minutos antes de voltar ao local onde deixei as roupas e, desesperado, constatei que haviam sumido. “Só há um desgraçado capaz de aprontar uma dessas, não foi somente uma única vez que precisei voltar para casa pelado como vim ao mundo – foi ele, Lucas, o sacripanta voltando a ser o crápula de sempre – concluí resmungando”
- Lucas! Lucas, seu desgraçado! Pode aparecer, sei que foi você! – gritei em direção a vegetação das margens, pois sabia que ele estava escondido nela. – Lucas! Está me ouvindo, cafajeste? Me devolva as roupas, isso não tem graça! – continuei, antes de ele surgir com elas nas mãos junto com um risinho sarcástico. – Você não cresce, não? Isso podia ser engraçado quando éramos crianças, mas é totalmente fora de propósito agora! Sou seu patrão, não seu companheiro de brincadeiras! – despejei furioso e ultrajado por estar nu diante dele.
- Sabia que há onças rondando a fazenda, com tanta fartura de carnes você se tornaria um alvo fácil para uma delas! – sentenciou o descarado sem camuflar o riso e o olhar cobiçoso que dirigiu à minha bunda.
- Cretino! Acha que vou acreditar numa bobagem dessas? Posso ser uma criatura da cidade, mas não sou nenhum tolo que se deixa impressionar ou amedrontar por estórias de peões. – respondi, me vestindo o mais rápido que pude para aquele par de olhos parar se secar as minhas nádegas carnudas.
- Vem comigo!
- Nem pensar!
- Vem comigo! Quero te mostrar uma coisa! – insistiu, me pegando pelo braço com aquela mão enorme que mais parecia uma garra de urso.
- Me solta, Lucas! Foi-se o tempo em que ficava me arrastando a força por aí.
- Sabe o que é isso? – perguntou, quando uma centena de metros rio abaixo me apontou o chão molhado e pisoteado na margem do rio.
- Isso o quê? Só vejo barro remexido!
- Olhe bem! Não consegue identificar nada familiar? É tão avoado assim? – questionou, me deixando com mais raiva ainda. – O barro está remexido por pegadas, estas aqui são de um bando de capivaras, percebe; e de quem você acha que são essas aqui?
- Onça? – indaguei apavorado, quase engolindo a própria voz.
- Exatamente, onça! Veja que as capivaras fugiram em direção ao mato quando ela se aproximou do bando, provavelmente vindo nadando pelo rio. Agora imagina se ao invés de capivaras, ela se deparasse com você e essa bundona cheia de carne tenra e abundante! – exclamou. Eu engoli em seco, mais uma vez ele estava certo e eu fazendo papel de bobo.
- Sabia que você é um cretino, e dos grandes? – retruquei, vencido e injuriado, antes de sair dali pisando firme.
Com o humor totalmente ao avesso daquela manhã, entrei em casa sussurrando insultos ao Lucas.
- O que foi que acabou com seu bom humor dessa manhã? – perguntou a dona Arminda quando tirei a garrafa de água gelada da geladeira.
- Ora, quem podia ser? Aquele ... aquele cretino do Lucas ... é sempre ele! – exclamei, fazendo-a disfarçar o riso. – Eu ainda vou ter uma boa conversa com meu pai e convencê-lo a botar esse sujeito no olho da rua! – continuei, destilando minha raiva.
- Então se empenhe bastante, pois eu duvido que seu pai vá atender esse pedido. Do jeito que ele gosta do Lucas e do trabalho dele, é mais provável que ele deserde você. – devolveu ela.
- É o que veremos! – exclamei, ela voltou a rir, dessa vez sacudindo a cabeça sem disfarçar.
O dia só não foi perdido porque o piloto que me trouxe à fazenda ligou querendo fazer uma visita, uma vez que havia trazido uns passageiros até Vilhena em Rondônia, e só teria que pegar outros em Campo Grande no Mato Grosso do Sul para levar para São Paulo no início da tarde do dia seguinte. Meu bom humor voltou como num passe de mágica. Passar um tempinho com aquele machão me comendo com o olhar e controlando o fogo na rola ia ser bem gratificante.
O turboélice pousou na pista da fazenda cerca de uma hora e pouco depois, gerando curiosidade entre os funcionários com a chegada inesperada. Piloto e co-piloto me cumprimentaram com entusiasmo e certa intimidade com abraços que duraram mais do que a prudência discrição recomendavam, o que logo me fez suspeitar do motivo daquela aparição. Algo me dizia que pretendiam se saciar no meu cuzinho, uma vez que também não escondi o quanto aqueles dois machos me impressionavam.
Passamos boa parte da tarde na piscina, até o sol quase haver se posto no horizonte e os bandos de araras e papagaios sobrevoarem nossas cabeças rumo ao descanso. Quando me deparei com o tamanho do volume nas sungas deles, meu cu não teve mais sossego. Eles cobiçavam minha bunda e nossa conversa tinha um tom libidinoso, quase explícito. Dentro da piscina, fingi não perceber as encoxadas que me deram quando fui prensado junto a borda. O co-piloto meteu acintosamente a mãozona na lateral da minha sunga sumária e amassou minha nádega, extraindo um suspiro condescendente dos meus lábios. Com o tesão a mil, quase me deixei enrabar ali mesmo, pois o safado do meu cuzinho queria pica e, duas belas, avantajadas e sedentas estavam a espreita só esperando a deixa para me penetrarem.
Apesar do tesão e do assédio deles, a coisa não rolou. Algo estava me travando. Desde que me entendi gay, sempre pautei meu comportamento pela discrição, pelo resguardo do meu corpo, preservando-o para quem significasse algo mais do que uma mera transa. Esse foi o motivo por eu ter tido apenas o Júlio como o único homem a quem entreguei meu ânus virgem, mesmo tendo sido assediado diversas vezes por caras que ninguém dispensaria com a mesma facilidade com a qual eu o fiz.
O Lucas me viu com os dois na piscina, e isso já me deixou imensamente feliz, pois a cara de repúdio que ele fez ao notar como eles se mostravam íntimos era impagável. Agora eu me pergunto, se tenho tanta raiva desse capataz metido a sabichão, por que provocar ciúmes nele estava me fazendo tanto bem? Não era hora de eu me aprofundar nessa questão, e sim, de aproveitar a companhia alegre daqueles dois machos. A dona Arminda preparou uma janta dos deuses, coisa que ela adorava fazer quando chegavam visitas na fazenda. Depois do jantar largamente elogiado por eles, fomos conversar na varanda que cercava a casa antes de eu os alojar em seus respectivos quartos. O – Boa noite – que dirigi a ambos sem abertura para uma transa deixou-os um pouco frustrados, pois davam como certo que enfiariam os cacetões no meu cuzinho até estarem saciados. Partiram prometendo me ligar quando eu voltasse para São Paulo e, talvez pudéssemos ir a algum barzinho para uns chopes.
Os agentes do Incra finalmente deram as caras no dia combinado. Recebi-os no escritório da fazenda, no galpão que abrigava a parte administrativa e onde uma senhora, ex-secretária do meu pai, chefiava um grupo de pessoas que tratava de todos os assuntos administrativos e de logística da fazenda.
- Gabriel, o Lucas deixou esse relatório com alguns dados da fazenda, caso venha precisar deles durante a reunião com o pessoal do Incra. – disse a dona Debora me entregando uma encadernação. – Você quer que o Lucas participe da reunião?
- Não obrigado, dona Débora! Quanto mais longe ele estiver, melhor! – devolvi, externando aquela fúria que sempre se apossava de mim ao ouvir mencionado o nome dele.
Acabei precisando daqueles dados que estavam no relatório do Lucas e, ao apresentá-los aos agentes, tive que ouvir os elogios que fizeram a ele.
- Seu pai acertou em cheio na contratação desse capataz, o Sr. Lucas deu um novo fôlego a essa fazenda desde que assumiu o gerenciamento. Em toda a região, é a fazenda com todas as exigências de ocupação do solo e manejo de mananciais e corredores de mata nativa mais completas. – disse um dos agentes. “Então o safado é bom mesmo no que faz, pena que sejacretino, um cretino tesudo e lindo, um cretino que só me faz ter pensamentos lascivos com aquele corpão cheio de músculos”, tive que admitir.
Na conversa que tive com meu pai após a visita dos agentes do Incra, coloquei-o a par da situação e da tarefa cumprida. Ele ficou feliz pelo tom de voz, e me perguntou como eu estava me sentindo assumindo mais responsabilidades.
- Vai voltar para São Paulo agora? Já cansou da fazenda? – perguntou
- Não, vou ficar mais um tempinho, quero me inteirar um pouco mais. – respondi, antes de ele se rasgar em elogios para comigo.
Depois dos últimos acontecidos, resolvi amenizar a situação com o Lucas. Eu tinha que parar de agir como criança e me mostrar um patrão capaz de lidar mais responsavelmente se quisesse ter o respeito dos funcionários.
- Dona Arminda, peça ao Lucas para vir almoçar conosco e, a partir de hoje, ele deve voltar a fazer as refeições na casa sede. – ordenei, dando o primeiro passo.
- O Lucas não está na fazenda desde ontem, foi passar o aniversário na cidade com os pais e a namorada. – respondeu ela.
- Namorada? O Lucas tem uma namorada? Eu não sabia. – a frustração no meu tom de voz não passou despercebida.
- Sabemos pouco a respeito, ele a trouxe uma vez para um fim de semana, foi a única vez que a vimos. É uma garota bonita que ele conheceu na faculdade. – esclareceu ela, sem tirar os olhos da minha cara embasbacada.
- Também não sabia que era o aniversário dele, muito menos que iria visitar os pais na cidade. – afirmei. – Por que será que eu tenho a sensação de que sempre sou o último a ficar sabendo das coisas nessa fazenda? – questionei.
- Você conhece o Lucas, sabe que ele é muito reservado. Depois, você estava com visitas e ele decerto não quis te atrapalhar. – disse ela.
- Ele disse quando volta?
- Não!
Passaram-se duas semanas e nada de o salafrário aparecer. Eu levantava de manhã e ia a todos os lugares onde ele podia estar, na esperança de vê-lo dando ordens, inspecionando os funcionários e os trabalhos, resolvendo pendências, mas nada dele. Perguntava aos chefes de equipe se sabiam quando ele ia voltar, mas nenhum tinha a resposta. Depois de perambular o dia todo pela fazenda, voltava para casa acabrunhado. Estava sentindo falta daquele estrupício.
- Está com saudades? – a pergunta da dona Arminda me pegou de surpresa enquanto eu vasculhava com o garfo a comida que estava a minha frente. – Sente falta dele, não é?
- Não sei do que a senhora está falando!
- Está gostando do Lucas, mais do que gostaria, não é? – insistiu ela
- Quem, eu? Gostando daquele ... daquele sujeito arrogante? Jamais! – devolvi
- Sou uma mulher de certa idade, Gabriel, te vi crescer, fui criada no interior, em sítios e fazendas, não tive muita instrução, mas sei reconhecer quando um coração está sofrendo de amor, como o seu está desde que reencontrou o Lucas. – soltou ela, verbalizando uma verdade nua e crua.
- A senhora deve estar sonhando! Eu odeio aquele sujeito, a senhora bem sabe o quanto ele me infernizava e como nós dois brigávamos o tempo todo. Imagine só, eu sofrendo de amor por aquele cretino! – retruquei.
- Aceite um conselho, diga a ele, quando voltar, o que sente por ele. Admita com todas as palavras que o ama. Vai te fazer muito bem e, talvez, seja o caminho para a felicidade de ambos.
- A senhora devia cuidar da sua cozinha, e não da minha vida! – explodi, saindo apressado da cozinha.
Dias depois, fui perguntar à dona Débora sobre o paradeiro dele, pois aquela demora estava me matando. Eu estava cada dia mais impaciente, mais irritado, mais saudoso daquele rosto hirsuto e másculo, daquele tronco musculoso e viril. Ela não fazia ideia de quando ele estaria de volta, ele não havia deixado nenhuma informação.
- E é assim que um funcionário simplesmente abandona o serviço, não dá as caras e não diz quando volta? Ele por acaso tirou férias? – perguntei exasperado.
- O acordo que seu pai fez com o Lucas não o enquadrada na situação dos demais funcionários. Ele tem total liberdade de fazer seus horários, de se ausentar pelo tempo que quiser. Sua única obrigação é apresentar resultados, o que ele faz cada vez com mais competência. – revelou ela.
Não estava sozinho nessa carência. O Lucas tinha um mestiço de molosso enorme, mistura de fila-brasileiro e cane corso, que o acompanhava por todos os lados. Ele subia na picape sem pedir licença e não desgrudava dos pés do dono. Chamava-se Toro, tinha uma cabeça enorme e desde que cheguei à fazenda começou a dividir sua atenção entre mim e o Lucas. Estava sempre me pedindo carinho e fazia um alvoroço quando me via chegar.
Após o jantar, e sabendo que iria enfrentar mais uma noite quente que não me deixaria dormir, fui me sentar num dos bancos da varanda para desfrutar de uma aragem que não chegava a refrescar. O Toro pulou no banco com seu corpanzil e se aconchegou a mim, depositando a cabeça sobre as minhas pernas para receber afagos.
- Também está sentindo falta daquele seu dono malandro, não é? – perguntei ao cão que apenas me encarou com seu olhar fiel. – Para você eu posso confessar, sei que não vai dar com a língua nos dentes. Acredite ou não, estou me apaixonando pelo seu dono. Eu devia sentir ódio dele, não amor, porque se você soubesse o que aquele estrupício já aprontou comigo ia certamente concordar. Mas essa ausência dele está me agoniando, me acostumei a vê-lo por aí, metido naquelas camisas que ele não abotoa só para exibir aquele torso estonteante de macho, ou aquelas camisetas agarradas naqueles músculos todos. Isso sem falar nos jeans onde mal cabem aquelas coxas grossas e aquele troço que deve ter o mesmo tamanho que o dos touros que andam pelos pastos; e que faz, só cá entre nós, meu cuzinho nem mais saber o que é estar relaxado; o diacho parece ter vida própria e, quando na presença daquele safado, se contorce em espasmos de tanto tesão. – de quando em quando, o Toro levantava a cabeça me encarava e devia pensar, esse cara deve ser completamente louco. – Você que gosta dele, pode me dizer se devo declarar o que sinto por ele? Vai ser um prato cheio para ele tirar onda com a minha cara como fazia quando éramos garotos. Ou devo voltar para a minha vida em São Paulo e esquecê-lo de uma vez por todas? Diz para mim Toro, o que é que eu faço? – indaguei quando ele repentinamente moveu as orelhas em sinal de alerta.
- Deve escolher a primeira opção, já que a segunda nunca vai acontecer porque não vai conseguir me esquecer! – eu quase tive uma síncope quando ouvi a voz grave dele atrás de mim, e o Toro saltou do banco correndo ao encontro do Lucas e se desmanchando de alegria.
- Há quanto tempo está aí? – perguntei vexado
- O suficiente para ouvir que me ama, que me acha um tesão e que seu cuzinho não vê a hora de sentir a minha verga. – declarou petulante.
- Eu não disse isso! – exclamei de pronto, tentando negar o inegável.
- Não vai me dar as boas-vindas? Para alguém apaixonado, você é um bocado frio!
- Deixe de besteira! Mas é bom que esteja de volta, tem muito serviço te esperando depois dessas férias prolongadas! Espero que pegue firme no trabalho amanhã cedo. – afirmei, tentando conter a emoção.
- Vou pensar no seu caso. Porém, essa noite quero sentir todo o prazer que esse rabão gostoso tem a oferecer. Assim talvez você pare de ficar olhando a todo momento para o meu cacete com essa cara de pidão.
- Eu não faço isso!
- Ah, faz! Desde que chegou aqui não tem feito outra coisa! Vem cá, vem, seu fedelho tesudinho que eu vou apagar esse fogo do seu cu! – asseverou, me puxando para junto dele e cobrindo minha boca com a sua.
Quando a saliva dele começou a escorrer para a minha boca, minhas pernas bambearam, o coração disparou, o cuzinho piscava mais que um estroboscópio, e o ar simplesmente me faltava. Ele me levou ao quarto, à medida que me despia, pousava um beijo sobre a pele exposta, até ter minha nudez completa em suas mãos. Eu tremia, tirei a camisa dele e afaguei o tórax maciço, senti seu cheiro viril e grudei meus lábios aos dele. Sua mão roçou e amassou minhas nádegas, eu gemi.
- Tesão do caralho, que bunda é essa, roliça, perfeita? Vou me perder dentro desse rabão! – grunhia ele, sem que nossas bocas se desgrudassem.
Ele começou a desabotoar a calça, eu enfiei minha mão dentro dela e tirei a ereção cavalar para fora. Não pude deixar de examinar pormenorizadamente e, me deliciar com a visão daquele caralhão enorme, reto e grosso que pulsava em minha mão. Fui me ajoelhando até ficar cara a cara com o pauzão babando. O cheiro almiscarado era inebriante e, delicadamente fui fechando os lábios ao redor da cabeçorra suculenta, dando chupadinhas suaves no sumo viscoso que ela vertia, depois fui descendo com lambidas úmidas por todo cacete até as bolas. Tudo nesse homem era enorme, o caralhão não fica atrás em sua sensualidade gigantesca. O Lucas soltou um grunhido e se contorceu, gemeu meu nome e deslizou os dedos para dentro dos meus cabelos.
- Caralho, Gabriel, vai me matar de tesão, seu veadinho! Chupa meu pau, chupa! É todo seu, vou te dar leitinho direto na boca! Chupa safado! Cacete que boca aveludada você tem! – ele não parava de ronronar, enquanto eu me apossava daquele colosso e afagava o sacão peludo.
Minutos depois, entre grunhidos guturais, ele encheu minha boca e garganta com sua porra abundante e espessa, que eu engolia maravilhado encarando seu rosto em jubilo.
Pouco depois, eu estava debaixo dele todo arrepiado, bunda empinada, pernas ligeiramente afastadas, as mãos dele abrindo meu rego e sua língua molhada rodopiando e cutucando meu buraquinho, os bicos rijos dos mamilos rolando prensados entre os dedos dele e o pauzão forçando minhas preguinhas apertadas. O Lucas posicionou a cabeçorra melada do cacetão sobre a fendinha enrugada e a empurrou lentamente para dentro. Meu cuzinho foi se abrindo receoso.
- Vai devagar, Lucas, você é enorme, vai me machucar! – supliquei ao sentir as pregas se estirando.
Até que, com uma estocada firme, ouviu-se um – Flofft – e ele me penetrou esgarçando as preguinhas me fazendo soltar um ganido de dor e as minhas mãos se agarrarem ao lençol. Com um espasmo forte meu cu travou comprimindo a jeba grossa. Ele voltou a forçar e foi se empurrando para dentro de mim entre gemidos de dor e prazer, até sentir os pentelhos roçando meu rego e o caralho todo atolado no meu rabo macio e quente. Com as duas mãos na minha cintura, meu corpo rendido, o Lucas estocava meu cuzinho até o fundo, quanto mais eu gemia mais fundo ele metia. O prazer foi superando a dor e eu me entreguei empinando a bunda e mastigando o pauzão grosso com a musculatura anal. Ele continuava socando forte, parecia não ter feito isso há algum tempo de tão ávido que estava. Em dado instante, me virou de costas, colocou minhas pernas em seus ombros, olhou para o buraco vermelho que abriu no meu cu e meteu novamente o pauzão insaciado dentro dele, enquanto eu soltava um ganido ao ser arrombado pela intrepidez desse macho potente.
O corpão dele foi se arrepiando aos poucos, os músculos retesando, seus grunhidos cada vez mais guturais e selvagens, eu sabia que ele estava prestes a gozar e, sem conseguir segurar meu próprio gozo, senti meu pinto soltando os jatos de porra.
- Está gozando, seu veadinho safado? Teu macho te fez gozar, foi? – perguntou, sem parar de socar tão fundo que minhas vísceras se contorciam.
- Ai, Lucas! – gemi alucinado pelo prazer.
- Abre bem o cuzinho para o teu macho, abre, que vou encher esse rabão com meu leite! – sentenciou, segundos antes de urrar forte e se despejar fartamente no meu casulo macio.
Nos beijamos demoradamente, ele deitou a cabeça no meu ombro, eu o aninhei em meus braços e afaguei sua nuca que se arrepiou toda. Um tempinho depois o caralhão amolecido foi escorregando lentamente para fora do meu cuzinho arregaçado, deixando um rastro de porra escorrendo pelo meu reguinho. Adormeci enroscado no corpão dele, feliz como nunca havia me sentido.
Pouco antes das 09:00h acordei sozinho na cama, no entanto, o Lucas se fazia sentir em todo meu corpo, o cheiro dele na minha pele, o sêmen formigando no ânus, as preguinhas rotas inchadas. Ao levantar notei gotas de sangue no lençol, me arrepiei todo, foi a primeira vez que isso aconteceu, sorri feito um bobo. A caminho da cozinha onde a movimentação já era grande, enfiei o lençol denunciador na máquina de lavar.
- Bom dia! – cumprimentei efusivo. – Que manhã linda, não é?
- Bom dia, Gabriel! Pode-se saber que alegria toda é essa? Depois de quase duas semanas perambulando macambuzio pelos cantos, o que foi que te deixou tão inspirado? – perguntou a dona Arminda com seu risinho debochado de quando já sabia a resposta às suas perguntas capciosas.
- Deve ter sonhado com algum papacu da cabeça vermelha, dizem que sonhar com eles afasta qualquer tristeza! – afirmou a empregada desbocada que a auxiliava, e que era dotada de uma língua maliciosa em relação a tudo que se referia a sexo. Ambas riram em cumplicidade.
- Falando por experiência própria? – indaguei, me dirigindo a ela, que se abanou soltando um longo Aaafff.
Tomei o café e fui à procura do Lucas. Encontrei-o no galpão dos estábulos supervisionando o trabalho do veterinário que atendia os fazendeiros da região e estava fazendo a inseminação de um lote de matrizes.
- Oi! – cumprimentou o Lucas com um sorriso largo. – Dormiu bem?
- Oi! Divinamente! – devolvi, corando ligeiramente ao olhar para o volume entre suas pernas, o qual agora me era bem familiar. – Acordou tão cedo, nem me deu tempo de te dar bom dia na cama.
- Tenho um patrão muito exigente e reclamão! – devolveu. - Vai me deixar de pau duro se continuar me secando desse jeito! – exclamou rindo.
- Tonto!
- Tive uma noite maravilhosa ontem, fazia tempo que não gozava tanto. – afirmou, em voz baixa junto ao meu ouvido.
- Nem eu! Já estou com saudades.
- Isso é bem fácil de resolver. – devolveu, dando uma ajeitada na pica. – Ela se parece com você quando te penetrei ontem, dócil, submisso, receptivo; veja como ela abana as orelhas de prazer sentindo a vulva sendo aberta. – sentenciou libertino, enquanto o braço enluvado do veterinário entrava até o cotovelo na vulva da vaca.
- Está me comparando a uma vaca, seu depravado?
- Estou dizendo que ela está gostando tanto quanto você gostou de me sentir dentro de você. – retrucou malicioso.
Passei a manhã nos estábulos ao lado dele, trocando olhares lascivos e carregados de paixão, quanto mais eu observava seu corpão, mais forte meu peito reverberava. A intensidade desse sentimento era uma novidade para mim, o que me levou a concluir que nunca estive apaixonado pelo Júlio, que ele foi apenas o trampolim para eu iniciar minha sexualidade gay. Apenas uma coisa me assustava, que o interesse do Lucas por mim também fosse apenas sexual, uma vez que não via a namorada com frequência. Não tive coragem de perguntar por ela, temendo que ele me dissesse o quanto a amava. Homens como o Lucas são fodedores natos, está no sangue deles, carregado de testosterona, se saciar num buraco macio e quente que acolha seus caralhões fogosos. Eu podia não passar de um desses buracos para ele.
- Qual é a sua com aqueles dois pilotos? Você estava bastante íntimo daqueles dois galalaus empertigados, metido naquela sunga entalada no rego. O que rolou naquela noite, também levou os dois para a cama? – perguntou em dado momento, todo enciumado, o que abriu a brecha para que eu também o questionasse.
- E o que rolou entre você e sua namorada? Devem ter sido duas semanas bem agitadas para uma comemoração de aniversário.
- Que namorada? Do que você está falando?
- Me disseram que você foi comemorar seu aniversário com seus pais e com a sua namorada. – respondi
- Então te informaram mal, usei aquelas duas semanas para outra coisa, não para trepar. – retrucou carrancudo. Ademais, tive uma namorada, mas não tenho mais, faz meses! – Está fugindo da minha pergunta, qual é a sua com os pilotos, ainda estou esperando a resposta.
- Não rolou nada com eles! Vieram me fazer uma visita, nada além disso, garanto!
- Sei! Dois sujeitinhos muito empolgados para uma simples visita! – grunhiu
- Está com ciúmes?
- Quem eu? Ciúmes, ora vê se pode! .... Cacete, Gabriel, claro que estou com ciúmes, porra!
- Sabe por que não rolou nada entre mim e eles? Por que a cada dia que passo na fazenda estou mais apaixonado por você! – asseverei. Ele sorriu feito um bobalhão.
- Sério? Na primeira oportunidade vou te pegar de jeito, está sabendo, não está? – indagou, dando um tapa na minha bunda.
Estávamos almoçando na cozinha, a dona Arminda não parava de nos encarar, eu sabia que ela queria falar alguma coisa e só estava estudando o momento certo de soltar sua observação. Enquanto isso, o Lucas e eu mal conseguíamos disfarçar os olhares que trocávamos, feito dois garotos que tinham aprontado alguma sacanagem. Assim que ficamos os três a sós, ela soltou a pérola que estava guardando.
- Você esqueceu isso no quarto do Gabriel quando fugiu esta manhã! – exclamou, exibindo e devolvendo a cueca do Lucas. – Estava debaixo da cama e, como as do Gabriel são bem mais cavadas, deduzi que só podiam ser suas. – eu quase me engasgo com a sobremesa e o Lucas apenas arregalou os olhos sem saber como se explicar. Ela, é óbvio, riu. – O que os dois estão aprontando?
- Nada! - respondi ligeiro.
- Nada? Quando mandei a garota arrumar seu quarto, ela me disse que a cama estava sem o lençol, que depois foi encontrado secando dentro da máquina de lavar roupas. Somando isso mais essa cueca esquecida na pressa de sair antes que alguém notasse, acho que esse tal de – Nada – esconde muito mais do que um simples nada. – ela era astuta, nos conhecia desde garotos e quase tão bem quanto a própria palma da mão.
- Se me jurar que não vai contar nada para os meus pais, eu conto! – exclamei, ciente de que nosso segredo já era. Ela anuiu. – Eu sou gay, estou cada dia mais apaixonado pelo Lucas. Você mesmo viu como senti a ausência dele. Bem, quando ele voltou naquela noite, acabou rolando, foi isso! Mas, jure por tudo que é mais sagrado, não conte nada aos meus pais, ainda não contei que sou gay.
- Eu sabia que aquela sua birra com o Lucas não passava de uma fachada para o que estava acontecendo dentro do seu coração, moleque safado! Você também, Lucas, os funcionários estavam se queixando que, desde que o Gabriel chegou na fazenda, você andava uma pilha de nervos, que estava ranzinza como nunca. Está com a mesma doença do Gabriel, não está, seu malandro? Paixonite aguda! – Ela nos encarou, pegou nossas mãos entre as dela como se estivesse nos abençoando. – Vou torcer pela felicidade de vocês, meus meninos! – exclamou emotiva.
Já não tínhamos mais nada a esconder pelo que pudemos perceber nos dias que se seguiram quando eu acompanhava o Lucas por todos os cantos da fazenda durante a lida. Os funcionários já tinham sacado que a relação patrão/empregado havia se transformado em algo bem mais profundo e íntimo. Como sempre, alguns torceram o nariz, particularmente aqueles homens mais toscos e criados no preconceito e aversão aos homossexuais, embora suas atitudes não tenham passado disso, uma vez que sabiam que seus empregos dependiam da tolerância, com a qual tinham que lidar de alguma forma. Outra questão era a postura do Lucas que nunca admitiu qualquer tipo de desrespeito e, com mão firme, sabia como ninguém como lidar com aquela peãozada xucra.
Me inteirar das coisas da fazenda também me fez começar a admirá-la. Não sei se influenciado pelo entusiasmo do Lucas, ou por que eu mesmo estava me apegando àquela vida junto a natureza. Durante nossas andanças pela fazenda, começamos a observar que muita coisa podia ser melhorada e aperfeiçoada para os tempos atuais onde a tecnologia rural avançava a passos largos. O Lucas era cheio de ideias e eu embarquei de corpo e alma em seus planos, dando uns pitacos aqui outros acolá, à medida que tudo aquilo se tornava mais familiar para mim.
Foi assim que descobri o motivo do sumiço dele naquelas duas semanas. Além de comemorar o aniversário de trinta anos com os pais, foi especular uma área nos arredores da cidade, próxima à rodovia, que tinha um enorme potencial para abrigar um frigorífico onde nossos bois poderiam ser abatidos e a carne em natura ou processada ser comercializada sem a intervenção de intermediários, a cadeia produtiva estaria toda sob nosso controle.
- Faz algum tempo que penso nisso, estava esperando a hora certa de conversar com seu pai a respeito, acha que ele vai topar? – perguntou
- Tenho certeza que sim! Vamos apresentar esse projeto juntos, tenho meus truques para convencê-lo. – respondi, deixando-o todo animado.
- Isso significa que vai ser meu parceiro nessas novas ideias?
- Não só nelas, quero ser seu parceiro por toda vida, quero ser seu parceiro nas horas boas e nas difíceis, quero ser seu parceiro na cama e fora dela, 24 horas por dia, 7 dias por semana 30 dias por mês, ano após ano. – afirmei.
- Isso está me parecendo um pedido de casamento e não negócios! E, ser for isso, saiba que vou ser o melhor e mais amoroso dos maridos e que ... como você já deve ter percebido ... não vou dar um minuto de trégua para essa sua bundinha carnuda e esse cuzinho apertado, pois eles me deixam maluco de tanto tesão. – devolveu, vindo me abraçar junto a cerca de um piquete ao mesmo tempo que grudava a boca na minha e metia a língua tarada na minha garganta em plena luz do dia.
Meus pais estranharam não me encontrar em casa quando regressaram da viagem, e logo me ligaram.
- Ainda estou na fazenda!
- Está tudo bem, o que ainda te prende aí? Não era você quem detestava até a simples ideia de passar uns dias na fazenda? – questionou minha mãe.
- Está tudo bem, sim, mãe! Não se preocupe! Pode chamar o pai um momento? – antes do meu pai atender, ouvi-a dizer a ele – “Tem alguma coisa acontecendo por lá, ele negou, mas pela voz dele sei que tem alguma coisa errada” – sentenciou desconfiada.
- Oi filhão! Tudo bem com você? Pensei que estaria em casa, o que aconteceu? – perguntou meu pai, com aquela cautela que lhe era peculiar.
- É que estou vendo umas questões por aqui e acabei ficando mais tempo.
- Deu tudo certo com a visita dos agentes do Incra? Teve algum problema? Você estava tão relutante em ir para a fazenda resolver isso por mim e agora me diz que resolveu ficar mais tempo. Tenho que me preocupar com alguma coisa?
- Não tem não, pai! Aliás, eu gostaria de pedir para você e a mamãe virem para cá quando estiverem dispostos.
- Gabriel, está me deixando preocupado, filhão! Fala de uma vez, não enrola!
- Eu já disse que não há para se preocupar, mas tenho uma coisa para contar e isso só pode ser feito pessoalmente. Quando vocês vêm?
Chegaram quatro dias depois, minha mãe me examinou da cabeça aos pés como se estivesse verificando se não me faltava algum pedaço. Hilário. Ela que sempre foi a mais intrometida, logo foi sondar a dona Arminda tentando arrancar dela alguma informação. Como não conseguiu, me botou contra a parede, enquanto meu pai checava junto ao Lucas se havia algum problema a ser resolvido.
- Pai, mãe, tenho que contar uma coisa, mas espero que me ouçam até o final antes de surtarem, prometem? – comecei, gaguejando e procurando no olhar sereno do Lucas a coragem para continuar.
- Eu sabia que tinha coisa errada! Não te falei, Heitor! – exclamou impaciente minha mãe.
- Deixe o menino falar!
- Então ... é o seguinte ... o Júlio ... lembram dele, não lembram .... – estava sendo mais difícil do que eu imaginei, uma vez que ambos me encaravam cheios de expectativa.
- Sim, o que tem o Júlio, seu amigo da faculdade, a ver com essa conversa? – voltou a intervir minha mãe.
- É que ele ... o Júlio ... não foi apenas um amigo da faculdade ... O Júlio foi ... ele foi ... o Júlio foi meu namorado, é isso! – soltei de supetão.
- O quê? Como assim? – minha mãe começou a surtar, enquanto minha coragem para continuar parecia estar se esvaindo por um ralo.
- Eu sou gay, mãe! Estávamos namorando há dois anos. Antes de vir para cá para resolver a questão do Incra, tivemos uma briga por que ele estava me traindo, mas isso não vem ao caso agora.
- Você é gay? Heitor, você ouviu o que esse moleque acabou de dizer?
- Mãe, não surta! Pai, eu queria que vocês soubessem por mim, e não por algum estranho. – apesar de continuar calado, meu pai lançou um olhar em direção ao Lucas e deu para sacar que ele já entendeu tudo.
- Se acalme, mulher! Não dificulte as coisas ainda mais para o Gabriel! Vamos apenas ouvi-lo! – se ele não fosse ficar furioso depois, talvez eu estava ganhando um aliado ou, pelo menos, alguém que ia me compreender.
- Bem, e ... continuando! Quando eu cheguei aqui depois desses quinze anos e reencontrei o Lucas ... – antes que eu pudesse prosseguir, minha mãe interveio novamente.
- O que tem o Lucas, Gabriel? Você e o Lucas ... vocês ... nós confiamos em você, Lucas, não foi Heitor?
- Mãe, escuta! Pedi para você não surtar! Eu tenho 25 anos, sei o que quero! E eu quero o Lucas, me apaixonei por ele, quero compartilhar minha vida com ele. – subitamente, me enchi de coragem, caminhei até o Lucas, o abracei e beijei-o carinhosamente na boca, enquanto ele me envolvia em seus braços e retribuía o beijo todo afetuoso.
- O que você vai fazer a respeito disso, Heitor?
- Vou deixar que nosso filho faça suas escolhas e viva a vida como achar melhor! Conheço meu filho, sei quem ele é, e que merece ser feliz à maneira dele. Quanto a você Lucas, quando aceitei a sugestão do seu pai para empregá-lo na fazenda, soube que estava contratando alguém não apenas capaz, mas alguém que sempre me inspirou confiança. Naquela ocasião entreguei minha fazenda nas suas mãos e nunca me arrependi, agora estou lhe entregando o que tenho de mais valioso, o meu filho. – sentenciou meu pai, me fazendo correr até ele e abraçá-lo com os olhos marejados.
- Amo o Gabriel, vou cuidar dele e me empenhar todos os dias pela felicidade dele, juro! – afirmou o Lucas, quando meu pai o abraçou.
- Isso quer dizer que agora temos um genro! – exclamou minha mãe, ainda chocada, mas se rendendo ao inevitável.
- É isso mãe! Você tem um genro! Quem sabe não vire avó nos próximos anos! – exclamei, feliz por tudo acabar melhor do que eu imaginava, e impudico só para deixá-la ainda mais estarrecida.
- Desaforado! Isso é coisa que se diga para uma mãe? – devolveu ela. – Vocês se comportem, estão me entendendo? Não quero sem-vergonhice debaixo do meu teto, entenderam! – olhei para o Lucas e começamos a rir.
- Ainda bem que agora os senhores sabem de tudo, eu já estava me sentindo uma traidora escondendo a cumplicidade desses dois! – afirmou sorrindo a dona Arminda, que se juntou a nós trazendo uma bandeja com café fumegante, numa espécie de comemoração.
- Não me diga que esses moleques andaram aprontando aqui dentro? – questionou minha mãe
- Nada além de umas cuecas esquecidas durante a fuga apressada! – delatou, encarando a mim e ao Lucas.
- Cagueta! – exclamamos eu e o Lucas em uníssono.
- Amo vocês meus garotos, quero que sejam muito felizes, mas tenho minhas responsabilidades nessa casa. – disse ela, tripudiando do nosso embaraço.
Meu pai comprou a ideia do frigorífico de imediato, bem como de outras mudanças que o Lucas e eu estávamos planejando. Acho que no fundo foi o que ele sempre quis, que eu me interessasse pela fazenda e tocasse o negócio adiante, talvez só não esperava que o capataz virasse seu genro nessa empreitada toda.
A inauguração do frigorífico se deu dois anos depois. Toda a cadeia produtiva estava sob nosso controle, um excelente contrato de exportação de carne processada foi fechado um ano mais tarde. Me mudei definitivamente para a fazenda, para junto do meu homem, da minha paixão. Alguns amigos estranharam minha escolha; no entanto, a maioria deles aparecia frequentemente par nos visitar. O Sr. Otacílio e a mãe do Lucas tiveram uma reação semelhante à dos meus pais quando revelamos nosso relacionamento. Um pouco mais reticentes com essas liberdades dos tempos atuais, acabaram aceitando e nos desejando uma vida feliz, que era o que importava, segundo afirmaram.
- No dia em que cheguei aqui e vi o homem mais lindo que já tinha visto vindo na minha direção contra a luz do sol, não imaginei que o teria inteiro e enorme dentro de mim como agora, pulsando forte no meu cuzinho leitado com sua virilidade. Te amo, paixão! – sussurrei quando a transa terminou e o Lucas estava deitado em cima de mim, suado e arfando depois de gozar, os dedos contornando carinhosamente meu rosto.
- Nem eu imaginei que o fedelho empertigado que chegou aqui dando ordens absurdas e mais perdido que cego em tiroteio viesse a ser a criatura mais doce, carinhosa e tesuda que já conheci. E, que viesse a iluminar meus dias com essa felicidade toda. Amo você, seu veadinho gostoso! – ronronou ele, enquanto seu caralhão amolecia devagar entre as minhas preguinhas arreganhadas do meu cuzinho esporrado, com ele encaixado nas minhas pernas abertas.