Escrotices De Um Playboy Racista

Um conto erótico de Gil
Categoria: Heterossexual
Contém 3290 palavras
Data: 14/12/2025 14:09:01

**Rio de Janeiro, Cobertura na Gávea - 15h22 - Janeiro, calor úmido colando a roupa na pele**

Comprei Jurema no quinto mês de gravidez da minha mãe — não literalmente, claro, isso seria ordinário demais, mas foi quando ela começou a cuidar da casa e eu a comecei a observar, a catalogar, a mensurar o potencial erótico daquela forma negra e larga. Eu tinha dezesseis, o paladar ainda mole, e ela vinte, com aquela pele retinta que refletia o lustre do piso de mármore como se fosse espelho de água parada, e já naquela época eu sabia, com a certeza de quem nasceu com chave de ouro na mão, que aquele corpo seria meu playground particular. Hoje, dez anos depois, continuo usando o mesmo truque de mesa de jantar: peço que sirva o espumante enquanto escorro o olhar pelas coxas grossas que o uniforme branco tenta domar, e já sinto meu pau latejar no terno Tom Ford, querendo arrebentar a merda daquela calcinha barata que eu mesmo compro, porque detalhes importam.

A calça dela é sempre um tom mais claro nas nádegas, desbotado de tanto esfregar no tanque, e essa descoloração me fascina porque evidencia o contato constante daquele rabo volumoso com tecido barato. Quando se abaixa, o tecido fica tão tenso que marcam os sulcos da calcinha — algodão, nunca renda, porque renda é para quem tem escolha. Regra da casa: roupa de baixo paga o patrão. Entrego a ela na sacola discreta, dia sim, dia não, e guardo a nota fiscal como quem coleciona ingressos de concertos filarmônicos. Prefiro as de cetim, mas ela reclama que aperta nas coxas. Eu respondo que apertar é exatamente a intenção, que a marca da lingerie no corpo é como marca de propriedade em gado, e ela engole a resposta junto com a humilhação, porque fome de criança não escolhe sabor de insulto.

Jurema sabe o nome de cada uísque da adega, mas chama todos de “drinque”, e esse erro proposital da classe subalterna me excita de forma que literatura erudita nunca conseguiria. Gosto da infantilidade que lhe resta na língua; me faz sentir professor corrigindo prova de aluno lento, deficiente, subdesenvolvido. Quando eu a corrijo, ela sorri de canto — aquele sorriso que diz “estou te dando a aula que você não percebe que está pagando”. Me irrita e me deixa duro simultaneamente, uma ereção bifurcada entre raça e classe. Às vezes, de propósito, peço um “Old Parr” só para ouvir o “Old Pá”. Depois convido para experimentar. Ela recusa, mas fica. A recusa é parte do serviço. O serviço que, mais tarde, inclui abrir as pernas e deixar meu pau branco, circuncidado, rosado na ponta, enfiar até o talo na buceta preta, depilada por minha ordem, porque pelo é coisa de selvagem.

A primeira vez foi numa terça de chuva, quando a mãe viajara para Petrópolis com o amante. O teto da cozinha vazava em filete fino, e Jurema estava no balcão, sozinha, descascando abacaxi. A lâmina escorregou, furou o dedo mindinho. Correu para pia, sangue espesso, quase preto sob a luz fria do LED. Ofereci o kit de primeiros socorros; ela recusou, porque medicina branca é desconfiança de quem nasceu no morro. Então segurei o pulso dela — pele quente, pulso acelerado, cheiro de abacaxi misturado com ferro, aquele cheiro de vida barata e doce. Puxei para mim, bebi o sangue da ponta do dedo. Salgado, metálico, com fundo doce da fruta. Ela não piscou. Disse: “Cuidado, senhor, mancha a camisa”. Eu respondi: “Tudo que eu tenho é fácil de lavar, menos a sua memória”. Aí empurrei ela contra a pia de mármore frio, ergui a saia daquele uniforme branco imaculado, puxei a calcinha de algodão barato pro lado, expondo a buceta carnuda, rosada por dentro apesar da pele retinta, e enfiei dois dedos naquela carne quente e úmida sem dó, sem aviso, sem merda nenhuma de consentimento performático. Ela gemeu baixo, um som abafado, *uhn*, e eu senti a buceta apertando meus dedos como uma luva molhada, quente, viva. O cheiro de abacaxi do dedo sangrando se misturou ao cheiro de buceta excitada, aquele aroma de pão quente, suor e um toque de amônia, e eu fiquei mais duro que diamante ilegal de mina clandestina.

Depois daquilo, instituímos o jogo: eu comando, ela cobra, e o capital flui como esperma em noite de lua cheia. O valor não importa — o que importa é a ritualística, a liturgia do abuso financeiramente consentido. Passou a me procurar no fim do expediente, quando a casa dorme e os mordomos eletrônicos apagam as luzes. Bate no corredor de serviço, traz a conta de luz dobrada no bolso da calça surrada: “Aqui, patrão, vinte por cento fora do contrato”. Eu assino, acrescento cinquenta, e guardo a nota dentro da meia de seda. O dinheiro quente aderente ao tornozelo me lembra que posso comprar até transpiração alheia, até contração vaginal, até gemido fingido que eu exijo que seja real. Pago extra para que goze de verdade, não aquele teatro de puta barata. Quando ela vem, eu sinto a buceta apertando e pulsando no meu pau, uma sincronia de músculos que ela não controla, e isso me faz sentir deus em versão fiscal. *Uhn, uhn, uhn* — cada gemido dela é um troféu colhido no campo de batalha da cama king size.

Gosto de ouvir seus passos descalços no corredor de madeira de jacarandá. O assoalho range na batida exata do terceiro e do sétimo degrau — ela aprendeu a desviar, mas às vezes erra de propósito, para que eu saiba que está chegando, para que eu ouça a marcha funebre da minha própria humanidade. Quando entra, fecha a porta com o quadril, sem olhar para trás, um gesto de desdém tão refinado quanto qualquer etiqueta de Versailles. O movimento faz a saia rodar, mostrando a curva interna da coxa, onde a pele é mais clara, quase açafrão, onde o sangue parece mais vermelho, vivo, onde eu encho de rojão depois de rojão de porra branca, densa, viscosa, quando gozo dentro dela sem pena. Prefiro a cama desfeita, porque ordem é para gente que não transa com empregada. Ordeno que deixe os lençóis amassados, para que eu possa sentir o peso do dia dela: a torcida do pano suado, o cheiro de querosene do fogareiro, a areia trazida no solado da chinelinha Havaianas de R$ 12,90. Deito de costas, braços abertos, rei em colina de lixo moral. Ela sobe, ajoelha-se ao meu lado, espera. O olhar dela é lâmina dupla: submisso e acusatório, e essa dicotomia me faz gozar mais rápido que qualquer Viagra.

Sabe, nunca peço beijo. Beijo é coisa de namoradinha, e namoradinha tem direito a ciúmes, a carinho, a futuro, a nome no Instagram com coração. Jurema recebe ordem, não promessa. Quando me aproximo do rosto, ela vira o queixo, oferece o pescoço, a carótida pulsando sob a pele fina. Lá o sangue bate forte, quase ouço o *thump-thump* de vida que eu compro por hora. Mordo, deixo marca arredondada, roxa, com dentes marcando arco perfeito. Depois, no espelho, vejo o hematoma em forma de lua — brinco de prostituta de luxo, penso, e a ironia me faz rir enquanto eu gozo no rosto dela, deixando a porra escorrer pela bochecha, grudar na pele, secar ali mesmo, uma máscara de esperma e humilhação. Ela não limpa até eu mandar, e esse controle absoluto é melhor que qualquer orgasmo. O cheiro de esperma se mistura ao cheiro de creme de cabelo barato, e eu fico olhando, satisfeito, enquanto ela fica de joelhos, olhando pro nada, esperando a próxima ordem como status de servidor aguardando comando.

Certa vez, trouxe um amigo do clube, aquele filho de desembargador com QI de ameba. Queria mostrar o serviço doméstico “em ação”, como quem apresenta cão de caça. Servimo-nos de uísque de R$ 8.000 a garrafa enquanto ela limpava a piscina de roupa molhada, a blusa branca colando nos seios grandes, duros, mamilos marcando como balas sob o tecido. O amigo, embriagado e burro como uma porta, perguntou quanto pagava. Respondi: “O suficiente para ela fingir que gosta, mas pouco demais pra ela jamais esquecer quem manda”. Rimos, uma risada de colégio de ricos, diante dela, sobre ela, dentro dela. Ela não levantou os olhos, mas esfregou a vassoura com tanta força que o cabo de madeira estalou, um *crack* seco que ecoou como tiro no silêncio da classe alta. No dia seguinte, encontrei o pedaço quebrado no lixo, junto com um pedaço de pele dela — arranhara até sangrar para mostrar que, mesmo rachada, era inteira por dentro, e que eu não tinha comprado metade dela, só o aluguel do corpo. E para provar que eu ainda tinha controle absoluto, naquela noite enfiei meu pau no cu dela sem aviso, sem lubrificante além da própria saliva que cuspi no olho daquela roscta preta e apertada. Ela soltou um gemido agudo, *aahn*, e se encolheu, mas não disse não, porque não era opção. O cu apertava como punho quente e úmido, e eu sentia cada prega, cada músculo se contraindo tentando expulsar o intruso branco. Parei no meio, gozei lá dentro, sentindo o jato quente encher aquela carne negra, e eu soube que tinha marcado território com esperma, método clássico de colonização desde 1500.

***

Gosto de filmar. Uso o celular novo, 4K, estabilização ótica, lente que captura até o suor que escorre da axila depilada sob minha ordem. Guardo os arquivos numa pasta chamada “Serviços Extra”, dentro de outra chamada “Administração”, criptografadas, claro, porque paranoia de rico é só cautela de quem tem o que perder. Quando viajo, revejo nos hotéis de Paris, de Zurique, no lounge executivo enquanto espero a puta de luxo suíça que cobra em euros o que Jurema cobra em reais. Os seguranças dos lounges não sabem que o sujeito de terno Tom Ford, com relógio Patek Philippe no pulso, masturba-se vendo empregada negra limpar chão de mármore enquanto engole pau branco. Acho graça: exporto cultura brasileira, a verdadeira, não essa merda de samba e futebol. E nos vídeos, dá para ver tudo: a boca dela abrindo, a língua roxa e úmida, os beiços carnudos envolvendo meu pau rosado e branco, a garganta trabalhando quando engola, o reflexo da luz no suor da testa dela enquanto eu empurro fundo até o talo, até as bolas baterem no queixo dela. *Slurp, slurp, gag, uuurp* — o som é música sinfônica de dominação, e eu aumento o volume no fone de ouvido de noise cancelling para não ouvir minha própria consciência.

Tem noites que ela chega mais tarde, vinda da faculdade noturna de enfermagem, cheirando a formol e esperança barata. Traje de estudante: calça jeans surrada, blusa de time patrocinado por construtora de loteamentos. O cabelo solto, black power pequeno, cheirando a creme de karité daquela marca que vende no sacolão. Então o ritual muda. Peço que mantenha o uniforme da faculdade, para eu lembrar que inteligência também se aluga, que diploma é só outra forma de propriedade intelectual que eu posso terceirizar. Deito na cama, ela senta na beirada, abre o caderno de anatomia, fala de ventrículos e aurículas. Recito com ela: “O coração tem quatro cavidades”. Dou tapa na nádega: “Aqui, só duas — esquerda e direita, e eu encho as duas de porra quando quiser”. Ela ri, mas é riso de quem está contando os segundos até o fim do turno, até o fim do curso, até o fim de mim. E quando eu empurro ela de bruços, boto a cara no caderno, e enfio meu pau na buceta dela de trás, eu sinto o coração dela batendo contra a lâmina do meu peito, *thump-thump, thump-thump* — rápido, acelerado, medo ou tesão, quem sabe, quem se importa, o importante é que eu sinto e isso me faz gozar mais forte.

Pago extra para que use o meu banheiro, não o de serviço. Gosto de ouvir o jato forte dela caindo na água sanitária, o cheiro de amônia misturado ao meu sabonete importado de argila da França. Depois, entro sem bater, sem anunciar. Ela se limpa com as minhas toalhas brancas, deixa mancha amarelada, e eu nunca reclamo. Marcas são mapas, e mapas mostram território conquistado. Uma vez, ela menstruou, e eu forcei que continuasse o serviço, porque sangue é só mais um fluido, e o cheiro de ferro pesado misturado ao cheiro de buceta e ao meu perfume Tom Ford criou uma sinfonia olfativa que eu nunca mais esqueci. Enfiei o pau no meio daquele sangue escuro, viscoso, e senti a lubrificação quente, escorrendo pelas coxas dela, manchando os milhares do meu colchão. *Squish, squish* — o som era de pé andando na lama, mas era só meu pau fodendo buceta sangrando. Ela chorou silenciosamente, e eu gozei no meio do choro, porque lágrimas de preta são tempero exótico.

Certa manhã, minha mãe surpreendeu-nos. Entrou no corredor, viu Jurema saindo do meu quarto, uniforme amassado, olhar baixo, boca vermelha e inchada. A velha suspirou: “Menina, não deixe o patrão esperar pelo café”. Virou as costas, porque cafona é discutir compensação sexual com empregada. Compreendi então que o privilégio é hereditário: minha mãe já vendera a própria dignidade ao meu pai, agora vendia a dela por procuração, e eu era o beneficiário final dessa cadeia de exploração familiar. Naquela noite, para celebrar a tradição, enfiei o pau na garganta dela até ela vomitar um pouco, aquele vômito misto de café da manhã e esperma, e eu mandei que limpasse com a língua, porque desperdício é coisa de pobre.

Durante o carnaval, aluguei um apartamento na Barra, aquele prédio todo de vidro onde se vê a favela do outro lado da lagoa, para lembrar quem manda. Levei Jurema. Disse que era “vale-presente por bom desempenho”. No elevador, um vizinho branco, de barba de hipster e roupa de influencer, me cumprimentou, perguntou se ela era “a nova baby-sitter”. Respondi: “Sim, mas só de noite, e de dia também se precisar”. Rimos diante dela, rima de colonizador. Ela fitou o espelho do elevador, viu três pessoas — duas rindo, uma sumindo, e eu vi nos olhos dela que ainda havia resistência, e resistência precisa ser quebrada. Naquela noite, transei com ela na varanda, de frente para a favela acesa, e gritei para os morros que eu estava comendo a negra mais gostosa da zona sul, e gozei gritando que era patrão, que era branco, que era deus no Rio de Janeiro. *Aah, aahn, fuck!* — o som saiu gutural, e ela ficou quieta, olhando as luzes pobres enquanto minha porra escorria pela perna dela no chão frio do terraço.

Uma vez, tentei fazer ela falar mal dos outros empregados, a empregada que limpa a casa do meu pai, o porteiro que é negro também mas pobre demais para ser relevante. Queria inveja, fofoca, divisão, porque dividir é o primeiro passo para conquistar. Ela se recusou: “Senhor, panela depressa quebra”. Frase pronta, sábia, ancestral. Fiquei duro com a metáfora, porque imagens de panela quebrando me fazem pensar em buceta sendo arrombada. Gravamos ali mesmo, na cozinha, com o cheiro de feijão queimado grudado no forro da boca, eu sentado na pia, ela de joelhos, e eu enfiei o pau na boca dela enquanto ela olhava para a panela de pressão no fogão, simbolismo que nem eu poderia inventar. *Gag, uuurp, slurp* — ela engasgou, cuspiu um pouco de saliva misturada com esperma, e eu ri, porque arte imita vida e vida imita putaria.

Perguntei se tinha namorado, porque ciúmes de proprietário é doença que eu cultivo como orquídea rara. Respondeu: “Tenho conta a pagar, senhor”. Era a verdade mais honesta que já ouvi dentro daquela casa cheia de mentiras sociais. O resto — minhas promessas, minhas juras de que um dia vou casar com ela, meus perdões depois de cada violência — era moeda falsa, nota de três reais. E eu sabia, e ela sabia, e isso tornava tudo mais delicioso, porque sexo baseado em mentira compartilhada é mais honesto que amor de novela das oito. Naquela noite, para celebrar a sinceridade, gozei na boca dela e fechei com fita adesiva, mandando que engolisse tudo antes de poder respirar. O *gulp* dela foi tão alto que gravei e coloquei como toque do meu celular.

Gosto de inventar regras novas: hoje, não pode falar; amanhã, não pode gemer; depois, deve repetir meu nome em cada estocada, e se errar a pronúncia, leva tapa. Ela obedece, mas os olhos… os olhos ficam maiores, pretos, fundos como poços de petróleo onde eu mergulho e nunca encontro o fundo, porque não há fundo em olho de quem já foi ao fundo do poço e voltou. Às vezes tenho medo de cair e nunca bater o fundo, mas aí lembro que eu sou o fundo, eu sou o poço, eu sou o deus que criou a escuridão. Na última regra, mandei que olhasse para mim o tempo todo, sem piscar, enquanto eu a fodia de quatro. Ela fez, e nos olhos dela eu vi meu próprio reflexo, e no reflexo eu vi um monstro, e no monstro eu vi poder, e no poder eu gozei tão forte que a porra saiu em jato e atingiu o espelho atrás dela, deixando uma mancha branca que secou e nunca limpei, memorial de ecocardiograma de pau.

Certa noite, bebi demais, chorei, porque até sociopata tem crise existencial quando a cocaína acaba. Disse que era só “stress de mercado”. Ela me limpou, como quem retira vômito de criança mimada, com toalha úmida e olhar de enfermeira treinada para ver corpo como objeto em decomposição. Perguntei por que não ria de mim, porque até escroto quer ser amado. Respondeu: “Porque senhor paga pra eu não rir, senhor paga pra eu engolir, senhor paga pra eu fingir que isso aqui é normal”. A frase era tão exata que parecia faca afiada no pâncreas. Sangrei por dentro, mas continuei a contratar a lâmina, porque dor é lembrança de que eu ainda sinto, e sentir é melhor que o vazio dos outros homens ricos que só sentem medo.

Certo dia, sumiu. Apenas. Uniforme pendurado, chinelos alinhados, caderno de anatomia fechado, nenhum bilhete de despedida, nenhum pedido de indenização. Procurei, liguei, ofereci aumento de 200%. Nada. A casa inteira cheirava a ausência — cheiro de água parada, de cortina fechada, de mim mesmo, de porra seca no lençol que não muda há dias. Percebi então que o poder tem limite: pode comprar corpo, pode comprar gozo, pode comprar silêncio, mas não o vazio que deixa ao sair, não a porta batendo sem olhar para trás, não a dignidade que você acha que enterrou mas que ela levou embora no bolso da calça jeans surrada. Hoje, quando alguém pergunta por que moro sozinho em cobertura de três mil metros, respondo: “Prefiro quietude para meditar sobre mercado”. A verdade é que ainda escuto passos descalços no terceiro e no sétimo degrau, ainda sinto o cheiro de creme de karité no travesseiro de seda, ainda pago a conta de luz, só pra manter a luz da cozinha acesa — caso ela volte, caso precise ver o sangue que insisto em não limpar do chão, caso queira ver que o patrão virou presidiário da própria casa.

E, sim, contratei outra. Morena, também, mas mais clara, com ancestralidade miscigenada que me dá desconto de racismo. Mas pedi que usasse o mesmo uniforme, que quebrasse o mesmo passo, que deixasse a mesma mancha de desinfetante na toalha. Quando a nova falha em gemer na frequência exata, eu fecho os olhos e imagino que é Jurema — a única que nunca foi minha, mesmo eu pagando, mesmo eu filmando, mesmo eu gozando. Porque ela soube o que ninguém jamais me disse: que dinheiro compra tudo, menos a coisa que você menos preza, que é a si mesmo. E agora eu tenho tudo, menos eu, e isso é o bastante.

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