Eu tentava estabelecer uma conexão com Elisa do meu jeito. Até aquele dia, eu não sentia nenhuma atração por ela — ou pelo menos era o que eu acreditava. Se eu não a tivesse visto naquela tarde, se não tivesse visto a boca dela trabalhando em outro rapaz, talvez tudo continuasse igual. Mas não continuou.
Agora, Elisa dominava meus pensamentos. Mandava mensagens de bom dia, tentava puxar assunto, e ela sequer respondia.
Elisa era uma mulher. Eu estava acostumado a lidar com garotas. Joguinhos emocionais não funcionavam com ela; papinho furado, muito menos. Sempre confiei na minha inteligência, mas Elisa me desmontava. O gosto da boca dela, a forma como a língua dela se misturara à minha… eu precisava daquele beijo outra vez. Precisava daquela mulher.
Lilian já não despertava mais meu interesse. Entrava no Instagram de Elisa uma vez por dia, observava foto por foto, detalhe por detalhe, tentando encontrar uma brecha, uma maneira de me aproximar. Nada do que ela postava revelava a Elisa que eu conhecera na cachoeira, aquela que se entregava sem pudor, distante da imagem pública que construía.
Eu tinha curiosidade — quase necessidade — de conhecer essa Elisa que nunca aparecia para os outros: a que me beijara no clube, a que se embriagara na festa de aniversário da filha, a que me enviara fotos nua, confiante, provocadora.
O bingo beneficente seria minha oportunidade de vê-la de novo. Pelos stories, eu sabia que todos os meus amigos estariam lá. Sentamo-nos à frente do palco, e Elisa estava ali, junto das outras organizadoras — as fofoqueiras da cidade. Todas bonitas, mas nenhuma se comparava a ela.
Vestia um vestido vermelho, colares de prata, salto alto combinando, batom no mesmo tom intenso que destacava os lábios. A maquiagem era discreta, precisa. Ainda assim, o que capturou meu olhar foram seus pés sob a mesa, apertados dentro do salto, levemente suados. Ela cruzava as pernas, e meus olhos a acompanhavam sem disfarce.
A experiência de Elisa me fascinava. Ela parecia perceber tudo no ar. Quando notou meu olhar insistente, deslizou o pé lentamente pela perna, num gesto simples, quase invisível para qualquer outro. Mas não para mim. Ela sabia exatamente o efeito que causava.
Logo depois, tirou os saltos de vez, com cuidado. As unhas estavam pintadas de um vermelho escuro, quase vinho, combinando com o vestido e o batom. O esmalte brilhava sob a luz fraca do salão, perfeito, sem falhas. Os dedos longos e bem cuidados, a pele clara levemente bronzeada, o arco do pé elegante. Um brilho sutil de suor na planta denunciava o calor preso ali dentro — e aquilo me deixou ainda mais perturbado.
Ela percebeu que eu não desviava o olhar.
Meu celular vibrou no bolso. Peguei-o discretamente. Era uma mensagem dela. Apenas uma frase:
“Eu gosto da maneira como você me olha.”
Levantei os olhos. Elisa me encarou do outro lado do salão por um segundo, com um sorriso mínimo — imperceptível para qualquer um que não estivesse tão atento quanto eu. Em seguida, voltou a conversar com as amigas, como se nada tivesse acontecido.
Mas tinha acontecido.
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