Ela ficou alguns segundos em silêncio, ainda deitada, respirando fundo, até virar o rosto pra mim. O sorriso provocativo já não estava ali. No lugar, tinha aquele olhar calmo que ela só usa quando quer falar de verdade.
— Agora, falando sério — ela repetiu, apoiando o cotovelo na cama. — A gente precisa separar bem as coisas.
— Concordo — respondi. — Uma coisa é brincar. Outra é atravessar um ponto que a gente não combinou.
Ela assentiu devagar.
— Eu sei que eu fui longe hoje. Fiz porque vi que você tava confortável… e porque eu também fiquei curiosa com o que senti. Mas curiosidade não pode virar decisão no impulso.
— Nem fetiche pode virar roteiro automático — completei.
Ela sorriu de leve.
— Exato. Seu fetiche sempre foi algo que a gente conversa, imagina, provoca… mas nunca foi algo que atropassou a nossa base. E isso é o que mais importa pra mim.
— Pra mim também — falei. — Eu gosto da fantasia, da ideia, do jogo mental. Mas eu não quero que isso vire algo que te coloque numa situação que você não quer só pra me agradar.
Ela se aproximou um pouco mais.
— Isso é importante você falar — disse. — Porque eu não quero fazer nada por obrigação. Se um dia algo sair do campo da imaginação, tem que ser porque nós dois queremos, do mesmo jeito, no mesmo ritmo.
— E com regras claras — acrescentei.
— Muitas — ela respondeu, rindo baixo. — Tipo: nada decidido com bebida, nada combinado com terceiros sem conversa antes, nada que coloque nossa relação em risco.
— E nada que comece como “brincadeira” e vire algo sério sem a gente perceber — falei.
Ela respirou fundo.
— O que aconteceu hoje… — disse. — Abriu uma porta. Não significa que a gente tenha que atravessar agora. Talvez nem atravesse. Mas agora a gente sabe que essa porta existe.
— E saber disso já muda tudo — respondi.
Ela segurou minha mão.
— O que eu quero, de verdade, é continuar te contando tudo. Continuar provocando, brincando, conversando… mas sempre com você sabendo exatamente onde eu tô pisando.
— E eu quero continuar ouvindo — falei. — Mas também sabendo que, se em algum momento eu sentir que passou do ponto, eu posso falar sem medo.
Ela sorriu, tranquila.
— Então a regra principal continua a mesma de sempre: conversa antes, conversa durante e conversa depois.
— Sim, claro! Mas deixa eu te perguntar... e o Lucas?
— O que tem ele?
— Você sabe... ele tem uma certa quedinha por você. Respeitosa, pelo o que senti, mas uma quedinha.
— Você acha? Aparentemente ele e a Camila ficaram hoje, achei que talvez rolasse algo mais entre eles.
— Sério amor? Até a Camila falou, tipo... ele dá uma corda pra Camila pelo fato dela puxar muito e correr muito atrás, mas com você é diferente. Ele parece que tem um desejo natural por você. Claro, ele sabe onde pisar e não está passando nenhum limite.
— Tá, e o que você está pensando em fazer com isso? Quero que as decisões partam de você para te dar maior segurança e controle. Hoje foi legal, foi divertido, mas isso não vale um possivel estresse no nosso relacionamento.
— Então... Hoje ele comentou o quanto é pesado ser amigos de pessoas que namoram, sobre não ser desrespeitoso e tal. Estava pensando, em algum momento, comentar com ele sobre essa liberdade que temos pra ver se ele se solta mais com a gente. O que acha? Não para fazer alguma coisa de cara, mas para deixá-lo mais livre.
—Ai que vergonha hahahaha — Riu Fernanda. —Pode ser, mas conversa de maneira delicada para ele não nos achar uns pervertidos.
— Tá bom hahahaha. Pode deixar, farei o meu melhor, mas não garanto nada.
O dia seguinte foi normal demais para o que ainda ecoava na minha cabeça. Trabalho, reuniões, código, café. Fernanda saiu cedo, me deu um beijo rápido e desejou boa aula como se nada tivesse sido dito na noite anterior. Mas tinha sido dito. E bem dito.
No começo da noite, o celular vibrou.
Lucas:
“CS hoje? Só nós dois, se você animar.”
Fiquei alguns segundos olhando a mensagem antes de responder.
Eu:
“Bora. Daqui a pouco entro.”
Entrei no Discord poucos minutos depois. O som característico do jogo abriu espaço para aquela conversa que começa despretensiosa.
— Fala, cara — Lucas disse. — Pronto pra passar raiva?
— Sempre — respondi. — Já é parte do ritual.
Jogamos as primeiras partidas falando só do jogo. Call errado, erro besta, risada quando um clutch dava certo. Aos poucos, o tom foi mudando. Não de forma brusca, mas natural.
— Posso te falar uma coisa meio aleatória? — ele perguntou, depois de uma rodada.
— Manda.
— Às vezes é estranho estar perto de casal — ele disse. — Principalmente quando você gosta das pessoas, mas fica com medo de parecer invasivo.
Continuei jogando, mas prestei atenção de verdade agora.
— Imagino — falei. — Dá aquela sensação de estar sempre pisando em ovos.
— Exatamente — ele respondeu. — Ainda mais quando tem gente como a Camila, que puxa tudo pro limite.
— Ela gosta de testar — comentei. — Nem sempre por mal, mas porque se sente confortável assim.
Lucas riu.
— É… comigo ela puxa indicações demais. Eu seguro porque não quero faltar com respeito.
— Faz sentido — respondi. — Mas deixa eu te falar uma coisa, na boa.
— Fala.
— Aqui em casa, a gente conversa muito sobre isso. Sobre liberdade, limites, esse tipo de coisa. Às vezes parece mais engessado do que realmente é.
Houve um pequeno silêncio no Discord. Não desconfortável, mas atento.
— Como assim? — ele perguntou.
— Quero dizer que nem todo casal vive na base do ciúme ou da posse — falei com cuidado. — Às vezes elogio não é falta de respeito. Às vezes é só… conversa.
— Entendi — ele respondeu. — Mas não é todo mundo que vê assim.
— Concordo — falei. — Por isso que só funciona quando é conversado. Quando todo mundo sabe onde está pisando.
Lucas ficou quieto por alguns segundos.
— Interessante você falar isso — ele disse por fim. — Dá até uma sensação de… alívio.
— É esse o ponto — respondi. — Não é convite pra nada. É só deixar o ambiente mais leve.
— Faz diferença — ele admitiu. — Porque às vezes eu me seguro demais, com medo de parecer outra coisa.
— Segurança vem de clareza — falei. — Não de silêncio.
Ele riu baixo.
— Você fala isso com muita tranquilidade.
— Porque eu confio na minha relação — respondi. — E porque sei que conversa não cria problema. O que cria problema é suposição.
Mais uma rodada começou. Jogamos melhor agora. Mais soltos.
— Enfim — Lucas disse. — Valeu por falar isso. De verdade.
— Tamo junto — respondi. — E relaxa. Ninguém aqui tá esperando nada de ninguém, mas sinta-se à vontade pra fazer o que tem vontade de fazer perto da gente, sem pressão.
— Fico feliz! — ele riu. — Posso perguntar uma coisa?
— Claro, manda ai!
— Bom, vou usar da liberdade que você está me dando! Hahahha. Você ficou com ciúmes quando a Fernanda tirou a blusa no jogo? Poderia perguntar a mesma coisa para o Rafael, mas acho que não tem o mesmo impacto, uma vez que a namorada dele não foi o foco.
— Então você está dizendo que focou na minha namorada? — Falei provocando
— Não cara, não é isso, é que... ó, tu ta de sacanagem comigo hahahaha, já ia me explicar novamente.
Rimos da situação.
— Não, me senti tranquilo, até gostei um pouco hahaha.
— Gostou? Como assim?
— Talvez seja o álcool? Mas leu esse lado exibicionista. Tipo transar na praia, sabe?
— Não sei, nunca transei na praia e nem namorei hahahaha, mas acho que entendo. Po, mas muito legal essa sua mentalidade.
o Silencio durou pouco segundos, sentia que ele tinha mais coisa pra perguntar.
— Mas tipo, onde está seu limite do ciúme?
— Como assim?
— O que pra você pode e o que não pode?
— Ahhh, acho que tudo respeitoso pode, mas me dê exemplos reais ai, não entendi bem.
— Tipo, abraçar a Fernanda pode?
— Você está curioso ou pedindo permissão hahaha?
— Paraaaa, só querendo entender hahahaha.
— Pode, abraçar é de boa né?
— Elogiar?
— Tipo o que você fez ontem? Pode né hahahaha.
— Porra, as vezes vocês me lembram muito a Camila, gostam de provocar... E beijo na bochecha?
— Pode, mas pra onde isso está levando? To entendendo seu jogo. — Ri dele ficando sem graça.
— Não é isso, é apenas pra poder agir com mais naturalidade como agiria com uma amiga qualquer. E pra ser sincero... a Fernanda ela é amigável, receptiva.
— O que você quer dizer com isso?
— Tipo, é uma pessoa que você se sente bem ao lado dela. Então antes de conhecer você o Rafael, tinha medo de estar conversando com as meninas na saída da faculdade e vocês não gostarem de mim e tal... já me aconteceu com outras pessoas hahaha.
— Não cara, relaxa, você está sendo super respeitoso com a gente, fica bem tranquilo. Somos super mente aberta pra essas coisas. — Refleti um pouco e falei. — Ó, vamos fazer um combinado aqui.
— Lá vem... tenho medo, falei que parece a Camila.
— Não po, é pra te deixar tranquilo. Seguinte... pode tratar a Fernanda como se fosse uma amiga solteira sua, você é um cara respeitoso até com as amigas solteiras, vi como você trata a Camila, então de boa. Não se preocupa comigo.
— Tá... Tá... entendi, mas você vai me cortar qualquer coisa?
— Sim, claro. Podemos conversar a qualquer momento.
— Então beleza, vou mandar mensagem pra Fernanda chamando ela pra um Data. — Disse ele zombando da minha cara.
— Calma jovem gafanhoto hahahaha, mas tá bom, já te zoei muito hoje, vou deixar você dar o troco.
— Obrigado! Hahahaha
Quando desligamos, fiquei alguns segundos olhando a tela preta. Não tinha acontecido nada demais. E, ao mesmo tempo, muita coisa tinha mudado.
Fernanda apareceu na porta do quarto.
— Jogou? — ela perguntou.
— Joguei.
— E aí?
Sorri.
— A conversa foi boa. Bem no tom que combinamos.
Ela respirou aliviada.
— Ótimo.
— Nada saiu do controle — completei. — Mas agora ele sabe que o ambiente é… menos rígido do que parece.
Ela se aproximou e me abraçou.
— Então fizemos certo.
— Fizemos — concordei.
Alguns dias depois
Ela chegou em casa no fim da tarde, largou a bolsa na cadeira e veio direto me contar, como sempre fazia. Nada no tom indicava “algo grande”. Justamente por isso chamou atenção.
— Hoje o Lucas elogiou minha roupa — ela disse, quase casual.
— Elogiou como? — perguntei, sem tirar os olhos dela.
— Normal — respondeu. — A gente estava saindo da aula e ele falou que aquele vestido combinava comigo. Disse que eu ficava diferente com ele.
— Diferente como?
Ela deu de ombros.
— Não explicou. Só sorriu e disse “fica bonito em você”.
— E você achou estranho? — perguntei.
— Não… — ela pensou um pouco. — Achei natural. Foi respeitoso, mas senti que ele está ficando um pouco mais aberto.
Outro dia
Eu estava no quarto quando ouvi a voz dela vindo da sala. Fernanda estava mandando um áudio no celular, rindo de alguma coisa.
— Para, Lucas… — ela disse no áudio, ainda rindo. — Você fala como se eu fosse sempre a responsável por organizar tudo.
Uma pausa curta. A resposta veio em áudio também, no viva-voz, sem que ela percebesse que eu estava ouvindo.
— Ué, mas você é — a voz dele soou tranquila. — Você tem esse jeito de deixar tudo no lugar… até as pessoas.
Ela riu de novo.
— Olha o exagero.
— Não é exagero — ele respondeu. — É que você tem esse jeitão assertivo e confiante.
Ela encerrou o áudio e me olhou, percebendo que eu estava ali.
— Nada demais — disse rápido, quase automática.
— Eu sei — respondi. — Mas foi um pouco mais… direto.
Ela sorriu de leve.
— Foi.
Não tinha defesa. Nem justificativa. Só constatação.
No fim da semana
Foi um trabalho em grupo fora da faculdade. Nada que já não tivesse acontecido antes. Quando ela chegou em casa, deixou o celular em cima da mesa e foi tomar banho. A tela acendeu com uma notificação, e a foto apareceu por alguns segundos.
Era uma foto do grupo.
Lívia e Rafael lado a lado, como sempre. Camila fazendo alguma pose exagerada. E Fernanda, um pouco à frente. Lucas estava ao lado dela, a mão apoiada de forma leve na cintura, como quem puxa alguém para mais perto na hora da foto.
Quando ela voltou do banho, eu ainda estava sentado ali.
— Tiraram foto hoje? — perguntei.
Ela parou por um segundo.
— Tiraram… — respondeu. — Você viu?
— Vi.
Ela se aproximou e pegou o celular.
— Foi rápido — explicou. — Camila que mandou juntar todo mundo. Ele só… colocou a mão ali pra foto.
— Você se incomodou?
Ela pensou antes de responder.
— Não. Pra ser sincera…Gostei um pouco, abraços e coisas do tipo, já rolaram, mas mão na cintura, primeira vez.
Sentou ao meu lado.
— Eu tô percebendo as coisas mudarem — disse. — Não de forma errada. Só… diferente. Mais próxima. Mais confortável. Mais excitante.
— E isso te deixa como? — perguntei.
Ela respirou fundo.
— Empolgada. — respondeu.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
— Então estamos no ritmo certo — falei. — Estou gostando muito de tudo isso, mas quero que você se sinta confortável.
Ela encostou a cabeça no meu ombro.
— Estou.
E ali, sem nenhuma decisão tomada, sem nenhuma linha cruzada, ficou claro que algo estava se deslocando devagar. Não como um choque, mas como uma aproximação contínua. Silenciosa. Consciente.
E isso, mais do que qualquer ato, era o que realmente mudava tudo.
Os jogos universitários surgiram quase como uma consequência natural da rotina nova da faculdade. Atlética empolgada, grupo animado, aquela mistura de competição, festa e convivência intensa que sempre acompanha esse tipo de evento. Era em uma cidade pequena do interior, nada turístico, nada cinco estrelas. O foco eram os jogos. Só isso.
Quando começaram a organizar a hospedagem, veio a primeira surpresa. A pousada era simples, quartos todos iguais: uma cama de casal e uma de solteiro, mesmo valor para todos, sem café da manhã. Não fazia sentido financeiro pegar quartos separados para cada dupla.
— Então a gente precisa fechar trio — Camila decretou, olhando o celular com as opções abertas. — Senão fica caro pra todo mundo.
— Dois quartos resolvem — Rafael disse. — Três pessoas em cada.
— Mas aí tem que ver quem fica com quem — Lívia completou.
A conversa começou prática, mas não ficou só nisso.
— Eu fico com a Lívia, óbvio — Rafael falou.
— E eu com o Matheus. — Disse Fernanda. — Tem que ver como vão ficar os dois solteiros do grupo hahaha.
— Eu fico com vocês então. — Prontamente respondeu Lucas. — Seguido de Camila.
— Uhmmm tá com interesse em algo Lucas? Querendo um remember daquela noite de verdade ou consequência?
— Ahh, por que não? O que é bom é pra ser visto hahaha. — Disse Lucas, agora mais seguro, sem cair na pilha, sem ter medo. As coisas realmente estavam diferentes.
— Ihh vai ver só algo só se eu me descuidar, só meu homem pode me ver. — Afirmou Fernanda.
— Então existe uma chance? — Depois da frase de Lucas, ficou aquele clima bem quinta série, onde todos ficaram colocando pilha como se tivesse sido um fora.
Todos riram.
— Então está decidido, Lucas com vocês e Camila com a gente, mas se comporta Camila, não sou tão boazinha que nem a Fernanda não. — Disse Lívia.
Mais tarde, já em casa, Fernanda trouxe o assunto de volta com outro tom. Não o tom logístico. O tom real.
— Você ficou confortável com a divisão? — ela perguntou, sentando ao meu lado.
— Fiquei — respondi. — Mas quero saber se você ficou.
Ela pensou antes de responder.
— Fiquei. Justamente pelo clima, estou sentindo o Lucas muito mais abusado.
— Acho que deve ser o acordo que fiz com ele, dele te tratar como se fosse uma amiga solteira dele, sem se importar comigo.
— Ih, teve isso? Isso explica muita coisa. Mas até onde vai a “solteirisse”?
— hahaha, ele me perguntou a mesma coisa, se poderia abraçar, te beijar na bochecha, te elogiar.
— E você?
— E eu o que?
— O que você respondeu?
— Bom… eu deixei né hahaha, acho que essa é a ideia.
— Entendi… então não me importo também, e… vale pros dois lados? Posso tratar ele como se eu fosse uma amiga solteira?
— Fique à vontade, você que manda.
— Então vamos ver o que vai rolar nessa viagem, né?
Em alguns dias, fomos até o ponto de encontro, o ônibus contratado já estava lá junto com outros alunos. Peguei nossas malas e coloquei no ônibus, mas quando olhei, Fernanda estava conversando com um pessoal e não quis interferir.
Entrei e escolhi um lugar pra gente, Lucas veio logo atrás e sentou na diagonal atrás da gente, ou seja, olhando pra trás dava para vê-lo. Eu na janela e ele também.
Poucos minutos vieram a Camila na frente e Fernanda atrás. Só que para minha surpresa, Camila sentou ao meu lado.
— Você me empresta seu namorado dois minutos? — Perguntou Camila.
— Tá bom, mas cuidado hein, estou de olho. Vou sentar aqui com o Lucas.
Depois de alguns segundos em silêncio, quando Fernanda se acomodou com Lucas, e ele parece ter ficado feliz com a surpresa, Camila diz:
— De nada.
— Como assim, do que você está falando?
— ahh olha pra eles dois, olha a troca de sorrisos.
— Como assim Camila?
— Você sabe do que eu to falando, eu sei que tem algo rolando aqui, a Fernanda não me confirmou nada, mas também não negou, mas é visível o quanto não só você não se incomoda com o entrosamento da Fernanda e do Lucas, como você gosta.
— De onde você tirou isso?
— Você entregou de bandeja quando eu estava com as mãos nos peitos da sua amada e você encarando o Lucas babar nela com um sorrisinho de canto de boca.
— Tá… e aí? Onde você quer chegar com isso?
— Quero que você assuma, assuma que gostaria de ver a Fernanda com o Lucas, que se for o caso, eu consigo ajudar.
— Ajudar como?
— Posso dar uma assistência de vez em quando.
— Que tipo de assistência?
— Tipo essa agora, olha lá…
Quando olho pra trás, Lucas e Fernanda estão dividindo o fone, com Fernanda com a cabeça nos ombros dele, enquanto ele está com a mão repousada no joelho dela.
— Viu? É disso que eu to falando.
— Tá bom, pode fazer sua mágica, mas não ultrapasse limites.
— Eu vou abrir os limites pra vocês, tipo… e se eu continuar aqui e deixar a Fernanda lá, até ela pedir pra voltar?
— É, podemos testar. — Falei ainda meio tímido com a ideia da Camila estar me ajudando.
Então o tempo passa, eu cochilo, Camila também, mas quando olho pra Fernanda, ela estava deitada no colo de Lucas, aparentemente os dois dormindo, mas a mão dele estava sobre a barriga dela, abaixo dos peitos. Não sei se foi proposital ou não, mas estava lá.
Até que chegamos, ainda continuo olhando para Fernanda, ela levanta, mas não parece “acordar”, olha pra mim e pisca, com a cara mais sínica do mundo… Ela tinha um plano e o fez.