Ao longo dos anos novas pessoas vão entrando e saindo de nossas vidas, mas ela fica, nossa melhor amiga. Os segredos, os desabafos, a cumplicidade... Mas e quando essa amizade se transforma em amor? Joana já passou por isso...
Joana tem uma melhor amiga, Amanda, que embora saiba que ela é homossexual, "não quer desconfiar" de suas reais intenções...
Um certo dia, Amanda dá um forte abraço em Joana. Esta se assusta, por ter, em poucos segundos, o alvo de sua paixão tão próxima... e num misto de medo e prazer se afasta...
- Por que você se afastou assim? pergunta Amanda.
- Por nada, oras. É que tá muito quente hoje, estou morrendo de calor.
- Não sei não. Muito estranha essa sua reação...
- Que é isso Amanda, desconfiando da sua melhor amiga ? Quantas vezes nós não nos abraçamos?
- Poucas. Responde Amanda fitando-a nos olhos. - Aliás, pra quem considero minha melhor amiga, muito poucas mesmo. Engraçado. Sempre senti você muito próxima de mim, e ao mesmo tempo muito distante. As vezes eu sentia a necessidade da sua presença, e sentia também que a recíproca era verdadeira. Não nos desgrudávamos e ao mesmo tempo, sempre houve uma barreira entre nós. Como se existisse uma linha divisória da qual não pudéssemos passar. É claro que isso piorou, da sua parte, quando você se assumiu homossexual. Ficou ainda mais fechada comigo, e eu sempre me perguntei o porquê.
Joana, receosa, interrompe. - Por que você está me dizendo tudo isso agora?
- Porque deu vontade. Chega de fugir de mim Joana. Isso não dá mais, será que você não percebe? Nossa amizade deve transpor barreiras, e não criá-las.
Joana apenas a observa.
- Mas até que entendo sua reação,completa Amanda. Elas são naturais pra sociedade que vivemos. Mas queria que soubesse que comigo é diferente, porque antes de tudo sou sua amiga.
Joana, diante das inesperadas declarações da mulher que ama, a questiona. - Será que você é mesmo diferente, Amanda? Até onde? E se eu dissesse que sou apaixonada por você? Que sempre fui? Que esses anos todos eu tenho sonhado com você todas as noites, que tenho acompanhado teus passos na esperança de que um dia você olhe para mim com outros olhos e me queira também? E aí? Como você se comportaria?
Amanda parece não querer acreditar nas palavras da amiga. Tenta esquivar-se. - Por que sempre quer me testar?
- Me responda, o que te perguntei. Viu só como você não é diferente da tal sociedade em que vivemos?
- Mas você não está falando sério!
- Quem disse que não?
- Eu saberia.
- Saberia mesmo, Amanda?
- Acho que sim, responde a titubeante Amanda.
Nesse instante Joana recua, ao sentir que está prestes a se declarar, e como escape, agride a amiga...
- Você vive transando com qualquer um, se apaixonando o tempo todo, e ainda sente-se no direito de achar alguma coisa?
Joana sente apenas seu rosto arder após um estalo. Jamais apanhara no rosto antes. Sabia que tinha ido longe demais, mas soube também que longe demais foi a atitude de Amanda diante de suas verdades. Olhou-a fixamente e sentiu vontade de despejar-lhe na cara, o quanto ela a amava. Ela sim, sua melhor amiga, uma mulher apaixonada que a amava com toda força que seu corpo e mente lhe permitia. Mas não queria que essa revelação soasse como um tapa em seu rosto. Amá-la era uma coisa tão boa que não poderia se transformar numa agressão. Apenas saiu.