Poemas Eróticos

Um conto erótico de Tio Beto
Categoria:
Contém 6120 palavras
Data: 16/10/2004 14:54:33
Assuntos:

Coletanea de Poemas Eróticos

Poemas extraídos do site:

http://utopia.com.br/erotica/

TENHA UMA ÓTIMA NOITE!!!!!!!

Um abraço

Tio Beto

Abade de Jazente

é

Soneto

Cagando estava a dama mais formosa,

E nunca se viu cu de tanta alvura;

Mas ver cagar, contudo a formosura

Mete nojo à vontade mais gulosa!

Ela a massa expulsou fedentinosa

Com algum custo, porque estava dura:

Uma carta de amores de alimpadura

Serviu àquela parte mal cheirosa:

Ora mandem à moça mais bonita

Um escrito de amor que, lisonjeiro,

Afetos move, corações incita:

Para o ir servir de reposteiro

À porta onde o fedor e a trampa habita,

Do sombrio palácio do alcatreiro!

Abade de Jazente

é

Soneto II

Piolhos cria o cabelo mais dourado;

branca remela o olho mais vistoso;

pelo nariz do rosto mais formoso

o monco se divisa pendurado:

Pela boca do rosto mais corado

hálito sai, às vezes bem ascoroso;

a mais nevada mão é sempre forçoso

que de sua dona o cu tenha tocado;

Ao pé dele a melhor natura mora,

que deitando no mês podre gordura,

fétido mijo lança a qualquer hora:

Caga o cu mais alvo merda pura:

pois se é isto o que tanto se namora,

em ti mijo, em ti cago, oh formosura!

Anderson Ribeiro

é

In totum

Sussurrar aliterações em teus ouvidos

Fazer a pele arder em teus sentidos

Misturar o som do gozo com os gemidos

Depois fazer silêncio dos ruídos

Manter a intercecção em nossos corpos

Como que o plural de um só ser

Romper com este silêncio em que dispostos

Para não deixar a noite arrefecer

De sua penumbra cúmplice a sanha

Vertem nossa sentença de alforria

E sem lembrar que a noite traz o dia

Enleva-se essa sede já tamanha

Sorri no seu sorriso de alegria

E nos diz que prematuro amanhecia

Cristiane Neder

é

Os cogumelos do Paraíso

Minha loucura

não tem complexo

nem de Édipo, nem de Electra,

nem de qualquer puro amor

que saia das artérias.

Vivo no paraíso dos cogumelos

dias tristes, dias alegres,

mas tudo é ilusão passageira,

só não passa nesta vida

a casca estrangeira.

O doce e o amargo

do sabor da tua língua

ficou no Caribe

lá nos Portos cheios de gozo

e de prostituição.

Os cogumelos do paraíso

são adubados com a maresia

e os marujos já não são mais fêmeas,

pois as fêmeas são eternos machos

depois da ceia que consome seus rabos.

Nós não temos nada,

se temos a vida

ela ainda nos deve a morte,

portanto tudo é ilusão

dias de trabalho, outros de ócio

dias de amor, outros de ódio,

e os cogumelos são adubados

para fabricar desejos,

e onde não há alucinação

não germina gente,

nem se fabrica coração.

Cristiane Neder

é

Politicamente incorreta

Eu amo os gays,

por ter vários amigos gays.

Eu amo as putas

por elas estarem sempre nuas,

e saberem que na fragilidade do amor

se encontra a dor.

Eu gosto de política

mas sou politicamente incorreta,

sempre amei minha professora

por me ensinar as coisas mais belas

das quais não tinha em aula.

Amo o estado da vida

fora do lugar comum,

e por isso as coisas

se tornam tão interessantes

como a poesia

que nasce e morre

neste instante.

Lu@

é

Tua vontade

Tua vontade...

de estar dentro de mim...

num momento somente para perder-se assim

O calor invadindo nós dois...

antes, durante e depois

Vontade de sentir o gosto...

do teu corpo no meu...

da tua língua a me conhecer...

sempre, até o amanhecer

Desejo de fazer loucuras...

minhas mãos nuas a te procurar...

minha boca quente sempre a te sugar

De nada mais ouvir...

a não ser nossos gemidos de prazer...

na mais louca vontade de querer

Sinto tua vontade sim...

de fazer amor num pedido...

de ficar em mim escondido

Enquanto entre línguas...

bocas... suores... tremores...

descobertas... eu aberta...

recebendo este gozo latente...

guardado ficará na mente...

para que momentos mais tarde...

você deseje novamente...

iniciar tudo outra vez...

descobrindo coisas que somente a gente fez

Lu@

é

Diz

Diz que me ama

me joga na cama

me cobre de cheiros

vem sentir o meu gosto

que se perde em teu corpo e nos travesseiros...

Diz que me quer

para num ato insano

ser tua mulher

sente o calor

que vem de um momento

de muito amor...

Diz que este fogo

que te deixa louco

não vais esquecer

depois do silêncio

somente em teus braços

irei me perder...

Diz que errei

ao tentar traduzir

momento tão lindo

tenta falar

mesmo sem querer

me olhas sorrindo...

Diz o que quer

faça teu canto

sonhe calado

mas fique ao meu lado

perdida em ti

em teu corpo molhado...

Diz que agora

seremos nós dois

com a chuva lá fora

nos aguardando para o depois...

Vem minha Gota

me toma por inteiro

vamos repetir

tudo no chuveiro

Miguel Anxo Fernán-Vello

é

Visión dun corpo na praia

Lábio de luz que treme na nudez

dun astro de brancura.

Movimento delgado

como perfil de auga.

Peixe de lentitude adiviñando o corpo

a sua sílaba húmida,

unha estrela que nace

flor de espuma.

Na ondulación da arxila

corpo solar

que arvorece no espello.

Liña de sede,

semente e sal,

a pel mariña,

e chama do tempo.

Este sopro ou queimazón violácea,

sulco fino da brisa,

a pulsación dos ollos

contra o sol da carne.

Está aqui escrito o exílio do desexo?

A adolescéncia é unha fenda rosada,

suave eclipse,

esbelta auséncia.

Mais agora regresa esa febre

que beixa a lua da boca,

ponto de fuga que arde

no interior dunha máxia

de saliva e de seda.

O salto docísimo dunha lágrima

que avivece insensíbel,

unha rosa de area

que brilla no recordo.

Aparición e signo, corpo

que o instante fai milagre,

espellismo do céu,

revelación dourada

que o mar

estremece no sangue.

Xavier F. Conde

é

Quero fazer uma confissão...

Quero fazer uma confissão esta noite

porque a noite e a rua foram jantar juntas.

Quero dizer que amo uma mulher

cujo corpo não me dá

o seu calor esta noite,

cuja ausência é um ronsel laranja.

Quero dançar com minha sombra

para que o seu rumor chegue até ela

e ela saiba que eu lhe dou a noite,

toda senhora.

Quero escrever coisas que não se esvaeçam

com o sol,

que a chuva as faça flores

que cheirem a ela.

Quero que as minhas mãos voem,

voem em silêncio

onde ela guarda os seus sonhos...

sonhos que me pertencem

porque eu lhe pertenço.

Quero que ela fique, fique sempre,

quero ser a sua voz

quero ser o seu sorriso verde,

quero ser a sua chuva no cabelo,

quero amá-la mais do que ninguém

ama ninguém.

Quero dizer-lhe, aqui e agora, que a amo

com a minha voz baixa,

com o meu ar de outono lento,

com o meu sabor de beijos possíveis.

Quero que os pássaros sejam

os meus mensageiros de saudade.

Quero que o mundo comece quando ela vir.

Quero sonhar acordado com o seu tacto entre as

minhas mãos

a percorrer ela em silêncio o meu peito

e acordar com ela junto de mim,

calada e doce.

Quero só eu dizer-lhe sentimentos

que aceleram o coração,

o seu coração apaixonado,

eu gosto da sua timidez.

Quero nadar na sua boca sem horizontes.

Quero os versos todos do planeta

a falarem dela,

versos curtos de violetas,

versos firmes de cravos,

versos perfumados de rosas.

Quero suster os seus pés no ar

e trazer ao seu peito gaivotas fiéis

que sempre deixam pegadas na praia.

Quero ser eu no seu corpo

da alva ao sol-pôr,

de lua a lua

de eternidade a eternidade.

Quero amá-la até o meu último alento.

Basilio Rodríguez Cañada

é

Dor de ausencia

Esta noite aflíxeme

a dor da túa ausencia;

berrei o teu nome,

arelei facerte miña,

posuíchesme,

ata me halucinares.

Crin verte,

sentín o teu corpo palpitar

ao compás das miñas cariñas.

Escoitei

como repetías

palabras de amor.

Berramos xuntos.

Acordei varias veces,

coa única escusa

de te ollar

ata máis aló do amencer.

Non foi un soño, non pode ser,

quero acreditar que non estás lonxe,

é mester non te esvaeceres

coa luz do día.

(Tradução galega de Xavier F. Conde)

Notívaga Noturna

é

Casados

Ele é casado, e aí?

Eu também sou.

E o que é que eu faço,

Se sinto um baita tesão por ele?

Fico quieta?

Permaneço estática?

Permaneço a dona de casa?

Tal qual a "patroa" mal comida e mal amada?

Fico lavando cueca?

Ou me entrego a essa paixão?

E se ele me nega?

Se ele não me nega mas...

E se ela me pega com ele?

E se ele me pega com ele?

Como é que eu apago isso?

Como é que eu desligo o que eu sinto?

Como é que se mata tesão se não for na cama?

Eu me masturbo, pronto.

Faço de conta.

Mas depois volta.

E vem mais, mais forte.

Ainda mais forte, feito um vento norte.

Notívaga Noturna

é

Prazer

prazer.

ardor.

arder.

atar.

foder.

fundir.

unir.

assar.

amassar.

doer.

morder.

libertar.

soltar:

a vida o espírito o corpo o tudo.

chorar.

sofrer.

desejar.

acreditar.

querer.

sonhar.

soltar:

o corpo o espírito a vida o tudo.

beijar,

beijar,

beijar:

um sorvete com caramelo, chocolate entremeado de beijar.

desaparecer aparecendo doce.

existir,

existir,

existir,

haverá afinal tanto pecado em apenas querer ser feliz?

tua pele,

no meu pêlo.

minha pele,

tocando a tua.

teus seios,

em meu singelo peito...

tua alma,

em meu pequeno coração...

minha boca,

em tua boca. louca.

minha alma. louca.

em tua alma. louca.

Será pecado ter este prazer de existir?

Se era pra ser assim,

Por quê antes não foi?

Por que não te encontrei enquanto navegando displicente na existência?

Precisava ser agora?

Quando tudo já parecia definido e travado...

Quando todo um destino já parecia ter sido selado?

Só não podia não ser, jamais.

A vida não teria tido sentido, nem alma.

A alma não teria tido uma vida, nem sentido.

A existência não teria tido vida, nem sentido, nem alma.

Notívaga Noturna

é

Tesão por um homem casado

Te olho de lado,

Doido-apaixonado.

Vem, vê !!!

Sente o calor

que do meu corpo

se espalha,

tal qual febre,

se me imagino

a te abraçar.

Sente esta vontade

tarada-maluca,

descontrolada

completa

trêmula e

suada.

Percebe este desejo...

de te ter

de ter-te

a ter a mim a

terminado em ti

e a ti

em mim

a se exterminar.

Quero. Muito-demais.

Apertar teu corpo.

Com meu corpo

e mãos,

matar esse perfume,

feminino,

de quem te tem,

e de mim,

masculino,

deixar só o teu,

teu perfume,

mas só o de ti, em mim.

Só o perfume de ti,

Em mim, contiguo, contigo.

Muito além dessa mulher que te tem.

Raimundo Correia

é

Plena nudez

Eu amo os gregos tipos de escultura:

Pagãs nuas no mármore entalhadas;

Não essas produções que a estufa escura

Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero um pleno esplendor, viço e frescura

Os corpos nus; as linhas onduladas

Livres: de carne exuberante e pura

Todas as saliências destacadas...

Não quero, a Vênus opulenta e bela

De luxuriantes formas, entrevê-la

De transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,

Os braços nus, o dorso nu, os seios

Nus... toda nua, da cabeça aos pés!

Alfonsina Storni

é

A carícia perdida

Sai-me dos dedos a carícia sem causa,

Sai-me dos dedos... No vento, ao passar,

A carícia que vaga sem destino nem fim,

A carícia perdida, quem a recolherá?

Posso amar esta noite com piedade infinita,

Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.

Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.

A carícia perdida, andará... andará...

Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,

Se estremece os ramos um doce suspirar,

Se te aperta os dedos uma mão pequena

Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.

Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,

Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,

Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,

No vento fundida, me reconhecerás?

(Tradução de Carlos Seabra

Carlos Seabra

é

O amar do mar

boca do mar

beijo de sal

lábios da praia

pele de areia

língua de rio

decote de dunas

seios de ilhas

abraço do sol

correntes de desejo

cheiro de algas

ondas de prazer

espuma que rebenta

gemidos das gaivotas

gozo das nuvens

céu que se funde

no azul do mar

Florbela Espanca

é

A tua voz na primavera

Manto de seda azul, o céu reflete

Quanta alegria na minha alma vai!

Tenho os meus lábios úmidos: tomai

A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete

O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!

Iguala o sol que sempre às ondas cai,

Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,

Se os roça ou prende a tua mão nervosa,

Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!

E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,

Só me exalto e sou linda para ti!

Fernando Pessoa

é

Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser.

É alta, de um louro escuro,

faz bem só pensar em ver

seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem

(se ela estivesse deitada)

dois montinhos que amanhecem

sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco

assenta em palmo espalhado

sobre a saliência do flanco

do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.

Tem qualquer coisa de gnomo.

Meu Deus, qusndo é que eu embarco?

Ó fome, quando é que eu como?

Ferreira Gullar

é

No corpo

De que vale tentar reconstruir com palavras

o que o verão levou

entre nuvens e risos

junto com o jornal velho pelos ares?

O sonho na boca, o incêndio na cama.

o apelo na noite

agora são apenas esta

contração (este clarão)

de maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.

Ferreira Gullar

é

Coito

Todos os movimentos

do amor

são noturnos

mesmo quando praticados

à luz do dia

Vem de ti o sinal

no cheiro ou no tato

que faz acordar o bicho

em seu fosso:

na treva, lento,

se desenrola

e desliza

em direção a teu sorriso

Hipnotiza-te

com seu guizo

envolve-te

em seus anéis

corredios

beija-te

a boca em flor

e por baixo

com seu esporão

te fende te fode

e se fundem

no gozo

depois

desenfia-se de ti

a teu lado

na cama

recupero a minha forma usual

Isabel Machado

é

Seios

O branco

todo alvo

realça na pele bronze

No alvo, círculo rosado

ao centro um olho

pedinte, esbugalhado

Todo ele na palma da mão

na tua mão encaixado

faminto se enrijece

sedento pede tua língua

afoito geme ao contato

feito coito alucinado

Os dois são felicidade

nas tuas mãos e cuidados

bichos presos, enjaulados

não querendo liberdade

Isabel Machado

é

Alforria

Beba do meu leite

para o meu e seu

deleite

Ponha em tua boca

a minha força

mame como filho

desmamado

há quatro dias quatro noites

ávido

impávido

insano

Sugue a minha teta

enquanto as mãos

desbravam a terra

que já é sua

em completa escravidão

Faça a festa nesta teta

e a buceta

– doidivanas lacrimada –

se abre em festa

implorando o sol

do meio-dia

Chegue, menino-senhor,

em cantoria...

Beba da fonte

da alforria...

Isabel Machado

é

Sugar

Me dá meu beijo

me suga feito redemoinho

para o centro da luz

que me espera

Sem pressa

e guloso ao mesmo tempo

sem tempo de esperar

como quem vai morrer amanhã

Deixa encravado na pele

o cheiro da manhã

a nos envolver

a enternecer tanta vida

que suspira

que reflete

em cada ato

em cada tato

em cada canto

do meu quarto

Antônio Augusto Fagundes

é

Mulher querência

Na querência do teu corpo

tem coxilhas e canhadas

cacimbas de luas claras,

matas escuras fechadas

e dois cerros de granito

com pitangas coloradas

só eu sei achar o rumo

dos atalhos e picadas

e bebo a noite em teus olhos

no frescor das tuas aguadas

e fumo a brasa escondida

das coivaras e queimadas

como quem acende um sol

no largo das madrugadas

Eu morro em ti,

e me enterro,

e ressuscito outra vez

semente chuva e mormaço,

berro de potro e de rês.

Gineteio sem espora,

faço o que ninguém fez.

Coração de ressolana

com um ovo guacho de indês.

Nas quatro luas campeiras

de volta em roda do mês:

dono, patrão, bolicheiro,

escravo, peão, e freguês.

C. R. Nazareth

é

Filhas de Vênus

A orgulhosa Vênus, deusa do prazer sem igual,

empresta a suas filhas sensuais a chama imortal.

Seja no gelado deserto ou no calor tropical,

a todas confere desejo e prazer sem igual.

A todas confere da paixão o calor

e a todas excita, conduzindo ao profundo ardor.

Assim, não importa o lugar do mundo aonde se vá,

a doce explosão da volúpia lá estará.

Cálido arrebatamento através dos corpos balançando,

na ânsia do jorrar, o auge do prazer alcançando.

Em meio aos gemidos, seja morena ou loira, é uma arte,

uma filha de Vênus é imperatriz em toda parte.

Agostina Akemi

é

Castigo

Desencaixo-me displicente.

Esvaziei-me, enfim.

Teu corpo

ainda queima,

tua mão ainda afaga.

Jamais

o prazer fora tão perverso.

Escondo meus lábios

atrás do batom.

Teus olhos

– canibais marinhos –

começam a se desfazer.

Não consigo te acompanhar.

És tão tolo...

Ainda me engasgo

com um último orgasmo.

Venci.

Sou aquela

que pela primeira vez

amas.

Mas a noite se esvai.

Sei que vais me tocar:

deixarei?

Não quero me amarrotar.

Tua boca me implora,

só que as estrelas se apagaram.

Vou-me embora

para nunca mais...

Se fosse amor,

não acabaria.

Agostina Akemi

é

Entranhas

O sorriso caiu.

Entre as pétalas de mim:

o cio.

Esperma aos farelos.

A lua bóia na taça de sangue.

Entre os sopros selvagens,

tórridos toques

(sinceros como um cadáver).

Com os dedos enfiados no vento,

quero lamber a liberdade.

Já esfacelei minhas lágrimas...

Enquanto o sol

baba sobre mim,

vou varrendo minha sombra

com restos de beijos...

A esperança dormiu.

Entre os subúrbios de mim:

a dor.

Bolhas de areia,

cacos de suor...

Há bolor nas estrelas.

Eis-me pecado!

Eis-me boca!

Pouca coisa:

alfinetes incendiados.

O amor vai pingando sobre o telhado,

amargo enquanto vocábulo:

deserto parido.

A vida é um estupro:

nasci para morrer.

Renascer das cinzas,

das sobras,

das teias...

Vou lutar até o orgasmo.

A noite

arrotou.

Assim seja,

assim sangre...

Entre a poeira de mim:

o prazer.

Caroço de paixão.

Vou morrer...

Vou morrer... Mas é só para te humilhar.

Vem...

Degola meu cheiro.

Não sou mulher,

sou distanásia.

Eugénia Tabosa

é

Haicais

teu corpo deitado

acorda desejos

não confessados

meus dedos-olhos

desvendam sem pressa

doces mistérios

palmo a palmo

dedo a dedo

inicio teu percurso

Ricardo R. Almeida

é

O deslizar

Deslizo

A sua imagem pelo meu pensamento

O seu cheiro pelo meu sangue

A sua voz, as suas palavras pelo meu desejo

Deslizo

As minhas mãos por entre as suas coxas

A minha boca pelos seus lábios

O meu corpo pelo seu

Deslizo

Tudo o que pode haver no mundo

E que no entanto somos só nós dois

A dançar como imagens oníricas

Deslizar de sonhos

de espaços intermináveis

De amores, paixões incontroláveis

Infinitas

Deslizo

Trêmulo, nervoso pelo meu desejo

De não deixá-la deslizar

Por entre as minhas mãos

Ana Margarida Setti Rosa

é

Sonho

Você me beijou

como pássaro

a bicar

a flor mais linda

do jardim

buscou

os recônditos perfumados,

embebeu-se um pouco

de mim

e extasiado

jogou a cabeça para trás,

exibindo um sorriso

feliz.

Mary Celeste Bueno

é

Primavera

A estação libidinosa,

Plena do gosto da vida,

Imprevisível, garrida,

Lânguida e leve, goza.

Plantas, animais e gente,

Cheínhos de seiva e luz,

Erguem-se falicamente,

Ao que o destino os conduz.

Tempo de dor e prazer

Dias de sol e de chuva:

Um novo ciclo amanhece...

Sob a influência da Lua

Assim como tudo, acontece

São as sementes do ser.

Maria Suely de Oliveira

é

Framboesa

Musa

Morenada

Ancas cheias

Mastigada de aluguel

Não é a amora menina

Adocicada

Com sabor de desobediência

É mercadoria

Dada a namoros

Vaidosa

Sedutora

Colhida em prateleiras

Decorativa

Impressa na embalagem

Cafetina

Maria Suely de Oliveira

é

Desilusão

A dor adorna e adormece o desejo

O corpo cala e se espreguiça

O afeto foge

O coração passeia na noite

Reinstala a memória

De afagos sedutores

O estridente som da cuíca anuncia:

Não se deve caçar homens na primavera

O sexo explode insaciável e fecundo

Amores devassos não tecem laços

Genaro Vencato

é

O pescador

Abri a ostra e encontrei a pérola

Um leve beijo com o toque da língua,

Fez ela morder o lábio e mergulhar

Arrepiada no oceano de fogo

E urna gigantesca onda de calor

Banhou seu tênue corpo salgado

o vento uivou desconcertante

Completamente alucinado

Por cima das nuvens de nácar

Comprimindo os sons

Com um aperto, um urro

E um puxão de cabelo

Fiquei tonto, totalmente inebriado

Com a beleza desta jóia

De valor inestimável

Continuando minha busca

De cultivar sempre

A beleza rara

E deliciosamente pronta a ser aberta

Da sensível ostra.

Wanderley da Costa Júnior

é

Título IV

O amor

Este moleque

Que tanto faz

Traz junto ao prazer

A segurança do látex

Que a mim reveste

E só assim

Posso entregar

Meu corpo

Ao te moleque

Este amor

Que me dá tanto prazer

E assim não me contamino

E não te corrompo

Apenas

Meu amor

Se reveste sempre de látex

Com carinho

Naturalmente

Seguramente

Confortavelmente

Maria do Carmo Lobato

é

Condição de mulher

Fala baixo, podem escutar,

Geme e xinga baixinho,

Pra não acordar o vizinho.

Cuidado, a cama está rangendo.

E deste jeito, gemendo,

Vai correr amanhã o boato

Que tu praticaste um ato

Eivado de desacato

À moralidade e ao Direito,

Aos bons costumes e ao respeito.

E a vizinha, com inveja

Da tua simples liberdade

Que ela não consegue ter,

Vai espalhar no condomínio

Que és um ser sem domínio,

Predestinada a morrer,

Que és uma gata perdida,

Por certo ganhas a vida,

Vendendo aos homens prazer,

Não vai ela entender nunca,

No vai e vem da sua vida.

Que a sua vida não é vida,

É obrigação de ser

Qualificada de esposa,

E neste estado ela não ousa

Amar e sentir prazer,

Pois, pela Religião,

Prazer é coisa do Cão,

É coisa pra não se ter,

Prazer é pecado mortal,

O prazer fere a moral,

E as virtudes do "Alto Ser".

A pobre vizinha escuta

Todos os dias no rádio

Que sentir prazer é pra puta,

Que esposa é mulher "séria"

É a féria com que sustenta

Sua vida e de seus rebentos,

Por certo não advém

de estar à disposição

De um homem que a sustém.

O sistema incutiu nela

Que a que está à disposição

De um só pelo seu tostão

Tem o "status" de esposa,

Não se iguala à mariposa,

Que troca o parceiro João

Pelo José ou o Romão,

Desde que lhe pague o pão.

Aprende, vizinha amiga,

Que a tua condição é a mesma,

Tendo até mais privilégio

A outra que está na zona,

Pois esta não tem quem tome

Dela satisfação,

Trabalha o dia que quer,

Ela é bem mais mulher

Na sua situação,

Que uma "esposa" qualquer

Debaixo de repressão.

Mulher companheira, amiga,

O que é o Casamento,

Se não ver teu sentimento

Menosprezado até o ponto

De transformá-lo em documento

Com efeito de sacramento?

Atenta pra encenação

desta imbecil instituição,

Que te põe na posição

De prostituta em ação,

Porém, como já falamos,

Em condições bem piores

Por não teres opção

De entregar teu sentimento

Pra quem ditar teu coração.

Este é o jogo do Sistema

No papel que dá à mulher,

Ou ela é Puta de Arena

Ou Puta de um só José.

Maria do Carmo Lobato

é

O meu pedaço de ti

Por que será

Que só consigo

Te ver muito mais

Da cintura

Para baixo?

Isso me deixa intrigada...

Será que é essa

A tua parte

Que me pertence mais

E que por isso mesmo

Me deixa as pernas trôpegas,

Quando a entrevejo

Nas minhas miragens

E nas minhas etéreas divagações?

Será que é essa

A tua parte que,

Sôfrega,

Me sacia exaustivamente,

Por alguns instantes,

Na sua sofreguidão

Benfazeja?

Será que é essa

A tua parte

Que me mata o desejo

E que por isso mesmo

É que, quando procuro

Te vislumbrar

Na mente,

Só consigo

Te ver mais nitidamente,

Da cintura para baixo?

Maria do Carmo Lobato

é

Veneno sagrado

Tu és uma puta,

Saudável,

Invejável,

Desejável,

Adorável.

Não és uma puta de bordel

E a cascavel que te habita

Possui um veneno muito especial,

Que, por incrível que pareça, não faz mal

E extasia os teus amantes de uma forma tal,

Que eles contigo se comprazem tal qual

Feras soltas na floresta

E contigo fazem a festa

De te quererem

Por apenas uma noite de seresta,

Pois o prazer que a eles propicias

Nas tuas noites de orgia

Os assusta

E por isso eles fogem de ti,

Pois a eles custa

A degusta deste prazer inexóravel.

Maria do Carmo Lobato

é

Mulher de gigolô

Meu macho, comigo vem,

Com força bruta e arguta,

Vem penetrar na tua puta,

Fazer o que te convém.

Pois sabes que nesta luta

De amor dentro do meu peito,

Sempre foste meu eleito.

Fostes sempre o meu batuta.

Eu te entrego nas quebradas

Meu corpo e minh'alma errada,

Te possuo com loucura,

Te exponho minha fratura.

Te convido pr'uma farra,

Te agarro com minha garra,

Em ti grudo feito sarna,

Te prendo com a minha arma.

E te digo: este amor é meu Karma,

Que com prazer vou cumprir,

Sem dele fazer alarma

Pra só contigo dormir.

C. Almeida Stella

é

Virtual

Nunca te vi,

Não conheço o teu corpo,

Mas eu te sinto

Mesmo que estejas longe.

Não me olhei ainda

Na luz dos teus olhos

E nem provei

O gosto da tua boca.

Mas eu te quero,

Mesmo sabendo

Que nunca te terei.

Não experimentei o teu toque

E nem sequer te acariciei,

Mas sinto o teu perfume no ar.

Sucumbi à tua sedução,

Mesmo sabendo

Que nunca te encontrarei.

Nosso amor é só virtual,

Mas não faz mal,

Pois alma é mais do que corpo.

E, se não te tenho ao meu lado,

Que o vento sussurre para ti

Minhas palavras de carinho.

Quero também que ele diga

Que alguém te ama

Do jeito que mais sabe,

Com tudo o que é capaz.

E se pensares no amor,

E em tudo o que ele traz,

De felicidade, na vida,

Ora, isso não é nada,

Pois te amo muito mais!

Alma é mais do que corpo.

E minha alma seguirá

Sempre amando a tua,

Mesmo que nossos corpos

Nunca possam se encontrar.

Mas chegará o momento,

Por alma ser mais que corpo,

Que seremos só uma alma,

Um coração

E um só pensamento!

Ruth Souza Saleme

é

Estranho furto

Na noite silenciosa e azulada

No pousar do orvalho sobre as ramagens,

Durante o repouso sereno das aves

E no desabrochar das damas da noite,

Quero roubar teus sentidos a mão armada,

Assaltar teu corpo e recolher teus sentimentos,

Como larápia discípula de cupido!

Quero pegar-te desarmado

Numa hora qualquer desta noite.

Amanhã, não importa! ...

Quero que teu coração se surpreenda,

Se assuste e me prenda em teus afetos.

Depois, no calabouço dos gemidos,

O tilintar das correntes partindo

No auge dos apertos e abraços sôfregos...

Passarei a vida na cadeia das quimeras,

E nas grades deste grande amor,

Narrando a história de um estranho furto,

Entre um homem tímido e uma mulher apaixonada.

Marina Colasanti

é

Amor ao meio-dia

O sol

no pau

a pique.

A sombra

da vulva telha-vã.

Marina Colasanti

é

Sangue de mênstruo

Paixão se escreve

em folha vermelha

de papel de seda

selada com lacre.

Paixão te escrevo

em língua de fogo

pena de flamingo

flor de gravatá.

Minha tinta é sumo

de morango e amora

suco de cereja.

Mas no fim do escrito

só sangue me assina

sangue de mênstruo

fúria de assassina.

Marina Colasanti

é

Sexta-feira à noite

Sexta-feira à noite

os homens acariciam o clitóris das esposas

com dedos molhados de saliva.

O mesmo gesto com que todos os dias

contam dinheiro papéis documentos

e folheiam nas revistas

a vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite

os homens penetram suas esposas

com tédio e pênis.

O mesmo tédio com que todos os dias

enfiam o carro na garagem

o dedo no nariz

e metem a mão no bolso

para coçar o saco.

Sexta-feira à noite

os homens ressonam de borco

enquanto as mulheres no escuro

encaram seu destino

e sonham com o príncipe encantado.

Marina Colasanti

é

Frutos e flores

Meu amado me diz

que sou como maçã

cortada ao meio.

As sementes eu tenho

é bem verdade.

E a simetria das curvas

Tive um certo rubor

na pele lisa

que não sei

se ainda tenho.

Mas se em abril floresce

a macieira

eu maçã feita

e pra lá de madura

ainda me desdobro

em brancas flores

cada vez que sua faca

me traspassa.

Marina Colasanti

é

Corpo adentro

Teu corpo é canoa

em que desço

vida abaixo

morte acima

procurando o naufrágio

me entregando à deriva.

Teu corpo é casulo

de infinitas sedas

onde fio

me afio e enfio

invasor recebido

com licores.

Teu corpo é pele exata para o meu

pena de garça

brilho de romã

aurora boreal

do longo inverno.

Mirela S. Xavier

é

Ela

Agora que a sede cala

com o suco

do beijo...

E o desejo fala

com o suco

do sexo...

O carinho

espera

a luz

do olhar...

Paulo Lins

é

Sou...

Sou

Seu

Cio

Sou

Seu

Ócio

Sou

Seu

Sócio

no

Prazer

Rafael do Nascimento Monteiro

é

Amor proibido

Só quem viveu entende

Amor proibido.

Mexe com a essência da gente,

Com o libido.

Tudo fica mais excitante.

No encontro escondido

O coração bate forte,

O rosto cora.

Num simples toque de mão.

Não há quem suporte

A emoção da primeira vez,

É emoção de mais.

Mistura de medo e paixão

Arrependimento jamais.

Os sentimentos saltam aos olhos,

As palavras saem entrecortadas.

Parece que o mundo inteiro

Vai descobrir esse pecado.

Mas com tanto amor assim,

Com certeza seremos perdoados.

Rômulo do Amaral Filho

é

Sibilo

Sibilo me lembra serpente

Serpente me lembra bote

Bote me lembra picada

Picada me lembra veneno

Veneno me lembra teu beijo

Teu beijo me lembra desejo

Desejo me lembra amor

Amor me lembra prazer

Prazer me lembra teu corpo

Teu corpo me lembra sonhar

Sonhar me lembra te amar

Te amar lembra

Morrer de paixão

Maurício de Lima

é

Maldição

Maldito seja o dia em que te vi,

Quando te desejei,

Quando te conheci,

Quando telefonei,

Quando saí e te encontrei,

Mesmo sabendo que era tudo um capricho da tua vaidade...

Me fiz prisioneiro de um desejo,

Escravo de uma beleza perigosa e contraditória

Que me faz gozar com um beijo,

Mas nunca traz a certeza no final da história...

Mais uma conquista barata,

Mais uma conversa de bar,

Mais uma conserva de geladeira,

Consumida toda, inteira,

Lentamente, bem devagar...

Não gosto de pensar como teria sido sem você...

Prefiro acreditar que foi coisa do destino,

Que não havia escolha possível...

Tenho saudades de você,

Mas prefiro me manter calado,

Para outra vez te conquistar,

Por não suportar ter sido rejeitado

Por não ter mais você ao meu lado

Para ter você nas minhas mãos e depois te abandonar...

Eliana Mora

é

O caminho das nuvens

Senti na pele

os dedos teus

colando em mim

um surfe estranho

a voltejar

em minhas ondas

olhando enfim para as

paisagens tão

redondas

ouvindo o som

do que de longe

já conheces

E tomas posse

do terreno

demarcado

que amanhece

todo dia

em cama fria

Porém que túmido

servil

e orvalhado

sabe mostrar das noites

frias

resultado

Terreno morno

que se tranca a esperar

que possas vir

[de alguma nuvem

despencar]

Para sorver na noite

a fonte

do esplendor

Colhermos juntos

tão sentido

e doce

amor

Carlos Drummmond de Andrade

é

Quarto em desordem

Na curva perigosa dos cinqüenta

derrapei neste amor. Que dor! que pétala

sensível e secreta me atormenta

e me provoca à síntese da flor

que não sabe como é feita: amor

na quinta-essência da palavra, e mudo

de natural silêncio já não cabe

em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui

nesse objeto mais vago do que nuvem

e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo

verdade tão final, sede tão vária

a esse cavalo solto pela cama

a passear o peito de quem ama.

Vinícius de Moraes

é

Receita de mulher

As muito feias que me perdoem

Mas beleza é fundamental. É preciso

Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso

Qualquer coisa de dança,

qualquer coisa de haute couture

Em tudo isso (ou então

Que a mulher se socialize

elegantemente em azul,

como na República Popular Chinesa).

Não há meio-termo possível. É preciso

Que tudo isso seja belo. É preciso

que súbito tenha-se a

impressão de ver uma

garça apenas pousada e que um rosto

Adquira de vez em quando essa cor só

encontrável no terceiro minuto da aurora.

É preciso que tudo isso seja sem ser, mas

que se reflita e desabroche

No olhar dos homens. É preciso,

é absolutamente preciso

Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que

umas pálpebras cerradas

Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços

Alguma coisa além da carne: que se os toque

Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos

Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro

Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e

Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem

Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então

Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca

Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.

É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos

Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas,

e as pontas pélvicas

No enlaçar de uma cintura semovente.

Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras:

uma mulher sem saboneteiras

É como um rio sem pontes. Indispensável.

Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida

A mulher se alteie em cálice, e que seus seios

Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca

E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.

Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral

Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!

Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas

E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem

No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.

É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio

Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).

Preferíveis sem dúvida os pescoços longos

De forma que a cabeça dê por vezes a impressão

De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre

Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos

Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face

Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior

A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras

Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes

E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e

Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão

Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta

Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.

Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos

Ao abri-los ela não estará mais presente

Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá

E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber

O fel da dúvida. Oh, sobretudo

Que ela não perca nunca, não importa em que mundo

Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade

De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma

Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre

O impossível perfume; e destile sempre

O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto

Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina

Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição

Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

Poemas extraídos do site:

http://utopia.com.br/erotica/

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