- Marcello, venha logo, você vai gostar desta cidade "futurista", como você diz. Só não poderei te esperar, viajo amanhã - disse a senhora loira de meia idade no bate-papo com voz e imagem.
- Ah, que pena, tia, só chegarei depois de amanhã. Não tem problema? - respondeu o moço.
- Bom, então deixo tudo preparado para você estudar. Deixarei todo o material numa caixa sobre a mesa da sala. Só não use meu limpador doméstico guardado no armário, está quebrado. Beijo. Tchau.
Marcello estava entusiasmado. Iria para Altamira passar uma semana na casa da tia Margot, irmã de seu pai. Ela, pesquisadora e consultora de várias empresas, se ausentaria por uma semana, numa rotineira viagem para dar cursos e treinamentos. Ele, por sua vez, preparava-se para um novo trabalho, estudando dia e noite. Queria ser pesquisador no Centro de Estudos Psíquicos de Cornwall, nas ilhas britânicas. Pessoas do mundo todo concorriam às vagas e a boa preparação era indispensável. Uma vez admitido, sua carreira estaria bem encaminhada. Como a tia Margot possuía grande quantidade de arquivos eletrônicos, acertaram de ele passar uns dias na casa dela estudando. Seria muito interessante conhecer aquela cidade tão diferente, planejada para aumentar a diversidade da floresta.
Corria o ano de 2198. Altamira, encravada na floresta amazônica, tornou-se uma espécie de metrópole do conhecimento científico. Para lá convergiam de todo o mundo milhares de pesquisadores de todas as áreas. As casas e edifícios erguiam-se a vários metros do solo, parecendo árvores. Eram capazes de gerar energia a partir da luz solar, captavam água da chuva, e devolviam ao solo os resíduos tão bem tratados ao ponto de ser quase impossível diferenciá-los da serrapilheira produzida pela própria floresta. Os rios eram as únicas estradas. Os veículos flutuavam à flor das águas, sem tocá-las. As construções eram ligadas por passarelas elevadas, muitas delas dotadas de bancos e esteiras rolantes deslocando-se em alta velocidade. Tudo isso formava uma imensa teia cobrindo quilômetros e quilômetros quadrados. Como pedestres e veículos estavam em planos diferentes, não havia atropelamentos. A cidade era um exemplo do homem integrado à natureza. Altamira do século XXII era o símbolo da pujança tecnológica e biológica - consideradas quase a mesma coisa nessa época.
A aeronave coletiva de viagem pousou numa espécie de aeroporto no rio Xingu. Marcello demorou um pouco para entender a grande cidade e o seu sistema de endereços e de transporte, mas acabou chegando à casa da tia. Tudo para ele era estranho. Viveu toda sua vida em Peruíbe, uma cidade à beira-mar que, apesar do progresso, mantinha velhos ritmos.
A mansão da tia era um espetáculo! Quatro andares ligados por espaçosos elevadores panorâmicos. Tudo automatizado: portas, janelas, luzes, banheira, banheiro etc. Instalou-se num espaçoso quarto de onde se via o rio correndo lá embaixo, qual gigantesca serpente preguiçosa a deslizar serena rumo ao caudaloso rio Amazonas.
Na mesa da sala estava uma caixa cheia de discos de cristal do tamanho de uma moeda. Eram os arquivos. Nos computadores da tia era possível passar horas e horas lendo e ouvindo sobre as matérias que teria de saber.
Ao procurar livros num armário, abriu um compartimento e se surpreendeu com o conteúdo.
- Oh! Um andróide! Esse é o limpador doméstico quebrado? - perguntou-se ele admirado.
A máquina parecia um homem de uns trinta anos dormindo de pé, tal a perfeição dos menores detalhes. Após ler os arquivos de instruções, o rapaz executou os comandos para acionar o robô.
- Oi! Acabei de acioná-lo. Você deve pertencer à minha tia Margot. Eu sou Marcello - disse o rapaz, estendendo a mão.
- Olá Marcello, sou Andy, da quarta geração de robôs domésticos. Você certamente viu todas as minhas atribuições no manual - disse o andróide simpaticamente, passando a mão pelos próprios cabelos, negros e lisos.
- Sim, eu vi. Se bem que não li tudo. Minha tia disse haver um defeito em você impedindo-me de usá-lo. Estou aqui para estudar. Tenho um exame difícil em um mês e preciso de ajuda para rever os arquivos. Você poderia copiar os arquivos e depois exigir de mim melhores e cada vez mais aprofundadas explicações de todos os assuntos. É capaz de fazer isso? - indagou Marcello.
- O defeito está na vedação de alguns componentes. Por isso não estou mexendo em água - respondeu o Pinóquio do futuro.
- Então pode me ajudar a rever os arquivos?
- Certamente!
A partir desse dia, Marcello e Andy estudaram corajosamente. O robô disse que, para auxiliar a Sra. Margot, já havia coletado todo o conteúdo dos arquivos. E, realmente, ele executava-os como se fosse um especialista, perguntando, respondendo e corrigindo os erros do garoto.
Marcello não conhecia de perto a quarta geração de robôs. Seu pai mantinha em casa um velho robô da primeira geração, capaz de realizar apenas trabalhos braçais e operar todos os tipos de eletrodomésticos. Andy era diferente. Tinha aspecto mais humano. Sorria, tinha uma coleção de mais de três mil piadas, movia-se e falava com grande naturalidade e tinha uma série de atitudes para agradar o proprietário: comia, bebia, entabulava conversas bem-humoradas e - o mais interessante para Marcello - passava com espontaneidade da conversa trivial à abordagem psicológica dos problemas. Um recurso notável, pois os robôs da primeira geração nem conversavam. Andy tinha até mesmo o procedimento de calcular as horas de convívio com os humanos, para não saturá-los com sua presença. Era mesmo um robô admirável.
Quando numa tarde do quinto dia Marcello estava cansado de reler arquivos, após oito exaustivas horas de estudo, decidiu passear pela cidade. Andy se ofereceu para acompanhá-lo, pois conhecia toda a metrópole.
- Melhor, pois tenho medo de me perder.
- Na cidade não há problema, mas é melhor não sair dela sozinho. Há várias aldeias primitivas lá fora onde os costumes são bem outros. Quer ver os crocodilos à beira do rio? - sugeriu ele como um autêntico cavalheiro, fixando o olhar no rapaz.
- Gostaria, mas e se chover? Você não pode se molhar.
- Hoje não choverá, estamos na época seca.
Lá se foram. Após um veículo público que flutuava uns vinte centímetros acima da água deixá-los numa margem do rio Xingu, Andy falou com sua voz melódica:
- Não faça barulho ao andar, Marcello, senão nos percebem.
- Quem, os crocodilos? - perguntou o rapaz, mirando o corpo esbelto no andróide que seguia à sua frente, na várzea do rio.
- Não, os moradores da aldeia. Esta trilha é deles. Virão aqui pedir dinheiroCaminharam por mais de vinte minutos até chegarem a uma curva fechada do rio, onde um banco de areia branquíssima formava uma praia. Estavam distantes da cidade alguns quilômetros. Em torno deles, só a selva, as águas calmas do rio e o céu azul. Eles se sentaram na areia morna e limpa.
- Onde estão os crocodilos? Não vejo nada - disse o rapaz meio desconfiado.
- Está vendo aqueles troncos boiando ali? - perguntou Andy apontando para as águas calmas do rio, onde algo parecido com troncos escuros boiava aos montes.
- Estou.
- São eles! Daqui a pouco chegarão à margem de lá para tomar sol - falou Andy com um sorriso.
Marcello riu da própria desconfiança. Por que um robô doméstico faria alguma coisa de mal a ele? Olhou mais atento em derredor. O lugar era incrivelmente bonito. A natureza era uma explosão de vida em todos os cantos. Havia muito para ver ali. Garças brancas, árvores floridas, golfinhos de água doce, os mais diferentes cantos de aves. Tudo chamava a atenção. O ar estava úmido e uma brisa suave às vezes era sentida. O calor era forteO que vai fazer de sua vida após ser admitido como pesquisador em Cornwall? Sei que vai conseguir; está bem preparado - falou o robô calmamente, olhando para o horizonte à frente.
- Irei trabalhar com melhoramento genético na psiquiatria. É uma área que começa a progredir e promete boa remuneração - respondeu Marcello, limpando a própria roupa da areia.
- Eu me refiro à sua vida social. Você parece refrear sua vontade de fazer amizades e de se envolver com as pessoas - falou de chofre o andróide.
- Você acha mesmo? - ele refletiu um pouco e, olhando para Andy, respondeu - Na verdade não penso nisso. Não sei o que quero. Por quê?
Andy virou-se para ele, encarando-o simpaticamente:
- Amar faz bem, sabia? - disse sorrindo, mostrando seus dentes brancos alinhadosMarcello não respondeu.
- Amar faz vocês humanos conhecerem um pouco mais de si mesmos. E dos outros - insistiu o andróide. E olhando Marcello no fundo dos olhos, como o laser de uma arma marcando o alvo, falou de maneira firme e jovial - Para onde o vento leva esse coração, jovem cientista?
Marcello estranhou o comentário. Que tipo de conversa era aquela? Sentiu-se acuado pela pergunta da máquina perfeita. Onde ele queria chegar? Se ele era programado para ser agradável, não estava conseguindo, pois perguntar sobre coisas íntimas o aborrecia. Na verdade, esse era um assunto tabu para ele. De fato - ele lembrou com pesar - sua vida universitária progredia maravilhosamente bem, mas seu lado sentimental era um fracasso: poucas amizades, aversão a ambientes descontraídos e nenhum relacionamento de qualquer tipo. Em nome do estudo e da ciência, protelava as experiências pessoais capazes de levarem ao amadurecimento emocional e social. Sabia ser preciso fazer uma reforma em sua vida, talvez demolindo algumas coisas para construir outras, sem nunca dar a devida atenção a isso. As conversas nesses cinco dias com o robô ressuscitaram nele essas questões. Estava lá para estudar, mas por motivo desconhecido, a companhia de Andy parecia induzi-lo a lembrar-se desse seu lado empurrado para a sombra. Talvez pelo seu jeito especial. Se tivesse amigos assim, interessados por ele daquela forma inexplicavelmente diferente, talvez se tornasse mais sociável e descontraído.
Olhou demoradamente para o belo rosto de Andy. Os olhos verdes do robô contrastavam com os cabelos pretos balançando com a brisa leve. O sorriso irônico mostrava dentes perfeitos. A pele levemente bronzeada combinava com o sol tropical. Andy era formidável. Sem saber porquê, seu coração começou a bater mais forte e a respiração acelerou. Os olhares se encontraram.
Andy percebeu a alteração fisionômica de Marcello. Notou como a conversa o deixou vulnerável. Aproximou-se e, sem uma única palavra, pegou Marcello com seus braços fortes e deu-lhe um beijo prolongado nos lábios. Um beijo úmido, suave mas enérgico, com a língua a abrir passagem. Ao beijo seguiram-se carícias no rosto. As mãos grandes de Andy deslizavam como seda no rosto do jovem rapaz. Beijos no pescoço. Beijos na nuca. Beijos no peito.
Marcello não opunha resistência. Aquilo era tão bom que nem parecia real. A sensação de bem-estar superava tudo o que ele tinha imaginado em seus mais recônditos pensamentos. Aquele carinho nunca antes recebido de alguém era o verdadeiro paraíso. Um misto de empolgação, medo e emoção o dominava. Naquele instante ele não era capaz de pensar. A emoção e a vontade de ser amado, acumuladas por anos, afluíram de uma vez, produzindo uma sensação e vida e felicidade como Marcello nunca sentira antes. Ele simplesmente se entregou e deixou a Andy o comando do momento.
Às carícias e beijos seguiu-se um abraço. A roupa confortável se tornou incômoda como uma armadura medieval. Os corpos se fundiram num momento mágico, numa perfeição sobre-humana, na adivinhação perfeita do que agradava a um e outro. A comunhão durou quase três horas.
"Andy é mais humano que um homem. De corpo e de alma!" pensou o moçoMinutos após o término da união, sua mente questionadora passou da contemplação embevecida a um turbilhão de conflitos. A alegria intraduzível em raciocínio lógico foi sendo substituída por uma autópsia incrédula. Por que fizera aquilo com o robô? Ele estava programado para servir à sua tia daquela forma? Jamais se perdoaria por ter se permitido fazer aquilo. A idéia de fazer o que fez com um robô lhe pareceu absurda. Robôs serviam para ajudar os humanos como quaisquer outros computadores e máquinas. Só isso. Certamente a tia verificaria, ao chegar, os registros do robô e descobriria tudo. Talvez ela não se importasse, mas talvez dissesse "não te autorizei a usar meu andróide particular!". E, afinal de contas, ele precisava estudar; essa era a coisa mais importante de sua vida e jamais deveria se distrair dela.
No caminho de volta, não trocaram palavra. Andy, mantendo-se gentil como sempre, respeitou o silêncio imposto por Marcello.
Faltavam dois dias para Marcello voltar para a vida monótona de Peruíbe. Ao chegarem em casa, imediatamente foi arrumar sua bagagem. Tinha estudado tudo e não havia razões para continuar.
- Vou embora hoje. Agradeço sua ajuda, Andy. Aprendi bastante nesses dias. Acredito estar em condições de ser aprovado - disse o rapaz formalmente, esforçando-se para ser mais mecânico que o andróide.
- Sim, tenho certeza disso. Foi um prazer ajudá-lo. Não... quer ficar mais? - disse o robô, parecendo, pela primeira vez, expressar insegurança.
Marcello, com a mochila às costas, saiu sem responder, deixando o robô tomando conta da casa.
Na casa do pai, em Peruíbe, os dias foram passando e finalmente chegou a semana do processo seletivo. Viajou para as ilhas britânicas. Em Cornwall, sua única atenção, sua obsessão, era manifestar seus conhecimentos. As provas e experiências exigiam muito dos candidatos e ele saiu-se bem em quase todas. A junta examinadora estudou os candidatos e no fim da semana foi divulgado o resultado: vinte e dois aprovados e, entre eles, Marcello. O rapaz não coube em si de satisfação e sentiu a alegria de ver a vida sorrir para ele. Levaria algumas semanas até iniciar suas atividades como pesquisador em Cornwall e durante esse tempo ficou em Peruíbe.
Passada a euforia dos primeiros dias, Marcello retornou à vida cotidiana e, como se esperasse pelo momento certo para aparecer, a lembrança de Andy ressurgiu com toda a força. "Por que me lembro dele?", ele repetia para si mesmo. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse Andy. A lembrança viva, colorida, do momento na praia do rio, tornou-se o centro de seus pensamentos. Por que cedeu à iniciativa do robô? Por que gostou tanto? Por que Andy o atraíra de uma forma tão especial? Essas perguntas, julgadas superadas e esquecidas, teimavam em ressurgir e ele as forçava a desaparecer. Mas quando ele achava estar livre delas, elas renasciam com mais força. Tinha medo de respondê-las. Ou melhor, tinha medo de saber a resposta.
Nos meses seguintes, o novo trabalho, apesar de render muito dinheiro, empalideceu diante da lembrança daquelas horas na praia do rio. Não conseguia parar de pensar em Andy. Antes de dormir, ao acordar, ao tomar banho, ao ir ao cinema. Andy o dominava. A coisa ironicamente tinha se invertido: embora ele fosse o humano, o andróide comandava seus pensamentos. Acabou por desistir de rejeitar a lembrança e de criticar a si mesmo. Tinha de reconhecer: aqueles instantes foram os melhores de sua vida. Felicidade! Se isso existia, certamente ele a experimentara naquele dia inesquecível. Começou a cultivar a lembrança dos dias passados na companhia de Andy. Refazia cada diálogo, relembrava cada olhar, cada gesto, cada comentário do robô. Sorria sozinho murmurando frases ditas e ouvidas por eles. E por fim, se deliciava com o momento supremo na praia do rio Xingu. Depois, revivia tudo novamente, num ciclo interminável, até sentir-se deprimido por ter de voltar à realidade e retomar seu dia-a-dia. A anterior rejeição à experiência transformara-se em obsessão por revivê-la. O que mais queria na vida era rever Andy. Queria levá-lo para casa e estudar com ele, passear com ele, jantar com ele, dormir com ele.
Não tinha qualquer importância ele ser um aparelho eletrônico; ao contrário, isso o fazia superar qualquer humano. Humanos erram a toda hora. Andy nunca errava. Homens mentem e enganam. Andy não tinha problemas de caráter. Era perfeito. Andy tinha se tornado o sentido e a referência para sua vida. Ele o desejava desesperadamente, mesmo sendo um robô! Sim, o andróide até nisso tinha razão; amar nos faz conhecer mais de nós mesmos. Era forçoso reconhecer: ele amava Andy como nunca jamais pensou poder amar alguma coisa tão intensamente.
Como parte das pesquisas de Marcellodesenvolviam-se na América do Sul, ele freqüentemente visitava o pai em Peruíbe. O pai percebeu a tristeza tomando conta do rapaz e procurou entender, mas Marcello desconversava. Sua depressão era visível, mas recolhida. Ele julgou ser o ambiente do centro de pesquisa, ou a vida em Cornwall, a causa do desconforto do filho. Conversou com conhecidos do filho, sem nada descobrir. Ninguém imaginava a causa de tanta melancolia e tristeza.
À noite, deitado na cama, Marcello beijava o travesseiro dizendo, às vezes sorrindo e às vezes chorando:
- Eu te amo, Andy. Fica comigo!
Ora revivia a felicidade daquele momento na beira do rio, ora chorava por ele nunca mais ter se repetido. A fonte de sua felicidade era também sua tortura. O rapaz viveu dois anos esse suplício. Alguns colegas de trabalho sugeriram um afastamento temporário para tratamento. Na opinião deles, o rapaz não se adaptara à vida em Cornwall e seria bom ficar alguns meses em Peruíbe novamente, até sentir vontade de voltar. Embora relutante, Marcello aceitou. Passou alguns dias olhando o mar sem saber como reagir, como resolver seu tormento. Ele não aceitava que uma paixão pudesse ser capaz de sacudir tanto a vida de alguém. De que serviram todos aqueles anos dedicados ao estudo da ciência? Ele se considerava alguém racional, decididamente intelectual, longe das emoções causadoras de altos e baixos na vida humana. Escolhera ser assim, com o pensamento livre dirigindo seu destino. E de repente, devido a uma experiência banal com uma máquina, todos os anos de dedicação à mente pareciam evaporar, como se fossem nada! Ele amava, isso era a única realidade indiscutível. Tinha desdenhado as emoções comuns da vida e agora os sentimentos enjaulados exigiam seus direitos. Estava vencido, não havia como negar.
Um dia, finalmente, cansado, esgotado e sentindo-se derrotado pela solução que teimava em rejeitar, superou a indecisão: proporia à tia Margot vender Andy para ele. Pagaria o preço necessário e o traria consigo. Era a única maneira de finalizar seu martírio. Amaria Andy sendo ele o que fosse! Não adiaria sua felicidade por nem mais um minuto!
Assim fez. Dois dias depois chegou à mansão da tia, em Altamira. Inventou precisar do robô para estudar novamente e propôs à tia a compra. Ao falar, suas mãos ficaram frias e molhadas. Estava mais nervoso que nunca. Aquele momento determinaria seu futuro. A tia determinaria, sem o saber.
Tia Margot ouviu atentamente a explicação com um leve sorriso no canto dos lábios. Perspicaz, num segundo entendeu tudo o que o sobrinho tentava esconder. Ficou sensibilizada.
- Marcello, não precisa se desculpar por estudar com Andy - disse ela simpáticaMas a senhora recomendou não usá-lo por estar quebrado, mesmo assim usei devido ele poder me ajudar a estudar.
- O limpador estava quebrado - ela se levantou e, abrindo um armário, tirou um pequeno aparelho lembrando um quadrúpede. Andy reconheceu como sendo um robô capaz de limpar o chão
- Era este o limpador. Não estava funcionando - acrescentou ela sorrindo.
- Era isso o limpador doméstico? Então... Não houve problema em usar Andy?
Ela o encarou em silêncio por alguns segundos, pensando em como responder apropriadamente. Depois disse sem rodeios:
- Andy morava numa aldeia aqui perto e trabalhava para mim. Mas mudou-se daqui há um mês. Disse estar cansado daqui, pois vivia sozinho e sem oportunidades. Realmente, coitado, ele era muito sozinho e trabalhava bastante. Depois não o vi mais, e também não sei para onde foi - então olhou séria para o sobrinho, e concluiu, penalizada - Mas... Marcello, Andy não é um andróide. É humano.