Engenho Doce II

Um conto erótico de A. Duprèe
Categoria: Homossexual
Contém 1126 palavras
Data: 06/02/2005 22:15:22
Assuntos: Homossexual, Gay

Capítulo II

A chegada

Depois de viajarmos mais oito dias, chegamos à Fazenda Engenho Doce. Além de meus pais, vinham conosco nossa governanta, a velha Bertha, Lefrève, um tenente frandês, D’ Arruda, Nêgo Zé e mais cinco soldados mestiços. Além desses, meu pai trouxe também dois capatazes holandeses que já dominavam o idioma nativo e o dos escravos. A pequena milícia comandada por Lefrève era composta de caboclos que se insurgiram contra os portugueses e que, se presos, seriam condenados à morte. Dentre eles destacava-se D`arruda, caboclo sarará de quem já falei no capítulo anterior. Aparentava ter lá seus 28 anos. Como todo sarará, era de pele clara, olhos meio enverdeados, cabelos carapinhados e lábios carnudos e avermelhados. Atarracado, um pouco baixo para o peso e a idade, talvez medisse 1,68m e pesasse em uns 80 quilos. Seu jeito desengonçado, sua aparente sujeira e seu mau-humor contrastavam com a atenção e os cuidados excessivos que demonstrava para comigo. Aquela atenção exagerada, sua fala indolente e arrastada me irritava. Seus olhares e a forma como lambia os beiços grossos quando me olhava me perturbavam.

Um mensageiro antecipara-se para avisar de nossa chegada e preparar os serviçais e escravos. À distância, realmente a fazenda nos acenava como um paraíso perdido em meio àquela terra agreste e seca. A visão dos canaviais e das pastagens eram uns bálsamos para nossas vistas já cansadas daquele torrão seco e ardente. Tenente Lefrève e seus homens tomaram a dianteira para cuidar de nossa segurança. Contam que os escravos costumam cometer atrocidades com seus donos e, lá havia, segundo informaram, mais de 100 escravos. Espero que haja jovens de 14 ou 15 anos como eu para que eu tenha com quem brincar. Eu? Bem, meu nome é Antoinne Duprèe. Tenho 15 anos incompletos, sou ruivo de olhos azuis. Tenho sardas espalhadas pelo corpo, principalmente em meu peito liso e sem pelos. Algumas outras, umas poucas, decoram minhas faces. Meus cabelos são ruivos e anelados, quase cor de fogo. minha pele, de tão branca, quase rosa, sofre muito com esse sol tropical, razão porque sempre visto camisa branca de mangas compridas e minha mãe me obriga a usar bastante creme hidratante para a pele. Não falo a língua dos escravos. Falo francês, um pouco de português e holandês, naturalmente.

São pouco mais das quatro da tarde quando nos avizinhamos da entrada principal da sede da fazenda que se situava entre os rios Moxotó e Pajeú e já podemos distinguir toda sua população à nossa espera, à frente da casa: o tenente e sua tropa, o feitor e os escravos; estes, vestindo apenas calças de algodão cru e as mulheres com roupas do mesmo tecido e turbante nas cabeças. As crianças pequenas, em sua maioria, estavam nuas. Podíamos ver negrinhas e negrinhos de até quase 10 anos, completamente nus. Algumas meninas, mais precoces, já com pequeninos seios despontando, mesmo assim nuas! Também observei nos meninos, os maiorzinhos, uma tendência acentuada da raça negra em ostentar grandes e grossos cacêtes. Proporcionalmente à idade, aqueles ali seriam o que um dia, no futuro, chamarão de “massive cocks” Meu pai ordenou que quando chegássemos, eu e minha mãe fôssemos direto conhecer a casa e os nossos aposentos. Afinal, não sabíamos qual era a situação no momento e nem como seríamos recebidos. Antecipando-se à nossa chegada, o tenente Lefrève e o feitor vêm ao nosso encontro e apresentam um relatório ao meu pai. A situação está sob controle. Os escravos estão calmos e segundo o feitor, há apenas dois escravos fugitivos que estão no tronco aguardando punição. Finalmente chegamos e nos dirigimos diretamente ao interior da casa. Com a eficiência de sempre, Bertha sai e não demora muito em voltar trazendo consigo três negras escravas para os serviços de casa. Logo os banhos estão prontos e a comida sendo preparada. Eu, embora jovem, estava cansadíssimo e depois do banho, logo adormeci.

Já passava das 10 da manhã quando acordei. Meu primeiro impulso foi conhecer a senzala e os escravos. Já os vira antes, mas de modo diferente. conhecia-os da cidade, semi-civilizados. Não daqueles que vieram diretamente do continente africano para a fazenda. Estes vieram do Senegal,do Congo e uns poucos são de Guiné Bissau. Pelo que pude notar à distância no dia anterior, eram mais pretos do que aqueles que conhecera na cidade, quase azuis de tão pretos. O branco dos olhos contrastava acentuadamente com a pele negra.

Minha curiosidade era imensa e por isso, logo após o café segui em direção à senzala; a fazenda ficaria para depois. A senzala era uma construção de alvenaria, ampla e com apenas uma entrada. Lembra um grande galpão de terra batida; não há janelas, apenas grades de ferro, bem altas para ventilação. Também não há divisão interna e todos dormem em esteiras espalhadas pelos cantos. Foi então que me lembrei do que dissera o feitor sobre os escravos fugitivos. Procurei pelo tronco de castigo e o encontrei atrás da senzala. Lá estavam os dois escravos. Um aparentava uns quarenta anos e o outro, um jovem aparentando ter a minha idade ou se muito, um pouco mais velho do que eu. Procurei pelo feitor e perguntei-lhe a estória daqueles dois escravos. Eram pai e filho. O pai, Maobi, do norte da África, tinha origem árabe e fora capturado quando viajava ao Cairo. Isto explicava seus olhos esverdeados e sua tez mulata. Vendido como escravo foi trazido para a colônia holandesa há duas décadas. Unira-se a uma escrava trazida do Congo e com ela tivera dois filhos: Leôncio e Luzia que dele só herdaram o verde dos olhos. Com a morte da mulher, Maobi inconformado com sua sina, decidira fugir levando consigo seu filho Leôncio de 16 anos. Foram capturados e agora estavam à espera das chibatadas que haveriam de receber. Passei o resto do dia conhecendo os arredores da sede da fazenda, já que fora advertido a não me afastar da casa grande. Assim, conheci a senzala, a senzalinha onde ficavam as crianças pequenas e suas mães, a casa do feitor, a horta, o pomar e o córrego que trazia água fresca e cristalina para a casa grande. Atrás da senzala havia um local que fora preparado para o banho dos escravos e que eu, naturalmente, não poderia visitar por ordem de meu pai. Esse local era fechado por toras de madeira e não tinha teto. Um encanamento feito de bambu trazia água corrente para lá. Ao todo os escravos somavam 123 pessoas, sendo 72 homens entre 18 e 45 anos, 35 mulheres na mesma faixa de idade e o restante era composto de jovens, crianças pequenas e adolescentes com idade variando entre 0 e 17 anos, dentre eles Leôncio que, o destino traçara sua vida à minha.

Continua...

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