Uma Paquera que Promete

Um conto erótico de Julio Cesar
Categoria: Homossexual
Contém 1341 palavras
Data: 23/05/2005 06:56:42
Assuntos: Homossexual, Gay

Eu sou um coroa que está beirando os sessenta anos. Faltam apenas três meses para atingir a grande marca. Mas, fiquem frios, não aparento tudo isso, não! Uns quarenta e poucos, e, olhe lá! Tenho um físico muito requisitado no mercado: gordinho, quer dizer, 80kg para 1,65m de altura, barrigudo dentro dos limites, isto é, daquelas barrigas que desaparecem na camiseta mais folgada, muito peludo, careca, daquelas bem tradicionais, ou seja, muito pouco cabelo na cabeça, com os indefectíveis óculos bifocais, dos modernos, é claro! Minha aparência é muito agradável. Imaginem esse coroa acima de camiseta, bermuda e tênis. Há quem resista? Sinto que homens e mulheres sentem um pouco de atração por mim, vejam bem, aquela atração inocente (se é que pode existir atração inocente), o suficiente para tornar agradável um bate-papo. Pois é, fiquem certo disso, para que um papo se torne agradável a atração física ajuda muito. Não é condição excludente, mas, que ajuda, ah! isso ajuda!

Bem, agora que me apresentei, vou narrar o que está acontecendo. Tenho uma família maravilhosa, sabem como é, mulher e filhos, mas nunca deixei de paquerar homens assim no meu estilo, no meu físico, de preferência heterossexuais. É bom demais! Sempre existe aquela dúvida de estar ou não sendo entendido; há o temor de dar tudo errado, de ser rejeitado. A conquista é lenta. Há que se ser persistente. Tem-se que ganhar a sua confiança. Tem-se, igualmente, que lhe transmitir a um só tempo a sua firmeza de caráter e a sua “batida fraca”. Parece dúbio, mas nesse caso, não! Ele não pode ter dúvidas a seu respeito, com relação à sua preferência sexual. Ele tem que estar certo de que vai encontrar-se com uma fêmea que fará as vezes, mil vezes melhor, do que sua mulher em casa. É uma novidade pra ele e tem que ser melhor!

Mas, por que eu tenho tanta certeza de as minhas conquistas serem (como realmente são!) heterossexuais? Onde reside a certeza? Pelo ambiente da procura. Se eu os procurasse num ambiente “gay”, as chances de serem heterossexuais praticamente desapareceriam. Por favor, não entendam aqui nenhum tipo de preconceito, trata-se apenas de uma preferência que me proporciona muita excitação e prazer. Como não saio à noite, nem freqüento clubes onde o macharal vai consumir bebida alcoólica, pois não bebo, restam-me somente duas opções: paquerá-los perto da casa onde moro, ou nas pistas onde faço minhas caminhadas matinais, dentre as quais está incluída o “calçadão”. Mas, estes locais não excluem os homossexuais que, geralmente, estão misturados com os heterossexuais, daí não me garantem a minha presa, então o mais certo mesmo é o local de trabalho. Então, como me deslocar até o seu local de trabalho e iniciar uma paquera? A priori, parece difícil, mas não se deve esquecer que mesmo à beira da pista ou do calçadão, pode se encontrar um local de trabalho, um vendedor de água-de-coco extremamente viril. Foi o que ocorrei comigo. Ele estava lá, com cara de chefe-de-família, um pouco barrigudo, bigodinho, meio careca, no seu carrinho de refrigerantes, vendendo água-de-coco. Posso observar que ele utiliza o carro de transportar a família, uma Belina, que permanece ali de lado, como depósito dos refrigerantes e cocos verdes. Como disse, ele é extremamente viril, transpirando sexo por todos os poros, de bermuda, e camisa toda desabotoada (com o calor que está fazendo), mostrando generosamente o físico peludo que começa na virilha (que eu não vi, mas imagino!), subindo pela curva da barriga, deliciosamente erótica, até o tórax. E um detalhe muito importante pra mim e que não interessa aos adeptos de “homens sarados”: os peitinhos gordinhos! Eu enlouqueço de tesão! Os braços muito peludos, também. Não é alto, tem mais ou menos a minha altura. Deve ter uns quarenta anos. A sua presença não chama a atenção de ninguém, pela sua simplicidade e simpatia que nos transmite ao fitá-lo. Passa despercebido. Ali está um homem viril que pode fazer a alegria de muita gente em cima de uma cama, mas não é notado. As mulheres passam e nem se dão ao trabalho de observá-lo e se o fizerem não notarão nada de extraordinário; mesmo porque, mulheres não entendem de homens. Vejam os parceiros que elas escolhem. A beleza para elas que vale mesmo é a da sua conta bancária. Veados, também, incorrem no mesmo erro, com um agravante. Os veados de hoje se guiam muito pela mídia, e sonham com “homens sarados” (que coisa nojenta! Aquele tórax seco, sem gordura, sem peitos, somente dois pontos marcando o local!). Daí, não o notam! E se o notarem, não lhes desperta nenhum interesse. Outro fator que faz crescer no homossexual o desinteresse é não querer jogar com a dúvida, preferindo um homossexual como ele, que é cartada certa e também porque, tenho notado que os homossexuais de hoje são indefinidos na sua posição, tendendo muito para o”troca-troca”, e o heterossexual convicto na maioria das vezes não está interessado. Que bom pra mim! Ele estará sempre ali, sem ser molestado por ninguém!

Como disse, é muito lenta a paquera. Além de ser muito complicada, devendo ser cercada de todos os cuidados para não se botar tudo a perder, e, como se não bastasse, sou bastante tímido. Então, após vários dias de “flertes” de leve, num certo dia de fino chuvisco, resolvi parar em frente ao seu carrinho mesmo sem este possuir nenhum protetor contra a chuva fina (que serviria de desculpa), apenas para parar, simplesmente, e olhá-lo nos olhos. Às vezes eu tomo certas atitudes meio aloucadas e pronto! Ele me olhou nos olhos e, sem entender, segurou o olhar fixamente, estudando as minhas reações. Eu não tinha outra saída, senão dizer-lhe:

- Tudo bem?

- Tudo bem! – respondeu prontamente, quebrando a tensão criada por mim, e deixando-nos ambos à vontade.

Segui a minha caminhada, agora mais certo do quanto ele é acessível. Já sabia, também, que ele “falava”! E como falava! Que voz linda! Máscula! Voz de homem, como eu gosto!

Voltei no domingo, mas sem muita esperança, algo dentro de mim me desanimava. Estava começando a tomar consciência de que ele era “muita areia pro meu caminhão!” Passei na ida de minha caminhada e ele estava ocupado com alguns fregueses e só deu pra eu me aproveitar dessa situação e brechar o seu físico toda à mostra, a barriguinha um pouco pra fora peluda, o tórax peludo, o seu rosto lindo demais com um meio-sorriso sempre disponível. Segui em frente. Minutos depois esqueci-me completamente dele. É incrível! Quando não temos esperança da nossa conquista, a pessoa visada não ocupa muito espaço na nossa mente.

Na volta, ele estava, de novo, ocupado com os fregueses e, de novo, aproveitei-me para desfrutar a beleza daquele macho viril e pronto para dar uma com competência em qualquer circunstância, eu percebia isso. Mas, de repente, uma surpresa! No momento que eu passava em frente ao seu carrinho, ele tirou momentaneamente a atenção de sua freguesia, me fixou nos olhos e falou:

- Tudo bem?

Oh, meu deus! Tremi nas bases. Será que eu estava sonhando ou acordado? Ele estava mesmo falando comigo? Mas, eu nem me dirigi a ele! Respondi em cima das buchas:

- Tudo beeemm! – aquilo me soou como uma cantada. Ele poderia ter-me ignorado simplesmente e, se não o fez, é porque queria uma aproximação comigo. Estava na cara.

Eu falei pra vocês! Eu só consigo heterossexuais! Eu mato no cansaço. Eu acabara de ganhar um homem de verdade! Vou administrar isso, podem ter certeza.

Eu sei quando ganho uma parada. Eu, na fase de preparação e de aproximação, durante a paquera, procuro transmitir à minha presa o que quero e “qual é a minha”, por isso quando ele se dirigiu a mim já sabia o que eu quero dele. Essa está ganha. Só falta agora, no próximo domingo, chegar na sua barraca, tomar uma água-de-coco, apertar a sua mão que deve ser pura tesão, acertarmos os detalhes e sermos felizes para sempre...

Eu quero ser somente a sua fêmea. Extrema e escandalosamente a sua fêmea!

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Comentários

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É bom esse veado maluco, preconceituoso, ir se tratar com um analista competente, pra ver se para de espalhar rótulos por onde passa... O mundo é livre e de parâmetros pessoais, não tem que ser homo ou hétero e ser veado de verdade, requer muita coragem e respeito as pessoas, coisa que você não tem... Já pensou tua mulher sabendo que você quer ser fêmea de outro...kkk

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