O almoço

Entro no carro. Sensação de encontro com o desconhecido. Nenhum desejo, apenas seres sociais em uma pequena viagem. Objetivo da viagem: nos distanciarmos do nosso mundo conhecido e penetrarmos com segurança em um local onde possamos realizar algumas fantasias. Após 40 minutos de conversa sobre assuntos banais do cotidiano, estacionamos o carro e até entrarmos no quarto ainda somos nós mesmos, ou pelo menos, como somos vistos por todos. Estamos agora em um quarto. Ainda estamos tímidos. Mal nos olhamos, nos tocamos delicadamente. Apenas uma penumbra ilumina nossos corpos e os poucos objetos do local. Sinto seu cheiro, solto seus cabelos longos. Meu corpo está colado ao seu. As roupas são empecilhos dos quais nos livramos naturalmente. Seu peito é quase liso. Seu corpo é magro, com músculos bem delineados. Sua mão é pequena e incrivelmente macia. Sinto-me grande e pouco delicada. Meus carinhos parecem grosseiros diante de tanta habilidade. Seus dedos molhados em sua saliva percorrem o meu corpo e me penetram em movimentos ritmados. Sou tirada do quarto, do prédio, da rua, não sei mais onde estou. Perco-me. O desejo de entrega é absoluto. Desejo entregar-lhe cada célula do meu corpo. Meus seios são mordidos e lambidos. Sinto vontade de poder alimentá-lo com eles. A sua língua acaricia e suga a minha vagina. Não sei mais onde estão as suas mãos, suas pernas, nem as minhas. Sinto seu pênis entrar em mim. Em diversas posições, vou esquecendo aos poucos quem não sou. Atinjo eu mesma. Estamos de lado. Seu rosto colado ao meu, sinto sua respiração, vejo meus olhos nos seus olhos. O prazer mais nobre, mais refinado, mais sublime me percorre. Descansamos unidos um ao outro. Ele me instiga a ultrapassar os nossos próprios limites do prazer. Beijo o seu pênis, faço movimentos síncronos com a mão e a boca, alternando-os. Ele fecha os olhos , cabelos espalhados, lábios entre abertos, um sorriso, um gemido, um grunhido suave, o tempo passa, algumas vezes levanta as costas da cama e deita novamente, com as mãos abertas sobre a face. Sem nenhum som, sua boca se abre em um grito mudo e em sua face se configura uma expressão de profundo prazer. Sinto em minha boca o seu sabor. Estou deitada, seus dedos delicados me massageiam, mais alguns, outros, não vejo mais a sua mão. Sensação de preenchimento. Sinto vontade de fazê-lo me sentir dentro dele. Gostaria de ter leite para alimentá-lo ou um pênis para penetrá-lo. Gostaria de estar dentro dele de uma forma definitiva, inquestionável, como os homens possuem as mulheres, penetrar em suas entranhas. Retribuir-lhe o esperma, que dentro de mim poderia multiplicar a vida, mudar meu corpo, o rumo da minha estória e até do mundo. Viro-o de costas. Beijo suas costas, descendo suavemente. Abro-lhe as nádegas e beijo-lhe. O meu menor dedo o penetra. No início sinto apenas uma parede estreita. Apenas um dedo, parte do meu menor dedo. Lentamente , um pouco mais fundo, mais interno, mais íntimo. Ele me penetra. Mantenho meu dedo parado. O seu próprio movimento determina o nível de profundidade dos nossos membros dentro de cada outro. Sinto seu prazer, seu liquido escorrendo pelo meu corpo. Nos olhamos no espelho no teto sobre a cama. Acho-me perfeita. As coisas estão e são como deveriam estar e ser. O mundo não tem nada para ser mudado, é a casa que gosta de todos nós. Aquele corpo longo de pernas compridas e finas e ombros largos é perfeito em cada milímetro. O corpo ao lado é de rara beleza. Hora de ir. Tomamos banho, colocamos as roupas e as máscaras. Entramos no carro. Olho para ele e tento resgatar em pensamento o que aconteceu minutos antes. Arrisco colocar a minha mão sobre a sua perna enquanto dirige. Não ha efeito. Ele me ensina que o trânsito exige atenção, a vida inspira cuidados eternos e que só as mulheres são capazes de pular de trampolins de alturas infinitas sem nunca atingirem terra firme.