Múltiplos orgasmos

Um conto erótico de Anacrônico
Categoria: Heterossexual
Contém 803 palavras
Data: 28/01/2006 18:14:49
Assuntos: Heterossexual

Segundo pesquisa divulgada recentemente, os homens que não se barbeiam estão em situação delicada. É mais um exemplo da lógica inegável da estatística: homens que não se barbeiam não se cuidam bem, provavelmente. Se não se cuidam bem, se alimentam mal. Se eles se alimentam mal, têm maior risco de ataques cardíacos.

Não é genial? O que me impressiona é que mesmo depois de inventado o infame prêmio IgNobel, ainda somos bombardeados com este tipo de asneira. Mas isso não é nada. Barbudos têm maiores chances de ocupar postos de trabalho braçal, fazem menos sexo e têm menos orgasmos. Por quê? Será que os hormônios que o corpo dispensa para fazer crescer os pêlos faciais seriam melhor gastos naquele outra atividade consumidora de calorias? Então os melhores amantes do mundo são os sujeitos que depilam a cara? Deve ser por isso que os ursos são aqueles bichões mau-humorados; com tanto pêlo no corpo, a vida sexual deles deve ser pior do que a dos fuscas. Não é a toa que hibernam; afinal, sem televisão, fazer o quê?

Enquanto isso, aqui, na terra dos botocudos, as barbas estão em alta e nem é preciso explicar o porquê. Bom, pelo menos não fomos totalmente contaminados por estatísticas toscas como esta; mas, igualmente patético, tem muito marmanjo por aí cultivando a pelagem facial para parecer mais integrados aos "novos tempos". Estes devem se lembrar do tempo em que, adolescentes, rezavam trinta e seis aves-maria e quarenta e oito pai-nossos, esperando pela graça de aparecer um pelinho sequer no queixo pelado. Em geral, aparecia de tudo: espinha, cravo e pereba; tudo mesmo, menos barba. Eu fui exceção: a barba já me incomodava ainda imberbe, o que me conferia um aspecto bizarro, muito além da bizarrice natural de qualquer adolescente.

Por falar em adolescentes, sabemos bem que o cinema norte-americano tem como alvo os bons e novos moleques. Certo, mas lá as salas de exibição só começam a dar lucro lá pela terceira semana em que um filme está em cartaz; como há cada vez menos filmes que ficam este tempo, ficou difícil manter os cinemas de pé. Solução: pipoca para o povo! Os donos de cinema decidiram que passarão a vender mais pipoca, firmando acordos comerciais com as empresas que produzem e distribuem milho arrebentado, transformando os cinemas numa espécie de McDonald´s em que, por acaso, se vai assistir um filme. Seguindo esta lógica, daqui a alguns anos, vai ser a pipoca quem vai mandar no cinema deles e farão filmes pensando não em quanta gente vai assistir, mas em quantas milhões de toneladas de pipoca o filme vai vender. Já dá para imaginar o lobby da pipoca trabalhando em Hollywood, exigindo filmes mais adequados aos apetites adolescentes.

Ou seja: espere para breve uma pesquisa dizendo que quem vai ao cinema tem mais chances de sofrer um ataque cardíaco. Claro, meu caro Watson, quem sai de casa para encarar uma sala de exibição lotada por adolescentes fatalmente comerá mais pipoca, e, pipoca, como todo mundo acha que sabe, anda lado a lado com outros pratos nada saudáveis. Logo: mais pipoca no bucho, mais corações escangalhados. Também já vejo a ascensão da pipoca ao topo das causas de morte entre a molecada, campanhas baseadas em conclusões cientificamente comprovadas para diminuir o consumo de pipoca, ONGs arrancando doações voluntárias contra a produção de pipoca transgênica. Toda vez que um sujeito comprar um saco ou um balde de milho estourado, verá na embalagem uma tarja vermelha: "O Ministério da Saúde adverte: Pipoca causa impotência". E veremos muitos sujeitos que devolverão o saco e pedirão outro, mais ameno, escrito "O Ministério da Saúde adverte: Pipoca causa ataques cardíacos". Antes ter um ataque do coração do que entrar para a turma dos barbudos sem orgasmos.

E o que acontece se um barbudão gostar muito de pipoca? É preciso pensar nesta possibilidade e criar contra-medidas estatais para diminuir o consumo deste produto nesta categoria. Eles podem chamar o garoto-propaganda de um banco já incorporado a outro, lembram-se dele?, para estrelar uma campanha a favor dos barbeadores e contra a pipoca. Já imaginou o choque que causaria a cena deste sujeito se livrando de sua vasta e bem cuidada cabeleira facial? "Se você gosta de si mesmo, ande limpo. Faça a barba". "Seus bisavós não comiam pipoca e viviam mais e melhor". Duda Mendonça, lá vou eu!

A última medida, drástica, seria o Estado proibir de vez a pipoca. Quem quiser comer milho virado do avesso, que suba o morro e corra o risco de tomar uns pipocos (eu não resisti...) dos traficantes de pipoca da boa, importada diretamente dos cinemas norte-americanos. Para quem quiser um barato maior, fornecerão a raríssima pipoca transgênica da Tailândia, mas esta será privilégio dos que realmente gostam de correr riscos, de sentir adrenalina na veia.

Barbudos, claro.

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