De uma página perdida dO Guarany Personagens: Cecília, Isabel e Peri (de O Guarany, romance de José de Alencar) Nem o dia tinha totalmente acordado, Isabel e Cecília já abriam passagem pelos arbustos da Serra dos Órgãos, a caminho do rio Paquequer para o banho matutino. Do céu, tingido pelas inúmeras nuvens de um branco feito algodão, descia uma cerração densa e fresca que tornava a manhã mais fria do que de costume. Havia uma atmosfera de mistério na floresta. Por todos os cantos, irrompiam os cantos dos pássaros, o ruído de algum bicho menos identificável, o farfalhar das folhas seduzidas pelo toque do vento, mas, não obstante a complexidade da sinfonia da natureza, era impossível localizar ao certo cada som, cada barulho fundido à névoa compacta que se espargia pela serra, o que fazia com que as duas moças se movimentassem por entre as árvores com o máximo de cautela possível. Ao alto, notando a mínima nota do quebrar de um graveto por um dos delicados pezinhos, Peri prontamente descerrou as pálpebras e, num átimo, já pulava de sua cabana, instalada numa frondosa copa de árvore em frente à janela do quarto de Cecília. Com extrema agilidade, o selvagem lançou-se tal qual uma cobra no bote, agarrando-se num imenso cipó que o conduziu à árvore seguinte. Após a arriscada manobra, Peri, de um único salto, desceu ao chão e dirigiu-se a ponto alto de terra, uma espécie de morro, que ficava uns quatro ou cinco metros de onde as moças tinham por hábito se banhar, lugar que havia cuidadosamente escolhido para melhor proteger a sua senhora de algum perigo que pudesse ameaçá-la. E lá ficou em sua posição característica de sentinela, atento ao menor rumor. Isabel e Cecília, ao finalmente avistarem o leito do rio Paquequer, quase oculto pela neblina, buscaram inicialmente as moitas que cotidianamente eram usadas por elas para a muda de roupa. Ali, trocavam os longos e pesados vestidos pelos trajes de banho improvisados por D. Lauriana. Entretanto, como o dia estava completamente tomado pela cerração, as moças demoravam para encontrar o esconderijo natural. Desejando evitar a delonga, pois dentre em breve teriam de subir para o desjejum, Ceci decidiu trocar-se onde mesmo estava. Tinha consciência da presença de seu guardião. Além do mais, com aquela cortina compacta de névoa, ninguém, por mais perto que se encontrasse, não conseguiria ver coisa alguma. Virando-se de costas para Isabel, Cecília pediu para que ela desfizesse o nó que amarrava a parte de trás do vestido. Tomou as pontas do cordão e foi livrando, paulatinamente, os ombros da prima, como se saboreasse cada palmo de pele desvelado. Isabel sentia uma grande admiração pela beleza sublime de Ceci, sentimento que, às vezes, transcendia os limites da admiração, chegando a beirar as raias da inveja. Sabia disso e, quando percebia o seu coração contaminado momentaneamente por tal impureza, tentava se controlar, tentava se contentar com aquilo que tinha e que havia sido ofertado generosamente pelas graças do bom Deus. Mas como gostaria de poder tocar o seus próprios cabelos, o seu rosto, a sua pele e sentir neles a mesma maciez que sentia ao tanger por vezes sem querer os cabelos, o rosto e a pele de Cecília. Como gostaria de desfrutar, pelo menos, de saber que o venerável D. Álvaro de Sá ardia de paixão por ela. Até a própria dedicação de Peri, de quem não suportava a simples presença, até a sua própria dedicação causava-lhe inveja em certos instantes. Com a mente levada por tais pensamentos, Isabel se demorava nos nós do vestido de Cecília. Sem nem sequer notar, ao simples favor lhe solicitado, passava a acrescentar leves carinhos. Uma vez despido por completo o corpo do prima, sua derme rosada mostrou-se salpicada por arrepios. Vendo isso, uma ardência se propagou pela coluna de Isabel, sensação que foi, aos poucos, embriagando inexoravelmente a sua alma. - Tu estás tão bonita hoje! - Obrigada, minha prima. E tu estás tão carinhosa o que há contigo? Cecília voltou-se para Isabel, passando-lhe os dedos delicadamente pela face e, logo em seguida, abraçando-a. Ao sentir os seios da prima nus e comprimidos contra os seus, por sobre o colete, começou a experimentar um sentimento agradável, que fazia brotar prazer de cada poro. Uma tonteira se apoderou de sua mente. Os pulmões se descompassaram. Sua respiração estava acelerada. Era como se estivesse sofrendo uma crise de falta de ar. - O que tens tu, Isabel? Afastando o rosto, Cecília sondou a prima no fundo dos olhos. Isabel sorriu meio desconcertada, como se tivesse tido a impressão que, por um momento, seus pensamentos puderam ser lidos por Cecília. - Nada, minha prima. E que tu estás tão linda hoje - Ora, mas isso tu já disseste. Hum estás me escondendo algo? Olha, não gosto que guardes segredos para mim! Novamente, as duas se abraçaram. A respiração de Cecília, que disseminava o hálito quente nos lóbulos de Isabel, causou-lhe um sem número de arrepios. Por segundos, permaneceram assim juntas, quando, enfim, Ceci resvalou os lábios pelo rosto da prima, finalizando com um pequeno beijo perto de seus lábios. Isabel, excitada com as bocas tão próximas, arriscou-se a selá-las num beijo mais íntimo, ao que Cecília respondeu com um certo pudor, enrubescendo a face. Isabel temeu a reação: - Desculpa, minha prima. Eu te ofendi? - E por que teria? - O beijo - Não há nada de mais num beijo entre duas pessoas que se gostam a menos - A menos - A menos que tu não gostes de mim. - Ora, mas como tu podes supor isso, Cecília? Eu gosto de ti, gosto muito de ti. Mas é que eu achei que tu não tivesses gostado, tivesses te ofendido - Não é isso é que nunca tinha beijado alguém dessa maneira. Só isso. Talvez, com o tempo, eu me habitue. Reanimada com a explicação, Isabel retornou aos lábios de Cecília. Agora, entregava-se total ao fogo que queimava em suas carnes. Assim, o beijo, reiniciado ainda com certo comedimento, com certo temor, tornou-se mais ensandecido, mais ardente, rompendo as amarras do medo do prazer. Um tanto quanto acanhada, Cecília livrou-se do restante das roupas brancas, de maneira à prima poder lhe acariciar melhor. Isabel, então, deslizou as mãos pelas suas coxas lisas e levou-as até as nádegas. Com o contato, Ceci soprou um suspiro no ouvido da prima. Apesar de constrangida, a excitação imperava em seu corpo, demovia qualquer consciência de transgressão que lhe pudesse atravessar a mente. De repente, um sensível estalo se ouviu pelas redondezas. As moças, por um breve intervalo, estancaram os movimentos. Perscrutaram ao redor, mas julgaram se tratar de um ruído normal da floresta. Cecília estendeu o vestido sobre a relva. Deitou o seu corpo nu e convidativo. Como num acordo tácito, Isabel despiu-se numa dança morosamente luxuriosa. Os bicos dos seios estavam entumecidos. A pele transbordava sensualidade. Seus olhos brilhavam frente à maravilhosa imagem da prima nua e repousada languidamente no chão. As moças uniram-se num abraço sôfrego. Ofegavam. Alisavam-se mutuamente. Sufocada pelo tamanho prazer, Isabel sugou um após o outro os mamilos de Cecília, que já não conseguia mais abafar os gemidos. A prima, então, resvalou a língua pela sua barriga alva e espasmada pelo ritmo frenético da respiração até chegar no seu ventre. Um forte cheiro de sexo entranhou-lhe as narinas, enlouquecendo-a ainda mais. Isabel colocou o rosto por entre as coxas de Cecília e, com a língua a avançar através de seus loiros e cerrados pelos, atingiu o sexo úmido e quente. Ceci contraía e descontraía descompassadamente todos os músculos do corpo. Por vezes, sentia como se algo dentro de si estivesse a ponto de explodir. A visão se turvava. Tato e olfato confundiam-se em uma coisa só. Novamente, um ruído se sobressaltou à calmaria da manhã. Dessa vez, mais forte e próximo. Assustadas as moças congelaram de medo. Cecília levantou-se. - Peri?! Peri, és tu?! Um vulto avançou na neblina. - Sim, minha senhora. - O que fazes aí? Alguém se aproxima? - Não, minha senhora. - Então, venha cá, meu amigo. Com o pedido, Isabel vez menção de se esconder, ao que Cecília a prendeu entre os braços. Surgindo a massa esbranquiçada de cerração, Peri se aproximou timidamente. Ao ver as moças nuas, cobriu as vistas. - Dispa-te, Peri. - Minha senhora o que pretendes? - Dispa-te já! Não ouviste a minha ordem? Por um acaso, desobedeces a tua senhora? Desajeitado, o selvagem retirou suas parcas vestes. O membro rijo e descomunal saltou para fora, fazendo aumentar o seu desconcerto e a excitação das moças. Sem mais palavras, Cecília tomou o pênis de Peri em sua boca. Degustava-o extasiada centímetro por centímetro com sua língua irrequieta. O selvagem, ainda que em muito se esforçasse por prosseguir com o semblante impassível, como um sinal de respeito aos desvarios incompreensíveis de sua senhora, já não mais se continha em si, tal era o prazer que se expandia imperiosamente em seu íntimo. A simples contemplação de Ceci lhe sorvendo deliciosamente, da glande à base do sexo, somada ao frenesi de Isabel que, posicionada sob a prima, assaltava seu sexo com a língua incansável, era o bastante para lhe tirar roucos vagidos. Por um longo tempo, os três se mantiveram desse modo. Seus gemidos de prazer confundiam-se numa voz uníssona. O odor de sexo parecia se disseminar pela extensão da floresta. Libertando Peri de sua fome insaciável, Cecília conduziu o membro do indígena para as nádegas morenas da prima. Naquele momento, a repulsa de Isabel ao índio fazia-se motivo para experimentar uma verdadeira atração por ele. Era como se, além do corpo, sua alma fosse violentada. Uma dor lancinante revolveu suas entranhas. Sentia como se estivesse sendo rasgada por dentro. Com extrema dificuldade, o selvagem invadiu totalmente seu ânus virginal. Apesar do descomunal sofrimento, desfazia-se num prazer orgasmático. Com a cena, Cecília se tocava com descontrolada lascívia. Passou a estimular o clitóris já inchado. Brincava com os pequenos lábios, beliscando-os de leve, o que a fazia ficar mais úmida ainda. Masturbava-se com indescritível prazer, excitada com a vista adorável de seu escravo e de sua prima se possuindo famintamente, até quando, não resistindo mais, se apossou de novo do sexo de Peri. Ao sentir seu ânus dolorosamente preenchido pelo membro quente e duro, Ceci desfaleceu num intenso orgasmo juntamente com o indígena. Isabel, logo em seguida, estimulada com o êxtase da prima, também gozou, perdendo os sentidos. Durante um considerável tempo, os três deixaram-se estar jogados sobre a relva, acobertados pelo sigilo baço da neblina. Somente mais tarde, foram despertar com a voz alta e retumbante de D. Antônio, que, preocupado com a demora da filha e da sobrinha, descia do burgo dos Marizes à procura das duas.
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