Anatolia Pisarovic, a comissária de bordo. Prefiro muito dizer "aeromoça", mas parece que agora elas se ofendem quando são chamadas de aeromoças, deve ser porque a cada dia ficam mais aerovelhas. Hoje em dia tudo ofende e, como nós vivemos macaqueando os americanos, também fica¬mos politicamente corretos, e um babaca aí agora está queren¬do uma lei proibindo piadas que possam ofender qualquer grupo, de qualquer tipo. Imagino o surgimento de um grupo antipiadas a Igreja Universal da Assembleia dos Homens Sérios registrado e, portanto, a proibição de contar qualquer piada, sob o risco de ofendê-lo. Haverá piadas clandestinas, contrabandistas de piadas, transeiros de piadas, fornecedores de piadas de árabe e judeu e presos inafiancaveis pelo delito de contar piadas. Puta que o pariu, só falando assim, atraso, atraso. A aeromoça nos conheceu numa birosca de praia, quando estava passando férias numa pousada em Porto Seguro, que não era moda como agora. Ela tomou umas batidinhas e acabou confessando que já estava ficando meio dura, e aí Fernando e eu, já pensando em dar um bote, porque ela era um deslum¬bramento, olhos verdões, peitos e coxas na medida certa, uma voz grave enlouquecedora, enfim, ótima, ótima, uma verdadei¬ra estátua grega de biquini, oferecemos lugar para ela, casa, comida, roupa lavada e ajuda no que ela precisasse, no sitiozi-nho que tínhamos alugado para a temporada. No começo, ela fingiu não querer, mas depois quis. Certa noite, ela estava de shortinho meio frouxo e blusa por cima dos inenarráveis peitos, com os bicos que pareciam dois telescopiozinhos empinados para o céu, e eu fiquei ensan¬decida de tesão, passei o tempo todo alisando ela durante as conversas e, quando finalmente resolvemos ir dormir, eu entrei no quarto dela e deitei junto dela e encostei na bunda dela, e ela veio com aquela conversa de que o negócio dela era homem. Mas isso com um sorriso sem-vergonha, que nem de longe me convenceu. Aliás, mulher que vive repetindo que o negócio dela é homem, o negócio dela é homem, está num caso análogo ao que minha avó denunciava a mulher que não se refere ao marido pelo nome, mas vive falando "meu marido", "meu marido". No primeiro caso, dedução minha, o negócio não é só homem e, no segundo caso, dedução de minha avó, o marido é corno. Ainda conversei um pouco e apertei os peitos dela, que tirou minhas mãos, mas daquele jeito safado de quem não quer que a gente tire realmente. Perguntei se, nesse caso, ela estava interessada em Fernando, mas ela disse que não, desta vez com firmeza, que ela pode não ter tencionado mostrar, mas eu notei logo. Está certo, tudo bem, vá dormir, durma bem. E, por uma questão de estratégia coisas sutis para as quais a gente tem talento natural e aperfeiçoa com a vida , deixei ela sozinha no quarto e fui continuar a conversar sacanagem com Fernando, até o dia começar a amanhecer. Não gosto de ver o dia amanhecer completamente, deve ser algum lixo católico que eu carrego, me dá desconforto, culpa. Já desisti de comba¬ter isso há muito tempo, sempre vou para a cama antes que o dia amanheça, é mais cómodo do que dedicar a vida a tentar vencer uma neurose de merda. Como de hábito, não dormi durante muito tempo, apesar das bolinhas, e fiquei pensando nela. Eu tinha certeza de que ela queria que eu insistisse, mas não insisti; posso ser boba, mas nem tanto. Não sou boba, aliás. E assim se passou essa noite e a seguinte, até que, na terceira noite, depois que ela alegou sono e cansaço e foi para a cama sozinha novamente, eu passei de propósito pela porta do quarto dela, que estava quase completamente aberta e a luz do abajur lá dentro acesa. Ela não estava mais de shortinho e blusa, não estava vestindo nada, estava completamente nua, de bruços, pernas em ângulo, pose clássica, aquela bunda inefável, aquela pele coberta de lanugem dourada, e eu, é claro, não hesitei. Não podia haver a mínima dúvida de que ela estava ali me esperando para transar, por mais que pudesse dizer o contrário. Eu não ia deixar essa oportunidade passar levada por prudência babaca, já bastam as de que me arrependo por não ter caído em cima, hoje vejo como as barreiras eram bestas ou até fictícias. Nem parei para pensar. Fiquei também nua na porta do quarto, deixando as roupas caírem na entrada, e me insinuei por cima dela, que agiu como se estivesse acordando naquele momento, péssima atriz. Deitada em cima das costas dela, encaixada em uma das bochechas da bunda dela, já começando a me esfregar, pedi que virasse o rosto para trás para que eu a beijasse na boca, e ela virou. Pronto, uma química jamais declarada baixou em Porto Seguro, meu Deus! Tudo funcio¬nou como se tivéssemos nascido já fazendo tudo aquilo uma com a outra, até os gemidinhos dela compassavam com meus gemidões, nada deu errado, nenhum movimento se frustrou, ai, como foi bom, esta vida é muito injusta, quando nos traz essas lembranças. Penso nela como ela era então, não penso nela como deve estar hoje, me masturbo evocando aqueles dias com ela. Sem o momento, não existiriam nem a antecipação nem a lembrança, mas como os dois são melhores que o momento! Quando, depois de já termos gozado quase ins¬tantaneamente, eu na bunda dela e ela com meus dedos, vi o que minha mão já tinha adivinhado: ela tinha um tufo de pentelhos que só posso chamar de suntuoso, a visão mais hospedeira que já tive, adoro mulheres fartamente pente-Ihudas, não sou chegada às aparadinhas e raspadinhas, que são muito comuns no Nordeste. E nos Estados Unidos também, é engraçado. E também não aprecio esses pentelhos que ficam" como uma crista, raspados certeiramente junto às virilhas, parecendo a cabeça de um índio seminole ou o topo do capacete de um centurião romano de cinema. Está certo, é para usar o biquini, mas não é necessária aquela precisão, podia ser uma coisa menos definida, mais dégradée, menos brutal. Ou então deixar os pentelhos saírem pêlos lados do biquini, ou até por cima, é bem mais sofisticado, embora requeira classe. Ela era perfeita nesse sentido, aquele monte de Vénus amplo e generoso, aqueles pêlos lãzudos e macios. Refocilei a cara nesse tapete que até agora sinto em meu rosto e vivemos horas de abraços, esfregadas e gozo, um atrás do outro, como só as boas mulheres sabemos fazer. Aliás, entramos num delírio tal que Fernando, sozinho, sozinho, abrindo ao acaso revistas porno¬gráficas para tentar adivinhar se ele ainda ia comer Beltrana ou Sicrano e enchendo a cara, apareceu no quarto e também ficou nu e, apesar de broxado, não envergonhou. Nos transforma¬mos num novelo e, no fim, Fernando entrou em rebordosa e ficou numa paudurisia inaudita, comeu nós duas e gozou na boca dela. Isso se repetiu até as férias dela acabarem e, no fim, ela nos disse misteriosamente que era casada e, por mais que tentássemos, nunca mais a vimos, mas eu não a esqueço como a mulher que eu mais gostaria de ter tido sempre ao pé, para a gente se comer.
Como ela me chupava! Mulher sempre chupa xoxota muito melhor do que homem, que geralmente acha que sua língua é uma espécie de pênis desarvorado e que pode sugar um clitóris ignorando os próprios dentes cheios de arestas, como quem está tomando refrigerante de canudinho, com raiva do conteúdo. E ela me chupava com classe e um toque, não sei bem como dizer, um toque de devoção. Respirava fundo, se aconchegava entre minhas coxas, me segurava deli¬cadamente na bunda, respirava fundo outra vez, me cobria de beijos nas virilhas, fechava os olhos e me levava ao céu, ao céu! Não posso nunca me esquecer do dia em que ela começou a me chupar no sofá, e eu resolvi que naquela hora preferia a cama e, não sei como, ela conseguiu me seguir até a cama sem tirar a boca de mim com os olhos fechados e eu gozei torrencial¬mente logo em seguida. Não sei se posso dizer, porque não vejo razão para rejeitar o rótulo de libertina pervertida e devassa, se já tive paixonite a sério por alguém, mas, se já tive, foi por ela. Uma vez, Fernando fora de casa, comendo uma carioca grã-fina que havia aparecido com um marido altamente babaca e nós duas em casa, eu deitada num tapete, e ela, usando um roupão felpudo de Fernando sem nada por baixo, fez que ia passar por cima de minha cabeça e parou bem acima de minha cara com as pernas levemente abertas e aquele bocetão irresis¬tível, na penumbra em torno de meus olhos. Toquei nos quadris dela, e ela, como se tivéssemos combinado antes, sentou na minha cara, que sensação insubstituível e incompa¬rável! Como era aveludada, como era acolhedora, como tinha os cheiros certos! Como era submissa da maneira mais encan¬tadora, pronta para fazer tudo o que eu quisesse, do jeito que eu quisesse, na hora em que eu quisesse, tudo com uma naturalidade que parecia que a vida sempre tinha sido assim, desde que o mundo era mundo. Não sei, não sei mesmo como descrever o que havia entre mim e ela, até o jeito como ela se livrou do roupão nessa hora é inimitável. Ela me chamou de meu amor, meu amor, minha tesão, minha dona, minha ídola, meu tudo, minha vida e, ai como eu a chupei, como chupei tudo dela, até que ela, falando as coisas mais sublimes que podem ser ouvidas, gozou como uma loba divina uivando, gozou mais, suspirou com aqueles olhões que davam vontade de mergulhar e pediu que roçássemos entrelaçadas até mor¬rermos, e naturalmente que morremos um pouco. E depois continuamos a nos roçar e eu pedi que ela me desse a língua toda para eu enfiar na minha boca e, enquanto isso, que girasse a bunda para eu alisá-la, e ela passou a me chupar novamente, eu já sem fôlego e sem vontade de ser mais coisa nenhuma neste mundo, a não ser nós duas, diluídas no meio do universo e trocando nossos corpos. Quando falo nisso, fico um pouco um pouco, não, muito excitada e me arrependo por não tê-la perseguido o resto da vida. E claro que o negócio dela não era homem, era eu mesma. Podia não ser só eu mesma, mas eu fazia parte importante do negócio dela. Os outros participantes certamente houve ou há, mas não podem ter sido melhores com ela na cama do que eu.