I
C A P Í T U L O
Não me lembro ao certo quando tudo teve início, mas sei que não foi culpa minha, Senhor Delegado, e posso muito bem lhe contar toda a história.
Parece que foi ontem. Eu fui transferido da cidade de São Paulo para a cidade de Teresina, para lecionar Literatura Contemporânea, na Universidade Federal do Piauí. Como a notícia da minha transferência deu-se de modo repentino, pegou-me desprevenido, de modo que não tinha dinheiro para alugar uma casa, nem tive tempo para reservar um hotel. Na época, estava tendo a Micarina de Teresina, e o Senhor sabe como ficam os hotéis e as pousadas. Isto mesmo! Superlotados.
O jeito foi ir atrás de uma hospedaria. Mas o Senhor sabe como são também as hospedarias. Seus donos pensam que elas são um luxo e cobram um valor que, nem ele estando novinho em folha vale. Para minha sorte, fui indicado a uma casa cuja dona era uma senhora já viúva que tinha em sua residência um quarto para alugar. Então me dirigir para o tal endereço que ficava perto da Universidade.
Quem me recebeu foi a empregada, Dona Marcela, uma senhora de seus cinqüenta e cinco anos de idade, que por ventura, atendeu-me muito bem. Ela me levou até a proprietária, a Senhora Holkins, uma mulher que não aparentava trinta anos, sempre sorridente, vestida com um vestido branco de flores que balançava com o vento. Ela ia na frente falando e mostrando-me a casa, mas para falar a verdade não havia gostado muito. Ficava próximo à avenida e eu estava querendo sossego para poder estudar a fim de ministrar minhas aulas. Mas o que prendeu-me aquela casa estava por surgir. A senhora Holkins havia me falado que o seu falecido marido, que Deus o tenha, havia construído uma piscina no quintal para reunir os amigos nos fim de semana, mas um acidente automobilístico o tirou deste mundo antes de desfruta-la, e pegou em meu braço para mostrar-me.
Ainda no caminho, havia me dito que o valor do quarto seria cem reais por mês, com café da manhã já incluso. Mas aquilo não valia tudo aquilo. Já quase desistindo, passando por varais de roupas ao sol, vi a coisa mais linda da minha vida e ali mesmo fiquei parado contemplando tamanha beleza. A senhora Holkins continuou caminhando, falando disso e daquilo, mas eu estava completamente tomado pelo que eu via. Ate que ela se deu conta que eu estava parado entre dois varais de roupas e foi ver o que tinha acontecido comigo. E falou-me. Ela é linda, não é? E saiu andando falando em voz alta.
Era a filha dela, Monique, que tomava banho de sol, usava um biquíni preto minúsculo, deitada na grama do quintal folheando uma revista, estava de bruços, e um regador molhava suas costas. Ela virou a cara para onde eu estava e deu um sorriso. Meio que gaguejando e desconcertado perguntei a Senhora Holkins quanto era mesmo que ela havia cobrado e ali mesmo eu fiquei.(CONTINUA)