Fora sempre garota tímida, dotada de uma alma sensível e passional, ultra-carente. E àquela época era uma menina de 14 anos. Nada sabia sobre o mundo, sobre a crueldade e as lágrimas que o mundo poderiam fazer a gente sofrer. E sob certa forma, já sofria sim àquela época. Afinal, vivia sob o império de outra sensibilidade, de sonhos outros,sonhos trágicos e proibidos. Sonhos simples, os sonhos de ser tocada, se sentir protegida; o sonho de um abraço, ou um sorriso; o sonho de um afeto; o toque de lábios que se transformasse em beijo, o beijo como um sentimento maior, o beijo como um amor. E eu sofria saudades. As saudades de lábios e olhos... olhos que nunca vislumbrara antes; lábios que jamais senti sobre os meus. Estranho! Mas, sonhava com uns olhos, que brilhavam intensos e acolhedores! Sonhava com um beijo, lábios que me faziam sentir tremores e suores. Mas, eu sabia e era proibido esses meus sonhos. E eu mesma me culpava, sentindo nojo de mim mesma. E eu me amava e me odiava. Eu me amava quando me olhava no espelho e via o meu corpo: 1,67m, 43 quilos, ruivinha de cabelos longos e lisos, olhos azuis, os seios pequenos. E me odiava. Sim. Odiava os meus anseios os mais íntimos. Odiava sonhar, desejar ser, me entregar, deixar pertencer o meu corpo a outra de desejo e sexo igual ao meu. Vislumbrava o amor proibido e sofria muito àquela época. Era algo mais forte do que os meus escrúpulos ou a minha formação familiar e católica apostólica romana. Não escolhi. Fui eleita. E a minha alma cresceu e já clamava por essa sensibilidade desde a minha mais tenra infância. E eu ainda me recordo de meu aniversário de 5 anos, da boneca que eu ganhei de papai. E era a coisa a mais linda, o objeto o mais lindo do universo! Loura, olhos azuis, azuis e lindos. E àquela época, quando tinha 5 anos, aquela boneca era um pouco maior que eu. E eu adorova brincar com ela. Ai, como era bom brincar. Eu me imaginava pertencer a ela, fazia comidinha para ela; e na inocência da infância, sentia prazer especial na sensação de pertencer àquela boneca, como seu eu fosse a mulher e ela a outra... aquela que saía para trabalhar e eu ficava em casa e cozinhava. E abraçar aquela boneca, fechar os olhos e apertá-lá fortemente era tão bom! E eu cresci e os meus sonhos, o sonho de beijar, abraçar, fortemente abraçar e beijar outra de sexo igual ao meu cresceu comigo. Na escola, sentia atração irresistível pelas amigas da sala. E por ser muito tímida, desajeitadinha e sempre com livros de poesias ou romances... bem, não tinha muitas amigas ou amigos. E foi assim até surgir a Rafaela em minha vida. E ela se mudou de São Paulo-SP para minha cidade, aqui em Itapetininga-SP quando eu estava prestes a fazer 13anos. E fomos vizinhas de bairro, colegas de sala de aula na mesma escola, amigas; e vivemos a maior intimidade que duas meninas podiam viver. Estávamos sempre juntas. Era na escola, sentando uma perto da outra; era no intervalo das aulas, quando ficávamos juntas, sozinhas e conversando muito. E também amigas insperáveis que frequentavam o mesmo curso de inglês, a mesma academia de ballet. E eu estava sempre na casa dela e ela na minha. É desnecessário dizer que eu gostava de estar com ela. A amizade dela era tudo para mim; por demais apreciava a companhia dela. Leal, inteligente, sorriso lindo, sensível, a felicidade vivia nela e em mim. E a Rafaela era simplesmente linda. O perfume que emava de seu corpo, aquele corpo de estatura mediana, aproximadamente 1,70m, 48 quilos, os olhos verdes, o sorriso o mais lindo... a voz que eu adorava ouvir. Bem, é evidente que sozinha em casa, no banheiro ou no quarto, em minha cama eu cerrava os olhos e fantasiava aqueles sonhos belos, que eu tanto desejava, mas que também me torturava. Eu sonhava. Desejava a Rafaela. Mas sabia que era proibido e nojento e sentia ódio de mim mesma. E uma tarde, estava no quarto dela, sozinhas, pois os pais dela trabalhavam e ela era filha única. Estudávamos para a prova de matemática. E estava impossível se concentar. Era muito o calor. Eram difíceis demais aqueles teoremas e números que não tinham mais fim. E paramos de estudar. E ficamos ali ouvindo música e conversando. E não sei nem por quê e quando, mas, ela começou a falar sobre amor, sobre como era bom beijar, que ela já havia beijado algumas vezes e que era muito bom. "Você já beijou, Daniela?". Nada respondi. Deixei o olhar cair ao chão e fiquei ali, muda, paralisada, meditativa e triste, pois, aquele momento sabia e pela boca de quem eu mais gostava no mundo, que ela e em outro momento já fora beijada e havia gostado e muito. "Daniela?" Não sabia o que falar. E ela tocou o meu queixo com a mão e olhou para mim. Fixou o olhar em meus olhos. E eu não pude, não tivera mais forças para segurar e queimando, em fogo, desceu queimando meu rosto uma lágrima. "Ai, Daniela". Foi o que eu ouvi e depois, ora, depois foi tudo tão bom e mágico. Era aquilo então o que eu sonhava, aqueles lábios... Eu era beijada. Ela me beijou na boca. E como era especial, aquilo... aquele beijo... parecia que ia desfalecer ali. Eu perdi a respiração. Eu olhei para ela... e o medo era grande. Estava assustada demais. Meu, eu era beijada e na boca pela pessoa que eu mais gostava, mais desejava no mundo! A Rafaela me abraçou. Ficamos abraçadas. E a música que tocava ao fundo, na rádio, os versos ainda não me saem da alma... "Fake Plastik trees", na voz da Alanis Morissetti tornava o momento ainda mais agradável e mágico. E ela me beijou novamente e desta vez eu retibui. Intenso, vivo, cálido, apaixonado... assim foi aquele beijo. E quando ela tocou os meus seios, eu deixei. Deixei que me tocasse. Era bom ser acariciada. Sim, eu a deixei levantar, arrancar a minha camiseta. E os meus seios, mínimos, seios pequenos ficaram ali e pela primeira vez a mostra para ela e ela os tomou na mão, apertando-os e olhando para mim. Depois, ela veio com a boca até neles e os tocou. Aiiii... Foi um prazer imenso. O arrepio dos lábios, dos dentes dela neles ainda hoje me arrepia. Calafrios. A gente ficou aquela tarde toda juntas se beijando, se tocando, se descobrindo. Não chegamos a transar aquele dia. Nem foi preciso. Eu descobri o significado do Amor. Que eu não precisava mais me culpar ou me odiar; o meu sentimento era puro e inocente. Eu amei a Rafaella. Por por um pouco mais de um mês a gente ficou, a gente namorou, vivemos uma relação. Mas, os pais dela arrumaram trabalho em outra cidade e ela se foi e ficou outra vez uma lágrima em meu coração e o "ADEUS' que ainda me fere e faz sangrar a alma. Ainda permaneço virgem. Ainda me guardo. Jamais me entragarei a outra pessoa. Rafaela, eu a amo e me guardo para você.
Uma Lágrima e um Adeus
Um conto erótico de Daniela
Categoria: Homossexual
Contém 1210 palavras
Data: 05/09/2006 19:22:36
Assuntos: Homossexual, Lésbicas
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