Enquanto o inseto arfava, o dominador, segurando suas mãos, puxou os braços frágeis para cima das costas, prendendo os delicados pulsos com uma algema. O cativeiro estava pronto. Agora, a disciplina. De uma das portas do armário, ele desenganchou um chicote de couro negro, cuja ponta terminava em uma dezena de finas tiras de couro, trazendo, em suas extremidades, pequenos nós. Deixou que o chicote, ainda enrolado em sua mão, tocasse a pele do inseto, primeiro nas pernas, depois nas costas, e, finalmente, esfregou o objeto no rosto do submisso, que o olhou com terror.
- Agora, quero que você se arrependa de ter vindo, rosnou, sorrindo, o gigante.
Tomando distância da maca, o dominador mediu o espaço que o separava daquele corpo indefeso e desferiu o primeiro golpe, atingindo as costas do inseto. Um grito de dor repercutiu pelo quarto, um grito fundo, provocado não só pela chicotada, mas por todas as outras dores, por todas as humilhações. Um novo golpe atingiu as nádegas e outro, logo a seguir, marcou com riscos vermelhos as pernas muito brancas, nas quais os contornos de umas poucas veias azuis apareciam aqui e ali. Novos gritos se sucederam. Tomando fôlego, o dominador, excitado, com o cacete duro e empinado como o mastro de uma traineira, balançando no ar a cada golpe, continuou a bater, golpeando ininterruptamente, marcando com sinais vermelhos, que se cruzavam numa espécie de tessitura, de flamejante bordado, a pele do seu cliente. O inseto uivava. Irritado com tantos gritos, o dominador saiu pela porta através da qual o inseto entrara e retornou com a cueca do submisso. - Você grita muito, verme sujo, ele vociferou, abrindo a boca do inseto e enfiando ali o quanto pode da peça de roupa. E recomeçou a bater, os golpes desferidos sem qualquer parcimônia, lanhando, com alegria, o corpo frágil.
Nada mais restava ao inseto, senão usufruir o castigo que buscara. Se tentava desviar dos golpes, com o pouco movimento que lhe restara, suas bolas pareciam ser arrancadas do saco, as artérias de seu pescoço latejavam e sua cabeça girava, na iminência de explodir. Os ombros doíam, pressionados pela posição dos braços, e seu cacete, incompreensivelmente duro, latejava numa sensação que não parecia ser dor, mas que nada mais era a não ser o paroxismo da dor. De repente, como se, subitamente, as dores cessassem, ele nada mais sentiu. As chicotadas continuavam marcando sua pele, mas a ardência que, de início, se espalhara pelo corpo, parecia haver terminado. Estranhamente, ele permanecia com a consciência, ainda que distante, das dores, do local em que se encontrava, de suas necessidades e de tudo o que acontecia, mas um calor sensual e mágico inundou sua mente e fez com que ele adentrasse a um mundo tingido de vermelho, no qual seu corpo parecia estar livre como um veleiro navegando em alto mar numa manhã esplendorosa, mas uma manhã tingida de vermelho, com um sol vermelho a iluminar as coisas e um mar vermelho no qual ele naufragava com absoluto prazer. As ondas não produziam mais o barulho costumeiro, mas, a cada arrebentação, pulsavam, movidas como que por um enorme coração que impulsionasse o sangue em todas as direções, assegurando a vida, o calor, a loucura que alimentava seus sonhos. Embriagado de suas próprias dores, o inseto mergulhava no êxtase - não o êxtase passageiro do orgasmo - que somente a união de dor e prazer pode provocar.
Percebendo o transe no qual seu submisso penetrara, o dominador encerrou a sucessão de golpes e deixou que o inseto vagasse pelo universo indefinido e prazeroso que, agora liberto, o pequeno submisso acabara de conhecer. Um transe que, o dominador bem sabia, assemelhava-se à experiência de êxtase místico, cujos relatos ele lera em compêndios de diferentes religiões. Um êxtase em tudo dessemelhante ao gozo do orgasmo, quando o corpo soluça e se agita, como se liberasse uma energia capaz de cindi-lo. Um êxtase onde não se conhece qualquer divindade, mas uma viagem na qual adentra-se ao alumbramento da própria consciência. Uma viagem da qual nunca se regressa o mesmo.
Lentamente, o inseto retornou à maca de torturas. O corpo inteiro doía, mas uma indescritível sensação de paz o inundava. O dominador aproximou-se dele e o tocou, colocando, propositadamente, a palma de sua mão sobre as costas marcadas, recebendo um gemido fraco e dolorido como resposta. - Agora você está pronto, meu pequeno, sentenciou o gigante. Pronto para quê?, perguntava-se o inseto, vasculhando sua memória em busca do que haviam contratado, mas, apenas saído do êxtase, sentia-se, na verdade, incapaz para qualquer raciocínio que pudesse distanciá-lo da sensação de aconchego que o envolvia.
Ouvindo que o dominador se movia, concentrou-se em perceber cada gesto, cada movimento, tentando antecipar-se ao que aconteceria. Assim, a cada imperceptível som, por mais indefinido que fosse, sua mente dava saltos, colocando em movimento, numa marcha alucinada, a sua imaginação. O coração saltava em seu peito grudado ao metal e o suor começava a despontar, novamente, em suas têmporas. O que viria agora? Que instrumento ele usaria? Que espécie de dor viria fustigar ainda mais o seu corpo? Percebeu que o dominador colocava-se entre suas pernas e tentou, instintivamente, defender-se, recolhendo-se, de alguma forma, com movimentos mínimos. Fechou os olhos e sentiu, ao contrário de sua expectativa, que o anel colocado em seu cacete era afrouxado e retirado, provocando-lhe, com o alívio, uma dor atroz, à qual ele reagiu tentando emitir um grito sufocado pela cueca enfiada em sua boca. - Dói, não é mesmo?, ironizou o dominador. - Dói, eu sei, mas este é o caminho para a felicidade, pequenino, arrematou a voz grave, cujos tons de emoção encontravam-se esquecidos ou perdidos em algum local muito longe dali. Ainda respirando sofregamente pelas narinas dilatadas, o inseto sentiu que seu saco também era desamarrado e viu nascer em seu peito uma leve ponta de decepção, pois, adiantando-se às decisões do dominador, acreditava que a sessão estivesse prestes a ser encerrada.
Contudo, enquanto sentia seu pênis latejar, como se seu coração pulsasse também ali, as mãos do torturador agarraram suas coxas, forçando-as a se flexionarem para frente, o que lhe provocou novas e terríveis dores. Imobilizado pelas sensações dilacerantes e por o que lhe parecia serem cãibras, ele sentiu algo ser preso em suas coxas. Logo depois, quase ao mesmo tempo, o dominador soltou seus pulsos das algemas e, também, seu pescoço.
Derreado, como um animal que, apenas solto da armadilha, ainda respira, tendo poucos minutos de vida, o inseto, ainda que desejasse, não conseguia mexer-se. Os músculos, fadigados, recusavam-se a obedecer às ordens que seu cérebro emitia, com o que ele se sentia ainda mais humilhado, ainda mais imprestável. De joelhos, com as nádegas arrebitadas e o cu à mostra, seus ombros e seu rosto colavam-se à maca, enquanto os braços caíam para os lados, inertes. O dominador tirou a cueca de sua boca e passou a massageá-lo vigorosamente nas costas e nos braços, o que lhe provocou novas dores, fazendo-o, agora literalmente, gritar. Pequenos gritos, é verdade, roucos, guturais, prorrompendo de sua garganta como arrotos sem força. - Água... Por favor, senhor, água..., ele balbuciou, mal articulando as palavras. O dominador deixou-o e, voltando poucos segundos depois, ergueu seu rosto e o ajudou a beber alguns pequenos goles.
Momento após momento o inseto recuperava-se, mas antes que ele pudesse tentar um gesto mais largo, o dominador colocou em seus pulsos braceletes de couro, dos quais pendiam argolas de metal, prendendo-as, a seguir, às correias de couro que já cingiam suas coxas. O inseto não acreditava que tudo recomeçaria. Novamente preso, agora de joelhos, com o rosto colado ao metal, ele tentou erguer-se. - Não, não, meu cachorrinho sujo, censurou-o, paternalmente, o dominador, passando sobre suas costas uma larga e comprida cinta de couro e fechando-a sob a maca. - Quero você exposto para mim, vermezinho de merda, completamente exposto...
Arregaçado, exposto, indefeso, o inseto sentiu o cu ser besuntado com uma substância gelada e viscosa. Pressentiu que chegara a hora. Desejara-a desde o dia, duas ou três semanas passadas, em que marcara a sessão. O centauro o foderia, finalmente. Mas, não. Ainda não. Para o dominador, havia muito a se fazer, muito a se brincar. Usar aquele corpinho desprotegido dava-lhe um prazer incontrolável, e vê-lo assim, exposto à sua vontade, a qualquer uma de suas vontades, excitava-o, fazendo com que seu cacete endurecesse e vibrasse no ar, como se não fosse parte de seu corpo, mas um réptil vermelho e violento, insaciável e voraz.
Lentamente, o dominador retirou as luvas e enfiou um longo dedo no cu de seu submisso, fazendo-o gemer baixinho e abrir-se mais ainda, relaxando seus músculos e forçando para os lados os ossos das coxas e dos quadris, como se eles mesmos pudessem implorar por mais dedos. Devagar, sem qualquer pressa, sentindo o movimento do esfíncter que o recebia, engolindo-o, o dominador enfiava e retirava o dedo, aproveitando para lambuzar o inseto com doses extras de lubrificante.
Para o inseto, a sensação de ser penetrado o reconciliava com aquela forma corriqueira de prazer, tão comum, à qual estava acostumado desde menino, quando, no pequeno grupo de colegas que explorava, todas as tardes, os terrenos baldios próximos ao córrego que cortava o bairro, ele se deixava ser fodido por todos. O cheiro do mato, a sensação dos joelhos sobre os entulhos que se amontoavam, aqui e ali, à beira do córrego, seu cuzinho aberto, se deliciando com as estocadinhas rápidas dos amigos, até sentir a porra quente escorrendo por entre as coxas, tudo retorna agora. Ele não está mais no cubículo vermelho, mas um sol mortiço banha seu corpinho, de quatro, sobre a terra, circundado pelo matagal. O cheiro pesado do córrego invade outra vez suas narinas, enquanto os meninos fazem fila às suas costas, brigando entre si, até que o mais forte ganha a disputa para ser o primeiro, cospe no cacetinho duro e vem fodê-lo com pressa, com urgência. E depois o outro, e o outro, e o outro... Até que todos o usam, deixando-o ali, e a tarde seguinte vem, as brincadeiras recomeçam. E, ao final, um vira para o do lado e sugere algo, e todos aproveitam a deixa para mandá-lo ficar de quatro. Na verdade, ele se oferecia, para que o usassem. Estranhava, chegando a sentir-se infeliz, quando o final da tarde se aproximava, as brincadeiras iam rareando, e ninguém se lembrava de fodê-lo. Uma tristeza o invadia, como se ele fosse inútil, como se não servisse para nada, como se os amigos recusassem o que de melhor ele poderia lhes oferecer. Depois, quando todos o deixavam, sujo de terra e porra, o cu todo melado e satisfeito, ele batia a sua punheta solitária, esfregando o cu na terra, sentindo os pedregulhos, os seixos, o lixo, machucando-se até gozar. Lavava-se na água barrenta do córrego, deixava que o corpinho secasse naquele resto de sol, vestia seu calção puído e retornava para casa, o peito invadido de um sentimento estranho, que ele nunca soube definir se era um peso ou uma estranha leveza, se era culpa ou prazer. E à medida que caminhava, afastando-se do matagal, o sol também desaparecia, a noite vinha crescendo às suas costas, debulhando as estrelas que ele, depois, ficava olhando da janela do quarto, sempre de um frescor tão calmo, sempre brilhando como pequenas lanternas perdidas numa lonjura que ele jamais conseguiria alcançar... São elas que se abrem agora, de início como se fossem pequeninas janelas, depois parecendo rasgar-se, deixando que o vermelho as traspasse, como se um segundo céu, escondido por detrás daquele de sua infância, viesse invadir suas lembranças, rasgando também suas pupilas, até que ele se lembra de onde está, alegra-se por sentir seu corpo empurrado para frente, sua carne forçada; por estar preso, por novamente ser usado, desta vez de todas as maneiras.
Ao colocar um segundo dedo, igualmente longo e grosso, entrando e saindo daquele cu aparentemente pequeno e estreito, mas que se abria com incrível facilidade, o dominador não conseguia descobrir o que dava mais prazer ao inseto, que gemia com entonações diferentes, sempre intensas, tanto na entrada como na saída dos dedos, enquanto ele, o centauro, igualmente excitado, massageava o seu próprio cacete, tomando cuidado para não gozar.
Mas a facilidade da penetração decepcionava o dominador. Sem a dor de seu parceiro ele não teria qualquer prazer. Uma ponta de raiva, um gosto de poder, um desejo de machucar o incomodavam, insistiam para que fizesse algo, e ele obedeceu ao seu instinto, enfiando um terceiro dedo, levando o inseto a novos gemidos, ainda mais intensos, muito altos, acompanhados de exclamações de prazer. - Me fode! Isso, senhor, fode esse meu cuzinho sujo, fode! Por favor, senhor, por favor, me fode, me machuca... Me rasga!
- Vou te rasgar inteiro, sim, seu verme filho da puta!, respondia o dominador, enfiando os dedos com força, enterrando-os no cu, de onde escorria um líquido viscoso, às vezes escuro, que se confundia com o lubrificante. Um odor de fezes emanava da carne aberta, exposta; um odor que os excitava ainda mais, enlouquecendo-os, atordoando-os, como se inalassem uma droga fétida. Para o inseto, como se fosse o odor do córrego lamacento da sua infância...
- Vou te arregaçar inteiro! Empolgando-se, o dominador enfiou o quarto dedo, deixando de fora apenas o polegar, e percebendo que, sim, agora aquele cu oferecia certa resistência, agora o inseto expressava dor, agora ele se sentia realmente a fodê-lo, realmente a rasgá-lo. Enfiando quase a palma da mão inteira, enfiando-a e girando-a, enquanto o verme berrava como um porco indefeso, que esperneia e grunhe ao perceber que é arrastado para o sacrifício, o dominador sentiu o seu próprio poder, inquestionável, controlado apenas pelos pontos luminosos de consciência que insistiam em ainda alertá-lo, como se um outro eu, colocado às suas costas, ditasse seus movimentos ou o censurasse, impedindo-o de naufragar em sua loucura.
Perdidos num turbilhão de cheiros, cores e pensamentos, com o caldo viscoso e escuro a escorrer por entre os dedos do dominador e pelo saco do inseto, ambos suavam, alterados, ensandecidos, torturados pelo paroxismo da entrega e da posse. Esparramando ainda mais lubrificante, o dominador decidiu enfiar o quinto dedo e os uniu, formando como que uma cunha viva, cuja única disposição era fender a carne do submisso. Com a palma da mão voltada para baixo, penetrou o rabo besuntado e, ao mesmo tempo, girou a mão no sentido horário, como se perfurasse a carne. O inseto já não demonstrava prazer: ao seu semblante avermelhado e aos gritos roucos vieram somar-se pedidos de clemência. O dominador, apesar de ouvi-lo, sabia que o músculo poderia ser ainda mais esgarçado. E o fez, tirando um pouco os dedos, colocando mais lubrificante e penetrando aquele rabo deliciosamente imundo mais uma vez, rindo dos gritos desesperados do inseto, ajudando, com a outra mão, o cu a se abrir, e enfiando todo o punho, enquanto sua vítima chorava de dor.
Sem nada mais retê-lo, o dominador fodia o inseto com violência, e não satisfeito com o fato do punho se encaixar naquele rabo, girava-o à direita e à esquerda, arremetia-o contra as entranhas abertas, arrancando daquele animal indefeso não mais gritos, mas uivos de dor. Uivos que repercutiam por todo o cômodo, ecoando em todas as direções, e dos quais emanava, para o dominador, a consciência plena de que aquele corpo não mais pertencia ao inseto, mas tornara-se seu, sua posse, seu território, sua propriedade, enquanto o submisso continuava a gritar e a tremer, febril, rompido, lacerado, fodido como um animal imundo, sentindo a mão enorme entrar e sair do seu rabo, girando dentro do seu corpo como uma rosca que o perfurasse, golpeando-o, forçando-o a gritar num estertor de prazer e dor, e a implorar, cego e insaciável, numa convulsão de sensações, não por clemência, mas por mais, mais, sempre mais.
Pressentindo que o inseto perdia o pouco que lhe restava de lucidez, e que acabaria por gozar a qualquer momento, e que ele também gozaria, se continuasse a penetrá-lo, o gigante retirou sua mão, deixando que o verme continuasse a gritar e a implorar, como se ele ainda o fodesse. Respirando fundo, tentando acalmar-se também, o dominador se retirou, deixando o inseto a implorar e a chorar baixinho.
Enquanto lavava as mãos, o dominador pensava que, sim, aquilo lhe dava grande prazer: não ir até o fim esperado e desejado, impedir o gozo quando este se tornava iminente, obrigar sua presa a retroceder na espiral de lascívia em que ele mesmo a fizera penetrar e perder-se. Sua arte talvez consistisse unicamente nisso, nessa perversa habilidade de fazer suas presas avançarem e retrocederem ao seu gosto, ao seu comando, ensinando-as que não pode haver jogo maior ou mais prazeroso do que esse, sempre sob o seu absoluto controle.
Retornando com as mãos limpas, o dominador encontrou seu inseto derreado sobre a maca, aparentemente inutilizado. Soltou-o, massageou seus braços e suas pernas sem qualquer gesto de carinho, e deixou que, pouco a pouco, ele se recompusesse.
Encostado à parede, com os braços cruzados e os olhos postos sobre seu cliente, deixou-se enternecer por sua vítima, vendo-a assim, destruída por suas próprias expectativas. Por alguns segundos, permitiu-se divagar sobre quais as características do dia-a-dia daquele homem que, para ele, não passava de uma criança indefesa. Imaginou-o mendigando amor aqui e ali, submetendo-se a qualquer um por migalhas de carinho, aceitando as mais abjetas situações, apenas para sentir-me um pouco amado. O que moveria as pessoas a humilharem-se tanto por tão pouco? Talvez a mesma razão que o impulsionava a dominar e torturar os que procuravam e aceitavam pagar por seus serviços, refletiu. Contudo, sem conseguir levar adiante aquele raciocínio, que lhe pareceu complexo demais e, portanto, muito cansativo, encerrou bruscamente seus pensamentos e ordenou que o inseto fosse se lavar, indicando a porta ao lado do armário.
O banheiro tremeluzia em branco, de alto a baixo. Uma privada, um chuveiro, uma pia e uma toalha, também branca, dependurada à parede, acolheram um inseto que sequer tinha forças para raciocinar. Abriu o chuveiro e, prostrado, deixou seu corpo escorregar pelos azulejos do box, até sentar no chão. Lavou-se ali mesmo e, apesar da dor e do leve sangramento do rabo, sentiu-se feliz ao passar o sabonete em seu cu e percebê-lo lacerado. E enquanto deixava que a água quente escorresse pelo rego, um único e insistente pensamento o assaltava: a quem poderia contar sua aventura? Sim, aquilo era, realmente, ser fodido, e, até aquele momento, a sessão valera cada dia de espera, cada momento de medo e insegurança, cada nota de real que ele deixaria.
Minutos depois, quando retornou, humilde, cabisbaixo, dividido entre a felicidade de tudo o que experimentara e a expectativa pelo que ainda não acontecera, ele sentiu no ar como que uma certeza viva do quanto fora realmente usado: o odor pesado de suor e fezes, um fedor quente e carregado de dolorosa luxúria, que o excitou, inchando seu tímido cacete e denunciando um incontrolável tesão.
Com o pau também duro, o dominador aproximou-se dele, sorrindo, e encostou o cacete empinado em sua barriga, roçando a cabeça inchada e vermelha em sua pele, esfregando-a nele de forma provocante, sensual. Enlouquecido, o inseto ensaiava agarrar aquele mastro descomunal e enfiá-lo inteiro em sua boca, até a garganta, mas hesitava, incerto sobre o que esperaria dele o seu senhor. Mas o dominador insistia, divertindo-se com a incerteza de seu submisso, excitando-o, tocando-o apenas com seu membro endurecido, cutucando-o com aquela vara enorme, até que o inseto não pôde mais resistir e, erguendo as mãos, quase tocou o apetitoso caralho. No entanto, antes que o fizesse, o dominador desfechou-lhe uma estridente bofetada, derrubando-o e, ao mesmo tempo, deixando escapar uma sonora gargalhada. Com o rosto ardendo, meio tonto, o inseto se ergueu, desorientado, inseguro, segurando-se à parede. O jogo começava a cansá-lo. Por um momento, o permanente estado de tensão e insegurança parecia não mais causar efeito. Mas havia muito a fazer ainda. E uma mescla de excitação, medo e repugnância da sua própria fraqueza brotou dentro dele. Percebendo que o centauro trotava em sua direção, ainda sorrindo, tentou defender-se, mas foi em vão. Uma nova bofetada explodiu em seu rosto, jogando-o contra os azulejos, e logo depois um novo tapa o atingiu, tornando a derrubá-lo. Zonzo, sem conseguir articular um pedido, um argumento, uma súplica, ele se deixou ficar sobre o piso frio. - Levanta, verme sujo!, ordenou o dominador, empurrando-o com a sola da bota. - Levanta, ou paramos por aqui, disse o dominador, fustigando-o com seu cinismo. E debruçando-se sobre sua presa, agarrou-a pelo cabelo e ergueu-a, proclamando: - Aqui, o jogo pára quando eu decido!, e esbofeteou-o mais uma vez, segurando-o firmemente pela nuca e rindo desbragadamente.
O rosto do verme desfazia-se num incêndio de ardor, vergonha e repulsa por sua fraqueza. Ele não poderia continuar assim, refém do seu próprio medo. - Bate mais!, gritou, meio sufocado, violentando-se para vencer o terror. O dominador riu e desfechou sobre um ele uma nova bofetada, soltando-o e deixando que ele escorregasse à sua frente, caindo de joelhos aos seus pés. - Bata mais, senhor... Por favor, bata mais..., suplicava o inseto, o rosto colado ao joelho do torturador, chorando como uma criança que sabe merecer um castigo. Fingindo um gesto de desprezo, o dominador afastou-se, arrancando sua perna dos braços do inseto e ensaiando, num gesto dúbio, o fim da sessão. - Não, senhor, não! Eu suplico, não!, gritava o submisso, engatinhando pelo chão, no encalço de seu dono, erguendo uma das mãos no ar e chorando, mendigando a continuação das torturas. Voltando-se para sua vítima, o dominador sentenciou: - Levante-se. Ao que o submisso obedeceu, erguendo-se com dificuldade. - Ofereça-me o seu rosto. Trêmulo, apertando os olhos fechados, esperando o tapa, ele obedeceu. - Peça para que eu bata em você. Numa voz miúda, gaguejando, o inseto disse: - Por favor, senhor, bata em mim... O tapa veio, sonoro, estonteante, violento, derrubando-o mais uma vez. - Levante-se! De quatro, o inseto engatinhou até a parede e, apoiando-se, obedeceu. - O que você tem a me dizer?, inquiriu o torturador. Mudo, perdido, o inseto não sabia o que dizer. Uma palavra errada poderia estragar tudo. Um termo inadequado talvez tivesse o poder de encerrar abruptamente a sessão. Confuso, ele titubeava. - Diga-me algo que me faça feliz, vermezinho, o dominador murmurou, numa voz leve, paternal... Uma estranha comoção se apoderou do inseto. Seria mais fácil obedecer a uma ordem clara, a um desejo perfeitamente explicitado. Os segundos corriam e o dominador esperava, sorrindo, complacente. Perdido em dúvidas, o inseto balbuciou: - Eu mereço apanhar mais, senhor? Sorrindo, o dominador se aproximou, segurou firmemente o rosto do submisso, esmagando as mandíbulas entre seus dedos e vociferou: - Não me pergunte. Apenas diga algo que me faça feliz. Tremendo, inseguro, articulando as palavras com dificuldade, pois a mão do dominador era como uma tenaz a esmagar-lhe os maxilares, ele disse: - Bata mais uma vez, senhor, por favor. Feliz com a inteligência e a disciplina de seu objeto, o dominador sorriu largamente. Perscrutou o olhar apavorado do inseto, mediu tudo o que fizera até aquele momento e, sentindo a proximidade daquele corpinho indefeso, abandonou suas próprias defesas e colou sua boca à boca do inseto, invadindo-o com sua língua, soltando seu rosto e abraçando-o com força. O submisso agarrou-se a ele com todo o seu corpo, engolindo a serpente que penetrava em sua boca, apertando contra si o corpanzil peludo, esfregando seu corpo machucado no cacete duro que, há pouco, ele desejara abocanhar.
Apesar de não poder ver o rosto do seu dominador, coberto pela máscara de couro, ele o tocava docemente, correspondendo ao beijo inesperado, imaginando-o como o daqueles artistas de cinema, como o de seus colegas de infância. Mas, dentre todos, um conjunto de feições se sobrepunha a todas: as do último homem que amara.
A boca do centauro descolou-se da sua, mas o abraço prosseguiu, enquanto o dominador o mordia em todo o rosto, nas orelhas, no pescoço, nos ombros, voltando a beijá-lo novamente, depois o lambendo numa sucessão de gestos imprevisíveis de carinho que se alternavam e se repetiam, sem que o inseto conseguisse descobrir o que viria em seguida. As mãos do dominador deslizavam pelo corpo quase infantil, deliciando-se com a tepidez da pele e elevando essa sensação a uma potência incalculável ao imaginar, a cada toque, o quanto ele ferira aquela carne que parecia lhe pertencer, que insistia em entregar-se sem qualquer pudor, sem qualquer censura; que se oferecia para ser torturada como se a dor fosse um prêmio sempre almejado.
Embriagados pelas horas que permaneceram fechados naquele quarto, quando, por ínfimos segundos, entre um beijo e uma mordida, eles abriam porventura os olhos, deixando que a realidade penetrasse por suas pupilas dilatadas, percebiam o vermelho dos azulejos expandir-se, como se as próprias paredes crescessem, ampliando o cômodo num extenso perímetro e numa altura incalculável, de forma que suas mentes redesenhavam os poucos elementos concretos que existiam ao redor, concedendo àquelas simples substâncias uma nova dimensão, em tudo correspondente ao prazer que ambos sentiam.
Nada parecia arrefecer aqueles minutos de entrega e nos dois latejava somente a vontade enlouquecida de dar mais ao outro. Partiu do inseto o gesto de, com leveza, desvencilhar-se do abraço titânico, escorregar, sinuosamente, pelo corpo do seu amante e, de joelhos, engolir aquele cacete desmesurado, pulsante, rijo. Condescendente com seu submisso e com seu próprio prazer, o dominador permitiu que ele prosseguisse, segurando em sua cabeça e ora fodendo a boca que o sugava, ora deixando que o inseto trabalhasse sobre o seu membro com toda a perícia de que era capaz. O submisso engolia o pau de seu amo até sentir-se sufocado, envolvia-o com sua saliva, manipulava-o, esfregava-o em todo o seu rosto, voltava a engoli-lo, sugava-o como se buscasse absorver, através daquele membro enrijecido, uma vida absolutamente nova, que transbordaria daquela cabeça vermelha e gorda para irradiar-se a todo o seu corpo. Aproveitava cada movimento dos quadris do dominador, que o penetrava, gemendo e proferindo monossílabos ininteligíveis, e murmurava de prazer, com a boca cheia, plena, a garganta quase entupida pelo enorme caralho. E, chupando com sofreguidão, quando sentiu que a porra estava prestes a transbordar, engoliu o cacete mais ainda, encostando-o em sua amídala, pois detestaria perder uma gota que fosse do gozo que significava, para ele, o reconhecimento dos seus méritos, a certeza de que se comportara corretamente até aquele momento e que não decepcionara o seu torturador.
Quando a porra veio, transbordante, quente, quase ácida, jorrando num turbilhão espesso, em duas ou três ondas, o inseto, ao mesmo tempo em que engolia tudo, ouvindo os gemidos de prazer do dominador, continuou a chupar seu dono, até que o membro, lentamente, começasse a murchar. E mesmo depois de tudo terminado, ele relutava em tirar o pau mole de sua boca, temendo perder uma mínima gota. Soltando lentamente a enorme cobra, ele sorria de satisfação, enquanto seu dono respirava intensamente, acariciando os cabelos empastados de suor e gel do seu vermezinho. Agradecido pela oportunidade de dar prazer àquele que, até o momento, concedera-lhe um sofrimento inigualável, o inseto passou a beijar e lamber as botas de seu mestre, murmurando palavras de gratidão.
- Agora chegou a sua hora, disse o dominador, a voz ainda trespassada pelo gozo, indicando, num gesto longo e demorado, a caixinha de papelão colocada ao lado da mala. Por mais que se esforçasse, ao inseto parecia ainda inacreditável que seu sonho, sua mais acalentada fantasia, ao final se concretizaria. - O senhor se lembra... do que quero... não é?, disse ele, ainda de joelhos, as mãos unidas sobre as coxas como se fosse uma gueixa e os olhos voltados para o chão. - Lembro-me perfeitamente, respondeu o dominador, caminhando na direção do pequeno volume. - Agora venha, ordenou.
De joelhos, engatinhando, o inseto dirigiu-se na direção da caixinha. Pegou-a delicadamente, deitou-se na posição fetal, ao lado dos pés do dominador, colocou a caixa no chão, à frente dos seus olhos, e começou a massagear seu minúsculo cacete. Ele arfava de prazer, apenas imaginando a iminência de realizar sua fantasia. O dominador aproximou-se ainda mais dele, observando cada um dos seus gestos. Tremendo de prazer, o inseto desatou o barbante e abriu parcialmente a tampa da caixinha; enfiou ali três de seus dedos e tirou, segurando-a pelas asas, uma enorme barata, trêmula e desorientada, agitando-se, tentando fugir. Com a outra mão, em gestos rápidos e violentos, o inseto se masturbava, gemendo frases inconclusas: - Ohhh... senhor... senhor... eu pertenço ao senhor... sou seu... apenas seu... Virou-se, então, colando as costas ao piso frio, e depositou, numa excitação frenética, com os olhos revirando nas órbitas de tanto prazer, a barata sobre o seu peito, apertando-a e suplicando: - Agora, senhor... agora... agora... Antes que o inseto escapasse, o dominador colocou seu pé direito sobre ele, sem esmagá-lo, mas pressionando-o contra a pele do seu submisso. - Sim!!!, gritava o verme, Sim!!! Eu sou um verme!!! Sou um inseto podre, senhor!!! Delirante, enlouquecido, ele gemia e gritava, como num estado febril. Devagar, o dominador pressionou a bota sobre a barata, esmagando-a contra o tórax do inseto, que imediatamente gozou, enquanto a barata era esmigalhada sobre o seu peito e um líquido viscoso esparramava-se. Retirando a bota, o dominador riu da cena asquerosa, deixando que o submisso se esfregasse no chão, misturando os líquidos viscosos e lambuzando-se com eles.
Um intenso silêncio instalou-se depois. O dominador, a um canto do cômodo, observava o inseto, e este, ainda deitado, parecia ter breves espasmos, olhando para um ponto vazio na parede vermelha. Gemidos intermitentes escapavam do submisso que, numa espécie de transe, esfregava, mecanicamente, as mãos sobre o peito, sentido os restos da barata colados à sua pele. Aproximando-se dele, o centauro, para trazê-lo à realidade, afagou seus cabelos e sugeriu que fosse se lavar.
O frescor da noite inundava as ruas quando o inseto fechou a porta do edifício. Era quase impossível discernir, por entre os prédios, um pedaço daquele céu sem estrelas, onde nuvens caminhavam, carregadas de uma estranha e pálida coloração rósea. Caminhando na direção do metrô, o jovem levava um sorriso que contagiava todo o corpo. As dificuldades do futuro, a solidão que o aguardava no pequeno apartamento, as dores que alimentava, seguidamente, em seu coração, as lembranças dos homens que jamais o compreenderam, a saudade dos familiares mortos, nada mais importava. Entrando na estação quase vazia, ouvindo o barulho dos trens que chegavam e partiam, ele segurava a maleta que, agora, lhe parecia extremamente leve. Recordando as últimas horas, ele alimentava, como substância indelével desses pensamentos, o desejo e a certeza de voltar.