Ele não existe para me fazer feliz. Parece não ter sentido. Nem é para ter, mas tem. Como das outras vezes, depois de gozar duas vezes, me olhou com a mesma frieza e desprezo, levantou-se, botou a roupa, mexeu na minha bolsa e saiu sem se despedir. Nem banho toma. Só vem foder, me aniquilar, deixar meus nervos em paz. Resigno-me. Pior, sinto pena dele. Tem um trabalho de merda. É um zé-ninguém. Um fodido. É só pena. Amor, não cabe. Acho que não. Nem amizade. Afeto bom, nenhum. Homem não respeita mulher fácil, muito menos uma branco. Ainda mais um ressentido como ele. Me fode por vingança de crimes que nunca cometi. Sei disso. Se gostasse mesmo, ficava. Dormia comigo, me dava um pouco de carinho. Mas também não quero que fique. Nem que me respeite ou me ame. Quero apenas que me mate de gozar, como ele faz.
Morro de vergonha de confessar, mas é só isso mesmo.
Mais de mês não aparecia. Infernizada pelo desejo, liguei. Tá bom, disse com voz de tédio. Antes, vinha logo. Agora, leva horas para aparecer. Quando chega, estou corroída pela vergonha e pelo tesão. Não vergonha dele, mas de mim mesma. meu útero se contorce de tesão. A buceta molha. Nem menstruada ele me alivia, como hoje. Gosta. Eu também, gozo mais ainda. Depois morro de nojo da melecada. Chegou, tirou a roupa, me botou para chupar, enfiou em mim até me fazer gritar e gozar como uma condenada. Gozou, fumou um cigarro em silêncio. Tornei a chupar e abrir as pernas e ele me fodeu mais demoradamente e eu gozei como uma louca. Adoro o cheiro dele, o gosto do seu suor abundante, a cor negra, os músculos fortes, a pica. Parece um desses corcéis negros que a gente se cansa de ver em reproduções baratas.
Não é exploração.
Ele pega pouco de dinheiro. Pouco, mesmo. Quisesse pegava mais, bem mais. Não ligo. Acho até que me alivia a alma. Uma ajuda não faz mal. Sustentar, nunquinha. Cafetão é coisa de puta. Mas nem tudo é lógica, porra. Preciso do pau dele. E custa tão pouco. E olha que pica é coisa que conheço. Até demais. A dele é única. Ele é só isso: uma pica. A melhor de todas. Não que seja gigantesca. Mas é das bem grandinhas. Grossa e cabeçuda, incansável e nada apressada. Não tem o menor refinamento, nem precisa. É animalesco. Não trocamos pensamentos, afetos conscientes, só nossos corpos, suores e sucos e salivas. Acho que é disso que gosto, por isso que é bom.
Que é humilhação, é.
Começamos numa boate. Me olhava o tempo todo. Só prá mim. Mulher gosta de ser desejada. Bonito não era, o jeito me atraiu. A cor também. Correspondi. Ele veio, meio debochado, como quem diz: tá precisando de um macho? Tava, claro, mas fiz cu-doce. Só dançar, tá? Dançava bem. Muito bem. Encostou o pau duro em mim. Vibrei. Ele percebeu e me roubou um beijo. Homem que beija gostoso me ganha fácil. Me molho na hora... Vamos lá prá fora, gostosa. Peguei na mão dele e pensei logo em que motel ia acordar. Sou prática. Dona do meu nariz. Noite gostosa, fresca, sangue fervendo, gente se comendo sob as árvores, nos carros. Vamos prá onde, perguntei, com a inocência de uma víbora. Prá aqui mesmo, tô sem carro. Vamos no meu, propus aflita abrindo a bolsa. Não queria ficar no estacionamento, exposta. Chegamos no carro. Tentei pegar as chaves. Ele não deixou. Me beijou, colando-se em mim. Espremida contra o carro, senti de novo a coisa dura. E a mão no meu peito. Bom de gemer. Macho, adoro homem assim, decidido. Botou o pau para fora. E que pau. Lindo. Fiquei com medo.
Chupa.
Foi o jeito como ele falou, imperativo e o frio. Só aí me dei conta que ele parecia um bandido. Tinha cara de bandido, de gente ruim. Porque não pede prá tua mãe? Porque nunca senti vontade e acho que ela não ia querer de jeito nenhum. Engraçadinho.Vai, chupa logo. Olhei no olho dele, na cara dele, puta. Olhei pro pau dele mais puta ainda. Esse eu chupava fácil, fácil, se o dono não fosse assim. Gosto de chupar. Ainda mais cabeçudo, bem cabeçudo, com a pele cobrindo a cabeça e fazendo pontinha bicudinha. Gosto mesmo. Por que mentir, esconder? Minha boca encheu dágua de vontade. Mas não agüento esse tipo de homem, nem de humilhação. Não agüento. De repente, dentro do carro, eu até topava. Ele nem ia precisar mandar. Mas ali fora, não. Nunquinha.
Resisti.
Que é isso? Tá pensando o quê? Que eu sô o quê, seu maluco? Tô pensando é só nele aqui ó. Diz que num gostou, diz. E segurou de um jeito que ele pareceu maior. E me olhou de um jeito que puta que pariu. Achei que ele ia me bater, me matar. Gelei dos pés à cabeça. Mas encarei. Não, não vou chupar porra nenhuma. Me solta. Vou chamar o segurança, vou gritar, me solta. Chama. Eu engulo ele você juntos. Me solta, nojento, tá pensando que eu...Não tô pensando nada. Teus biquinhos tão durinhos, tua buceta tá babando, meu pau tá duro, tua boquinha é uma delícia, e você tem cara que adora chupar uma pica. Pareço com a tua mãe, nojento? Nem um pouquinho. Você é mais gostosa. Me solta. Olha como ele tá doido pela tua boquinha. Não, seu porco, me solta, não quero. Quer sim, e como quer. Vai bancar a difícil? Asqueroso. Vou embora, me deixa ir embora. Tá com medo, né branca azeda? Medo de que quê? De você? Tô é com nojo, você é nojento. E você é gostosa. Me dá essa mão... Não, não faz isso, não quero.
Peguei.
Num tá gostoso? Né bom de pegar? Cê precisa ser tão nojento? Cê precisa se fazer de tão difícil? Riu. Aí percebi. Não era mau. Tinha cara de mau, só cara. E num tem mulher que pegue e não goste. Além de nojento é convencido. Mulher só gosta de homem assim. Eu, não. Melhor a gente ir embora. Adoro quando a mulher fica assim, puta, com medo. Goza mais gostoso. Mas puta que pariu, que diabo de homem é você, tão nojento? Nojento, mas se você quisesse mesmo ir embora, já tinha largado meu pau. Pode apertar mais. Tá com raiva? Tô. Aperta mais, vadia. Não me chama de vadia. Então chupa, vai. Aqui, não. Aqui, sim. Agora.
Ajoelhei.
Fedorento. Um pau fedorento, nojento. Mas chupei. Nojo é coisa que passa. Nessas horas mais que nunca. Deus que me perdoe, acho até que gosto. E até esfreguei na cara. Me dá tesão, muito tesão. Engole todo, vadia. Vadia é a puta da tua mãe, pensei. Vontade de engolir eu tinha, mas não dava. Na metade, já batia na garganta. Engole mais um pouquinho, vai. Não podia falar, mas meu desejo era que enterrasse até o meu esôfago. Taquei a mão na buceta toda babada. De pingar. Ele agarrou meus cabelos. Forçou mais. Eu até queria, juro que queria. E começou a meter como se tivesse fodendo uma buceta, até grunhir como uma fera.
Quem chupa, engole.
Sinto um nojo desgraçado. Quer dizer, pensar assim num pau esporrando na minha boca, sinto horror. Nem penso. Não sei explicar, mas é assim. É igual ao que acontece com o cheiro. Pau fedido é a coisa mais horrorosa do mundo, mas na hora do sangue fervendo, deixa de ser. Chupo mesmo, e com vontade. Vou parar para ele ir lavar? Na hora do tesão? Melhor se arrepender depois. Acabo engolindo o esperma. Chego a me arrepiar de repulsa. Mas engulo. Morrendo de nojo, engulo. Homem adora. Sempre engoli. Mas cá pra nós, que é foda, é. Pensa assim, a frio, numas colheradas de esperma. É de arrepiar de nojo. Quando é daqueles que gozam ralinho e sempre pouquinho, porque uma coisa tem a ver com a outra, não sei o porquê, mas aprendi, vai numa golada só. É mais fácil. Mas, aí, a gente reclama que a porra é rala e pouca. Vai entender!
Engoli.
Quando é mingau, daquele grosso que nem angu, né mole, não. E quanto mais grosso, mais abundante. Quem goza grosso, goza muito. E sai empelotado. Cada jato vira uma bola gosmenta, enorme, que parece que não vai passar na garganta de jeito nenhum. E a garganta, prá sacanear, se estreita. Aí, lá na alma, sempre um demônio atenta: engole boba, engole que você vai morrer de tesão. E a gente acredita, sempre acredita, todas as vezes. E se dana toda pra fazer a bolota de gosma descer goela abaixo. O demônio tem razão, nunca mente. O tesão aumenta, a garganta se arreganha, a outra bolota desce, a outra mais fácil ainda. Mas tudo tem que ser rápido porque senão transborda e a gente se suja toda e fica fedendo mais ainda. Nunca fui muito rápida. E porra seca incomoda, fica repuxando. É horrível. Mas o melado acaba sendo gostoso também. O demônio nunca mente. E ele, meu corcel negro, gozou muito na minha boca.
Levantei.
Azul de tesão, lambuzada de porra até a alma. Joelho esfolado, meia rasgada, e o pau dele duro. Senta no capô. Não, alguém vai ver. Porra nenhuma. Se arreganha, vadia. Tô de meia. Dá teu jeito, tira, arranca. Não era eu. Não podia ser. Mas era. E dum jeito que nunca tinha sido, e com uma vontade de foder que nunca tinha tido, com um despudor que jamais experimentara. Filho da puta. Assim tá bom, desgraçado? É assim que você quer, maldito? Então vem, me come, se enterra todinho em mim.
Dei.
Um golpe só. Seco. Tudo dentro, de uma vez. Podia ao menos melar o pau no meu caldo, que vazava de escorrer. Talvez não tivesse me machucado daquele jeito. Nem tão gostoso, meu deus. Mordi o ombro dele pra não gritar. Todo dentro, tudo dentro, doendo e ardendo. Como dói, meu deus, como arde, filho da puta. Como é bom, meu deus. Faz de novo. Outra vez, com toda força, prá machucar. Machuca, machuca, cachorro. Outra vez. Ai, como é bom. Eu vou morrer, porra. Vou morrer, demônio. Gozei de mijar. É só do que me lembro, até acordar já dentro do carro.
Tive que admitir: nunca tinha gozado daquele jeito.
Não é amor.
Tô na contra mão, eu sei. Toda mulher quer amar, ser amada. Carinho, atenção, o companheiro, o amigo e todas as essas coisas que dizem que são o normal, mas não são. Fui casada. Seis anos. Uma delícia: a mais cansativa das delícias. Gozava gostoso, amava, era amada. Sonho de qualquer mulher. Mas casamento parece condenação: nele, a gente nunca goza mais que gozava na semana anterior. E depois vê que na semana anterior nem trepou. Nem na outra. Um mês. E quando fode, já não se esgota. E se esgota menos a cada mês que passa. Essa é a chave. O tesão esfria. Homem, por mais que nos ame, parece que já casa enjoado. Fode menos, e com menos vontade. Precisa de novidade. Trai com qualquer buraco. Tá no sangue. Precisa, se vira. Nunca tive grandes ilusões.
É desejo animal.
De vez em quando, porém, a natureza faz das suas: uma de nós, como eu, nasce com defeito de fabricação. Porque era legal, era gostoso, mas enjoei também. E traí. Não por vingança. Bobagem, e nem havia motivo. Não traí por que ele me traía. Nem ligava. A porra da vida é que assim. Era um bom sujeito. É um bom sujeito. Hoje, o amigão de todas as horas, menos na cama. Senti vontade de foder com outro, só isso. E fui foder. Não era lá essas coisas, o primeiro. Apenas bonitão. Um desses gostosinhos que sabem que são bonitos e acham que isto basta. Na cama, um cocô. Mas eu gozei muito. Mais que em casa. Termômetro do Diabo. Se aquele bosta me fez subir nas nuvens, um picão mesmo ia me levar para o espaço. Mulher é foda, não se iluda. Não parei mais. Vício. Dava vontade, eu trepava. Nunca fui de escolher muito. Outra bobagem. Nem de conversa. Quer quer, num quer desencana. Até encontrar o idealizado pícão.
Mas ninguém se mija impunemente ao gozar.
Deixei-o em casa. Um subúrbio no cú do mundo. Na volta para casa, os protestos da razão. Estava fedida, enjoada, querendo me arrepender, mas satisfeita. Quase joguei o telefone dele fora. Era a antítese de tudo o que eu desejava. Até que o tesão bateu de novo. Só pensava nele. Tinha com quem sair, bastava ligar, era ele que eu queria. Liguei. Ele veio, me devastou, pediu um dinheiro emprestado e saiu. Humilhante. Mas gostei, e como gostei. E fui ligando, fomos fodendo e vamos fodendo.
Acho que estou me apaixonando.