Olha, gente, meu relato talvez seja mais depoimento do que verdadeiramente um conto. Creio que seja mais desabafo do que outra coisa e vocês vão entender por quê. Antes, deixem-me apresentar-me: sou loira tingida, 1,68, 58 quilos, tenho corpo bonito e gostoso se não eu não poderia atuar no meu tipo de trabalho, hoje, desinibida, falante e elegante, mas já fui bem bobona, e jeca. Eu visito constantemente este site de contos, procurando encontrar algo que me excite, que me provoque tesão de verdade, mas tudo o que leio, eu já conheço de cor e salteado. Nada me surpreende, nada me fascina. Até chego a adivinhar quem está escrevendo algo próximo da verdade ou muito fantasioso. Sei quando é homem fazendo se passar por mulher ou, ao contrário. Sei quando o autor é homo, bi, etc. Tudo por experiência, muita experiência, que passo a relatar a seguida. Perdoem-me se eu vier a me tornar um pouco chata.
Para resumir a minha história vou contar brevemente todo o princípio de minha iniciação sexual: Eu vivia com minha mãe e sete irmãos numa localidade no interior da Bahia, muito pobre, sem nenhuma condição de vida digna, sem calçados, sem até o que comer. Não tínhamos futuro. Como meus irmãos eram mais novos que eu, mamãe resolveu me fazer o homem da casa e me despachou para São Paulo, onde eu deveria abrir caminho para que os demais pudessem vir posteriormente. Enquanto não viessem, meu compromisso era o de enviar mensalmente o dinheiro que eu iria ganhar com meu trabalho na cidade grande. Vim morar com meus tios e primos que também tinham uma vida dura, com poucos ganhos, em uma casa alugada, mas que estavam dispostos a me ajudar. Eu tinha dezesseis anos e cheguei cheia de esperanças. Contei-lhes que pretendia logo arranjar trabalho, ajudá-los no que fosse possível e mandar a maior parte do dinheiro para mamãe e os irmãos.
A casa deles era pequena, era uma cozinha, uma sala e um quarto. No quarto dormiam meus tios e na sala, meus primos, e agora eu também; éramos quatro dormindo em dois colchões de solteiro sobre o chão. Vocês já imaginaram o que me aconteceu. Pois é, desde a primeira noite, eu virei comida dos meus primos. Eu cheguei aqui sem saber o que era sexo, na prática, e em menos de uma semana eu já tinha sofrido toda a sorte de estupros e abusos, dos três. Eu ameacei contar ao meu tio, mas os primos me ameaçaram dizendo que me poriam na rua para morar debaixo da ponte, caso eu contasse. Foi assim que passei quase seis meses na mais absoluta submissão a eles. Todas as noites eu tinha que dar pra eles, não salvavam nem os dias em que eu me encontravam menstruada pois nesses dias eles me enrabavam, me obrigavam a fazer sexo oral, ou seja, meu destino era mesmo dar, todas as noites.
Durante o dia eu saía atrás de trabalho, mas não conseguia nada. Vocês também devem imaginar como é difícil conseguir emprego, sem o mínimo de formação escolar, sem nenhuma experiência anterior, sem até saber me expressar direito. E sem trabalho, as cobranças começavam a chegar: Meus tios diziam que já fazia tempo que eu estava dando despesas (comida, água, luz, roupas, etc.) e que se não começasse a colaborar logo, deveria voltar para o interior da Bahia. Por outro lado, meus pais começaram a enviar cartas querendo saber por que é que ainda eu não estava enviando dinheiro! Que vida difícil, nem queiram imaginar!
Eu fiz algumas amizades na rua, dentre elas, a Rosinha, uma baianinha também, muito legal, com quem eu me abria mais. Certo dia eu contei a ela tudo o que se passava comigo, inclusive a história de meus primos e lhe pedi ajuda ou conselhos. Foi aí que ela me falou sobre um jeito mágico de ganhar um bom dinheiro: trabalhar como garota de programa (Era o que ela fazia). Conversamos muito sobre isso e no dia seguinte ela me levou para apresentar à dona da casa onde trabalhava. Dona Diva, me recebeu, me examinou o corpo e deu sua aprovação. Combinamos alguns detalhes e, pronto, já estava pronta para iniciar o trabalho.
Nesse tempo, ali na casa da Diva, as garotas cobravam 30 reais por transa e dividiam meio a meio com a dona. Dependendo do dia a gente fazia três programas, ou cinco ou, acreditem, até quinze! Isto mesmo, houve várias vezes em que eu cheguei a trepar com quinze homens diferentes, embora isso não fosse comum.
Só que, pelo preço baixo, os freqüentadores eram geralmente gente simples ou até mesmo da ralé, e aí a gente não pode escolher, quem vier não pode ser dispensado, tem que transar com desdentado, cara com mau hálito, cara fedido por falta de higiene, gordo, magro, violento, sujo, drogado, tudo, tudo mesmo. Me canse, resolvi mudar para uma outra casa, onde a transa custava mais, porém os clientes eram um pouco melhores. Fui para a Girls Paradise que, trocando em miúdos era outra casa de programas, com o mesmo esquema. Só que a gente cobrava 60 reais mas ficava só com 40 por cento, isto é, 36 reais iam para a casa, ou para o Geraldo, o proprietário.
Ali permaneci mais um bom tempo.
Depois de uns três anos de experiência, confesso a vocês que já tinha feito de tudo. Coisas que eu nunca imaginei! Transei com todo tipo de homem, com todo tamanho de pau, fiz sexo vaginal, oral, anal, bizarro e tudo o mais. Transei com casais, com mulheres, com grupos. Tive dupla penetração (dois paus na buceta, ou um na buceta e um no cu), dupla chupada, transei com viados, com bissexuais! Esses, então é o que mais tem. Vocês já repararam que nos anúncios classificados sempre vem escrito assim: fulana, ativa/passiva, etc, etc . Pois é, a mulher que faz parte ativa é para atender homens que gostam de levar no cu, e como tem! Creio que a metade dos que procuram garotas de programa, querem tomar no cu, seja com o dedo, seja com instrumentos (que a gente já tem preparado para essas situações), seja até com coisas inusitadas: um cliente uma vez me levou um mouse de computador, para eu enfiar no cu dele e puxar pelo fio (Acreditem!) outro levava sempre um tubo de desodorante enorme (ele só dava praquele tubo, era a paixão dele, outros queriam que enfiasse o dedão do pé, charuto aceso! Isto mesmo, aceso! E, quase todos casados.
O tempo ia passando, eu estava ajudando bem meus tios e minha família lá no interior da Bahia, mas a vida era muito desgastante. Dava para ganhar razoavelmente mas era muito extenuante. E há quem diga que isso é vida fácil!
Como eu não tinha outra qualificação, resolvi melhorar de vida, dentro do mesmo ramo. Comecei a investir em mim, na minha beleza, na minha produção, adquiri roupas melhores, fui a salões de estética, enfim dei-me um trato geral. Fiz um curso de inglês, fiz um supletivo e passei no vestibular, ou seja, posso ir para a faculdade, mas para ir em frente terei que ganhar mais, muito mais, afinal sou eu quem me sustenta. E assim parti para o trabalho independente. Então, aluguei uma kitchinete no centro da cidade e passei eu mesma a anunciar em jornais de alta classe. Aí a gente pode cobrar 150, 200, 500 reais por um programa. Dá para fazer no máximo dois programas por dia e há dias em que nada acontece. Em compensação tem aqueles loucos que chegam apagar mil reais por um dia (eu cheguei a faturar uma vez, três mil reais só para passar o sábado e o domingo com um casal, na casa deles na praia; claro que achei ótimo, mas, francamente falando, acho que é muito dinheiro).
Nessa minha fase foi que conheci gente que vocês cairiam de costas se eu contasse. Transei com políticos, jogadores de futebol, gente de televisão, fui acompanhante de ricaços, homens e mulheres, machos e viados enrustidos (parece que tem mais enrustido na alta sociedade. Jogadores de futebol, então, são muitos, embora os enrustidos com que saí não estão no rol dos famosos, e se estivessem eu morreria mas não contava. É um ponto de honra das mulheres de programa.)
Bem, mas estou contando tudo isso pra quê? Só para dizer que me deitei com mais de cinco mil pessoas diferentes, que tenho duas ou três mil horas (sei lá se é isso) de cama; que já levei todo o tipo de pau na boca, no cu e na buceta; que já meti com casais de homem e mulher, de homem com homem, de mulher com mulher, que já transei com velho de 70 anos, 75 e até de 80?
Não, não é só por isso.
O que eu quero dizer é que hoje, embora ganhando bem, sou uma mulher infeliz. Todos os buracos do meu corpo já foram fodidos, estou arrombada na xana, no cu, quando ando pelas ruas tenho a impressão de que estou cheirando a porra e que minha buceta tem o cheiro de caralho, que minha boca tem o gosto de milhares de homens diferentes. Começo a lembrar que já deitaram sobre mim, desde o branco mais transparente até o negro mais escuro, desde o norteamericano até o japonês (não acredite nessa história de que eles têm pau pequeno, que você se ferra, viu? Tem japonês com caralho do tamanho de uma mandioca!). Eu quero dizer, que morro de inveja, vendo vocês contarem de vossos prazeres, do tesão, da alegria de foder, enquanto eu, já não sinto mais nada. Transformei-me em um robô do sexo, um robô que chupa, fode, dá a bunda, dá a buceta, pega a grana e parte para o próximo freguês. Eu não sei mais o que é tesão, Há muito tempo eu não sei o que é gozar de verdade. Dia desses cheguei a enfiar uma garrafa de champanha na buceta para sentir tesão, mas estou tão lasseada que a garrafa nem me fez cócegas.
Estou escrevendo para dizer que eu morro de inveja (no bom sentido) de vocês que ainda têm prazem em foder.
Morro de vontade de poder ser uma mulher comum, de poucos homens, talvez de um só, ou de dois ou três, sei lá, mas com prazer.
Morro de vontade de poder voltar para o interior da Bahia e recomeçar a vida naturalmente, mas isso não é mais possível. Porque tenho que me sustentar e também a outras pessoas que dependem de mim. E, infelizmente, todos nós somos escravos do dinheiro. Cada um o ganha à sua maneira. E a minha maneira, a única que aprendi, foi essa.
Parabéns a você, homem, que consegue ser homem. A você mulher, que consegue ser mulher. A você, gay, lésbica ou bi, que consegue ser o que é, e levar da vida grande prazer.
Perdoem-me pelo desabafo.
Obrigado por me lerem. Sejam felizes. Muito felizes.