Na cabine 9
Rápido Lisboa Porto. Paragem em Coimbra. Entro na cabine 9, arrumo o saco de viagem, penduro a gabardina.
No lugar direito junto à janela, uma senhora elegante no porte, vestida com um clássico saia casaco em azul claro. A saúdo:
-- Boa noite minha Senhora! Meu lugar é o 49 junto à vidraça, somos vizinhos!
-- Boa noite Senhor! Tenha boa viagem! Disse ela enquanto eu me sentava na sua frente.
A olhei de relance, senti seus olhos pousarem em mim e a mirei também. Ela susteve meu olhar e continuou sem embaraço a fixar-me em seus olhos grises e grandes; seu cabelo era pintado de castanho tom de mel e aparentava andar perto dos 50.
Me entretive a olhar para a paisagem de cor negra que corria na janela e, recordando algumas viagens que já fizera naquele trajecto, comentei:
-- Que pena não ser dia; esta paisagem continua a ser bela e digna de se admirar. Por muitas gerações tem sido contemplada; que o digam os estudantes que sempre a fruíram com olhos de enamorados quando voltavam às aulas depois de um fim-de-semana, ou após as férias.
Os olhos da senhora acompanhavam os meus e vi os seus no reflexo mudo e silencioso do vidro da janela, onde continuava a correr o filme da noite exterior.
Depois de desabafar a nostalgia que me ia na alma, ouvi a sua voz desprendida soltando a saudade pendurada em sua garganta:
-- Sim, nos meus verdes anos, de volta à universidade, também eu a contemplei. Nessa altura tinha suspiros no coração e nostalgia no olhar. Que pena, o tempo não se compadece com sentimentalismos. Tudo, e até os sonhos, esmorece!
-- Se isso é um desabafo ou somente uma lembrança da mocidade, permita que lhe diga: é da espiga dourada e já maturada que se colhe o pão. As belas damas como a Senhora, não têm idade e, dizem os entendidos: não é em cascos novos que se refina o vinho!...
Ela voltou a fixar-me, como se quisesse reter-me dentro das suas acinzentadas janelas, e onde renascia o romantismo. Eu a mirei também e contemplei sua face de esmerada moldura. Me senti dentro daquele olhar que me inspirava romance. O sorriso desafiante me animava o madrigal; esse estava suspenso nos meus lábios, e nos seus, eu percebi o desejo de aceitar o desafio. Era o sortilégio na magia da atracção que nos envolvia.
Tudo se precipitou quando ela descruzou as pernas e a ponta do seu sapato roçou em meu joelho. De imediato e com uma desculpa nos lábios, apontou a minha articulação e a ouvi pronunciar:
-- Oh! Que desastrada sou, sujei-lhe as calças. E como querendo reparar o percalço, sua mão pousou sobre minha perna e, talvez por empatia ou quiçá, reflexo de solidariedade; a minha sobrepôs a sua e naquele contacto silencioso. Mil pensamentos pairavam nos circuitos mágicos da fantasia. Porque nos aproximamos demais, sua boca, junto da minha receptiva e entreaberta, ancorou como um barco ao cais. Foi um contacto quase furtivo que aconteceu e se prolongou quando as costas dos meus dedos acariciaram, leves e suaves, o aveludado de seu rosto.
As mãos dela mais desinibidas se seguraram na minha nuca e no sentido dela. Sobressaltados, olhamos a porta que dava para o corredor e ela me ciciou:
-- É melhor apagar a luz!...
Lado a lado, minha gabardina sobre os nossos regaços, entramos no círculo mágico da libido e, face á ânsia de volúpia, nossos lábios continuaram se provando enquanto as mãos desbravavam já as veredas sinuosas das nossas intimidades. Senti seus dedos nervosos desapertando minha braguilha e libertando meu sexo aprisionado pelo tecido que o vestia. O sopesou em sua palma, o acariciou, e a glande inchada de excitação ela a roçagou na polpa de seus dedos. Descendi meus beijos sobre o níveo colo de delicada e cetinosa pele e quase entrei no labirinto esférico de seus peitos que subiam e desciam na emoção do momento venéreo. Meu braço rodeou o arco de sua cintura, era suave a carne que a sustinha. Minha outra mão, mais atrevida, se intrometeu por entre as coxas entreabertas: a pele era quente, gostoso e suave era o tacto que animava o libidinoso caminho. Também era delicioso sentir os seus dedos deslizarem na intumescência de meu sexo que de tão excitado vibrava em sua mão. Seus gemidos em meu ouvido apelavam à volúpia sensual à invasão de sua intimidade, e meus dedos, chegados ao contacto com os pelinhos que semeavam sua púbis, se afoitaram a desfolhar as pétalas de sua flor molhada pelo orvalho da excitação que a possuía. Os introduzi na húmida vulva e naveguei na vaginal fenda de carnes macias e cálidas, tão quentes como a lava de um vulcão prestes a explodir. Encontrei o erecto clítoris e o afaguei entre a polpa do indicador e o polegar. Um longo suspiro junto de meu auricular me fez saber da sua volúpia:
-- Oooh! Querido!... Faz-me gozar o comboio está a chegar!...
-- Senhores passageiros dentro de dez minutos chegaremos à gare da Expo.
O tempo era escasso urgia o orgasmo. Meti os três dedos na gruta de sua vagina, forcei a abertura e naveguei nos líquidos que a lubrificavam, busquei novamente o seu ponto X, o massajei novamente e, quase no mesmo momento do encontro com seu clítoris, o fluxo de semem do meu pénis molhava a delicada mão que o esfregava. Meus dedos sentiram também as águas felizes que sua vulva libertava e que molharam a aba da cueca rendada que eu afastei. Só um longo gemido se ouviu, os outros foram abafados no meu pescoço mordido pelos seus dentes. Meu lenço em suas mãos limpou aquele líquido esbranquiçado e peganhento que sujou o anel e a aliança que rodeavam seu anelar. O gozo venéreo nos elanguesceu os sentidos mas a urgência do orgasmo que nos sacudiu quase não deu tempo para exprimir os sentimentos; foi à pressa que lhe perguntei:
-- Posso voltar a encontrar-te? Um cartão em sua mão e o aviso:
-- Liga o nº que marca telemóvel, o outro é o de casa.
Avistei no cais um casal que falavam e a senhora sorria ao cavalheiro. Era o mesmo sujeito que deu o braço à Senhora de azul. Foi também ele que num ademane cavalheiresco que envolvia um sorriso, se voltou para minha mulher:
-- Ciao! Até á vista!...
Dei o braço à minha esposa. No 9, um lenço abandonado!
Por: A. Alves, em Julho de 2007