Ainda lânguida, tomada por pensamentos desconexos, soltei a última golfada do ar represado nos pulmões junto com o espasmo final do meu gozo, aninhei meu rosto no ombro dele e larguei-me, relaxando todos os músculos. Apenas minha vagina continuou a se contrair involuntariamente, como se não quisesse ser desocupada.
E não queria.
Nos demos as mãos e esticamos os braços, em doce crucificação.
Esse pós orgasmo sobre seu corpo surte em mim um efeito tão intenso quanto o próprio gozo: é quando sinto o único vestígio de algo parecido com ternura entre nós.
Fechei os olhos e tentei afastar os malditos incômodos da razão. Em meio à paz efêmera e ilusória da saciedade, sonho com o impossível: que nos amamos, que fomos feitos um para o outro, para sempre, para a eternidade. Que só nós existimos. Que não tenho marido, amigos, parentes, colegas de trabalho. Ninguém a dar satisfações. Sonho de mulher. Boba, romântica e adúltera.
Mas razão é inclemente. Sabe-me fraca, esgotada, frágil, indefesa. E vem. E me diz que estou em pecado, que sou a pior das mulheres, uma rameira, devassa, uma puta.
Que seja, digo a mim mesma, provocando-me, sabendo do que sinto com ele, do prazer que nunca me fizeram sentir.
Um prazer que nunca quis. Que nunca cogitei. Que nunca conheci. Que repeli. Que condenei. Não devia estar ali, não devia foder com ele, um monumental engano. Os riscos não compensam. Sinto-me a pior das a pior das mulheres. Gozo é tudo igual, homem é tudo igual.
Não, não é.
Ele é o melhor dos meus gozos, o maior dos meus pecados. Com ele, sou fêmea. Só fêmea, integralmente fêmea. Só ele consegue esse despertar da minha mais profunda animalidade.
Não gozou. Goza apenas quando quer. Outro doce martírio. Com meu marido é diferente. Domino o tempo todo. Forço a barra. Não porque goste ou queira, mas para driblar sua mal disfarçada indiferença. Cumplicidade hipócrita. Oito anos de casamento. Tenho que caçar os meus orgasmos e ainda provar que sou boa de cama. Como se pedisse favor. Humilho-me, mas gozo. Pelo menos gozo. Gozinhos, porém. Sacrifício de esposa, de estereótipo de fêmea.
Aqui, não. Esse maldito os arranca de mim. É meio sádico. Represa-os o tempo todo. Não gozo quando quero. Espero, deliciosamente atormentada, sua autorização. E gosto. É o macho que manda no meu prazer. Que comanda o meu êxtase. A minha volúpia. Só me entrego. Toda. Enlouqueço. Compensa. Sofro, mas compensa. Só fêmea.
Crucificada.
Sinto seu membro vibrar. Fico quieta. Resisto à vontade de mexer, ainda sob os efeitos finais da saciedade. Tenho que disfarçar a volta do meu prazer, senão ele tira. Sei que tira. Me quer em agonia. Na dúvida, no despojo da razão, na entrega absoluta. Adoro. Mas a pélvis desobedece. Ele recua e sai de mim. Peço desculpas, humilde. Mete mais em mim, peço. Em vão. Nunca me perdoa. Me pune.
Acho que é por isso que eu gosto e gozo tanto.
Num golpe, me coloca por cima. Resignada, beijo-o, devagar, tímida, na boca. Chupo sua língua áspera, sorvo a saliva grossa, recendendo a tabaco, a sexo, a álcool. Tento esmagar seu membro com a minha pélvis. Rastejo-me sobre seu corpo, chupo-lhe os mamilos enrijecidos. Ele se contrai. Esfrego a língua nos pelos do seu peito. O sal do nosso suor tempera meus pensamentos, meus nervos.
Beijo seu umbigo, meto a língua, sugo o caldo salgado. Minhas tripas se contraem de tesão. Ouço seu suspiro. Gosto de lhe dar prazer. Arranho meu queixo na sua púbis extensa, de pelos negros e reluzentes, empapada de suor e sucos. Cheira forte. Adocicado. Cheiro de sacanagem, de sexo, suor, da minha buceta. De pecado. Inspiro profundamente.
Seu pau se encaixa entre minha mandíbula e o pescoço. Encolho-me, apertando-o. Pergunto se ele deixa eu chupar, sabendo que ele vai dizer não. É o seu prazer. Nega. Por favor. Só um pouquinho, torno a pedir, só para ele negar. Provoco. Deixo você gozar na minha boca, engulo teu leite todinho, deixa.
Não, vira, diz seco.
Me põe de quatro. O jeito que mais dói. Filho da puta. Escuto a cuspida e sinto o cuspe explodir no meu buraquinho. O arrepio me toma todo o corpo. Espero a dedada. Vem o pau. Não quer nem saber. Fêmea é pra isso. Dar o prazer que o macho quiser. Bem entender. Conformo-me.
Abafo meu grito e lágrimas no travesseiro. Mas não recuo. Só me encolho. Deixo. Sei que passa. Sempre passa. Demora mas passa. Ele quer, ele gosta. Tenho que deixar. Sou a fêmea, ele o macho. O gosto do sangue é tão real que cuspo no travesseiro pra ver.
Me puxa pelas ancas para enterrar o último milímetro.
Não me dá descanso. Uma palmada estala na minha bunda. Ecoa ardida nos meu ouvidos. Me arrepio. Não dá para mexer. Outro estalo, arde e dói. Detesto apanhar. Não é normal. É ofensivo. Desagradával. Horrível. Mas ele eu deixo. Vale a pena. Só eu sei o quanto gozo. Outro tapa. Mais forte. Mexo um pouquinho. Que dor, meu Deus, que dor. É isso que ele quer. Que eu mexa em meio à dor.
Seu prazer, a minha agonia. Me bate de novo. Mexo mais um tantinho, mas ainda não dá. Outra palmada. Num suspiro desesperado, rendo-me, como uma égua fustigada ao seu cavaleiro. Uma égua. Uma puta, uma vagabunda. Projeto-me para frente até a cabeça forçar meu ânus para sair. Gosta de ver. É doentio, eu sei. Que me importa? Ele gosta. Quando a bolota encontra a resistência do meu anel, solto todo o ar dos pulmões, tento relaxar até os ossos. Não posso ser rápida. Quer ver minha carne se arreganhando, arreganhada, aberta, machucada. Doentio mas me dá tesão. Esse obedecer e sofrer, deixar-me usar. E abusar. Não, não é a dor em si. Ninguém gosta de dor.
É algo mais profundo, inexplicável.
Ele sai de mim. Fica o vácuo nas entranhas. Falso alívio. O bom é dentro, tudo dentro, entupindo. Torna a cuspir no meu buraco dilatado. Me dá dedadas, examina as entranhas, como se fosse meter toda a mão. Tento relaxar, torno a esvaziar os pulmões. Sei que ele vai tornar a meter, me machucar. Espero. E quero. Mas ele não mete. Sabe que quero.
Deita-se ao meu lado de barriga para cima. Senta nele, diz sem me olhar, de costas.
Obedeço. De cócoras equilibrando-me no colchão. Pego, aponto, esfrego. Tá seco. Cuspo na mão, lubrifico-o. Pelo menos isso ele deixa.
O vai-e-vem curtinho, medroso, alucina e me divide. Quero sentar de uma vez só, sei que vou sentar. Mas protelo, amplio a minha agonia, o meu tesão. Pára. Pisca esse buraquinho no meu pau, vadia. Mais forte, porra, mais forte, vadia. Maldito, não me quer relaxada. Obedeço e me preparo. Ele se enterra justo na hora em que me contraio. Todo, até o talo. Calvário merecido. De vadia. Desfaço-me em dor e em prazer. Aperto meus bicos, minha buceta. Ele não impede. Subo, desço, me largo à procura da dor que já não é a mesma, quero mais, ele mexe, violento, rápido, minha buceta jorra nos meus dedos. Consigo dizer que já não me aguento, ele não pára, e mete com mais fúria. Seu gozo explode nas minhas entranhas, lavando-me, aquecendo-me. O meu vem. Perco-me. Peço que meta, que não pare, que me mate. E sinto-me explodir em ondas de dolorosíssima, prolongada e deliciosa agonia.
Largo-me sobre ele, devastada, à procura de amparo, mas ele sai de mim, sem pena. Levanta-se e vai para o banheiro. Me abandona.
Como das vezes anteriores, quando eu acordar, já estará de banho tomado, elegantemente vestido, frio e distante, impaciente, louco para me ver pelas costas, e não ouvir minhas lamúrias, meus medos, minhas culpas, a minha dor. Saio ressentida, sem beijo ou despedida, para viver a vida real de mulher e esposa. Mas volto, sempre volto.
É meu cunhado.