Toothing
Ler pensamentos...Uma coisa distante para a maioria dos mortais, com exceção de algum bem dotados de paranormalidade. Se é que charlatanice não há nisso. Sabemos bem que costuma haver muita...
Mas ao menos enviá-los, parece que está se tornando uma realidade bem próxima.
Leio no Estadão que está se tornando comum na Inglaterra, principalmente no metrô, na hora do rush. Uma prática que eles chamam "toothing".
A coisa baseia-se na tecnologia " Blue Tooth", presente em celulares e computadores de mão de última geração. Esse recurso permite que se mande mensagens sem endereços preestabelecidos, pois o aparelho detecta a existência de equipamentos com a mesma tecnologia à curta distância.
Meticulosos e regrados, os praticantes já desenvolveram até um certo código de ética, onde se mandam mensagens sem maior conteúdo agressivo.
Se uma mensagem de texto, por exemplo um simples " Toothing? " aparece no celular de alguém, isso é uma proposta explícita - e imediata - de sexo. Recebendo, ou ignora-se, ou olha-se em volta à procura de alguém com um celular à mão.
Consta que muitas vezes são mulheres que tomam a iniciativa, e a coisa, se aceita, se consuma logo por perto, muitas vezes nalgum ponto escuro...
Fico aqui pensando em quantas fantasias não se realizaram aqui por falta dessa tecnologia...
Quantas vezes me vi objeto de olhares, numa fila de banco, numa caminhada, num sinal fechado. E quantas, certamente bem mais, não emiti, para se perderem no espaço esses sinais...
No entanto, falta sempre alguma coisa, um catalisador que junte essas pessoas que no fundo querem a mesma coisa. O sinal de trânsito se abre, cada um segue seu caminho, para nunca mais se cruzarem de novo.
Claro que exagero, mas essas coisas realmente ocorrem às vezes. E a se confirmar as experiências dos nossos amigos ingleses, parece que um bom catalisador, ou um meio de acelerar esse contato, mudaria muitas histórias.
Que tal imaginar um pouco?
Nós, numa monótona fila de banco...
Muito tempo para criticar o descaso com os clientes, para falar mal desse governo absurdo, muito tempo para esquadrinhar cada detalhe de tudo - e todos - que estão em volta...
A fila serpenteia pela sala, e você está a alguns metros. Primeiro o sugestivo detalhe dos saltos altos, depois a saia que se amolda a seu corpo, um pouco acima dos joelhos, os cabelos soltos...
Depois, um olhar menos reservado detecta a evidência de uma calcinha muito sugestiva, marcando teu corpo como um alvo. Além de um suave decote que insinua as curvas dos seios, que ao observador, inevitavelmente terão os violáceos biquinhos eriçados.
E terminando aquela sedução, sabe-se lá se involuntária ou não... um sorriso que ilumina seu rosto.
Quem não arrisca...
Pego meu celular e digito uma mensagem.
Parece que estava com sorte. Só o seu tocou...
Você o apanha e lê a mensagem, logo olhando em volta. Estou com meu celular ainda à mão...
Você me olha e baixa quase que instivamente os olhos. O resto do tempo parece me evitar. Mas talvez eu tenha detectado um novo sorriso...
Bem, de qualquer forma, primeiro o dever, contas a pagar, a tortura dos impostos escorchantes deste governo ridículo...
Estou na frente da fila, concluo meus pagamentos e saio.
E ao sair, não olho para você. Calculadamente... Mas senti seu olhar.
Jogo com a sorte: vou para o estacionamento que fica no nível inferior. Num patamar intermediário da escada, encontro uma porta, provavelmente um depósito de material de limpeza. Está vazio, e com espaço para dois...
Aguardo no patamar, sem saber se minha aposta dera certo. O mais provável a pensar, seria que não aceitasse a proposta explícita. Ou que saísse pela porta da rua, tomando rumo ignorado.
Mas minutos depois, o tamborilar de passos de saltos altos nos degraus aceleram minha freqüência cardíaca.
Você para naquele patamar, parece estar preparada para aquele encontro.
Não trocamos muitas palavras, nem nomes, CICs, RGs... quem somos, pouco importa...
Apenas acaricio teus cabelos, e sinto que teu corpo treme:
- Você quer, não quer?
Você tenta argumentar alguma coisa, que interrompo, dizendo que sinto toda a tua sensualidade, que vejo na tua pele arrepiada agora um turbilhão de desejo.
Cabe a você decidir se vai ceder ao que seu corpo lhe pede ou não.
É o tempo de agir: como um corsário, abordo teu corpo, te tomo pela cintura e te trago para mim, roubo o primeiro beijo.
Minhas mãos começam a explorar teu corpo, que não oferece resistência. Invado sem pedir licença o espaço que sobe, sob o vestido, entre tuas coxas. Te encontro plena de calor e umidade...
Puxo você e fecho a porta. O ambiente escuro, agrega um condimento de excitação a mais, abro o zíper de teu vestido e te sinto ávida beijando meu peito enquanto desabotoa minha roupa.
Te faço abaixar-se, e logo, de joelhos você libera meu membro e o suga com muita fome.
Fico lá apoiado à parede inebriado, acariciando teus cabelos, te dizendo que não pare, que te quero toda...
Te faço erguer-se. Teu vestido deve estar abraçado a minha calça nalgum ponto da escuridão. Você está nua...
Beijo essa boca que me deu esse prazer todo e desço pelo teu corpo, alimentando-me de teus seios, que chupo, mordo suavemente, até ir beber em teu sexo, te sugando com voracidade da minha sede de lobo selvagem.
Até que, se alguma rendição ainda faltasse, agora ocorre:
Você lança um grito abafado, vindo sem medos ou censuras lá de dentro:
- Veeeeem ! Me fode!!!!...
Mais tarde, há um movimento de passos na escadaria lá fora. Nossos olhos, já acostumados à escuridão se encontram:
- Que tal a gente ir para um motel?
Claro: tudo escrito acima foi apenas uma fantasia.
Mas você, mulher que me lê agora, tenha certeza de uma coisa:
Acabo de te enviar um toothing...
LOBO
lobogrisalho@bol.com.br
Direitos autorais reservados. Proibidas sua reprodução, total ou parcial, bem como sua cessão a terceiros, exceto com autorização formal do autor, de acordo com a Lei 5988 de 1973