Ela era linda. Não conseguia imaginar nada mais perfeito na face da Terra. Claro que havia mulheres mais bonitas que Lia, mas para mim, nenhuma a superava. Era um lance mais de química, de pele... eu a via com olhos de paixão, aqueles que só enxergam qualidades, exagerando-as substancialmente sem perceber.
Pele clarinha, macia, sempre cheirosa. Não era aquele perfume forte, que se sente a curta distância. Era um odor que parecia emanar dela, que ficava na minha mão após o mais leve toque. Doce e suave. Tão excitante quanto seu corpo. E ele merece uma descrição cuidadosa.
Não eram necessários olhos apaixonados para se entorpecer com aquelas curvas. Suas longas e graciosas pernas, com coxas roliças na medida certinha, culminavam em uma bunda maravilhosa. Redondinha e empinada como poucas vezes tive a oportunidade de ver no mundo real. Parecia retocada com photoshop. No lado oposto a beleza era ainda maior, de forma que até chocava. Até hoje, revendo minhas memórias me pergunto se não redesenhei aquela bocetinha em minha imaginação. Seria mesmo ela tão perfeita? Sempre me respondo que sim. Gorda, suculenta, lábios simétricos, pelos finos e ralinhos. Como se não bastasse a beleza externa, penetrá-la era uma sensação única, que descreverei comedidamente adiante.
Seus olhos, castanhos clarinhos, sempre demasiadamente umedecidos, como se enxergassem belezas imperceptíveis aos meus olhos nas coisas mais comuns. Aquele brilho iluminava minhas noites de sono, invariavelmente. Deitava-me sempre pensando forte nela para, quem sabe, conseguir sonhar e realizar meus desejos mais sacanas.
Parecia improvável que um dia eu poderia possuí-la. Viramos amigos inseparáveis em questão de dias após o nosso primeiro encontro, na faculdade. Sentávamos sempre próximos um ao outro, conversávamos muito... quando me descobri apaixonado por Lia percebi que a parada seria duríssima. Enganava-me dizendo a mim mesmo que nada mais era que tesão, mas sabia que era algo mais. E ela, para minha infelicidade, levava a vida dela de festas, namoros e me via cada dia mais como O amigo. Seria possível virar esse jogo? Parecia que não e esse dilema me atormentou por cerca de dois anos.
Festa no interior! Feriadão municipal, banda na rua, centenas de pessoas bebendo, dançando e curtindo muito. Fomos juntos, com a galera de sempre. Não demorou a aparecer um monte de pretendentes, mas Lia não demonstrava interesse em ninguém para minha alegria indisfarçada. Dançamos muito, até que uma velha amiga dela, que eu não conhecia, bem bonita, demonstrou interesse em mim e ela, a pedido da garota, prontamente fez o meio de campo entre nós. Triste, vi ali a oportunidade de afogar as minhas mágoas com uma gata, talvez até mais bonita que minha amada, e ainda assim ficar perto dela, defendendo-a dos gaviões.
Beijei muito. Aqueles beijos longos. A menina parecia querer me engolir e eu a devorava. Notei várias vezes o olhar de Lia a nos fitar, sempre com um sorriso maroto no rosto. Às vezes eu a olhava durante algum beijo para imaginar que a boca conectada à minha era a dela.
Quando a banda parou de tocar, altas horas da madrugada, nós já estávamos grogues. Várias latinhas de cerveja haviam sido consumidas. Fomos todos para a pousada. A amiga de Lia estava hospedada na mesma em que nós estávamos. Sem cerimônia acompanhei a garota ao seu quarto e por lá fiquei até as cinco da matina. Confesso que cada estocada que dei na boceta da menina foi pensando em Lia.
Ao encaminhar-me para meu quarto, percebi que a porta de Lia estava entreaberta. Encostei-me por ali e ouvi a voz de Vanessa, uma amiga da faculdade que viajou conosco, e a de Lia. O tom dentro do quarto era meio choroso. Ao tentar ouvir melhor, trôpego, acabei esbarrando na porta. A situação era ridícula: eu, camisa no ombro, descabelado, bêbado e sem graça imóvel na porta totalmente sem graça sendo encarado por Lia e Vanessa, Lia com olhos inchados, as duas com cara de espanto.
Desculpa... bom dia. Foi mal, aí..., foi tudo que consegui dizer antes de ir apressado para meu quarto. Uma vez entre minhas quatro paredes, tirei tênis, as calças, escovei os dentes e apaguei na cama. Acordei meia hora depois com batidas suaves e insistentes na porta.
Enrolado no lençol abri a porta. Era Lia. A mesma roupa da festa, aspecto lindamente entristecido.
Podemos conversar?, foram as palavras que saíram por seus lábios carnudos.
Claro, Lia, entra aí. Aconteceu alguma coisa?
Não sei... acho que sim
Ela passou direto para a cama, sentou numa ponta, bem encolhida, recatada, olhos no chão. Eu, sem entender nada, sentei no chão. Que que houve?, perguntei. A resposta me fez gelar o estômago. Acho que a gente precisa ficar um tempinho sem se ver, pro bem da nossa amizade, disse ela sem conseguir conter uma lágrima furtiva.
Lia, não me diz isso. O que foi que eu fiz?
A culpa não é sua, é minha.
As cervejas me deixaram um tanto mais sincero que o normal. Me ergui sobre os joelhos e, com a mão em sua coxa: Poxa, mas então me explica que porra é essa. Não me vem com essa de tempinho que você ta me pedindo demais, Lia. Um tempinho sem te ver... não me machuca assim..., disse eu sem perceber quanta verdade estava dizendo sem cautela alguma.
Ela virou a cara na minha direção. Nossas faces se aproximaram. Nossas bocas estavam perigosamente próximas. Lia me beijou.
Quando percebi já a havia colocado deitada na cama, sob meu corpo. O lençol que me cobria ficara no chão. Minhas mãos estavam nas bochechas de Lia. As dela em minhas costas. Suas unhas me espetavam. Lia tentou parar, mas eu não deixei...
CONTINUA...