Amiga Cupido
*História baseada em acontecimentos reais*
- Dedicado à Princesa Jaqueline - Cuja beleza e inocência atenuam as trevas do universo -
Eu poderia facilmente considerar aquele domingo como mais um evento normal em minha vida. Porém não era - a notícia que eu recebera o tornara um dia especial. Sim. Ainda hoje, posso recordar-me o quão atônito senti-me ao recebê-la. Lembro-me que estava despreocupadamente deitado na cama, observando em devaneio faixas distorcidas de luz no teto, geradas quando esta transpassava o jarro de vidro na janela, quando o telefone sem-fio vibrou com seu toque de chamada. Ao atende-lo, ouvi uma voz feminina singularmente familiar me cumprimentar, animadamente:
- Oi, Douglas! - pausou a comunicação por um instante. Conhecendo-a bem, imaginei-a jogando os impecáveis cabelos negros ao lado oposto do ombro, motivando a pausa. Prosseguiu: - Cara, olha só, deu tudo certo. Falei com a menina, e ela disse que vai sair com você sim e que...
- O quê?! Mas eu não pedi pra você falar com ela! Por que fez isso? - perguntei receoso. Não sabendo se a matava ou se agradecia.
- Ai, deixa de ser chato! - retrucou a voz feminina. O som suave de sua voz era quase consumido pelo grave ronco dos motores de carro, passando em carreiras intercaladas. Hoje sei que ela me ligara do centro da cidade. - Devia é me agradecer. Sua insegurança em não falar com ela já estava ME incomodando. Tive que tomar uma atitude por você, ora. Bem, chega de papo; ela mandou avisar também que é pra você ir à casa dela esta noite, às dez horas, parece que vai rolar uma festa lá ou algo assim. Vou dar uma passadinha aí na sua casa agora! - ela nunca perguntava se podia vir a minha casa, ao invez disso, afirmava o ato. Procedimento normal quando se é íntimo de alguém, não é? - Então me espera aí que eu ajudo você com a roupa, e asseguro também que não tenha um ataque de ansiedade. Beijos.
Bip, bip, bip...
Pus de volta o telefone ao gancho e tentei controlar as emoções que afloravam em meu ser. A primeira coisa que fiz após receber a novidade foi saber as horas. No relógio digital, enfeitando a mesa de mármore ao lado da cama, os números marcavam cinco e quarenta e nove. Meu Deus, aquilo havia causado uma explosão súbta de ansiedade, se me lembro bem. Porém, ainda sim, o excitamento e alegria me tornavam aptos a aguardar o tempo que fosse. Sim. Somente mais algumas horas e meu sonho se realizaria.
O fim de tarde decorria maravilhosamente bem agora com aquela notícia. Não havia nada em paradoxo perfeitamente íntegro no ambiente a ponto de produzir em mim um deslumbre impetuoso capaz de dissipar minha ansiedade e aumentar minha alegria. Eu viaja em pensamentos com aquela que sempre desejei, cujo corpo escultural seria finalmente saciado pelo meu. Sim, ela era meu objeto de desejo - minha ninfa particular. E nada que eu pensasse me tiraria a imagem daquela mulher, e da grande emoção em saber que - finalmente - a encontraria na noite daquele domingo.
Minha mente, promissora e amiga, fantasiou aquela fêmea flutuando graciosamente até mim. Com seus longos fios loiros, emoldurados com mechas que lhe desciam a casa dos seios. Duas delicadas asinhas de cristal delgado, ágeis, capacitando-a num voo majestoso. Um rosa, leve, porém deslumbrante vestido de grife de fadas pincelava o toque final no meu mundo imaginário - daria a entender ser uma criatura superior e inacessível, a não ser pelos azuis olhos carregando dentro de si a inocência dos céus. Logo vejo-a, por isso, como humana novamente, correndo pelos longos corredores da faculdade, apressada para a próxima aula no andar superior. Maravilhosamente bela. Ironicamente atingindo o mesmo patamar de sua versão fada. Minha cueca parece encolher e faço o possível a controlar a ereção. Com muito esforço, consigo.
É claro, se quisesse arrancar definitivamente sua imagem de minha mente, para isso, bastasse que eu me inclinasse na janela e adorasse o pôr-do-sol; cuja crepuscular luz - que incindia num espetáculo celestial - abrangia todo meu quarto e caía forte sobre meus sensíveis olhos. Ou até catar todas minhas revistas velhas sobre eletrônica, espalhadas embaixo da cama, folheá-las e sentir nostálgicas emoções, relembrando a época que antecedia o lançamento dos consoles de vídeo-games modernos - que hoje não passam de aparelhos ultrapassados.
E ainda mais, poderia caminhar até o simplório quartinho adornado de rosa, da minha pequena irmã caçula, Amanda, pegá-la no colo e achar graça em todos seus gestos angelicais e inocentes - rir e brincar com ela. Mas não. Não fiz nenhuma dessas coisas. Nenhuma dessas alternativas me era plausível. A verdade é que uma angustia impulsiva combinada com excitação e felicidade corrompia meu ser, de modo que fazia com que minha mente não se comprometesse com mais nada, a não ser com aquela mulher. Por esse motivo, em minha cabeça, as águas do tesão e desejo me permitiam fantasiar uma única e singular imagem: Patrícia. Outra vez sinto a vontade de devorá-la.
Consegue você definir o que efetivamente é a beleza? Minha mãe, que tem uma forte inclinação à filosofia, uma vez explicou que beleza nada mais é do que a delicada união de todos os elementos importantes da vida. Não havia entendido muito bem na época, mas hoje compreendo, mesmo que parcialmente. Ah, céus! E Patrícia era a essência da formosura da mulher brasileira. Não a conhecem? Sério? Pois eu digo: era simplesmente a mais bela das criaturas femininas, como uma virgem princesa imaculada e voluptosa; contornada em luz própria, e meus sonhadores olhos a ofuscavam por serem tão apaixonados.
Aproximar-se de Patrícia proporcionava tanto desafio quanto a quem está pronto a saltar em buraco escuro - ficamos sem saber o que fazer. Daí então minha insegurança. Porém, depois de ilusórias e incessantes semanas, miseravelmente fracassadas graças aos meus flertes sem-vergonha, sem pudor e sem nenhuma ponta de criatividade, dos quais Patrícia sequer notara; fui salvo pelo meu anjo da guarda. Ou melhor, anja da guarda. Anjinha Caroline.
Sabe quando se tem a sensação que o faz crer que você e sua amiga, ou amigo, foram separados na maternidade? Era essa a concepção lógica que definia nossa relação. Éramos tão pequenos quando nos conhecemos na terceira série escolar, quando também mal sabíamos nos expressar direito. O que tornou a aproximação mais fácil. Por quê? Ora, vamos lá. Quando se é adulto, temos que literalmente criar um relatório psicológico do indivíduo para, só então, nos permirtirmos sentir íntimos dele, caso não haja nada errado. Por outro lado, quando somos crianças basta um: "Oi, posso ser seu amigo?" e o outro dizer: "Sim, tem uma bala aí?".
É perfeito! E foi justamente advindo dessa conversa inocente, que nosso companheirismo e lealdade nos concebeu uma corrente de amizade forte, entrelaçando-nos; estabelecendo um sentimento mútuo de confiança e respeito. Não saíamos da casa um do outro, e conversávamos sobre tudo imaginável dentro de nossa intimidade - não existia no mundo amizade como a nossa. Não mesmo. Bem, não irei ostentar. Se eu disser que tudo foi um mar de maravilhas estarei mentindo, já que na adolescência vivíamos como rato e gato. No entanto, a vontade de fazer as pazes e voltar a nos falar era instantânea.
E eu amava ficar perto de Caroline. Sabe, as virtudes dela são semelhantes aos de uma professora novata de vestibular, que se dispõem energéticamente em ajudar os alunos; mas que também pode dar um sermão lindo se discutir com alguém que discorda de seu correto ponto de vista. Eu nunca vencia uma discussão contra Caroline. Quando ela começava a falar "difícil", eu já sabia que ela me atacaria com seus tantos e elaborados argumentos, usando ímpeto suficientemente hostil a ponto de magoar-me facilmente. E o absurdo é que ambos tínhamos, na época, dezenove anos - mas sua inteligência corria longe da minha, literalmente. Um ponto altíssimo também que merece ser resaltado é a íntimidade, a princípio Caroline e eu...
Meu Deus, eu estou enrolando muito, não é? Tudo bem, desculpe. Continue lendo, por favor. Você promete? Olha lá, você prometeu! Voltemos ao que interessa então. ^^
Quando eu disse que Caroline foi minha anja da guarda, não foi à toa. Foi por puro atribuimento e reconhecimento de qualidade, e da capacidade fácil das mulheres persuadirem sutilmente uma pessoa desafortunada diante de objetivo como atacante feminina. Se você é mulher e está lendo este conto sabe que é verdade, e nem adianta negar, hein! Bem, particulamente não faço a mínima idéia de como, mas fora minha amiga Caroline quem despertara em Patrícia um repentino interesse apaixonado em mim, algo fora de cogitação pelos meus calculos. Caso não fosse, Patrícia jamais aceitaria sair comigo e ainda mais me convidar para sua festa, olha só.
Repentinamente a porta do quarto fora escancarada. Perdido em meio às roupas jogadas à cama, conduzi a atenção à porta e comtemplei meu anjo salvador em pé, sorrindo efeituosamente, iluminando o quarto. Os olhos verdes intelligentes, sobrepujando os óculos de lente fina, surpreendiam o ambiente com toda sua intensidade.
Caroline.
Quando ela entrou com seus cabelos esvoaçantes dançando ao ar do local, já não sabia se a agradecia ou a enforcava. Seria pecado esganá-la, não é? Então eu jovialmente a agradeci por sua bem sucedida missão de cupido. Ela, intimamente, foi logo se acomodando na cama, trazendo consigo sua mania em ajeitar os óculos ao sentar-se. Não perdeu um instante que seja, revelando como convencera Patrícia a sair comigo. Contando como induzindo a ela de que sou um homem maravilhoso, honesto, meigo dentre outros termos de encantamento necessários para abordagem às mulheres. E o melhor de tudo foi o fato Caroline não ter me contado antes que planejava falar com Patrícia. E foi bom, pois quando se recebe uma notícia quando o momento não é propício, você voa aos céus de alegria. Já lhe aconteceu isso? Pois é. Caroline salvara minha vida.
De qualquer forma, minha aflição e angustia naquele domingo, era simplesmente por isso. E além de toda essa batelada de emoção, Caroline disse-me que a casa de patrícia era um palácio, o que me deixou ainda mais excitado. A festa seria na piscina, com direito a banda de rock, litros e litros de bebidas caras e de marcas diversificadas, filmes ao ar livre e, claro, beijos, muitos beijos da Patrícia. O pôr-do-sol acabara, e a penumbra inevitável da noite contornava o quintal lá fora e almentava o sofrimento de meu âmago. O relógio continuava indiferente ao senso comum, correndo lento - zombando do meu desejo. A festa começaria às dez horas. No meu quarto, minha inseparável Carol, a Imperatriz do Além-Mar, A menina-dos-olhos-verdes, a adoradora de vestidos e sandálias, a Formiguinha e, finalmente, a tarada por sorvetes de creme (sim, usava esses nomes para classificá-la e chamá-la) me ajudava a escolher uma roupa decente. Nós com muito serviço havíamos escolhido tudo, menos a camisa.
- Qual vai ser, azul ou creme? - Carol perguntou, sentada à cama.
- Sei lá, garota. Qual você acha melhor?
- Hum... A azul. - Carol analisava a camisa em minhas mãos - Ela tem uns detalhes na lateral. É legal.
- Tá beleza, então vai ser a azul. Pôxa, Caroline - insisti novamente. -, se arruma pra gente ir à festa junto.
- Não estou com vontade de ir a essa festa. Já falei.
Assunto encerrado. Ela havia me dito, assim que chegara, que não iria à festa. Com ela era assim: se eu insistisse, provavelmente seria alvo de seus destrutivos tapas e de seus sermões interligados a assuntos peculiares. Coloquei a camisa escolhida dobrada na cama, tomando extremo cuidado em não amarrotá-la. E deixei o perfume que havia comprado na manhã daquele dia pronto em cima da mesinha vestuta de mármore que sustentava o aparelho de som. Tudo em ordem. No entanto, eu não aceitava o fato de aguardar todo aquele tempo até a festa começar. E eu afobado como sendo, já estava num nervosismo incontrolável, mal me segurava quieto de tanta ansiedade.
Sentei na cama ao lado de Carol, e assistimos juntos um pouco de TV, esperando que o relógio marcasse vinte uma horas. Sendo assim, eu iria tomar um banho caprichado, me vestiria elegantemente e correria feliz pros braços da Patrícia, perfumado como um príncipe. Começei a bater com o pé no chão, num sinal de ansiedade típico de quem não se controla por muito tempo. Sabe, nada poderia me deixar com tanta angustia assim do que aquela espera eterna. Exceto, talvez, se uma loja fizesse uma promoção de qualquer coisa que normalmente custe um valor acima de mil reais, dessa vez sendo ofertado por dois reais. Nossa, que negócio mais sem sentido que eu falei... O que estou querendo dizer é que me sinto incomodado quando algo está diante de mim, mas que não posso fazer nada para pegá-lo ou alterá-lo. Como o tempo.
- Relaxa, menino - ela aconselhou, trocando o canal no controle remóto. - Vai dar tudo certo com a Patrícia.
- Nem sei o que vou falar pra ela quando chegar lá... - ela me olhou com ar irônico e perguntou, sorrindo:
- Como assim? Simplesmente chegue mandando ver nela!
- Sério?! - olhei Carol surpreso, mal acreditei em suas palavras - Será que vai dar certo?
- Claro! - ela se virou para mim e completou num tom alegre - As mulheres amam homens com atitude.
- Tá bom.
Carol, que conhece minha timidez como ninguém, melhor até do que minha mãe que é períta no assunto, percebeu que minha resposta fora francamente desanimada. Me pegando pelos braços, ela me colocou de pé no meio do quarto, entusiasmada com alguma coisa da qual, até aquele instante, eu não sabia. Sim, não sabia o que ela estava armando, mas o sorriso em seu rostinho dizia que tinha um plano. Carol se afastou de mim e foi até a janela. Sorriu e disse:
- Fica alí na porta.
- O que você vai fazer? - perguntei totalmente confuso. Carol ignorou minha pergunta e me apressou com a mão, dizendo:
- Ai, vai logo até à porta.
Fui até a porta e olhei atônito para Carol, que tinha um largo sorriso no rosto.
- E então, Carol?
- Vou fingir que sou a Patrícia. Tá bom? - Carol pôs as mãos na cintura e arrumou os cabelos, imitando Patricia - Agora se aproxime como se estivesse chegando à festa.
- Tá bom.
Caminhei devagar em direção a ela, mas quando cheguei a metade do caminho Carol me impediu, ajeitando os óculos:
- Volta! Volta!
- O que foi?
- É assim que você vai chegar na Patrícia? Igual um zumbi?
- Ah, deixa isso pra lá - eu sugeri. - Não preciso disso. É melhor eu fazer do meu jeito...
- Ah, é? Quer então que eu comece a falar sobre economia e política pra você? - ameaçou a espertinha, me deixando sem saída. Não havia outra alternativa.
Voltei à porta. Caminhei até Carol novamente, dessa vez com mais otimismo, mas mesmo assim fui interrompido.
- Jesus Cristo! Você quer andar direito?! - ela me impedira novamente, dessa vez mais impaciente do que antes. - Vem com vontade, me olhando nos olhos, cabeça erguida e tudo mais - ela sorriu e completou. - Me faça sentir que você está vindo pra me pegar de jeito. Com vontade.
- Entendi. Mas só vou te abraçar.
- Eu sei - Carol riu um pouco, levando as mãos na boca abafando o som. Uma de suas virtudes é achar graça em tudo. Ela logo se recompos e completou: - E além disso, sou praticamente sua irmã, e sinceramente não compreendo como sua mãe ainda não me acolheu como filha - nós dois rimos disso, e ela finalizou: - Só estamos ajudando você. Agora vai pra porta e faz tudo direito desta vez.
Voltei à porta. Mas dessa vez a caminhada até Carol foi diferente. Fui confiante, determinado e com certa agressividade, como fazem esses caras nas noitadas em boates. Ela pelo jeito aprovou, pois a travessia não foi interrompida em nenhum ponto. Ela até sorriu. Quando finalmente cheguei a ela, pressionei com força meu corpo contra o dela.
Ela ficou ligeiramente corada quando fiz aquilo. Com um sorriso safado, olhar sedutor e as mãos em seu quadril, a empurrei até a parede. Segurei o rostinho dela e olhei seus lábios, fingindo desejo em beijá-los. Ameaçei um beijo, mas parei na metade do caminho. Recuei a cabeça, esboçei um sorriso, a olhei nos olhos e disse, brincando:
- Aprovado agora? - Carol, com os olhos verdes como camposa puros, rregalados por trás do óculos, disse:
- Aprovado...
Feliz por ter sido aprovado no teste da minha cupido, me dirigi novamente até a cama e disse:
- Hoje eu pego a Patrícia. Graças a você, maninha. - a olhei em agradecimento e disse: - Valeu por ter falado com ela.
- Não foi nada.
Carol se aproximou em silêncio e sentou-se esparramada ao meu lado. Peguei o controle remóto da TV e matei o tempo assistindo a programação. A ânisa de beijar Patrícia só aumentava conforme os minutos corriam. Estava tão empolgado que, subtamente, começei a falar sobre minha ninfa emocionado, expressando toda minha incondicional atração por ela. Parecia que eu havia engolido uma vitrola tocando venerações à minha musa.
Caroline, no entanto, ouvia meus elogios apaixonados um pouco contida, quase rígida. Durante alguns instantes depois, percebi um detalhe curioso - tão evidente quanto a minha ansiedade. Carol havia ficado em silêncio, coisa que é raro de acontecer, já que seu estado normal de comunicação é falar como papagaio. Começei a achar estranho o silêncio repentino dela. Não estava indiferente, só quieta. Mas só aí, depois de um tempo, a ficha caiu. E foi difícil.
Carol queria que eu parasse de falar sobre Patrícia. Será? Não, ela já era minha amiga há séculos, se quisesse me pedir alguma coisa falaria numa boa, sem esconder o jogo. Nossa relação era como de irmão e irmã, não escondíamos nada um do outro. Mas será que ela sentia incômodo ao ouvir meus elogios à Patrícia? Sei lá, talvez sim, ou pode ser que não. Eu não sabia. Mas Carol não é de ficar sem falar por muito tempo - disso eu sabia. Vinte minutos, segundo o maldito relógio digital que não colaborava de maneira alguma, haviam se passado e nenhuma manifestação expressiva de Carol.
Então pela primeira vez passou pela minha mente que talvez, no fundo, Carol sentisse uma pontinha de ciúme. Ciúme de mim com a Patrícia? Mas por quê? Não. Impossível. E também, não fazia sentido. Porque fora ela própria que induziu os sentimentos de Patrícia até mim. Com isso, abandonei os pensamentos e olhei para ela ao meu lado. Carol permanecia ali, quieta, assistindo a TV como que em transe. Ela não agia assim. Não mesmo.
- Carol? Está tudo bem? - perguntei quebrando o silêncio. Não houve resposta, só um breve suspiro e o brilhar dos óculos. Passei o braço por trás dela, pousando a mão em volta de seu ombro, querendo que ela voltasse ao estado normal; menina ativa e faladeira. Naquele instante eu acariciei seu ombro, e Carol me olhou com um ar distante, quase triste. Meu Deus, que momento estranho. Por que ela não falava nada?
- Estou bem sim - ela disse de súbito, a voz embargada de um tom desconhecido por mim, parecia vir de longa distância. Deitou a mão sobre a minha no ombro dela.
- Tá bom, se está dizendo.
Não conseguia ler nenhum sinal diferente em seu rosto - porém o silêncio era mortal. Ainda com a mão no ombro direito, deitei a cabeça no ombro esquerdo. Dessa forma eu pude facilmente sentir o leve perfume de sua pele. Então disse, com cordial sinceridade:
- Nossa, Carol. Você está tão cheirosa.
- Você acha? - ela se erguera um pouco, o rostinho agora alegre, os olhos brilhando. Havia um certo ar de alívio na voz dela. - É perfume Francês, comprei semana passada.
Notei que ela me olhara atenta, como que esperando algo, apreensíva. E notei também que havia se empenhado demais em contar sobre o perfume de fragância arrebatadora. Mas meu erro foi a resposta à seguir. A única miserável palavra que consegui proferir foi:
- Legal.
Depois do "legal", Carol emburrou o rosto e, apressada, levantou-se.
- Já vou indo - percebi que ela não fizera nenhum esforço para disfarçar a decepção.
- Já? - perguntei assustado, pois ainda era muito cedo - Mas você sempre só sai daqui tarde da noite. Quando eu sair para ir à festa, você sai comigo. Posso deixá-la em casa e depois ir à festa.
- É que eu estou cansada - disse Carol, ligeiramente rispida. O tom quase rude. Quase. - Depois me conta como foi com a outra lá. Tchau.
- Eu levo você até a porta. Tem certeza que está tudo bem?
Ela não respondeu, apenas ajeitou os óculos e caminhou à porta. Saímos do quarto e nos direcionamos ao corredor que leva à sala. Carol ia na frente, com pressa e com um pouco de indiferença. Ela não dissera uma única palavra, o que me deixou ainda mais preocupado. Não devia ter enchido tanto a bola da Patrícia na frente dela. Eu sabia que tinha que dizer algo a ela, mas não sabia o que extamente. Para ser sincero, eu nem sabia o que estava acontecendo.
Então, o que aconteceu diante isso foi desnorteante. O celular vibrou no meu bolso. Quando olhei o número de quem estava a ligar, meu coração quase saltou pela boca quando constatei. Era Patrícia.
- Alô? Oi, Patrícia. - a reação ao ouvir sua a voz rouca e baixa fora tão forte que não pode compreender o que ela dizia por alguns segundos.
Carol parou e se virou me encarando, com os olhos semi-cerrados por trás dos óculos brilhantes. Enquanto minha conversa com a Patrícia seguia, Carol me olhava atentamente, ouvindo cada palavra em resposta que saia da minha boca. O olhar dela era de pura desaprovação, como se me tivesse pego cometendo um crime. Patrícia se despediu e desligou o celular. Mas as últimas palavras que ela me disse fizeram meu coração disparar como um tambor automático, meu rosto se iluminar e minhas pernas tremerem.
- O que ela disse? - Carol disparou, com a expressão séria.
- Ela quer que eu... - hesitei um momento e prossegui, com um sorriso: - leve uma camisinha.
- Ah, é? - o tom de voz era diferente. Agora como um misto de acusação e angustia. A indiferença dela agora era evidente.
- Sim - confirmei. - Meu Deus, nem acredito. Onde agora eu arranjo uma camisinha?
Carol cruzou os braços e atirou um olhar ameaçador, agora visivelmente pertubada e quase agressiva.
- E então - ela começou, me pegando de surpresa. Articulava as frases rápidamente, totalmente agitada - Patrícia te ignora por semanas, o fazendo implorar para ficar com ela, mas mesmo assim você é rejeitado. Depois eu a convenço de sair contigo, muito bom! Agora ela pede pra você levar um camisinha, e você fica feliz, esquecendo que ela te fez de gato e sapato. Você não se valoriza?
- Carol, eu só...
- Pelo amor de Deus - Carol me atropelou com as palavras, o tom de voz alto. - Que mulherzinha vulgar essa tal de Patrícia, hein? Já quer fuder no primeiro encontro! E você, claro... Homem, né? Não vai perder a oportunidade.
- Nossa, Carol! Pra que isso? Calma. - disse eu, atrapalhado.
Agora tinha certeza que ela não aprovava de modo algum meu envolvimento com Patrícia. Estava completamente fora de sí, irritada e o tom de voz era de desaprovação e raiva. Após ouvir meu pedido de calma, Carol finalmente explodiu em fúria.
- Calma porra nenhuma!
Nossa, ela nunca havia xingado antes. Achei que fosse me bater quando se aproximou, mas apenas me agarrou pelo braço, com violência, me conduzindo em retorno até o quarto. Me sentou na cama e postou-se de pé, em pose de quem está prestes a dar um sermão.
- Você é idiota? - Carol agora quase gritava - A vadia praticamente humilhou você e agora promete te dar a buceta. E o que você faz? Esquece tudo e vai como um cachorrinho. Cachorrinho da Patrícia.
- Não sou cachorrinho de ninguém! - gritei com fúria - Você que faz caso à toa.
- Chachorrinho sim! - ela retrucou com ódio. - Respondeu à proposta dela logo de cara, tá bom! Eu ouvi!
- Carol, sinceramente eu não entendo você! - eu disse, furioso - Convence a menina e agora não aprova meu envolvimento com ela. Você é maluca?
Ela olhou para o lado e fez uma expressão de choro tão forte que achei que fosse desmaiar. Mas, por incrivel que pareça, conseguiu se recompor sem chorar, ainda que o rosto permanecesse triste. Então ela respondeu:
- Convenci porque sabia que você quer sair com ela, seu mal agradecido. - Carol agora tremia, os olhos cheios d'água, os óculos embaçados, os lábios apertados não se contendo, falava quase soluçando. Se movimentava de um lado pro outro, com as mãos à cabeça. - Sempre achei ela vulgar, e você sabe disso! E eu como uma otária, mesmo assim a c-convenço de ficar c-contigo, só pra te ve-ver fe-fe-feliz. - Carol soluçava muito agora. Naquele instante eu fui obrigado a apurar meus ouvidos e me esforçar para encontrar sentido nas palavras encobertas pelos soluços frenéticos - Ma-ma-ma-mas sempre foi a-a-assim, só vem falar c-comigo pra dividir os pro-problemas... Só m-me procura quando p-precisa de alg-guma coisa... Não s-somos nem de longe a-amigos de ver-ver-verdade...
- Isso não é verdade - eu disse inconformado. Pois sabia que ela estava a mentir, somente para me atingir. - Você é minha melhor amiga. Fazemos tudo juntos. Não fale assim, Caroline. Por favor.
- Pára de me chamar de Caroline! E você só me chama quando precisa de algo - Carol disse. Não resistindo e começando a chorar.
- Mentira, Carol! - eu disse, colocando as mãos nos ombros dela - Pára com isso, sabe que é minha melhor amiga.
- É melhor se apressar - Carol disse, repelindo minhas mãos num gesto brusco e se virando para porta - A vadia está te esperando.
- Ela não é vadia. - eu disso com tom suave, tentando acalmar o clima pesado. Mas pareceu ter surtido efeito contrário.
Carol girou de novo, voltando a me encarar, dessa vez ainda mais violenta e magoada:
- Você quer parar com isso! - ela realmente gritara agora, chorando muito. Os olhinhos vermelhos e contornados de lágrimas. - Nós dois sabemos que ela é uma puta! E ela está brincando com você.
Eu havia recuado, alarmado perante o grito dela, combinado com o choro e o terror nos olhos. Então ela, num impulso, me deu um tapa no rosto. Esbarrei com as costas na TV, e quase que a tombei no chão. De súbto, enchi-me de ódio. Fiquei com raiva daquilo tudo e disparei, cheio de rancor:
- O que tem se eu ficar com ela? - berrei de volta. - Ela me humilhou, né? Então eu vou a desforra hoje... Fodendo muito ela. O que você acha disso?
- Você é um idiota! - Carol limpava as lágrimas com uma das mãos, enquanto a outra sustentava os óculos. Ainda chorando muito.
- E você, srta. Caroline? - eu disse com raiva, querendo atacá-la. - Você é uma encalhada, isso sim. Está com invenja porque vou me dar bem hoje... E você? - olhei-a com profundo desprezo. - Vai ficar com quem? Ninguém te quer!
- Eu odeio você! - Carol gemeu entre soluços e lágrimas e descarrilhou numa fúria, novamente tentando chegar à porta.
- A verdade dói, não é? - eu disse descontrolado e tomado pela emoção do momento. - Vai pra casa ficar sozinha, vai. Ninguém se interessaria por você. Sua idiota. Só quer saber de estudar e nunca se diverte.
- Me deixa em paz! Por favor, me deixa em paz! - ela gemeu de tristeza, correndo.
Sabe quando uma pessoa, principalmente as mulheres, choram muito, e você acha que elas não vão suportar? Foi isso que aconteceu. Carol saiu do quarto chorando muito, a magoa que vinha dela me fez pensar na agonia de um animal ferido quando é atingido por um tiro. E eu, claro, vi que não devia ter falado com ela daquele jeito, já que ela só queria me proteger. Senti um arrependimento enorme e uma pena dela. E, claro, já era tarde demais.
- Carol! - gritei indo atrás dela, prevendo algo desastroso.
Ela seguia pelo corredor que leva à sala, chorando melancolicamente. Oscilava muito, totalmente desorientada. E eu vi que tinha feito uma bobagem em agredi-la verbalmente, podia ela ser forte como a mulher-maravilha diante de acusação alheia, porém era sensível com pessoas de sua vida. "Apenas as pessoas a quem eu amo podem me magoar", ela me disse uma vez. E eu, relembrando num flash rápido, tremi por aquilo.
- Espera, Carol. Por favor.
Ela parou na metade do corredor e se virou. Os olhinhos cheios de lágrimas, eu mal os conseguia ver.
- Não se dê o trabalho de ligar pra mim depois de hoje, ouviu? - ela disse baixo, tentando controlar o choro. Ma o soluço era inevitável. - Acabou aqui.
- Carol, não fala isso. Pelo amor de Deus - eu disse tremendo, com medo dela ir embora. De ir embora para sempre. Minha amiga desde pequena. Não. Aquilo não estava acontecendo.
- Você me magoou - ela me encarou nos olhos e voltou a chorar. Senti muito medo daquilo. - Disse que ninguém se interessaria por mim... Saiba que está muito enganado.
- Eu disse aquilo por dizer, Caroline. Você é maravilhosa, por isso nos damos bem. Por favor, não diga que vai embora. Pelo amor de Deus, você é praticamente minha irmã.
- Nunca mais fale comigo do jeito que falou hoje, ouviu? - Caroline disse séria, mas ainda chorosa.
- Sim, Carol. Não vou deixar uma vadia qualquer estragar nossa amizade - eu disse com sinceridade. - Por favor, não saia. Não vá embora.
- Então você concorda comigo, não é? - ela perguntou, limpando as lágrimas com as palmas das mãos e fungando. - Ela é uma vadiazinha, não é?
- É, ela é sim, Carol. Não sei porque caí na dela. - concordei, chegando próximo dela. Coloquei as mãos em seus ombros e Carol permitiu, pela primeira vez.
- Então é melhor ligar pra ela e dizer que não tá afim de ir à festa - Carol pediu, quase com comando, ligeiramente indiferente. O choro agora quase controlado.
Peguei o celular no bolso na mesma hora e disquei o número da Patrícia. Enquanto aguardava a voz dela do outro lado da linha, Carol me olhava ansiosa por aquilo acabar de vez. Finalmente, depois de alguns segundos, Patrícia atendeu.
- Alô, Patrícia... Sou eu... - sentia um pouco de medo, mas fui direto ao ponto - É, sobre isso... Não vou poder ir à festa com você, desculpe. - Patrícia me questionou bastante, sendo extremamente agressiva - Não posso, já disse... Tenho que passar a noite com uma pessoa mais importante do que você... - Carol esboçou um sorriso. Do outro lado da linha, Patrícia me xingou de um monte de nomes e por fim desligou o celular, numa batida forte.
Certa vez minha mãe disse que algumas pessoas usam máscaras. Aprendem sozinhas isso quando crianças para não terem que enfrentar as dificuldades como elas realmente são, para não se expor e enconbrir suas emoções e medos. Para, assim, viverem afundados em pretextos de disfarce, como emprego, popularidade etc. Só quando estão sozinhas ou sobre forte tensão, essas pessoas deixam cair as máscaras e revelam seus verdadeiros ser, que, na maioria das vezes, nem a própria pessoa sabia que existia. Mas a Patrícia sabia. Ela sempre soube que é do gênero de menina vaidosa, mesquinha e prepotente - que se disfarça com a máscara da popularidade bondoza e inocente beleza. Mas infelizmente para ela, agora eu também sabia. Patrícia era feia e horrível. Muito. Tudo isso pra mim foi um choque, por outro lado, um alívio.
- Pelo jeito ela não gostou - Carol disse, vendo as trevas sombrias irem embora de nosso mundo. - Melhor assim, pra ela aprender a se valorizar. E você - ela segurou delicadamente meu rosto, e o dela já praticamente normal, apenas com um pouquinho de sinais de choro no rosto - Vê se daqui pra frente escolhe melhor suas namoradas. Não quero nenhuma puta saindo com você. Você é muito bom pra elas, ouviu? Hein, menino? - ela brincou.
- Sim, senhora. - eu disse em tom alegre, feliz por tudo ter acabado bem.
- E... - ela hesitou e, finalmente, disse: - desculpa pelo ataque. Foi infantil.
- Não! - eu exclamei. - A culpa foi minha também.
- Desculpa pelo tapa.
- Por que bateu tão forte?
Ela alisou meu rosto, fraternalmente. Então naquele exato momento eu e Carol nos abraçamos, harmoniosamente. Juro que não foi nada planejado, pelo menos não da minha parte. Foi mágico e muito importante aquele abraço, significava que nós dois ainda éramos os melhores amigos do mundo, e que nada no universo mudaria isso, muito menos Patrícia. Senti novamente seu leve perfume Frânces de perto, o que me deixou ainda mais meigo, a abraçando com mais vontade.
- Hum... Seu perfume é maravilho mesmo. - disse a abraçando com força - Você também é maravilhosa. Linda.
- Tá aproveitando aí, né? - Carol disse, sorrindo (que saudade eu sentia do sorriso dela naquela altura) - Tirando casquinha só porque eu tô cheirosa.
- Boba, você é convencida, sabia?
Rimos um pouco um do outro, ainda abraçados. Eu ainda louco pelo perfume dela, fui ficando ainda mais à vontade com o abraço da Carol. E percebi que, mesmo em um momento de extremo peso emocional, ela continuava a mesma, tentando concertar as coisas. Carol não tinha máscaras. Ela era linda. Afastamos a cabeça um pouco, a fim de nos olharmos frente a frente. Olhamos um a boca do outro e...
- Carol..
- Sim...
Lentamente Carol aproximou mais os lábios e tocou nos meus. Nos beijamos, como dois apaixonados. Não foi um daqueles beijos premiados de cinema, mas foi eterno e cheio de amor - inocencia. Após um longo beijo de paixão e desejo, Carol afastou os lábios, encostou a testa na minha e disse, cheia de amor:
- O que deu em mim... - ela balbuciou - Oh, eu não quis...
- Carol, eu gostei - confessei. - Eu te amo.
Carol ficara espontaneamente com os olhos cheios de lágrimas e me abraçou forte. Muito forte.
- Oh! Eu te amo também, meu anjo.
- Será que isso vai afetar nossa amizade? - perguntei de súbto.
- Claro que não! - ela respondera quase na mesma hora. - Só mudou para melhor.
A resposta rápida me fez deduzir que, por curiosidade, ela já estaria abrigando um sentimento por mim há muito tempo. Mais tarde, num futuro não muito longe do ocorrido deste conte, a indaguei sobre isso. Ela respondera que sim, mas que jamais revelará quando foi que começara a me desejar. Vocês acreditam que ate hoje ela não me revelou?^^
Enfim. Ela repuxou os lábios num sorriso lindo e voltou a me beijar. E o beijo aflingiu inquietação e calor corporal, em nós dois. As coisas mágicas em beijar sua melhor amiga, enquanto você começa a ficar incontrolavelmente excitado, é que ela saberará facilmente quais desejos implodem em seu corpo apenas analisando seus gestos e/ou respiração. E ela captou minha respiração ofegante e desgovernada depois do segundo beijo, assimilando, assim, ao meu desejo. Afastou o rosto e me encarou de modo presunçoso, quase sorrindo. E o mais engraçado ainda é que quando você conhece bem sua amiga, também poderá facilmente detectar uma ponta de desejo, caso haja. E Caroline estava transbordando de excitação, assim como eu.
Nossos olhos verdes e castanhos claros trocaram revelações de desejo impulsivo, medo e aflição uns aos outros. Não ousamos dizer qualquer coisa após descobrirmos o tesão mútuo e repentino. Só nos olhávamos. E os olhares diziam: "Que coisa estranha, somos praticamente irmãos. Mas estou tão excitado/excitada com tudo isso e não sei o que fazer."
- O que foi? - eu perguntei.
- Você está excitado! - ela largou a bomba, com medo, sem tirar os olhos de mim. Não achei que falaria tão rápido.
- O quê?! Não sei do que está falando! - sabia exatamente do que ela estava falando. - Mas você também está!
Ela ficara bastante corada, mas continuou a me encarar. Sem possuir controle algum sobre a emoção do instante, o calor do meu corpo pareceu aumentar e se propagar, ativando mecanismos de sensações e pensamentos. A respiração forte, o suor e a inquietação me fizeram num impulso urgênte segurar firme Carol pela cintura e, por fim, a pegar no colo.
- Hum, que força... - ela disse - Aonde irá me levar?
Senti que havia um certo tom de ironia na voz dela, pelo jeito compartilhava das mesmas emoções, medos e sensações que eu. Ambos estávamos excitados e nada nos impediria de realizar o ato que esperávamos incoscientemente há anos.
- Vou te levar pro meu quarto... Se você quiser.
Carol sorriu.
- O que faremos lá?
- Conversaremos, naturalmente.
Nós dois rimos. Carreguei-a facilmente até o quarto, embora ela seja magra, é bem pesada. Mas, como eu estava bem disposto e me sentindo tão bem, tão vigoroso, quase não me importei com seu peso. Assim que atravessamos a porta, Carol, ainda em meus braços, apagou as luzes.
Coloquei-a no chão novamente e sem perder tempo a beijei com a excitação excedendo nos suspiros de ambos. Tirei rapidamente a camisa e joguei no chão, Carol acariciou meu peito, e eu, enquanto isso, tirava o sutiã dela.
Carol e eu parecíamos dois animais no cio, a cada segundo que passava a vontade de transar com ela aumentava absurdamente. Baixei a calça dela e ela fez o mesmo comigo, logo ficamos nus no quarto. Mas quando a vi nua, pela primeira vez... Fora a mais bela visão de minha vida. Tive a breve sensação que o chão fugia de meus pés. Meus joelhos tremeram e não me obedeciam. Nem me lembrava de meu próprio nome. Acho que ela sentia o mesmo, pois não tirava os olhos de mim e as expressões fortes de desejo, e as mãos serviçais me faziam perceber que ela queria me devorar. Ela delicadamente pegou meu pênis e começou a friccioná-lo, pra cima e pra baixo, me arrancado suspiros, gemidos, suores e tremedeiras.
Fui tocando-a por toda a parte, nossa, me lembro bem de seus seios apontados no ar, como duas lanças e estavam durinhos. Quando passei a língua neles, Carol soltou um gemido que me deixou ainda mais excitado. Ficamos nas preliminares por quase vinte minutos.
Era incrível como Carol fazia eu me sentir; eram várias sensações raras por todo o corpo, como se eu esivesse dentro de um balão de excitação. De repente ela disse, enquanto eu explorava seu corpo com as mãos e língua:
- Vamos parar por aqui, sua mãe vai chegar e pegar a gente... - ela me olhou - Vamos para minha casa.
- Não vou aguentar chegar lá - confessei, ela sorriu e disse:
- Nem eu.
- Então é melhor a gente parar - eu disse.
Nos encaramos por um bom tempo. Até que ela confessou, quebrando o silêncio:
- Também acho que seria estranho. Somos praticamente irmãos.
- Eu bem sei.
Eu entendia perfeitamente porque aquilo a deixava confusa. Sabia porque também me deixava. Por mais que estivessemos excitados, compreendiamos que estávamos transpassando os limites da amizade, coisa da qual nós dois vivemos envolvidos por toda a vida, com toda aquele desejo incontrolável que nos deixava com medo. Mas, de qualquer forma, não resistimos. O desejo falava mais alto. Dessa vez nos agarramos tão forte que, quem visse, acharia que estávamos brigando.
- Que se foda! - eu disse gemendo, embolado no corpo dela. - Não aguento mais!
- E que se foda se sua mãe pegar a gente - Carol disse, quase me violentando de tanto tesão. - me coloca sentada ali.
Uma ou duas vezes, há dois anos, ela me disse que gostaria de fazer amor numa mesinha. Levantei-a pela cintura e a coloquei sentada de frente pra mim numa cabeceira de livros - o tamanho ficou perfeito. Ela ficou posicionada um nível acima da minha virilha. Essa posição nos deus muitas vantagens. Foi a primeira vez que fiz amor com Carol, penetrei devagar como se ela fosse de seda ou porcelana.
- Não, soca forte! - ela pedia - Mais forte!
Iniciei várias arremetidas violentas e impetuosas, a mesinha toda vibrava, junto com meus gemidos e os de Carol. Eu a segurava na cintura, para mantê-la equilibrada junto à mesa; Carol com as mãos livres me cobria de caricias, arranhões e apertos por todo o corpo.
- Ah, Meus Deus! Estamos fazendo! Estamos fazendo! - nós dois diziamos.
Dentro de dois minutos, a inibição da amizade deu lugar ao fulgor dos desejos.
- Ah! Que piroca gostosa, mete mais! - ela ofegava e gemia - Acaba comigo! Me fode, me fode!
- Ah, eu te amo!
- Eu também... Me fode! Fode, que eu sou só tua... E você é só meu...
- Sim, sou todo seu, meu amor...
- Tá gostando assim?... Olha só como a gente fode gostoso...
Por ler muito, talvez, ela falava um número absurdo de obcenidades. Uns até então nem conhecidos por mim. Os gemidos, as palavras e os suspiros expressavam muito bem sua satisfação e prazer; eu também explicito com gemidos e palavras que ela me deixava louco com tudo aquilo. Depois de muita metida, Carol começou a contorcer-se, principalmente com os quadris e eu sabia que ela estava gozando.
- Goza também! - ela pedia - Vai gozar pra mim? Só pra mim?
- Sim!...
- AHhh!... Tá vindo, eu estou sentindo...
E veio. Numa explosão que eu tive o prazer de literalmente sentir. É maravilhoso você ter o pênis dentro de uma mulher, enquanto ela chega ao orgasmo natural. A vagina se contrai, retraindo e repuxando os músculos de modo invonluntario, massageando o pênis e o remoendo como uma máquina. Me deliciei com aquela massagem de orgasmo, e Carol, gozando, gemeu tão alto que eu até me assustei. Ela de repente me empurrou para o chão sem nenhuma inibição, totalmente transformada pela excitação e começou a cavalgar bem gostoso e com violência. Sabia o que ela tinha em mente: queria retribuir a sensação do orgasmo ao modo dela. Soltou os cabelos e pressionou meu peito com as mãos enquanto rebolava, pulava e sentava no meu pau.
- Agora... goza... pra... mim - ela me olhou possuida de desejo. Intercalava as palavras de acordo com cada movimento. Repedidos. Violentos. Agressívos. Então ela pressionou os joelhos em meus quadris, levantava o tronco e mergulhava em mim... - Será que você gosta assim?...
- Caralho... Carol, onde aprendeu... - eu não conseguia falar. Os gemidos saiam disparados e sem controle.
Carol estava louca, parecia uma amazona canibal que devorava sua presa com sexo antes do ritual de oferenda aos deuses. Podia ver como ela era linda agora, corri meus olhos por todo seu lindo corpo; os seios empinados no ar me deixavam ainda mais apaixonado. Os longos e esvoaçantes cabelos negros, como uma semi-deusa egípicia; os olhos verdes como duas esmeraldas disparando olhares de tara em minha direção e o corpo com perfeição das obras cerâmicas das mitologias Grega e Romana. Meu Deus - como ela era perfeitamente bela. Quem é Patrícia diante de Carol? Não era nada comparado a minha amiga. Era como assimilar errôneamente uma deusa à uma mulher mortal. A percepção disso e a sensação de todo o conjunto de tesão foi ficando mais intensa, e eu não conseguia me aguentar.
- Carol... eu... eu.... - mal conseguia anunciar o orgasmo - Ah, eu...
- Me goza, me goza toda - ela quase gritava - Meu amor, me mela toda!
Ela saiu de cima e abriu a boca colada no meu pau; sugou todo o gozo e ainda me chupou muito (quase me fazendo desmaiar de tão insurportável que era o prazer). O ato fora finalmente consumado.
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Deitados ali na cama do meu quarto, trocamos palavras e gestos de amor depois da nossa primeira vez. Após isso durmimos nus e esquecemos que minha mãe chegaria a qualquer momento. Mas a verdade já não nos importávamos com nada - estávamos naquele momento em nosso mundo de amor e paixão, só nós dois.
No final de tudo minha mãe viu nós dois nus caídos de sono no chão e achou lindo o jeito como tudo terminou.
Não foi surpresa pra ninguém da família e amigos quando dissemos que estávamos namorando. Todos já aguardavam isso.
Carol e eu hoje somos casados. Temos uma filha chamada Jaqueline. Jaqueline, nossa princesa.
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No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. - I João 4.18