NOSSA CASA, NOSSA QUINTA, NOSSO MUNDO...
Mudamos para a quinta e fizemos surgir um mundo especial diferente do mundo lá de fora.
Foi na quinta onde grande parte de tudo aconteceu e foi na quinta onde nossa família aceitou, sem restrições, viver a vida vivida às escondidas. Não que a quinta seja um antro de devassidão ou que lá tudo seja permitido, não! A quinta é um mundo a parte, mas não é um centro de perdição e nem verão coisas que não sejam vistas em outra qualquer quinta pelo Brasil afora, mas é a nossa quinta o nosso mundo.
Sexta-feira, 17 de janeiro de 2003
Porque a gente não vem morar aqui? Cristina falou.
É muito longe filha, lembra do colégio e de meu emprego Inês descartou.
Estava na cozinha ajudando Zulmira a fazer uma pizza, escutei e achei plausível.
Não é tão longe mãe, só cinco minutos... tornou argumentar A tia podia vir morar conosco... olhou para a tia deitada na rede branca da varanda Toda sexta-feira é essa agonia, a gente podia pensar nisso...
O assunto pareceu morrer naquele instante, Inês preferia o burburinho da cidade ao invés da paz do campo.
Foi no açude que o assunto voltou.
Se tivesse um caro vinha morar aqui... Berenice sentou perto de mim Não agüento mais viver naquela casa...
Cristina e Glória estavam perto, mas não falaram nada.
Compra um... passei o braço por seu ombro Tira um pouco daquela grana do banco...
Inês ouvia sem falar nada, gostava de viver na cidade, mas também a quinta sempre foi um bom lugar de viver.
Tu queres é viver nessa eterna bandalheira, sua vaca! brincou com a irmã E tua casa, vai vender?
Não é preciso, aluga... olhei para Inês Ouvi Cris falar ontem de noite, até que seria uma boa...
E como ia ser, um só carro não atende a gente... já estava mais convencida da possibilidade Tem de fazer pelo menos mais um quarto...
Não precisa mãe Cristina aproximou Pra que outro quarto, dois já é demais?
Berenice riu e puxou a mão da sobrinha.
Essa daqui é da minha turma... abraçou Tu gosta de uma sacanagem, né sua danada!
Não deixamos o assunto morrer, logo na segunda-feira levei um amigo engenheiro para dar um trato na velha casa e construímos outro quarto e banheiros no nosso e no das garotas. Oficialmente o novo era de Berenice
No sábado seguinte já estávamos em nossa nova casa, Berenice não quis alugar sua casa e Inês resolveu alugar a nossa, a de Berenice ficou sendo nosso pouso na cidade.
Quem mais curtiu a mudança foi Berenice, mas não tinha planos de dormir só.
Não quero dormir só... falou.
Leva Gloria... Inês respondeu sabendo bem o que a irmã estava sugerindo.
Não sua sonsa, vou ficar com vocês... atirou a bermuda suja no rosto da irmã.
A primeira semanafoi meio aperreada para que eu desse conta dos horários, pela manhã descíamos todos, as garotas estudavam no diocesano, Inês ficava na firma e Berenice na loja, meio dia buscava as garotas e Inês, Berenice almoçava na cidade. Duas horas novamenteo corre-corre e no final da tarde tudo se repetia.
Tu estais feliz amor? Inês deitou em cima de mim.
Estava cansado, mas não tinha o que reclamar.
E você?
Ela brincou com meus cabelos, Berenice estava deitada na rede lendo um almanaque de compras.
Não podia ser mais feliz... Tenho o melhor marido do mundo, uma filha carinhosa que nos ama e... cutucou a irmã com o pé E uma irmã maluca que tem uma filha que é um doce.
Nunca tive dúvidas que ela sentia aquilo, mas nossa vida não é um marde tranqüilidades e nem sou aquele melhor marido.
Tu pensou um dia que ia ser assim?
Não respondeu, olhou para a janela, a noite caia e o céu negro sem lua parecia uma massa sem vida.
Não... Não com tudo isso, mas... passava o pé na perna da irmã Quando a gente era criança sonhava em morar com essa doida... lembra Berê?
Berenice desceu da rede e deitou.
Era bom aquele tempo... a mão em meu braço Não que hoje não seja, mas a gente tinha mais tempo...
Ficamos calados, cada um metido em seu próprio pensamento.
Vamos conversar na casa da Zulmira? Berenice deu levantou como se tivesse levado um choque Lembra Nina das histórias que contava?
Inês sorriu e levantou, puxou a mão da irmã.
Vamos amor, to com espírito de criança...
Balancei a cabeça, não eram duas as meninas de minha casa, eram quatro. Saímos abraçados, Zulmira estava sentada defronte da televisão preto e branca assistindo novela no SBT, Francisca deitada no sofá de calcinha.
Vixe Maria? Zulmira levantou e correu para abrir a porta Aconteceu alguma coisa gente?
Inês riu e abraçou a preta velha, falaram que estavam com saudade das histórias.
Vai te vestir menina? olhou para a neta Não vê que os patrões tão aqui? deu um peteleco na cabeça da garota Esse negrinha ta me saindo uma bisca, agora deu de andar assim só por causa de vocês, suas sem vergonhas?
Rimos, Berenice segurou a mão de Francisca.
Deixa a menina em paz, tem nada ficar assim... Francisca olhou para a avó e para mim Estamos em família...
Qual o que dona Berenice, tem de respeitar senão mete os pé pelas mão olhou de novo para a neta Tu ainda ta assim?
Deixa a garota Zulmira, não ouviu a Berê... E vocês não são empregados de ninguem, são das família...
A custo a preta velha deixou a neta como estava. Não mais que uma garota simples do interior, quase doze anos completos, corpinho mirrado com os seios começando a botar o caroço pra fora, pernas bem torneadas e cabelos grulis sempre amarrados.
Sentamos na porta e Zulmira contou histórias de príncipes e princesas, de reinos maravilhosos cheios de cavaleiros valentes salvando donzelas e princesas.
Quer café tio? Francisca estava sentada entre Inês e Berenice.
Todos aceitamos o café que só Zulmira sabia coar. Escutei maravilhado admirando como uma mulher da roça conseguia dar vida a personagens, falar de lugares que nunca tinha visto e que jamais viria com tantos detalhes e destreza. Inês e Berenice pareciam duas crianças encantadas, o tempo voltou em suas memórias e sentiam viver naquela época onde aquelas histórias ajudavam a criar brincadeiras pelas capoeiras e riacho. Francisca ora prestava atenção nas histórias da avó, ora espiava desconfiada em mim e, em várias dessas vezes, nossos olhares se cruzaram e ela sorria. Em uma dessas vezes ela fixou mais tempo o olho vivo em mim, olhei para elas e ela sorriu e abaixou a vista, segui e vi que a mão delicada afastava a beirada da calcinha mostrando a vagina escura...
* * * * * *
Vamos Francisca, vem banhar com a gente! Cristina olhou a garota parada.
A vó briga... sorriu.
Deixa que o pai fala com ela, vem, tira a roupa...
Francisca sempre guia as garotas quando desciam para o açude, algumas vezes tinha banhado sem tirar a roupa, em outras só de calcinha, mas nunca quando eu ou Inês estavam presentes.
Se você quiser pode vir... falei Se precisar falo com Zulmira...
Olhou para Cristina e Glória deitadas dentro da água nuas e para mim, vestido em uma comportada cueca e tirou a camisa, os seios pequenos pareciam maiores que quando chegou, tirou a bermuda e a calcinha sempre olhando direto para mim, ficou parada, os braços caídos.
Vem logo Francisca, deixa de frescura... Glória incentivou.
O riso nervoso e envergonhado, caminhou lento até a água fria, parou em pé perto de mim e olhei a vagina coberta por cabelos encaracolados, as pernas rijas. Cristina sorria ao me ver admirando a negrinha. Levantou e puxou a mão dela, entraram correndo na água e nadaram até a ilha, eu e Glória ficamos olhando.
Ta quase no ponto tio... Glórias murmurou entre os dentes Vive de olho em ti...
É só uma menina envergonhada falei E não quero outra, basta vocês...
Glória sorriu e deitou colada em mim, senti a pele ponteada de montes minúsculos, a respiração forte.
Tu vai no quarto hoje? passou o dedo no bico de meu peito.
Você quer que eu vá? respondi sorrindo, desde que tinha mudado as coisas não mais pareciam temer as mães.
E a Cris?
Que é que tem ela?
Tu só fica com ela, não olha pra mim...
Tua mãe me mata se fizermos alguma coisa...
Mata não, depois tu dá uma pimbada nela e fica tudo bem... me empurrou, deitei e ela passou a perna por cima de mim Não quero chupada, quero foder...
Cristina e Francisca conversavam alheias ao que acontecia na margem.
O velho quase teve um treco quando tu parou perto dele... tocou no peito da garota Tu quer ele, não quer?
Francisca sentiu o corpo arrepiar e olhou para a margem.
Ele quer é a Glorinha... apontou com o beiço.
Cristina olhou e balançou a cabeça, a prima estava doida para dar e ele parecia não querer.
Se tu quiser ele vai te querer... na cabeça uma idéia maluca, botou a mão dentro da água e passou o dedo na xoxota da negrinha Tu ta melada sua safada...
Riu e continuou passando o dedo, Francisca olhava fixo para outra margem imaginando se teria coragem de fazer alguma coisa com ele, estava gostando do dedo e levantou um, pouco a perna, Cristina notou e forçou o dedo.
Tu é moça Francisca? estranhou, o dedo entrou sem nenhuma dificuldade.
A garota olhou para ela, no rosto uma mascara de desejo.
Não... Dei pro Bastião...
Era o irmão mais velho, motivo de ter seguido a avó.