Sou jornalista e escritor e gosto bastante da literatura erótica. Tenho muitos trabalhos inéditos que quero mostrar. Esse que aí está, "Amor Livre", é um texto erótico e romântico ao mesmo tempo, gostaria que fosse publicado. Muito obrigado.
Jossan Karsten
Amor Livre
Irmã Ângela tira o hábito, se prepara e sai do convento. Ela ganha a rua como uma pessoa comum, ela tem pressa, ela tem compromissos. Carrega uma bolsa ao ombro esquerdo e caminha rapidamente. Dispensa o ônibus que passa pelo ponto onde ela e as outras freiras costumam embarcar nos dias de trabalho em visita aos bairros mais pobres da cidade. Irmã Ângela caminha até a esquina seguinte e chama um táxi pelo celular que carrega na bolsa.
Ela fica na esquina olhando para todos os lados. Sua bunda grande, seus cabelos longos, loiros e encaracolados não demorarão a chamar a atenção. Prefiro o hábito, pois não preciso me esconder, pensa a irmã, enquanto Batata, o taxista encosta o Gol branco e descaracterizado ao seu lado. Ela entra e o carro arranca.
Momentos depois, taxista e freira estão em frente a um mercado. Lá, não demora para que Ângela chame a atenção de todos com seu corpo escultural e com seu ar sexy que demonstra sensualidade a todo momento. Batata fica no carro ouvindo uma música regional e irmã Ângela faz compras apressadamente. Pega comida, água mineral, produtos de higiene pessoal e de limpeza. O carrinho está cheio quando seu celular toca. Ela ouve e volta para outra seção. Escolhe algumas cuecas e põe no carrinho. Irmã Ângela procura a fila menor e chega até o caixa. Está feliz. Embora todos a olhem, ninguém a conhece como freira naquele mercado, mesmo porque, é uma região de evangélicos e eles não estão nem aí se uma mulher é freira ou não. As pessoa olham sim, para as formas definidas da mulher Ângela, para seu corpo escultural, para seu jeito sexy e provocante...
Ela passa pelo caixa, repõe os pacotes no carrinho, paga em dinheiro e dispensa a ajuda do carregador eu a olha com ar assanhado. Vai até o táxi e Batata lhe ajuda a colocar a mercadoria na mala do carro. Empurra o carrinho a um lugar específico para isso, entra no automóvel e saem do estacionamento. Na rua há sol e muita alegria. Crianças andam de bicicleta e skate sob as sombras das frondosas árvores. Ângela esboça um sorriso. Ela sente a felicidade lhe invadir. Mesmo com a consciência de que permanecerá nela por pouco tempo, ela sorri e tem prazer nesta felicidade.
Momentos depois o táxi descaracterizado de Batata está estacionado ao lado da cadeia. A fila está enorme, mas Ângela tem privilégios. Todos gostam dela lá dentro e, para que não se exponha, deixam-na entrar primeiro e sair primeiro também, para que sua presença não seja notada no ambiente. As compras são revistadas e entram na frente, carregada por um carcereiro. Ângela o segue a passos lentos, porém seguros. Batata fica no táxi e volta a ouvir um CD com músicas regionais.
O movimento dos presos é grande. Ao contrário do que se poderia pensar, eles estão felizes. É dia de vista e isto significa boa comida pelo menos para uma semana. Para muitos, o dia de visita significa fazer amor, ser tocado e tocar, sentir que há vida no corpo, que há amor no coração. Ângela segue sem olhar para os lados. Muitas celas estão vazias e no pátio há um ar de festa. Risos e piadas podem ser ouvidos, mas Ângela baixa ainda mais a cabeça e segue os passos duros do carcereiro que caminha com as sacolas à sua frente.
O homem bate em uma das celas que fica à esquerda, na qual um lençol azul protege a visão. Ele destranca o portão e deposita a as compras em uma mesa de concreto. Diz alguma coisa para dentro da cela, espera que Ângela entre, tranca a porta e sai.
Na cela o amor espera Ângela. Ela cai nos braços de Nelson. Os beijos são demorados e sensuais. Ângela se desfaz da calcinha com rapidez, levanta um pouco a saia e senta sobre o membro ereto de Nelson. Se deixa ficar ali por um longo tempo, em um sexo tântrico. Os dois sentem o prazer total, mas nada dizem, só sentem. Cada músculo da vagina de Ângela trabalha e o amor se prolonga como se um verdadeiro céu tivesse se instalado nos dois corpos. Depois de muito tempo ali, quando o barulho das outras pessoas já não era possível ser ouvido com tanta nitidez, Ângela e Nelson gozam em uma sincronia perfeita, ao mesmo tempo. A freira fica ali, quietinha no colo de Nelson que nada faz além de acariciar os cabelos e o rosto da mulher.
Nelson está preso por invasão de estabelecimento comercial. Estava desempregado e sem crédito em qualquer lugar que fosse e roubou dois pacotes de arroz e um pacote de carne em um supermercado. Foi preso em flagrante e seu processo, ao que parecia, foi esquecido. Nelson não tinha família e ninguém lhe visitava, até o dia em que viu a irmã Ângela. Ela, juntamente com um padre, pregava na cadeia. Depois das orações, ao invés de confessar com o padre, Nelson procurou a irmã Ângela para conversar. Ele não queria lamentar nada, só queria contar que pela primeira vez, estava amando. A mulher caiu no choro. Eu senti o mesmo por você, só que não posso. Você sabe que não posso. Não vou voltar mais aqui, vai ser melhor para todo mundo, disse a freira aos prantos. Na semana seguinte, Ângela estava lá. Sem hábito, sem nada que demonstrasse ser ela uma religiosa, mas estava lá.
Os dois transaram no mesmo dia. Entre os intervalos de amor ardente, Ângela contou a Nelson que entrou para a vida religiosa depois de várias decepções. Disse que foi traficante de droga sintética e, depois que foi presa e pagou pelo erro, decidiu se redimir entrando para um convento e passando a ajudar aos outros. Eu tinha uma dívida comigo mesma e tinha que pagar. Eu amo a vida religiosa, mas eu gostaria de seguir a mesma tendo um amor só para mim. Eu te amo, mas não deveria. Sinto-me como se estivesse cometendo os crimes do passado. Não gosto de me esconder, disse a mulher no mesmo instante em que era penetrada e gozava com toda intensidade possível.
Agora, depois de dois anos de amor intenso, os dois se sentiam completamente realizados, só nos dias de visita, mas se sentiam. A tristeza invadia os corações de ambos quando o relógio avançava e despachava toda e qualquer possibilidade de prolongamento das sensações, do prazer. Olhando para toda aquela comida, Nelson, com Ângela no colo, esboçando um sorriso de ironia, disse: Eu não consigo acreditar que foi por causa, ou melhor, por falta de comida que vim parar aqui. Agora você me traz tanta coisa boa e eu nem sei mais o que pensar. Não pense em nada, não diga nada, só me ame, retrucou a freira. Os dois, desta vez completamente nus, de deixaram cair sobre a cama da prisão e se amaram com tanta intensidade que o suor escorreu dos corpos de ambos, molhando a cama toda.
Após o longo orgasmo, Ângela olhou para a parede e viu um papel que ela sabia muito bem do que se tratava, dependurado em um barbante. Sem nada dizer, ela pegou a carta da justiça onde explicava que depois de longo período, um advogado do Estado assumira o processo de Nelson e este seria liberado nas próximas semanas. Eu não queria contar isso a você. Isso é muito ruim, disse Nelson entre lágrimas. Ângela também não conteve o choro e desabou. Para ela, aquele era o fim da felicidade. Não podia imaginar onde encontraria um refúgio para que seu amor fosse vivido em plenitude.
Estavam os dois abraçados, quando um envelope foi posto embaixo da porta da cela. Nelson correu para pegar. Rasgou com rapidez e não podia acreditar no que estava lendo. O advogado havia sofrido um acidente e não podia conduzir seu processo. A carta tinha chegado no meio da semana, mas não se sabia o por quê da entrega só no dia de visitas. Nelson, rindo, passou a carta à Ângela. Esta leu e também começou a sorrir. Deus estava do lado dos dois e o amor podia ser vivido em sua plenitude. Eu te amo e sou capaz de tudo para ficar para sempre com você, falou a freira sentada sobre Nelson. Você me prende ainda mais que essas grades. Eu amo estar preso dessa maneira, disse Nelson enquanto sentia a vagina de Ângela massagear seu pênis por inteiro. O amor estava livre, mesmo dentro da prisão, o amor estava livre para contagiar os dois que encontraram a felicidade em um lugar nada comum.
Jossan Karsten