<center><b>ÂNGELA RESOLVE FALAR</b></center>
<blockquote><i>Foi só no segundo encontro quando Ângela se sentiu a vontade e começou falar.</b></blockquote>
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E aí princesa sorri vendo a garota entrar na sala Pensei que você iria dar bolo hoje...
Ângela sorriu e foi direto para a estande de músicas, fiquei olhando sabendo que tinha ganho a confiança da garota.
A mãe não pode vir hoje... ficou de cócoras e escolhei Araçá Azul de Caetano Veloso Tem uma reunião lá na escola.... colocou o disco, mexeu na equalização e deixou em um volume bem afável O Nandinho andou dando uns tapas num carinha...
Tinha mais dois irmão, Fernando o mais velho e Luzia a caçula.
E o que foi que aconteceu? instiguei, queria que ela falasse mais.
Foi por minha causa... arrumou a saia com as mãos e andou devagar até ficar defronte da mesa Foi no recreio... Ele... Ele passou a mão na minha bunda... E saiu dizendo pra todo mundo que eu tinha deixado... Falei pro Nando e ele pegou ele na saída... sorriu, brincava com a espátula de aço Pegou uma surra daquelas... E o Zeferino... Zeferino é o cara da portaria falou, a atenção presa no pedaço de aço O Zeferino levou os dois pra secretaria e... Nando pegou três dias... O Maneco também...
Levantei e sentei na poltrona, cruzei as pernas e abri o dossiê. Ângela ainda ficou um momento mexendo na mesa antes de suspirar e sentar no sofá defronte de mim.
O papai quis dar uma pisa no Nando... olhou para o chão e para meus pés, sorriu ao ver que eu estava descalço Tu nem parece que é doutor...
E como é que se é doutor? terminei as anotações, fechei a pasta e olhei para ela.
Sei lá! Tu devias ser empoado... riu e desviou a vista Quando eu ia vindo com a mamãe naquele dia eu pensava que tu ia ser um chato... riu novamente Todo doutor é chato... Mas tu não é como um doutor... Parece mais amigo da gente....
Fiquei olhando para ela, parecia mais solta e falava pelos cotovelos como a mãe disse que era.
Sabe Ângelo... Posso te chamar de Ângelo? olhou direto para meus olhos.
Claro! Pode me chamar como você quiser... E quero ser seu amigo... É para isso que estamos aqui, para conversar...
Ângela sorriu e se recostou no sofá, sem perceber abriu as pernas e vi a calcinha de renda entrando na beiradinha da vagina.
É isso que te faz diferente... se arrumou, a perna continuou aberta Teve um doutor... Sabia que a mamãe já me levou pra me consultar até com um doutor de cabeça?
Sabia, mas quis que ela mesmo contasse.
O nome dele é doutor Azevedo... Trabalha no Ministério, colega da mamãe... Mas ele queria era que eu tomasse umas pílulas... Ainda tomei uma caixa, mas tava ficando lerda, dava sono o dia todo... Foi o papai quem disse pra eu parar, que eu não sou doida não...
Falou como fosse um disco riscado por quase meia hora, sempre parava em um assunto e pulava pra outro formando uma colcha de pensamentos de difícil compreensão. Deixei que ela esgotasse, estava elétrica, queria falar e falou até cansar.
Tem uma jesus aí? olhou para a geladeira Tô com a garganta seca.
Tem sim... Pode pegar...
<blockquote><i>Ela sorriu e deu um impulso para frente, as pernas escancararam e ela se levantou e foi buscar o refrigerante.Aproveitei para fazer mais algumas anotações.</b></blockquote>
O que é que tu tanto escreve aí? parou por detrás de mim e espichou o olho Tua letra é bonita, bem trabalhada... Nem nisso tu se parece com doutor...
Pousou a mão em meu ombro e se debruçou tentando ler o que eu tinha anotado. Deixei que lesse, afinal tinha mesmo de saber tudo para que nossos laços não ficassem apenas no cenário de paciente e profissional não suporto pensar assim das pessoas com quem trabalho.
O que é esse símbolo aqui? apontou para um garrancho.
Foi um erro... sorri Fiquei brincando, desenhei um treco qualquer... Você quer ler?
Entreguei a pasta, mas ela não queria.
Ler pra que? Não entendo nadica de nada disso que tu escreve... É sobre mim, não é?
Continuou debruçada, senti o perfume suave exalando do corpo.
Vamos falar sobre você? perguntei querendo que ela saísse de perto Depois de falo o que é isso o que escrevo.
Ela ainda continuou debruçada por uns bons dois minutos ante de voltar a sentar no sofá.
Porque você se senta assim? perguntei, novamente ela deixou as pernas abertas.
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Assim como?
Assim, com as pernas abertas... parei, olhei para seu rosto e ela sorriu Assim fico vendo sua calcinha...
Desculpa... fechou as pernas, colocou a mão no colo forçando a barra da saia para baixo Nem me toquei... riu de novo Mas olha com os olhos e come com a testa, né?
Você senta sempre assim... Deixando todos verem sua calcinha?
Não!... É que nem me toquei, ta um papo beleza e nem vi que tava te mostrando meu fundilho...Tu viu?
Claro que vi... Você ficou o tempo todo mostrando... Pensei... parei, não tinha de ter pensado nada Você gosta de mostrar?
Já disse que não... ficou séria Mas isso é besteira, né mesmo?
Calei, fiquei olhando para ela e ela me olhando, estávamos sérios.
Você pode me falar sobre o Fernando? toquei no ponto nevrálgico, temia ter que tomar a iniciativa, esperava que partisse dela.
Ângela continuou me encarando, notei uma pontinha de dúvidas ou de incerteza nos olhos vivos.
Se você não quiser falar...
Não! cortou, mas continuava séria Tem nada não eu falar, afinal ia ter mesmo de falar uma hora...