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<tt><Center>Simone, uma história de amor 01.13</Center></tt>
<center><strong><b> MARIA, VIDA SEM VIDA </b></strong></Center>
<Center><tt><b>Sábado, 13 de dezembro de 2003</b></tt></center>
<blockquote><b> O tempo esfriou, corria um vento escroto lambendo o fundo da rede e lá fora na escuridão só o piar das corujas, aqui e acolá um sapo coaxava, grilos zuniam e aquele som gostoso das folgas batendo entrelaçadas e o ranger, vez por outra, dos troncos velhos de palmeiras do babaçual onde as quebradeiras, durante o dia, entoavam cantigas de risos e versos das coisas do dia-a-dia vivido nas brenhas do sertão. </b></blockquote>
Tu vais dormir aí?
Simone saiu do torpor em que caíra depois que Sheila resolvera fugir do vento frio que roçava o fundo da rede.
Vou... respondeu se mexendo na rede de linha Cadê a tia?
Maria puxou a espreguiçadeira e sentou ao lado da rede.
Faz frio... Aqui é assim, de dia um calorão danado e de noite a gente rine os dente! recostou na lona fria e estremeceu Tem vez que durmo aqui fora, quando o João enche a cara com o pessoal do pasto e resolve aporrinhar meus miolos...
João bebe muito? Simone virou de bruços e olhou pra garota e pensou de como era a vida daquela quase menina embrenhada nos matos cheio de carrapicho e de gente bruta.
Só quando lembra da dona Joana...
Quem era? perguntou e a garota fez cara de triste Desculpa... Não fica triste, desculpa!
Nada não, dona Simone. Era a mulher dele, fugiu com um vaqueiro que seu Zé trouxe lá de Paraibano colocou os pés na cadeira e abraçou as pernas Acho que não agüentou a labuta, o Jão ainda lembra dela e se mete nas capoeira com o bornal cheio de pinga...
Não conseguia visualizar a garota deitada com o marido quase trinta anos mais velho.
Como foi que tu casou com ele?
Das Neves riu e apoiou o queixo nos joelhos.
Foi coisa do pai... Eu nem conhecia ele, o pai sim! Parece que andaram prometendo as filhas e o João soube de mim e foi cobrar a palavra...
Como assim?
É assim mesmo por aqui. A gente tem que obedecer os pai da gente!
Quer dizer que tu veio pra cá porque teu pai havia prometido que daria uma filha? Simone olhou incrédulo pra garota Isso é coisa do século... Do século não, de dois séculos atrás!
Aqui a gente não tem disso não, dona Simone. A vida no mato não é a mesma coisa que a vida da cidade... matou uma muriçoca e coçou a bunda Pra dizer a verdade até que foi bom pra mim, saí daquela labuta danada lá da roça do pai e até que o João é bonzinho comigo...
Tu conheceu a mulher dele?
Ora se não? Foi ela quem me trouxe do Mutuá... No começo eu fazia as coisas da casa e só me deitei com o João no dia que dona Joana se escafedeu com o Carijó... olhou para Simone e riu mansinho Eu inda era moça, sabia?
Puxa vida, garota? Não sabia que ainda tinha dessas coisas hoje em dia...
Caíram em um silêncio pesado, Maria estava constrangida e Simone não sabia o que falar, até que escutaram trovões ao longe e riscas de relâmpago cortando o céu.
Vai chover... Simone puxou o lençol se protegendo a aragem Aqui molha?
Não... Mas o frio é de lascar!
Simone voltou a ficar de papo pro ar espiando a mudança brusca no tempo, o seu escurecera escondendo a lua e as estrelas.
E teu pai?
Quem tem ele?
Tu ainda viste ele?
Só quando veio buscar a Das Virgem... Minha irmã mais velha, ela tava querendo sair de lá, mas ele caçou ela até achar...
E ela ainda é solteira?
É sim... Só eu e a Nizinha é que arrajamo homem... Tem mais a Belinha que vive lá no Mutuá...
Só tem irmã mulher?
Não! Tem o Zeca e o Zé Paulo... O Zeca botou roça e se amasiou com a Mundica, o Zé Paulo mora na cidade com o tio Nerso, ele estuda, vai ser doutor riu Eu também queria estudar, mas o pai diz que esse negócio de letras é pros home, mulher tem que aprender cozinhar e passar roupa e cuidar os filho...
E teu pai não prometeu outras?
Sei não, ele não diz... Mas acho que a Belinha vai ser do filho do Zelão... É cumpade do pai, o pai é padim da Zefa... levantou, ia entrar, virou pra Simone A senhora aceita um café quente?
Simone aceitou, Maria entrou.
Cadê o João? perguntou escutando batida de panela na cozinha Não viu mais ele!
Aproveitou que vocês chegaram pra ir no Centrão arrebanhar umas novilhas que seu Zé comprou... tirou a chaleira do fogão a lenha, escaldou as xícaras, o pano de coar e a garrafa térmica Deve tá de volta pro almoço...
O sono não chegava, Simone nem pensava em dormir interessada na história da garota. Maria voltou com a bandeja.
Cuidado com a língua, tá pelando! serviu duas xícaras e voltou a sentar na espreguiçadeira Tô pensando em fazer um galo cozido com inhame pra gente comer amanhã!
Beberam o café em silêncio, Maria recebeu a xícara de Simone e voltou a colocar os pés na cadeira deixando o fundilho à mostra.
E a tua irmã mais velha... A Das Virgens?
Mora com o pai... É danada de bonita, até o João andou sassaricando pros lado dela riu da cara que Simone fez Que foi, dona Simone?
E tu?
Que tem eu?
Ficou com ciúmes? Do João com tua irmã?
2b
Qual o que, menina! Ele não é propriedade minha... Se deita com quem ele quiser... Homem é homem! jogou a cabeça pra trás e sorriu espremida E eu lá ia botar entrave por causa dela? Vixe Maria!
Como assim? sentou na rede de pernas encruzadas Quer dizer que o João dá suas escapulidas?
Sei lá? Como vou saber? Ele não diz!...
Mas... E ele não deu em cima de tua irmã? estava cada vez mais abismada com as coisas de Maria.
Mas aí é diferente... Ela é mais velha, foi quem criou a gente...
E tua mãe?
Morreu... Morreu de parto...
E teu pai não casou mais?
Não... Não quis botar outra mulher, bastava as que tinha em casa...
Sei!... Quantos anos tem tua irmã, a que criou vocês!
Deve ter uns vinte e um... parou conferindo nos dedos da mão Não! Das Virgens tem vinte, fez no mês passado.
E tu? Quantos anos tem?
Dezesseis! Faço dezessete em novembro, dia onze! O Zé Paulo fez dezesseis e a Belinha tem treze... O Zeca tem dezenove e a Zefa quinze.
A Zefa é afilhada do teu pai?
É!
E ela mora com ele?
Desde os dez! É minha melhor amiga, vem aqui de vez em quando... Já devia ter vindo!
Parou de falar e ficou olhando pra Simone. Começou a cair os primeiros pingos de chuva e o tamborilar nas telhas criou um ambiente de sossego, o vento soprava nas palmeiras que assoviava tal gente.
A senhora não vai dormir não?
Deixa esse negócio de senhora... Já falei, só Simone mesmo! reclamou.
O João não gostou, ele ralhou comigo e disse que a senhora é gente de posse, filha de doutor... riu constrangida Melhor deixar assim, dona Simone, não quero arranjar rabo de cobra com João...
É que não me sinto bem, tu és mais nova só dois anos... Faz assim! abriu um sorriso bonito Quando ele estiver longe, sou Simone! Tá?
Tá bom dona... Quer dizer, Simone... retribuiu o sorriso Sua tia também é muito novinha, vocês duas parecem mais irmãs que tia e sobrinha.
Sheila é caçula do vovô, minha mãe foi apressada e quando nasci ela tinha só três anos... Gosto muito dela!
Se vê logo de cara... Ela é bem bonita, tem um corpão danado de bem feito... ficou aperreada com medo de ter ido além dos limites.
A tia é mesmo bonita e tem um corpo!!! repetiu para deixar claro que não tinha nada falar assim.
A sen... Você também é muito bonita... Deve ter assim de namorado, né mesmo?
Simone riu da simplicidade da garota.
Não! Mas tu também és bonita, Maria... se ajeitou na rede e cobriu as pernas com o lençol Teu corpo é bem feito, parece uma garotinha...
Foi a vez de Das Neves ficar acabrunhada.
Que nada Simone, sou cabocla do mato, mão cheias de calos de tanto pegar na enxada mostrou as mãos A sen... Tu estais é dizendo isso só pra me alegrar!
Não era verdade. Maria era uma morena bonita, corpo bem feito, seis pequenos e empinados.
Nada, Das Neves! olhou para a garota tu tens o corpo bem feito, carinha bonita e sorriso de anjo! Falta só um trato melhor, um banho de loja pra acentuar a beleza ficou ereta e segurou o peito direito Teu peito é mais bonito que o meu!
Maria das Virgens se encheu de satisfação.
Acha mesmo?
Claro!
A garota ficou um instante olhando pra Simone e puxou a alça da blusa branca até que os seios pularam firmes. Simone já os tinha visto no riacho quando banharam nuas.
Não deixo o João chupar eles não! segredou envergonhada Os peito de dona Joana pareciam duas chulibas... riu.
Conversaram descontraídas até o galo cantar.
Vixe Maria! Das Virgens pulou da cadeira Deixa eu botar o corpo na rede senão não dou conta da lida... ia saindo Quer que apague o lampião?
<blockquote><i> Simone balançou a cabeça aquiescendo, Maria assoprou o murrão e entrou ligeira.</i></blockquote>
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<center><b>Para melhor entender esse relato, leia os episódios anteriores</b></center>
<blockquote><tt>Episódio 01: O chato</tt>
<tt>Episódio 02: O Sítio</tt>
<tt>Episódio 03: Instituto do instinto</tt>
<tt>Episódio 04: Simone vai ao mato</tt>
<tt>Episódio 05: Desencontros</tt>
<tt>Episódio 06: Encontros e surpresas</tt>
<tt>Episódio 07: Uma noite para Sheila</tt>
<tt>Episódio 08: Sonhos e prazer para Sheila</tt></blockquote>
<center>©by Arib Júnior arib.jr@zipmail.com.br</center>