Olá, meu nome é Louise e quero compartilhar com vocês uma história que me aconteceu a dez anos atrás, e que me marcou profundamente. Peço desculpas se eu escrevo muitos detalhes, ou se a leitura é cansativa, mas acho importante narramos um momento especial de nossas vidas com detalhes...
Aconteceu quando eu tinha 17 anos. Morava com meus pais em Londres há três anos, desde que meu pai, por ser diplomata, foi transferido. Estudava em uma escola para brasileiros, aberta a outras embaixadas latinas, mas muito tradicional. Namorava há 2 anos com um rapaz lindo, maravilhoso, que era louco por mim e fazia todas as minhas vontades. Ou melhor, quase todas... Enfim, ele não estudava na mesma escola que eu, mas nos víamos todos os dias, num típico namoro de porta, e como tal, era um namoro sem malícias.
Eu era, e como sou, uma pessoa muito curiosa. Tinha e ainda tenho muitos amigos da época! Todos muito especiais, que sempre me apoiaram nos momento difíceis. E foi exatamente nessa época que eu estava passando por uma situação um tanto confusa.
Pois bem. Meu namorado, que aqui vou chamar de Adriano, era muito popular. Entretanto era muito respeitador comigo. Eu sempre fui muito agitada, muito cheia de energia, e nesse ponto ele era bastante antagônico a mim. Ele falava em valores como casamento, filhos, e eu queria o mundo, mas pra não magoá-lo, não tocava nesse assunto.
Resumindo: eu estava louca pra transar com ele, mas ele não me dava nem uma abertura pra me sentir a vontade de, ao menos, tomar iniciativa! O beijo era gostoso, mas seus abraços eram fugidios. Ele não se encostava em mim quando eu esquentava um pouco mais o beijo, entende? Eu mordiscava seus lábios, falava baixinho ao ouvido dele, atacava o pescoço do cara e ele ali, fugindo. Teve uma época que eu comecei a me aborrecer com aquilo. Comecei a achar que eu tinha algum problema, tentei conversar sobre isso e ele sempre mudava de assunto.
Não me dei por vencida e tentei, como quem não quer nada, saber o que acontecia com o melhor amigo dele. Ele mordeu a isca (fui esperta com as palavras) e então eu descobri que ele tinha medo de se deixar levar, pois ELE TAMBÉM era virgem!
Quando eu soube disso, quase caí de costas! Eu sabia que o Adriano era muito tímido, um ano mais novo, mas pelo fato de ser muito decidido quando outra garota dava em cima dele, eu jurava que isso jamais poderia acontecer. Mas mantive a pose e persuadi o amigo do Adriano a tentar convence-lo de deixar isso pra lá, que isso era bobagem, ainda nos nossos tempos. Mas foi quando escutei a bomba:
Se ele soubesse que tu não eras mais virgem, ele ficaria menos ansioso contigo...
Disfarcei e me despedi. Fui pra casa em choque. Minha virgindade era um problema? Mas se a gente se gostava, porque ele não se abria sobre isso comigo e a gente tentava resolver isso juntos? Passei um bom tempo mal...
Mil coisas se passaram pela minha cabeça, até que tive uma idéia: e se eu perdesse a minha virgindade sem ser com ele? Aí não seria mais empecilho e poderia-mos nos dar bem dali por diante, não é? Mas eu teria que traí-lo... A confusão na minha mente estava feita!
Não sabendo mais o que fazer, tudo aquilo estava me deprimindo! Até que a galera percebeu, e um amigo meu, muito querido, chegou-me perguntando do porquê deu estar meio triste aqueles dias. Vou chamá-lo de Takashi, filho de funcionários da embaixada. Ele tinha 18 anos, e era muito parecido comigo, esparrento, alegre, sorriso moleque, um maluco. Jogávamos no mesmo time de handboll da escola, e como eram times mistos, a gente colecionava arranhões e baques. Ele era divertido, e muito, muito gato. Nunca encontrei um nipo-descendente tão bonito quanto ele até hoje, e talvez por isso ele tinha fama de galinha. Mas como éramos somente amigos, me senti a vontade de contar meu problema.
Nessa tarde, saímos com a turma para uma lanchonete para discutirmos os preparativos da semana de cultura escolar. E sim, eu era presidente de classe! Era um saco, mas alguém tinha que fazer o trabalho sujo... Terminada a reunião, o povo foi embora e ficamos eu e o Takashi conversando.
- Estupra o cara! - ele disparou, dando uma de suas risadas canalhas.
- Tu achas que eu não já tentei? falei sem sorrir.
- Eita! Então o negócio é sério... queres que eu converse com ele?
Vocês mal se conhecem! E ele não gosta muito de ti, bem sabes...
É, com essa minha fama, ele acha que eu devo ser perigoso! gargalhou.
Nem! Ah, eu sei lá! Ele é tão sisudo, tão fechado. As vezes eu penso qual seria o porquê de ele estar comigo. A gente é tão diferente...
Eu é que pergunto porque tu ainda estás com ele! Ah, e tu és muito bacana, Louise! Inteligente, engraçada... e uma gatinha! Com todo o respeito...
Ele falou aquilo olhando pra latinha de refrigerante, meio desengonçado. Eu fiquei meio sem graça, dei um sorriso sem jeito, mas achei bonitinho! Deu pra perceber que ele falou um pouco mais sério que o de costume...
E essa tua idéia? De tentar perder com alguém que não seja ele? Vais encarar?
Ah, não sei. Não quero ser desleal a ele. Isso seria traição. Não sei se ele vai me perdoar, mesmo que eu diga que foi por ele que eu fiz isso. Quero curtir a nossa relação ao máximo, mas sinto que isso tá travando a gente...
Olha, se fosse minha namorada, eu não sei o que faria. Mas e ele? Ele sabe que tu és virgem?
Me toquei nesse momento que depois de dois anos de namoro eu jamais tinha feito essa afirmação a ele! Talvez pelo fato de eu ser mais velha, ou dele ter tido uma criação rígida, bem aos moldes judaicos (o Adriano é judeu), nunca se atreveu a perguntar tal coisa. O pai dele era o rabino da região, era um Inglês muito sisudo. Depois de tanto tempo, acho que se troquei algumas palavras com o pai dele, contaria nos dedos de uma só mão.
Sortudo do cara que tu escolheres pra fazer esse serviço... falou sem me olhar, meio que rindo, levando o refrigerante a boca.
Mal o deixei engolir e disparei:
Não queres tu fazer isso pra mim?
Nessa hora, ele saiu cuspindo o líquido da sua boca em um jato na direção de uma garçonete que tava passando. Numa outra ocasião eu iria morrer de rir da cena, mas diante do engasgo do rapaz eu fiquei aflita. Tentei levantar o braço dele depressa, dando uma porradas nas costas pra fazê-lo retornar.
Saímos dali sem dar uma palavra. Achei que falei a maior besteira do mundo! Fiquei com receio do que ele estaria pensando de mim. Quando eu quebrei o gelo dizendo:
Relaxa, viu? Eu tava brincando contigo aquela hora! Não quero que tu penses que sou fácil ou coisa assim...
Realmente tu não me conheces. Porque eu faria isso? Eu não sou teu amigo? Eu não cometeria essa estupidez...
Sim, mas...Ah, qual é? Depois que tu já ficaste com tanta menina por aí, mais uma não seria diferente, né? Tu estás me tirando!
Nesse momento ele parou. Olhou pra mim sério, com o semblante preocupado.
Tu não deverias acreditar em tudo que dizem! Não conheço sequer a metade dessas meninas que falam que eu fiquei por aí. Se fiquei com uma ou outra, elas saíram contando. Outras inventaram, e eu não me dei ao trabalho de desmentir, por isso essa minha fama.
Takashi, eu...
Eu gostei da proposta que me fizestes por saber que uma amiga confiava em mim, e estou disposto a aceitar pra te provar que não sou eu que saio contado essas histórias pra todo mundo!
Desculpa! Não quis te chatear, eu só...
Não deu tempo de eu terminar o que iria dizer. Fui silenciada com um beijo. Não sabia o que fazer, então fiquei ali, parada, sendo beijada...
Senti meu corpo ficar arrepiado. Meu coração estava quase saindo pela boca. Fechei os olhos. Senti as mãos dele no meu quadril, pouco a pouco me apertando contra a si. Senti que a respiração dele estava ofegante. Que cheirinho bom! Que beijo quente e macio! Ele estava me querendo, ali, em meio a calçada, com as pessoas passando. Era isso que eu sentia do corpo dele, já desperto.
Nessa hora ele se afastou. Não movi um músculo. Mal respirava! Ficamos nos olhando por segundos eternos.
De repente, pediu desculpas e foi embora. Acho que devo ter ficado ali, parada, pelo tempo de fazerem um ninho de passarinho na minha cabeça, feito uma retardada, tentando entender aquilo que estava acontecendo.
Quando cheguei a casa, minha mãe me falou que tinha alguém no telefone me esperando. Corri pra atender, mas era o Adriano. Decepcionei-me um pouco, e acho que ele percebeu. Avisou-me que iria demorar um pouco, mas que chegava cerca de meia hora depois do horário que estava habituado a me ver. Respondi mecanicamente e fui tomar um banho.
Naquele dia, quase não saí mais do banho. Fiquei pensando no que aconteceu, nos planos que tinha feito e que de repente saíram do controle na minha cabeça. Parecia que não tinha mais volta.
O Adriano chegou, o Adriano saiu. Não me lembro de nada que se passou entre nós aquele dia. Acho que ele ficou brincando de vídeo game com meu irmão, sei lá. Não conseguia desanuviar a mente. Pouco antes de dormir, atendi a um telefonema na cozinha. Era o Takashi, me pedindo desculpas por não ter me acompanhado até a estação. Eu disse que tudo bem, ele tava nervoso e eu também. Dez segundos de silêncio depois, eu já iria me despedir, quando...
Eu queria te pedir desculpas pelo que eu disse. Não quero que pense que posso estar forçando uma barra...
- Nada disso! Eu que fui com aquela proposta absurda.
Ah, aquilo? Pode deixar, eu sei você falou aquilo de brincadeira.
Não, Takashi, eu não tava brincando. Aliás, eu falei bem sério.
Silencio sepulcral.
E então, quando acertamos os detalhes?
Mais silêncio. E eu já nem sabia mais o que estava falando.
Podemos conversar amanhã depois da aula? Alô? Ainda estás aí? Takashi?
Sim, eu to aqui.
E então?
...
Amanhã depois da aula a gente combina então. falou com mais decisão.
Não considerei por hora a existência do Adriano. Parece cruel, mas é como eu estava me sentindo naquele momento. Era um misto de ansiedade e apreensão. Só conseguia pensar em voltar a ter aquele beijo; era tanto que sentia meu peito apertar.
Não consegui ir pra escola. Não preguei o olho a noite toda e fingi estar com muita cólica de manhã, pra poder dormir um pouco. Perto da hora da saída, me dirigi a estação em que o Takashi pegava o metrô pra ir pra casa. Ele não demorou a aparecer. Parecia estar um pouco com aspecto de derrotado. Nem percebeu que sentou num banco atrás do meu, sem me ver.
- Estás fingindo não me ver aqui? - Perguntei sentando ao seu lado e dando uma cotovelada de leve em seu braço.
- Que susto! Me dá um tiro mas não me dá um susto! ele disse, sorrindo. não tinha te visto, juro.
- E desde quando precisas jurar alguma coisa, rapá?
- É mesmo, né? Foi mal!
...
- Bora lanchar?
- Desse jeito eu engordo!
- Imagina! Até que tu precisas! Andas muito cabeçuda!
- Sem graça! Vamos lá.
...
Futilidade vai, futilidade vem, mas um minuto de silêncio, dessa vez ele que introduziu (rá!) o assunto.
- Olha, sobre o que falamos... eu vou estar mentindo se eu disser que eu não me empolguei com que falamos ontem, mas...
- E com o que aconteceu?
- Também!
- É... eu senti...
- Desculpe, não controlo isso, é mais forte do que eu!
- Do que estás falando?
- Hã... nada! Acho que não é da mesma coisa!
- É, acho que não...
- Pois bem, suponhamos que tu estejas falando sério..
- Eu falo sério.
- Tá, então, vamos pensar no seguinte: amanhã é sábado. Meus pais estão indo visitar meus avós no interior e só voltam na quarta que vem.
- Já? Assim, tão rápido?
- Escuta até o fim?
- Tá. Desculpe...
- Então. A gente sai, vai num cinema e ...
- Pra que cinema?
- Porque eu quero me sentir mais a vontade, ora!
- Tá, se achares melhor assim...
- Certo. Então depois a gente dá uma volta e se você não mudar de idéia vamos até lá em casa.
- Fechado!
- Fechado?
- Fechado!
- Puxa! Você é mesmo decidida, heim?
- É ... digamos que, depois daquilo de ontem, eu ache que você vai ser bem cuidadoso comigo.
Ele sorriu com uma cara muito safada. Me deu um frio na espinha. Hoje não penso mais assim, mas me lembro que me senti como se a chapeuzinho estivesse mordido a isca do lobo mal... e gostado!
Nossa, lembro-me que quando cheguei a casa me preparei toda: escolhi a roupa que ia usar TODA a roupa conferi a depilação, passei meia hora higienizando a boca (vai que ele sente algum bafo!), unhas, perfume, cabelos, enfim, tudo com tanta empolgação que esqueci por um momento que o Adriano existia.
O Adriano... era um cara muito inteligente, lindo! Eu me sentia uma boba muitas das vezes que estava ao lado dele, tão maduro... O que eu estava fazendo a ele não era legal. Eu já o estava traindo, por assim dizer, mesmo que somente tenha rolado um beijo até então. Mas no meu íntimo, eu não me abalei muito com isso... afinal de contas, eu era muito jovem, curiosa e muito avoada!
No dia seguinte, saí de casa com as pernas tremendo. Consegui dormir a noite, mas lembro que tive sonhos agitados. Cheguei no horário combinado ao cinema, e ele já estava me esperando. Estava com uma jaqueta esporte, camiseta e calças jeans. Ele usava um corte de cabelo meio comprido na frente. Era magro, mas tinha um corpo definido e pernas grossas, que se salientavam na calça. Era um atleta, o que eu podia esperar? Fui com um vestido na altura das coxas e cabelos soltos. Quase nunca deixava meus cabelos soltos. Eram muito compridos e me davam calor. Nem usava saia ou vestido com freqüência. Talvez por isso o susto dele quando me viu. Pedi desculpas por ter feito esperar e perguntei se tinha algo errado em mim, batom borrado, ou coisa assim.
- Não, nada. Só nunca te vi vestida assim...
- Ué, assim como???
- Como uma garota.
- Que horror! Que coisa horrível de se dizer! Por acaso errei em alguma coisa? Ai meu Deus!
- NÃO... estás muito bonita.
- Ah... er... obrigada.
- Vamos?
- Certo!
Nem me lembro que filme assistimos. Minha mente estava longe dali. Tudo estava se passando pela minha cabeça. Será que eu levo isso adiante? pensava. Tive que inventar uma desculpa pra sair de casa. Disse que ia passar a noite na casa de uma amiga, estudando. Nossa... estava me sentindo uma criminosa...
Fomos a uma lanchonete e depois saímos pra uma exposição de HQ numa famosa galeria daqui (depois disso comecei a me interessar por mangas e animes!). Foi muito divertido! Ele conhecia um montão de gente que eu não conhecia, gente de outras partes do país que vieram só pra esse evento. Me senti feliz quando perguntaram pra ele se eu era sua namorada e ele respondeu - Quem dera!. Já era tarde quando fomos pra sua casa. Não falamos quase nada no caminho. Acho que ele percebeu que eu estava nervosa e segurou minha mão quando estávamos no metrô.
- Tá gelada!
- Hum... é inverno, né?- disfarcei.
Vem cá...
CONTINUA