Segunda parte. Deixem comentários e sugestões para o final :DI N S T I N T O H O M O S S E X U A L
CAPÍTULO III
SEM CURA
Susana foi atrás do amigo. Perseguiu-o ao longo dos escritórios do departamento policial, ao longo de corredores cansativos e infindáveis. Perseguiu-o até ao escritório. Entrou e bateu a porta. Luís, que estava na secretária com a cabeça enterrada nos braços, sobressaltou-se e levantou o olhar para Susana.
– Por favor, sai! Quero estar sozinho…
– Nem penses que vou sair, vais ter de me ouvir, Luís! O que te passou pela cabeça? Estás doido?
– As perguntas que fiz foram pertinentes e…
– Pelo contrário! Fizeste perguntas inoportunas, sem qualquer sentido! Como vês, ele disse que não gosta de homens. Foste arriscar o teu emprego para nada! Eles mandam-te embora se voltares a fazer o mesmo, tu sabes!
– Não preciso que venhas com os teus agouros do costume. Já estou lixado o suficiente! Não preciso de te ouvir.
Susana abriu a boca para protestar, mas não saiu nenhum som. Os seus olhos humedeceram.
– Só te aviso porque me preocupo contigo.
Ela estava a ir embora, dirigindo-se à porta. Luís levantou-se para segui-la.
– Su, espera!
– Parece que tens visita.
Pela mesma porta por onde ela acabara de sair, estava a entrar Pedro.
– Olá, detective. – ele não desistia do seu sorriso provocador e sarcástico. E lindo.
Apesar de tudo, Luís começava a ficar impaciente: – O que é que quer?
– Vim apenas esclarecer umas coisas…
– Você foi claro durante o interrogatório. Nunca teve um relacionamento com um homem. Certo?
Pedro deu um passo em direcção ao detective.
– Correcto. Mas você não acreditou em mim. Certo?
– Correcto.
Pedro riu-se brevemente. Sentou-se numa das cadeiras em frente da secretária e a apontou a cadeira do outro lado: – Sente-se, detective.
Luís não achou piada. Porém, riu com o atrevimento de Pedro. Convidá-lo a sentar-se na sua própria cadeira, no seu próprio escritório. Começava a ficar furioso e odiava-se por não conseguir desviar o olhar daquelas esferas azuis e glaciais.
Pedro analisava o material que estava sobre a mesa: fotografias, relatórios, depoimentos.
– É material confidencial… Pedro.
– Ah, mas o fruto proibido é o mais apetecido. Você sabe bem disso, não sabe Luís?
Deixou-o sem resposta, simplesmente porque Luís não compreendeu onde queria ele chegar. Olhando-o insistente e fixamente, Pedro apontou-lhe as fotografias tiradas na piscina ao corpo de Gonçalo.
– Também aprecia fotografias de nudez masculina, Luís?
– Saia. Imediatamente.
Dadas as circunstâncias, o sorriso de Pedro parecia desajustado à situação, era até absurdo. Mas nem assim ele deixava de sorrir.
Levantou-se e dirigiu-se à porta. Abriu-a para sair, mas deteve-se abruptamente. Lançou um olhar a Luís. Fechando a porta, aproximou-se dele, inclinando-se sobre a secretária.
– Você não acredita quando lhe digo que não gosto de homens. Sabe porquê, detective? Porque o que leva cada pessoa a desconfia dos outros são os seus próprios impulsos, os seus próprios segredos, os seus próprios instintos…
– O que quer dizer com isso, Pedro? Diga de uma vez por todas onde quer chegar.
– Falemos de Ricardo Almeida. Ou devo chamar-lhe Ricky?
Luís ficara simplesmente mudo. O seu cérebro estava demasiado ocupado para lhe permitir articular a fala. Além das recordações de tudo o que acontecera com Ricardo, uma pergunta estava a impor-se ao seu raciocínio. Como é que Pedro poderia saber desse caso?
– O traficante de droga com aspecto de modelo com quem você viveu um romance, há um ano… É por causa dele que está no psiquiatra, não é?
– Eu tinha problemas… com a bebida. Problemas sérios. – afirmou Luís, com a voz a falhar.
– Ora, não é só por causa da bebida, pois não? Isso é um disfarce para proteger a sua imagem, a imagem da polícia. Eles querem que o doutor o cure da homossexualidade, não é verdade?
Apesar de não conseguir resistir àquele olhar, àquela voz que tanto gozava com ele como o seduzia, desejou nunca se ter envolvido naquela investigação. A tensão e a raiva fizeram Luís saltar da cadeira e voar em direcção à porta. Abriu-a, convidando Pedro a abandonar o local.
– Saia, agora! – Só depois de falar é que se apercebeu que gritara. Gritara muito.
Pedro riu-se. Mas no momento seguinte, a sua expressão era séria, os seus olhos celestes sempre fixos nos de Luís. Pedro agarrou a mão do detective e fechou a porta.
Atormentado pelas recordações do passado e furioso com a situação presente, Luís agarrou-o e levou-o contra a secretária. Os seus rostos ficaram perigosamente próximos.
– Devia desistir da psicanálise, detective. – Pedro quase sussurrou, perto do ouvido. – A homossexualidade não é doença. Não tem cura.
Os escassos milímetros que separavam os lábios dos dois homens trouxeram a Luís recordações do seu relacionamento com Ricardo. Agarrando Pedro pelos punhos, Luís não resistiu ao perigo e aproximou o seu corpo do dele. Por instinto, talvez.
– O que é que quer de mim, Pedro?
Os seus lábios quase se tocavam.
– Eu quero-o a si. Desde o primeiro momento em que nos olhámos.
Ambos abriram os lábios, libertando as suas línguas, sedentas de paixão. No momento em que elas se iam tocar, a porta abriu-se.
Luís afastou-se instintivamente. Só depois viu que quem tinha acabado de entrar era o inspector-chefe, o grisalho Vasco Leite. Só depois percebeu que era tarde demais para escapar. Só depois sentiu que a sua carreira acabava de perder todas as esperanças… se é que algum dia as tivera.
– Você não tem emenda, Luís. Mas já chega! A brincadeira chegou a fim.
– Vasco, ouça… – as suas palavras soavam-lhe vazias, como se nada pudesse emendar o que estava feito. – Desta vez, é diferente. Eu…
– Tem razão. Desta vez, é diferente. Há um ano, envolveu-se com um suspeito, acreditou na inocência dele e foi provado que ele era culpado. Desta vez, envolveu-se com uma simples e irrelevante testemunha e suspeita dessa testemunha, sem motivo. O inspector Vieira comunicou-me o que se tem passado.
– Vocês estão a punir o homem errado.
– A partir deste momento, é você que paga as consultas com o psiquiatra. A polícia não lhe vai pagar mais nada… Arrume o que lhe pertence.
O inspector chefe preparava-se para sair.
– Vasco, isto é um enorme erro!
Ele deteve-se.
– Só se for da sua parte, Luís.
Pedro, que até então observara a cena em silêncio, deteve Vasco, dizendo-lhe:
– O inspector Luís Menezes está obcecado. Vê coisas onde elas não existem.
Luís não podia suportar. Pedro falava com serenidade, como se quisesse mostrar que ele só gritava e mostrava nervosismo porque sofria de algum distúrbio psicológico.
– Porque é que não te vais foder? – Gritou Luís, no máximo do seu descontrolo. Agora era Vasco quem observava em silêncio.
Por muito que aquele olhar o atraísse, Luís sentia o perigo de se envolver demasiado com o dono daqueles olhos glaciais. Toda a atracção e interesse que Luís sentira tinham-se transformado numa espécie de sentimento de amor-ódio. Naquele momento, mais ódio que amor.
– Devia levar o psiquiatra mais a sério. Para controlar essa hostilidade – Sorriu Pedro.
A raiva enraizada no interior do detective libertou-se. Agarrando Pedro pela gola da camisa, transferiu para ele o seu ódio através de um certeiro e doloroso soco, algures no maxilar.
Pedro vacilou e acabou por se desequilibrar. A gravidade levou-o a bater com a cabeça no canto da secretária e depois caiu ao chão. Estava inerte, inconsciente.
Vasco apressou-se a agarrá-lo e a tentar acordá-lo. Sem efeito. Voltou-se para Luís.
– Você está mesmo doente, Luís.
Luís colocou as mãos à cabeça. Os seus olhos jorravam lágrimas que corriam desesperadas. Ele sentia que não estava dentro do seu corpo. Como se não tivesse controlo sobre as suas acções. Como se agisse por instinto, sem pensar. Levara cinco meses a recuperar da sua relação com Ricardo. Levara cinco minutos a destruir toda a sua vida. E desta vez, não havia psiquiatra que lhe devolvesse o que perdera.
Vasco Leite chamava uma ambulância. Luís achou irónico. Quando era ele quem tinha o seu mundo desmoronado, a ambulância acelerava para ajudar Pedro.
CAPÍTULO IV
OBSERVANDO
Mais uma lata havia se juntado às três que já estavam no chão. Luís, vindo da cozinha, voltou à sala, segurando outra lata de cerveja, que aguardava por ficar vazia. Caiu exausto no sofá.
O seu apartamento tinha como imagem de marca a desordem e o caos. Na sala, havia agora outro elemento de desarrumação: duas caixas de cartão, pousadas no chão, ao acaso. Nelas, estava guardada a fracassada e terminada carreira de Luís como detective. Tudo começara na madrugada desse mesmo dia, quando os seus olhos encontraram os de Pedro.
Tinha decidido afastar-se dele. Afinal, se Pedro conseguira destruir-lhe a vida em horas, o que iria ele fazer em dias?
Alguém batia à porta. Luís foi receber Susana. Ficaram a olhar-se.
– Su, aquilo que eu disse hoje… eu não queria dizê-lo.
– Querias, sim. Eu sei que querias e aguento. Já sou crescidinha.
Ela ia sorrir quando viu a lata na mão de Luís. Pegou na lata e deitou-a e foi levá-la ao caixote do lixo. Depois, sentaram-se no sofá.
– Estou preocupada contigo. Já soube o que aconteceu.
– Eu não quero mais saber dele. Já não estou a investigar…
– Luís, tu agrediste uma testemunha! Mesmo assim… tiveste sorte.
Ele achou-lhe uma certa piada. Não conseguia ver sorte nenhuma na sua vida.
– O Pedro apenas sofreu uns hematomas – continuou Susana – e não vai apresentar queixa contra ti.
– Ele não vai parar de me perseguir.
– Não será que és tu quem o persegue?
– Não percebes, Susana? Se ele não apresentou queixa contra mim, está à espera de algo em troca. Ele não me vai deixar em paz.
Um toque de telemóvel interrompeu-os. Susana estava a receber uma chamada. Tinha de ir, a investigação não podia parar. Luís levou-a à porta.
– Avisa-me de tudo o que descobrirem. Eu preciso de saber.
– Pensei que já não estavas a investigar.
Sorriram, enquanto de ela partia.
Luís foi à cozinha e abriu uma nova lata de cerveja. Dirigiu-se à janela e ficou a observar o pôr-do-sol. Ele e o Sol tinham algo em comum. Outrora astros luminosos, caíam agora sobre o horizonte, deixando ficar apenas escuridão.
Um novo toque de telemóvel. Desta vez era Luís que recebia uma chamada. Número anónimo.
– Olá, detective. – Luís reconheceu a voz provocante e sedutora – Apenas liguei para lhe dizer que a sua agressividade não me magoou assim tanto. Deixou apenas umas marcas, que desaparecem com o tempo.
– Os jogos acabaram. Já não sou detective. Agora, por favor, diz de uma vez por todas: que merda queres de mim?
– Eu já respondi a essa pergunta. Quero-te a ti.
Luís riu-se sem encontrar a mínima piada.
– Tu acabaste com tudo o que eu tinha.
– Com tudo, não. Apenas te livrei dessa profissão chata. Agora és livre. – Luís quase que conseguia ouvir um sorriso – Vou estar no meu estúdio esta noite. Tenho trabalho a fazer. Aparece por cá. Se quiseres.
– Nem penses.
***
O disco verde iluminou-se, dizendo que o carro podia avançar. No seu interior, Luís mantinha o silêncio. A viatura galgava a estrada, acelerando arrependida para o seu destino.
Encontrara um cartão, com a morada do estúdio de fotografia, numa das suas caixas. O cartão fora provavelmente encontrado na casa de Gonçalo. Finalmente, chegara à morada indicada. Era um edifício perfeitamente cúbico.
Luís saiu do carro e dirigiu-se à entrada. A porta estava entreaberta, convidava-o a entrar. Achou estranho.
O local estava sem luz, completamente na sombra. A decoração era neutra: branco e preto. Subiu as escadas para o primeiro piso.
Todas as paredes estavam cobertas de nus masculinos. Foi observando as fotografias no escuro. Não eram propriamente pornográficas, eram mais artísticas. Havia homens de todo o tipo, para todos os gostos. Loiros, negros, musculados, morenos…
Contornou vários corredores. Havia várias portas, fechadas, sem sinais de presença no interior. Continuou a percorrer aquele labirinto.
Cruzou outro corredor e o silêncio obscuro diminui. Ao fundo do corredor, uma luz, branca, ofuscante. Luís percorreu o caminho até à luz.
Os sons tornavam-se mais audíveis. A claridade e os sons vinham de uma porta aberta. Luís aproximou-se e percebeu que ouvia vozes. Vozes de pessoas, mas emitindo sons animalescos.
Quando alcançou a porta de correr, não teve dúvidas. Arrastou-a um pouco e viu o que já sabia que ia ver. Dois homens faziam sexo no chão dum estúdio fotográfico. Ocupados demais para se aperceberem de Luís.
Imediatamente, ele reconheceu Pedro. Com este, um jovem loiro, de porte atlético. Estavam rodeados de câmaras, espelhos, luzes.
Pedro levou à boca o sexo do outro. À medida que o engolia cada vez mais, com movimentos cíclicos, o loiro gritava. Estavam a dar-lhe o que ele queria, mas não poderia pedir.
Luís observava a cena, sentindo uma erecção crescer-lhe dentro das calças. Pedro fazia-o cada vez com mais velocidade. Foi então que parou. Sem motivo aparente, Pedro deixara de se mover, apesar de continuar com o pénis do loiro dentro da sua boca. O outro ficou a olhar para Pedro, desconfiado do que ele iria fazer, mas excitado com o suspense. Lentamente, quase docemente, Pedro abriu a boca, libertou a sua língua e deixou-a vaguear pela glande do loiro. Ele gemeu.
Luís sabia que nunca devia ter vindo ali. Mas agora que lá estava, algo o impedia de sair. Ao mesmo tempo, não queria ser visto, pois dissera a Pedro que nunca iria ter com ele. Seria perder o orgulho.
A língua continuava a percorrer o pénis do loiro com movimentos dóceis, suaves. Depois, o movimento acelerou, Pedro lambia-o com vontade, com gula, avidamente. Fazia-o de maneira cada vez mais animalesca, até que, de repente, parou e voltou aos movimentos suaves, lambendo toda a superfície do pénis do loiro com carinho.
Como que apanhando um choque eléctrico, Pedro rapidamente a abriu a boca e engoliu o pénis do outro de uma só vez, movendo a cabeça com uma velocidade ainda maior do que antes. O loiro agarrou os cabelos negros de Pedro, acompanhando o movimento. Movendo-se como um só, eles gemiam.
O jovem loiro atingira o orgasmo. O seu grito ecoou nas paredes do estúdio. O esperma foi projectado para Pedro, para o seu rosto, para a sua boca. Com esperma na boca, lançou-se para a frente e beijou o loiro. Enquanto as suas línguas brincavam, dançavam, o sémen escorregava por elas, lentamente.
Todo o corpo de Pedro era perfeito, angelical. Estético. Luís reparou no pénis de Pedro. Não era exageradamente grande, mas era belo. Artístico. Eles encostaram-se a uma parede, ficando ambos de costas para Luís. Pedro entrou no corpo do loiro. Os seus movimentos eram velozes, enérgicos. Ambos gemiam, gritavam, riam. Como que pressentindo uma presença estranha, Pedro virou o rosto para trás.
Enquanto penetrava o loiro, os seus olhos celestes encontraram os olhos verdes de Luís, escondido na sombra. Pedro esboçou um leve sorriso. Luís sentiu-se a ejacularPara aumentar a curiosidade, um trecho da terceira parte (cap. 5 e 6):
"Com uma erecção crescente a incomodá-lo dentro das calças, Luís desistiu de fingir. Rendeu-se aos seus instintos animais. As suas mãos agarraram as nádegas de Pedro, com muita força, revelando o desejo que sentia dentro de si."
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Capa : http://www.4shared.com/file/ae28e977/COVER.html
Primeira Parte (cap. 1 e 2): http://www.casadoscontos.com.br/texto/