Muito diferente

Um conto erótico de Sol 1970
Categoria: Heterossexual
Contém 2082 palavras
Data: 13/07/2009 14:27:12

Está tudo muito diferente!

Comecei a teclar quando tinha 30 anos. Tudo começou com uma brincadeira. Uma noite eu estava logado num chat e resolvi brincar com o nick de uma suposta mulher. O nome dela era Carla e ela dizia ser solteira, morena, com 25 anos.

Pela primeira vez, durante uma longa conversa cheia de detalhes íntimos, senti uma forte excitação, uma sensação diferente. Do outro lado, Carla dizia ter ficado muito excitada também, que queria fazer amor comigo naquela hora.

Para resolver minha excitação, corri ao banheiro, onde me masturbei pensando numa mulher que eu nem conhecia, sequer tinha visto o rosto. Lembro que não dei importância à sensação de culpa que senti. Afinal, aquilo teria sido uma enorme coincidência e poderia nunca mais se repetir.

Curiosidade é algo muito forte. E adrenalina chama aventura. Pela segunda vez entrei no chat, certo de que nunca mais encontraria a tal Carla, e não encontrei mesmo.

Mas encontrei alguém cujo nick era Carinhosa39. Um dia era Carinhosa apenas, outro dia Carinhosasp, outro Misteriosarj, e assim passei a procurar rotineiramente alguém para dividir emoções virtuais comigo.

Às vezes ficava entediado, não achava ninguém. Outras vezes ficava nervoso, porque não estava sozinho em casa para poder ficar escondido no chat.

Algumas vezes a culpa baixava, mas meu consciente dizia para mim mesmo que aquilo eram só brincadeiras, que as pessoas sabiam que eram brincadeiras, que não era nada que prejudicasse a ninguém, desde que eu mantivesse meu anonimato e avisasse às supostas namoradas virtuais que eu não estava interessado em encontros reais.

Durante uns três anos, a vida de namoro virtual tinha contatos esporádicos, nada sério.

Um dia, querendo ver aceso qualquer daqueles contatos verdes femininos do meu MSN, saí a adicionar alguns endereços de emails de listas de mensagens do tipo corrente, que eu costumava receber. A esta altura, eu já tinha um email alternativo só para namoricos virtuais e fui adicionando.

Que vontade de receber mensagens carinhosas de uma daqueles contatos! E continuei adicionando, só contatos femininos.

Uma noite, um daqueles sinais sonoros avisou a entrada de alguém com o nome de Eduarda.

Depois que perguntei a idd, de onde tc etc e tal, comecei a fazer perguntas sobre intimidade, ao que ela, em princípio, disse que não estava se sentindo à vontade para responder, mas quando eu disse que ia parar de perguntar, por respeito à dignidade dela, ela pediu que eu continuasse, porque estava achando interessante, pois nunca tinha conversado assim com ninguém.

Dentro de poucos dias, as coisas evoluíram de tal modo, que rara era a noite em que não ficávamos a teclar intimidades. Eu às vezes em casa, escondido, ou no trabalho, mais escondido ainda.

Passados uns meses, ela me ofereceu o telefone dela, pois queria ouvir minha voz. Então anotei o telefone, mas não lhe disse que eu iria ligar, porque eu não tinha intenção de encontros e nem de falar em telefone. E continuamos nossos encontros, cada vez mais cheios de amor virtual.

Curiosidade é algo muito forte. Que vontade de ouvir a voz dela! Seria uma bela voz? Só ligando pelo menos uma vez para descobrir.

E, assim, comprei um cartão telefônico, pois não iria ligar de um celular para ela descobrir meu número e me meter em encrencas com minha companheira.

Não era uma voz de locutora de rádio nem de atendentes de sexyfone, mas era suave. Uma vez fiz perguntas íntimas numa dessas ligações furtivas e experimentei uma sensação incrível. Era ela mesma dizendo que estava excitada. Ela sempre falava em voz muito baixa, atendia o celular dentro da empresa onde trabalhava. E com a compra de cartões de telefone público, talvez tenha gasto mais que a despesa de pão e leite de uma família de 5 pessoas durante três meses.

Nosso namoro já ia pra mais de dois anos, apenas no virtual. Eu nunca mostrei minha foto a ela, mostrei apenas fotos que eu dizia serem minhas, mas eram retiradas de sites estrangeiros, de onde eu sempre retirava várias fotos da mesma pessoa para poder oferecer variedade e não parecer que eu estava blefando. Mas dela eu já havia visto fotos de rosto, de calcinha, sem calcinha, as quais acredito fossem mesmo dela.

Eu tinha outros contatos, conheci muitas pessoas de alma boa e leve, gente da melhor qualidade, mas deixava qualquer um de lado para ter notícias dela. Adorava as notícias dela.

Uma vez eu mandei para ela umas fotos excitantes, mandei por email, e ela me informou que tinha adorado.

Malditas fotos. Não é que o marido conseguiu abrir o email dela? Ah? Eu estava esquecendo de dizer que ela era casada. E olha que eu tinha avisado muitas vezes a ela. Cuidado, não deixe senha gravada!

Também entrei em crise, talvez uma crise não tão complicada o quanto ficou o casamento dela. E tivemos de ficar mais de mês sem teclar nem telefonar e, pela primeira vez, eu senti na real o que pode ser drástico na vida de um casal, quando pelo menos um dos dois se aventura no sexo virtual.

Entrei em crise e tive vontade de nunca mais teclar. Pedi mil desculpas a ela, mas ela não queria parar de falar comigo, nem eu com ela.

Como era preciso dar um basta, combinamos de apenas dar notícias por e-mail , assim passei a ter raras notícias, depois nunca mais tive notícias.

Eu precisava parar com aquele vício, e fiquei uns 15 dias sem conectar. Quando eu ia ceder à vontade, lembrava o fato trágico e recuava.

Uma noite, não resisti e entrei num chat do UOL, onde teclei com algumas gatas. E até adicionei no MSN.

Como nada era anormal, também passei a teclar nos chats do MSN, e fui adicionando mais mulheres. A essa altura, eu já tinha criado outros emails alternativos, personalidade alternativa com biografia e tudo. Numa eu era engenheiro, noutra advogado.

Olha, e como tem gente boa nestes chats!! E como tem gente de índole duvidosa, que nem eu; inescrupulosa, a maioria.

Eu já tinha uns oito anos de estrada no sexo virtual, estava me sentindo cada vez mais viciado, dependente mesmo. Queria parar, ficava uma semana sem teclar, mas voltava ao namoro, já sem tanta culpa, cada vez mais cheio de mentiras, vendo o sexo oposto e suas masturbações pela webcam, cabeça ficando cada vez mais pirada com tanta coisa tentadora tão longe dos olhos.

Uma manhã, cansado de perder, com ódio de mim mesmo diante da minha fraqueza, acabou me ocorrendo uma idéia: “Rapaz, por que você não pede a Deus uma força?”

Não sei como tive coragem, porque minha crença em Deus tinha a altura oposta à confiança que sentia em mim mesmo, porém decidi pedir ajuda e falei em tom normal de voz:

“Meu Deus, eu sei que o que estou pedindo depende de mim mesmo, mas preciso de sua ajuda para me libertar desse mal.”

E nem pensei muito nisso mais e continuava a teclar com elas no MSN, continuava adicionando contatos recolhidos nos chats. Eram mulheres de todo o Brasil, de Portugal, brasileiros residentes no exterior etc.

Uma das últimas com quem teclei, muito mexeu comigo. Ela era de Vitória-ES, tinha 34 anos. Eu estava com 38, mas disse que estava com 34 também. Ela era casada, parecia muito sensata, e também curtia intimidades com muita discrição. Não era de termos obscenos e isso mexia muito comigo. Ela sabia ser sutil ao revelar suas emoções.

Num de nossos encontros, eu disse a ela que eu muitas vezes sentia algo estranho quando teclava, sentia uma espécie de culpa. Ela disse que também já tinha sentido isso e não falamos mais no assunto.

Nossas conversas quase sempre eram pelo áudio do MSN, e muito emocionantes. Ela dizia a roupa que estava vestindo, principalmente as íntimas, o que me excitava muito. Também me masturbei muitas vezes com ela online, muitas vezes ouvi seus gemidos de prazer e vi suas cenas de carícias em si mesma.

Houve, porém, um episódio que acabou mudando o rumo de nossa história. Enquanto conversávamos, antes da intimidades, ela caiu em prantos, disse que queria mudar de vida, que estava se sentindo culpada também. Foi quando ela me contou que também era casada e que estava se sentindo mal com tudo que estava acontecendo, pois tinha sensação de que estava traindo o marido e estava contribuindo para que eu também fizesse o mesmo com minha família.

Depois desse dia, conversamos mais algumas vezes sobre o assunto, evitamos as intimidades e decidimos procurar ajuda na Igreja. Eu era um evangélico daqueles enrustidos e ela se dizia uma católica que não praticava.

Desse tempo para cá, continuamos nos falando, claro que não com tanta freqüência, mas sempre atualizando notícias.

Agora está tudo muito diferente.

Pela primeira vez, depois de 08 anos teclando, eu estava conseguindo resistir e não estava mais procurando namoro ou sexo na internet. Vontade eu até sentia e ainda me sinto tentado até hoje, mas a presença de Deus tem sido decisiva em minha vida e tenho conseguido superar.

Certa noite, quando estava assistindo ao noticiário, mudei o canal da televisão, fui mudando e, a pedido de minha esposa também evangélica, parei para ouvir com ela uma fala de um padre. Às vezes ouvimos um pouco outros religiosos para comparar com a nossa religião. Na sua fala, o padre disse algo muito importante, algo que eu ainda não havia escutado nos cultos da minha igreja. Ele dizia que os espíritos das trevas, servos do mal, usam os corpos das pessoas. Usam os corpos dos homens para destruir seu espírito, como se estivessem se vingando de Jesus; usam os corpos das mulheres, como se estivessem se vingando de Maria, a qual, segundo o padre, havia pisado na cabeça da serpente do mal.

Embora na minha religião não se dê tanto enfoque à Maria, fiquei pensando na palestra e me senti um trapo quando pensei que meu corpo e meu espírito, nas minhas más ações, na vida real e na virtual, haviam feito tantas barbaridades. Pensei em quantas pessoas eu devia ter ajudado a entrar no mundo da perdição virtual com a minha conversa romântica cheia de música e poesia empregadas para a alienação das mulheres com quem teclei.

Senti muita vontade de reparar meus maus feitos, mas tudo em princípio me pareceu impossível, porque muitas pessoas com quem falei, delas nem tenho mais contato nem notícias, sem falar que de algumas eu nem me lembro.

Que vontade de fazer algo, de reparar tudo! Impossível?

Nesse dilema, só tenho encontrado uma consolação: a oração, pois tenho certeza que Deus, o único ser de infinita bondade e perfeição, o único onipresente, o único onisciente e o único onipotente, Ele sim pode interferir a meu favor no sentido de fazer algo para ajudar as pessoas a quem tanto eu possa ter prejudicado.

Minha vida hoje segue assim a busca da paz, uma paz manchada pelo arrependimento, pela angústia de quem fez o que não devia e sabia que estava errando. O curioso nisso tudo é que quando a gente erra sabendo que está errando fica sem jeito de pedir perdão ou desculpas porque acha que não tem direito de ser perdoado, mas aprendi numa leitura que Deus anda de mãos estendidas ao nosso lado, à espera de que nós voltemos nossa face para Ele e tomemos a decisão de aceitar a verdadeira paz.

Só sei que, desde o dia em que deixei um pouco o orgulho de lado e pedi ajuda, tenho experimentado uma sensação de estar indo na direção certa, embora me sinta um trapo diante de tantas más obras que deixei para trás.

Sei que muitas pessoas vão ignorar esta história, vão dizer que estou fanático, alienado, que não adianta chorar o leite derramado, pois quem fez errado tem que pagar com a mesma moeda, que não basta pedir perdão e ficar só fazendo oraçõezinhas hipócritas. Não pretendo debater isso. A experiência da fé pode ser empírica, sem fundamento para quem se baseia na vida com pés no chão, mas é muito forte para quem a tem, embora menor do que deva.

Está tudo muito diferente. Não consigo explicar. Sinto que preciso mudar muito, que tenho muito a consertar, mas estou com a certeza de Ele está disposto a me perdoar, e isso me conforta e me dá disposição para enfrentar cada problema do dia a dia, inclusive minha culpa infinita.

Está tudo muito diferente, pois Deus está fazendo a diferença na minha vida.

Louvado seja Deus!

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