( N.A ) Dedicado ao Fê. Meu querido, às vezes é melhor simplesmente continuar segurando a faca, e não acreditar em anjos. A gente aprende isso da pior forma. E Desculpe por qualquer erro na Ortografia, ultimamente não consigo nem escrever meu nomeEle mais parece um anjo dormindo.
E seria tão bom poder continuar a acreditar que ele era um mesmo acordado. Porque sim, eu já havia acreditado piamente naquilo.
Mas ele cheira a tabaco. Nicotina, álcool, luxúria. Sexo.
Perdição.
Uma perdição que não era só minha, por mais que me enganasse. Por mais que eu fingisse acreditar.
Mentiras sempre são mais doces. Tanto é que, quase sempre, pedimos para ser enganados. Fechamos os olhos por nossa própria vontade. Mentiras amenizam a dor. Escutar uma verdade é pior que enfiar o dedo na ferida.
Talvez porque ao invés do dedo seja uma faca.
Uma faca em um pequeno arranhão. Um desses de cuja existência é preferível que você se abstenha de saber. Porque você está cansado de chorar dramas intermináveis, sem consolo. Porque o final daquele drama em especial é algo unicamente sepulcral.
Quando foi mesmo que deixou de ser suficiente? Quando foi que eu passei a me importar tanto, deixando que chegasse a esse ponto?
Agora eu notava a desatenção, o desinteresse. Não dormia até que ele se arrastasse para casa, altas horas da madrugada. As desculpas não eram mais válidas.
Enquanto ele me parecia mais perfeito em cada uma das especificidades, enquanto eu me ocupava em endeusá-lo, ele se preocupava menos com as mentiras. Parecia querer me forçar a abrir os olhos.
Quem sabe não.
Talvez ele simplesmente não se importasse mais com aquilo. Porque eu não iria enxergar. O pior cego é aquele que não quer ver.
Mas nem eu poderia continuar a ignorar aquelas lágrimas que não deixava correr. Elas queimavam nos olhos, contidas pela enganação.
Afinal, como se define a dor de um amor?
Tentava colocar em palavras o mais indefinível dos sofrimentos. O mais complexo pesar, que só aquela lágrima teimosa, a que vinha acompanhada do mais excruciante desespero, poderia exprimir.
O que aconteceu conosco? Foi você quem abusou, ou eu que passei a me importar?
Fiz isso mesmo que sempre soubesse que não tinha esse direito. No instante em que eu exprimisse essa vontade, eu o perderia.
E quantas vezes eu pensei em deixá-lo e deixar que as lágrimas rolassem? Milhares. Infinitas e incontáveis. Infelizmente eu não era assim tão forte.
Embora eu fosse forte o suficiente para ignorar todo o resto, eu não era para conseguir viver sem ele. De qualquer forma que fosse.
Só que eu também estava ficando fraco para continuar a imaginá-lo em outros braços. Fraco, egoísta, covarde. Chame como quiser. Eu não saberia justificar exatamente.
Sentia falta da minha ignorância. A mesma que me fazia acreditar em cada palavra que saía da boca desenhada, numa voz doce e melodiosa. A voz que me seduzia e me fazia esquecer do mundo, enquanto era golpeado vezes seguidas pelas mesmas mãos macias.
Chegava a hora de acabar com aquilo. No fim ele seria só meu.
A pele branca ficaria manchada. Qual seria o maior pecado? Tirar-lhe a vida, ou manchar de carmim a porcelana perfeita?
Dessa vez ele não iria levantar para me deixar novamente. Iria continuar dormindo. Sempre meu.
Um anjo perfeito, isento de mentiras e luxúria.
Por isso a faca não ardia em minhas mãos. Seríamos sempre um do outro.
-Bom dia. – uma voz manhosa, soou junto com os dois orbes lindos que se abriam vagamente. E eu ganhei o mais brilhante sorriso.
-Bom dia amor. – o objeto de metal foi esquecido debaixo do travesseiro, onde originalmente estava.
Anjos podem ser lindos. Mas eles não tem aquele sorriso.
Tudo fez sentido em minha mente. Nós mesmos escolhemos sofrer, conter a lágrima final para que ela agonize em nosso interior e faça com que sangremos.
Amar. Não passa de um jogo sádico. Para quem ama. E ele não amava.
-O que estava fazendo, amor? – A voz soou novamente, melodiosa.
-Estava apenas velando seu sono....