Minha vida sexual teve início tardio. Passei quase toda a adolescência sem pensar nisso e provavelmente duraria mais tempo, pois não me interessava por garotas e nem garotos. O que me interessava mesmo era a música. Passava o dia estudando, principalmente música clássica, embora minhas raízes estejam no rock.
Certo dia a empregada estava atarefada cuidando da minha irmã mais nova, adoentada e pediu para que eu fosse à feira comprar o necessário para o almoço. Foi nesse dia que tive meu primeiro contato com a sexualidade e minhas primeiras dúvidas de ordem prática, já que na teoria, sabia tudo a respeito, de maneira quase científica. Era um rapaz estudioso, como já falei.
Tenho que retomar algumas informações úteis antes de prosseguir com a narrativa. Tenho o corpo bastante franzino, com feições delicadas, dado o pouco trabalho físico e a brancura da pele. Não era exatamente um tipo esquelético, mas, como minha irmã costumava dizer para irritar, era pouco acinturado para uma menina, mas muito para um rapaz. Vale ainda dizer que meu viés artístico me permitia algumas extravagâncias, como o cabelo cumprido. Posto isto, podemos voltar aos fatos.
Não tenho o hábito de ir à feira, mas já tinha ido algumas vezes com a minha mãe. Nesse dia, sozinho, eu estava um pouco perdido. Sabia o que era um vegetal saudável, mas só olhar a casca e já saber não me parecia possível. Foi necessário pedir a ajuda dos feirantes. Um deles, numa barraca de leguminosas, começou a puxar assunto.
Era um homem já adulto, o Sr. Alfredo, possivelmente com mais de quarenta anos, dado o cabelo já começando a branquear e ainda volumoso. Apesar da barriga protuberante, dava para reparar seus traços fortes, mas nenhum traço era tão forte quanto sua enorme simpatia e solicitude. Me ajudou a escolher, deu um ótimo desconto e ainda era uma ótima conversa. Naturalmente não conseguiria conversar com ele sobre os temas que ocupavam meus dias, mas isso não o tornava menos divertido.
Falou sobre o tempo, contou piadas, ouviu sobre a minha vida e antes que pudesse falar sobre a dele, tive que partir, pois estavam me aguardando para o almoço. Voltei para casa me sentindo bem, embora nada tivesse acontecido. A minha alegria era notável, mas eu não soube explicar quando a empregada me perguntou.
Passou-se uma semana e eu ainda pensava nisso, tanto que me propus a ir novamente à feira na semana seguinte, ainda que minha irmã já estivesse boa. Eu só queria conversar novamente com meu novo amigo. Foi ótimo vê-lo e novamente começamos a conversar. Desta vez ele me contou sobre a sua vida. Disse que era divorciado e muitas vezes se sentia sozinho. Perguntei se ele não andava ficando com as menininhas que compravam na feira, mas ele me falou palavras que lembro até hoje:
- Olha em volta! Só tem velha! Tem garoto que se ficar arrumado, fica mais gostosa do que qualquer uma aqui!
Eu dei risada e concordei, mas não estendi este assunto. Comentei que tinha que acabar logo de fazer a feira, pois meus braços estavam cansados, mesmo que fossem poucas sacolas. Eles então me ofereceu seu celular e disse para que eu ligasse quando quisesse alguma coisa, assim não teria que carregar peso.
Agradeci e fui embora novamente com um sorriso irremovível estampado no rosto. Sem maiores explicações fui para o meu quarto e fiquei pensando nele. A princípio não tinha associado as idéias, mas depois fiquei imaginando como seria se fosse eu o garoto a se tornar “a mais gostosa da feira”.
A noite liguei para ele. Não queria esperar até a semana seguinte e ficamos conversando. Pelo telefone, revivi este assunto e como quem achava a idéia abusrda, ironizei dizendo para ele me imaginar vestido de mulher. Ele então perguntou se eu me ofenderia se ele se masturbasse com esta idéia.
Não respondi. Fiquei desconsertado, em silêncio. Silêncio quebrado por ele, que me convidou para sair. Eu neguei, disse que não era gay e que isso era um absurdo, mas ele disse que não era por isso. Era apenas uma brincadeira. Para eu me fantasiar de mulher e ir encontrá-lo, que não ia acontecer nada entre nós. Era só para eu ver como ninguém notaria que não sou uma garota.
Neguei novamente, mas ele disse para eu ligar, caso mudasse de idéia. Não liguei naquele dia, mas comecei a me imaginar como a garotinha dele; com e sem roupa. Sem roupa era mais fácil de imaginar, mas com roupa eu precisava testar. Fiz algumas compras pela internet e, discretamente comecei a utilizá-las a noite, quando voltava da escola, antes de ir dormir. O resultado foi ótimo. Não era uma garota deslumbrante que eu via no espelho, mas definitivamente era uma garota bastante delicada.
Haviam, no entanto, quatro grandes dificuldades. Não ser descoberto, conseguir me equilibrar no salto, aprender a fazer a maquiagem e conseguir ficar sem me masturbar a cada vez que me transformava. Exceto pela primeira, felizmente tudo era possível de aprender na internet ou resolver com treino e esforço. Passou-se quase um mês que eu não falava com o Sr. Alfredo, mas o progresso era visível. Só me faltava agora a coragem para colocar em prática meus desejos que afloravam.