Coloquei meus discretos brincos, saí do carro e nele deixei meu sobretudo. Não era fácil para mim e sentia a mão suar. Quanto mais eu pensava nisso, mas suava frio, mas tinha que ir em frente. Ir até o fim dos meus desejos.
Uma perna após a outra, uma escada após a outra, e finalmente vi ao longe o Alfredo, que não me reconheceu a princípio. Constrangida e olhei para baixo por tempo suficiente para ver meu vestido balançando leve e macio, pouco acima dos joelhos, enquanto meus 9cm de salto anunciavam minha chegada, a cada batida no chão.
Voltei a olhar pra frente e me deparei com seu franco sorriso, quando já estávamos a poucos metros um do outro e logo de cara fui recepcionada com a tentativa de um selinho de recepção somado a um abraço. O abraço eu aceitei, mas o beijo acabou sendo em minha bochecha. Não estava preparada para aquilo, por mais que eu quisesse.
Expliquei a ele, lembrando que era apenas uma brincadeira e que nós estávamos ali como amigos. Ele aceitou e fomos de mão dadas comprar ingressos para o cinema, enquanto ele elogiava minha aparência e se satisfazia com suas próprias previsões acertadas do quanto eu ficaria linda. Lembro de como seu perfume era gostoso. Algo amadeirado, que me fazia querer ficar encostada em seu peito, coisa que a princípio resisti, mas só até a fila do cinema, quando ele me abraçou por trás como qualquer casal faz e continuamos conversando.
Já na sala de cinema, antes do filme começar nossa conversa fluia, mas eu ainda não tinha coragem de beijá-lo e resisti a mais tentativas, até que ele se resignou, dizendo que só me beijaria quando eu quisesse, enquanto segurava minhas mãos com firmeza, mas com carinho, esperando que parassem de tremer.
O filme passava na tela e eu com a cabeça em seu peito, enquanto ele me fazia cafuné em silêncio, ficava relembrando minhas fantasias e tentando conseguir forças para concluir o que já estava planejado. Era evidente que estavamos pensando na mesma coisa, mas para mim isso não era natural. Devo lembrar ao leitor mais desatento, que sou homem e embora estivesse louca para que o cara do meu lado arrancasse minha calcinha com os dentes, estava enfrentando um enorme preconceito criado por mim mesmo, ou talvez pela criação que tive.
Terminada a sessão, estava ainda enebriada em meus pensamentos, quando fui interrompida por ele ao questionar meu nome. Como assim "meu nome"? Ele sabia. Estava cansado de saber. Sempre me chamou pelo nome! Sempre... Exceto por aquele dia. Pensando bem, até aquele momento, embora já estivessemos juntos havia algumas horas, ele ainda não tinha me chamado pelo nome. Antes que eu pudesse responder, explicou que ele conhecia um rapaz com algumas semelhanças, mas que definitivamente não era a moça que ele tinha nos braços naquele momento.
Nesse momento, virei meu rosto e beijei seus lábios com carinho antes de responder "Fernanda".