Tenho acordado de mau-humor frequentemente. Passo o dia inteiro mal-humorada. Culpo um pouco a mim, ou tanto a minha vida, e grande parte a rotina dos dias. Sabe? Aquilo tão igualzinho e repetitivo, como se fosse sempre o mesmo dia, como no filme “O dia da marmota” (“Groundhog Day” – 1993), só que nem um pouco engraçado. Sei que o nome dos dias muda pela programação da tevê e sábado tem zorra total (urgh!). De resto, é tudo sempre a mesmíssima coisa: acordar, fazer xixi, escovar os dentes, preparar o café, arrumar a casa, ir pro trabalho, voltar, preparar a janta, dormir. À noite, então, a coisa fica ainda pior. Um marido cada vez mais insosso, ranzinza, gordo, que naturalmente ronca e peida. Pois o que ele solta do seu enorme traseiro não são pode ser denominado de pum. Eu? Se soltar um punzinho que seja durante o sono, será sem querer, e eu já acordo e ainda fico com vergonha, preocupada com a possibilidade de alguém ter escutado o barulho ou, o que é pior, sentido o cheiro. Sou educada até comigo mesma. Não adianta, sou assim. Mas a insônia, apesar de incômoda, tem me ajudado um pouco. Pois, enquanto o sono não vem, uma cena não sai da minha cabeça. Não sei se a vi em algum filme, ou a li em algum livro, ou é mesmo fruto da minha fértil imaginação. Interajo e me deixo levar. Há um homem. Um negro. Um homem negro forte e alto. Estou sentada numa sala de espera de algum consultório. Parece um consultório. Não sei. Ele entra na sala, mas não o observo, apenas sinto sua presença. Não vejo seu rosto. Meu negro não tem rosto, mas tem vida. Está descalço. Vejo-o quando ele pára bem na minha frente. Estou cabisbaixa, olhando para o chão. Avisto seus grandes e belos pés negros e muito bem desenhados, dignos de uma escultura. Instantaneamente me vem, como um flash, “A vereadora antropófaga” de Almodóvar (2009), mas procuro não divagar. Concentro-me. Vou erguendo minha cabeça lentamente, contemplo suas canelas lisinhas sem um pêlo, os joelhos sem cicatrizes, a barra do hobby de seda branco. Ele desata o cinto com suas mãos ágeis e abre o hobby para exibir uma das coisas mais lindas e impressionantes que já vi. Um belo “pinto” negro. Ou melhor, um pênis negro. Não, um enorme, mas ainda flácido, pênis, como aqueles de livros de educação sexual. Perfeito, harmônico, na cor e na textura. A expectativa de vê-lo ereto me é excitante. E o que fazer diante de uma obra prima da natureza diante da sua face. Um pênis maravilhoso a poucos centímetros da sua boca. Hipnotizada, e fazendo a única coisa a se fazer num momento como aquele, tento, com relativo esforço, erguer o mais belo dos “paus” (desculpem-me a expressão chula!) e uso ambas as mãos. Observo o lindo contraste da pele clara das minhas mãos, o vermelho das unhas com o chocolate daquela preciosidade. Levo minha boca entreaberta para desfrutar de tamanha beleza, mas é em vão, mal consigo abocanhá-lo. Então uso o plano B: a língua. Ufa! Seria frustrante se não conseguisse. Esta minha língua nunca me falta, pois também me orgulho por salivar em abundância. E começo a agir, sem perder tempo. Ouço os primeiros suspiros do dono daquela “magnífica ferramenta” (perdão, mais uma vez!) e percebo o rápido processo de enrijecimento, fruto do sangue fluindo rápido no corpo cavernoso. Eu sempre adorei biologia e os corpos cavernosos desde a juventude despertaram minha curiosidade. Ainda bem que fui filha única e, desde pequena, tive a excitante curiosidade por tocar e sentir a pele de um pênis, ainda mais de um negro. Sei de muitas mulheres que tem verdadeira ojeriza (totalmente sem sentido) por tocar em um pênis, quanto mais lambê-lo ou tomá-lo na boca. Acredito que tudo é fruto de educação castradora conservadorismo religioso que ainda impera na nossa sociedade terceiro-mundista, ou então de aversão psicológica ao pai, ou repulsa comportamental a um irmão que a tenha incomodado. Não falo em molestar. É diferente. Enquanto os homens adoram observar a nudez feminina, inclusive a de uma irmã, a recíproca não é verdadeira. Mas não quero fugir e volto ao meu negro. Continuo. Minhas mãos e boca não dão conta daquela maravilha natural. Sem muito refletir, começo a lamber toda a extensão daquele membro e volto, volto sempre à cabeça. A cabeça é linda, quente e lateja e reluz com minha saliva. Persistente, insisto ainda em tomá-la na boca num grande esforço, mas a dor nas articulações do maxilar me faz recuar em mais uma tentativa. Volto com a língua. Ele geme e geme alto. Seu corpo já está curvado em minha direção. Sinto suas mãos num toque delicado segurando minha cabeça forçando-a num vai-e-vem. Acho que ele teme que eu pare, mas não sou louca e tenho os pés no chão. Jamais faria a coisa errada no momento certo. Ele parece ser bem resistente. Já se passaram bons minutos e ele se mantém ali, firme. Acho que todos os homens deveriam ser como este. Deveriam ser menos brancos, ter mais cor e menos pêlos. Deveriam ter pênis maiores e mais vistosos. E, claro, uma resistência homérica, para dar conta de um corpo feminino, repleto de prazeres e rico em enigmas a serem desvendados, pois, como bem disse Luís Fernando Veríssimo, “as mulheres são de outro planeta”. Fico curiosa em saber até quando e o quê e quanto sairia daquela frestinha no meio daquela cabeça lustrosa, a qual jamais esqueço de lamber. Excita-me a idéia de ver o contraste do branco do sêmen com a cor achocolatada daquele pênis. Mas... nem tudo são flores na minha vida e tudo fica escuro. A noite no meu quarto é muito escura. Se meu negro estivesse aqui nessa escuridão, talvez não conseguisse vê-lo, mas sentiria sua presença e seu calor. Nas trevas do quarto da minha vida, sou despertada pelo som de um pum barulhento e fétido de meu marido. Cubro minha cabeça para diminuir o desconforto. Uma indignação quase ódio. Mas quase sufoco e volto a respirar aquele ar contaminado. Torço para voltar a dormir e rezo para que o dia logo amanheça. Nestes momentos, quero a minha rotina diária. Passam-se os dias. Tão iguais que até perco a conta. De repente, sentada na cama, numa sensação de “dejà-vu”, tenho a impressão de que o homem negro alto irá adentrar no meu quarto, irá parar na minha frente para me mostrar aquela obra prima de perfeição. Mas não. Quem entra é um homem branco, baixinho, barrigudo e pálido, de peito peludo e grisalho, ridiculamente envolvido até na cintura por uma toalha surrada e de cor estranha. Pára na minha frente, despe-se da toalha e exibe algo deprimente: um pinto pequeno, murcho, sem cor e sem vida. É meu marido. Minha vontade é de gritar por socorro: “Tirem-me daqui!”; “Onde está o negro dos meus sonhos?”. Mas me contenho. Sou comedida. Não esboço qualquer reação. Num reflexo, limito-me a dizer, apenas, estrategicamente, claro: “Ai, querido. Hoje não! Estou com uma dor-de-cabeça que nem imagina!”. E reflito agora, num exercício pleno de razão: estou convicta de que a evolução da sociedade moderna deve passar obrigatoriamente pela miscigenação com a raça negra. Teríamos menos câncer de pele, mais resistência, mulheres com mais bumbum e requebrado, e homens bem mais atraentes e, obviamente, com pênis mais belos. E não se deixem levar, pois, infelizmente, minha suposta promiscuidade limita-se a uma tela de monitor de 17 polegadas. E, claro, todos têm o direito de discordar do meu ponto de vista. Sorri guys! But this is really all fiction! (catherine.lanou@gmail.com)
P.S.: Não entendo como, mas muitos “evangélicos” estão lendo meus textos e enviando e-mails para me converter, muito provavelmente tentando garantir suas entradas para o Céu. Agnóstica convicta, digo que o Céu não existe ( e “o Inferno são os outros”) e a vida? Esta que está aí diante dos nossos olhos, a vida é uma só. Portanto, aproveitem o quanto puderem. Não há “segunda chance”!