A cidade melancólica 6

Um conto erótico de Menina Morta
Categoria: Heterossexual
Contém 1549 palavras
Data: 05/03/2010 02:06:04

TRANSEUNTES NA AVENIDA PRINCIPAL

"Uma Cidade Melancolica, Onde Ninguém Nunca Sorri"

Já eram vinte e três horas de uma noite chuvosa quando Menina Morta saiu do edifício de Ensino Publico, ela sabia que nada daquilo deveria estar acontecendo, por mais estranho que possa soar, a mesma sabia que aquela não se tratava da rua como ela deveria ser. Ela se encontrava mais incógnita do que o normal, uma sombra mais sobrenatural estava tomando conta dos ares, mais como uma nevoa tóxica negra cujo único objetivo é impedir a visão de transeuntes. “Ora essa” – pensou Menina Morta – o que diabos esta acontecendo aqui? Menina Morta continuou rumando norte quando o inesperado lhe presenteou com o acaso, a rua parecia miraculosamente ser mais comprida do que deveria ser, Menina Morta caminhava, caminhava pela calçada ao lado do Hospital e nada de Menina Morta alcançar à Avenida para rumar para sua casa. O Silencio era Aterrorizante, o Silencio dos Inocentes. Porem o mesmo foi impedido com um barulho que ela na hora reconheceu como um insoluto fecal em meio a calçada com diversas gotas de uma garoa que a qualquer minuto se tornaria chuva. Aquele tilintar de vestígios fecais de algum pássaro produziam um efeito muito macabro, um tipos de ‘nhec nhec nhec nhec’ que parecia não querer deixar Menina Morta sossegada nessa noite em especial.

Após algum tempo a verdade corrosiva lhe foi descortinada: Menina Morta sabia que nem mesmo com todo o tempo do mundo chegaria tempo do jantar. Menina Morta paralisou, como se algum ser sobrenatural tivesse sugado toda a felicidade e calor de seu corpo, então como se toda e cada esperança que já tivera tivesse deixado seu ser para sempre, como se nunca mais fosse ser feliz, como se nunca mais fosse sorrir. Um frio na espinha subiu lentamente de forma horrível, um frio que Menina Morta jamais sentira. Ela apenas ficou ali, parada na escuridão, e então o que ela temia aconteceu. Um Ruído. Um Farfalhar. Uma Gemida. Um Coaxo. Um Rastejar.

Menina Morta, com uma coragem que não sabe de onde tirou, olhou por cima dos ombros e deu-se conta então de onde estava. A mais ou menos dez metros de distancia encontravam-se um Verme, uma Minhoca, de proporções colossais para tal ser rastejante. Ela possuía no mínimo 10 metros de comprimento por 2 de largura, não possuía extremidades anais ou orais, era uma minhoca em tamanho gigante apenas. A palavra veio até Menina Morta, o terror de qualquer morador desta Cidade Melancólica, Menina Morta se encontrava agora perdida em um Wormhole, Buraco de Minhoca se preferir. “Estou Fudida” – era a única coisa que conseguia pensar

Então novamente Menina Morta foi presenteada com o inesperado, e, no instante um raio de luz a atingiu pelas costas, ela virou-se, e viu uma coisa que a fez, pela primeira vez na sua vida, pensar que estava louca. Um homem muito velho, com longos cabelos compridos, cabelos brancos, uma pele clara como as flores cor de carmim da Rainha do País das Maravilhas. Uma túnica cor de fogo-fátuo, porem, sob uma tremenda influencia do tempo. Parecia ser tão velho quanto a criação do Universo. O velho tinha um ar muito misterioso, possuía um tom de mistério e revelação ao mesmo tempo, como se a coisa mais importante de sua vida estivesse acontecendo nesse segundo mas ela simplesmente não pudesse dar conta disso. Menina Morta ficou paralisada, esperando uma epifánia, esperando a ficha cair, para ela se dar conta... mas não acontecia, ela ficava ali feito lesada, lerda, na presença do homem.

O Velho chegou mais perto, e então ela pode dar conta de porque ele era tão especial. Eram seus olhos, com todo aquele brilho eles não pudera olhar seus olhos. Não eram olhos normais, por Deus, não eram, eram olhos de um mago, olhos do alem. Ela se aproximou e ajoelhou à presença do velho, como se aquele fosse o ultimo homem do mundo que realmente merecia uma reverencia. Ela enfiou seus olhos dentro dos olhos do homem, e mesmo sabendo que isso era uma tremenda falta de respeito, ela não pode agüentar a espera, e o velho sabia que era o inevitável acontecendo ali, então não desviou o olhar. Menina Morta ficou espantada nesse segundo, porque se sentiu sendo puxada pelos olhos do velho, sentiu-se afogando em seus olhos, Menina Morta sentiu-se... Morrendo.

Menina Morta já estava em um profundo transe quando começou a poder raciocinar, encontrava-se perdida no macrocosmo, e a sua frente encontrava-se sua alma. Perfeita em todos os aspectos, sua alma urrando e uivando, sussurrando e vaiando. Sua alma estava zombando de Menina Morta. E por apenas alguns segundos a verdade atingiu a Menina Morta, ela sabia que não poderia reencarnar, não podia reviver, porque nada nesse mundo realmente está morto. Na natureza nada se cria, tudo se transforma, podia constatar a quão verdadeiro isso era, e pensava se quem disse essa frase já olhara nos olhos desse mesmo velho

Um berro. Um grito. Um desalento. Minha Loucura. Sua fome. Por algum instinto de auto-preservação Menina Morta foi levada novamente à seu corpo juntamente com sua alma, era inteira uma vez mais. E nesse segundo, ao estar novamente diante do velho caiu-lhe uma pergunta: A quanto tempo estava encarando os olhos do velho? – tal pergunta jamais pudera ser respondida com certeza. Menina Morta sabia que o tempo era diferente nos wormholes, mas o quão diferente poderia ser? Ela sabia que fazia mais de dois dias, e com certeza faziam menos de duas semanas... Está ai um dos poucos mistérios sem resposta que a vida pode lhe oferecer.

Então, Menina Morta sob o estado de alguma intuição divina fez a pergunta mais inteligente de sua vida: - “Quem é você?” – ela perguntou para o velho.

“QUEM É VOCÊ? QUEM SOU EU? QUEM SOMOS NÓS? ”

“-Diz-me direito Menina, esse é o momento mais importante da sua vida, e tens direito a apenas uma pergunta. Tem certeza que é essa que desejas fazer?” – disse o Velho com uma voz mansa que lembrava os poemas e musicas Raul-Seixianas de minha geração.

Uma lagrima correu dos olhos de Menina Morta quando na velocidade da luz tomou consciência da incontestável verdade: Apesar de já ter vivido mais do que trezentas vidas da escala humana, diante deste Velho ela era apenas uma criança. Pobre Menina Morta, humildade sempre fora um de seus atributos, também como a paciência, mas chorou neste momento porque novamente a verdade lhe foi descortinada tão rapidamente quanto veio: Ela já vivera mais do que trezentas vidas de homem e ainda continua com a mesma imprudência e ignorância de antes, a “Historia de Minha Vida resumida em apenas duas palavras” – como ela me disse anos depois – e num piscar de olhos percebeu que aqueles que não aprendem com seus próprios erros estão fadados à cometê-los novamente. Menina Morta pensava que era a mais antiga e sabia das criaturas que caminhavam neste pobre Planeta, mas a vinda daquele Velho virou seu mundo de ponta cabeça, e ela percebeu que aquilo não era tão coincidência assim, e ela percebeu que não podia desprezar o Caos, a força mais forte da criação.

“Não chore minha Menina Morta, porque você sabe que chances não são a mesma para todos, mas saiba que Silêncio Vale Ouro.”

Menina Morta parou de chorar neste segundo e retornou a olhar para o homem, mas não atreveria novamente à encará-lo nos olhos, sentia que havia perdido o direito. E tão subitamente quanto o pensamento seguinte veio, lhe foi embora: Bons tempos vem e bons tempo vão, eu desejaria que os bons tempos durassem um pouco mais...

“Eu acho que você deveria controlar o seu problema de escrita, é ela quem irá deixá-la vazia por dentro.” – disse o Velho em tom duvidoso.

“Ah claro, diga pra Beethoven controlar o seu problema de musica também, caso contrario ele irá esvaziar”

E neste segundo, ao olhar de relance para os olhos do Velho, Menina Morta foi Iluminada.

“Respeito eu exijo. Pois sou o Andarilho do Submundo e eu ando sobre a Terra. Para mim não existe segredo nenhum na existência. Pobre Menina Morta, pega no pecado do Orgulho. Você não sabe que o tempo marcha em frente? A hora mais fria é a que antecede o amanhecer. A Imortalidade é realmente a Deusa mais solitária. Quando não houver mais lugar para sensações, emoções ou sentimentos que você achou estarem mortas, não grite. Lembre-se: Está tudo na sua cabeça. Como é terrível minha jovem, vaguear o mundo com o único anseio de escapar de si mesma. As musicas de RAP podem ser desaprovadas pela maioria dos conglomerados urbanos, mas devo admitir que eles sabem do que falam: “A confiança é uma mulher ingrata, que te beija, te abraça, te rouba e te mata” – e ‘just like that’ Menina Morta percebeu a única pergunta que seria digna o suficiente para perguntar.”

“Senhor, qual é o sentido de tudo isto?”

“Ah sim... a pergunta... Antigos Mestres da Cabala Topanga das Doze Mentes Brilhantes de Buda, quando lhes perguntaram o sentido do Budismo, eles responderam: ‘Três libras de linho’”

“Então você está me dizendo que o Sentido de Tudo Isto é ‘três libras de linho’?”

“É lógico que não, isto foi um exemplo ilustrativo, o Sentido de Tudo Isto é TRES TONELADAS DE LINHO”

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Este Conto faz parte de meu livreto que está para ser lançado: A Cidade Melancólica. Defequem Comentários =)

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