“A HORA MAIS FRIA É A QUE ANTECEDE O AMANHECER”
As coisas estão começando a perder o sentido. E eu não me sinto melhor saindo beber aos domingos. E eu não consigo pensar melhor, se estou sempre exausto de martelar. E eu também não me divirto melhor, se estou sempre caído em minha cama. Entao não queira me ensinar a caminhar todas as manhas e acordar cedo para tomar meu café e fumar meu cigarro, pois o sol lá fora irá brilhar e meus filhos irão queimar. Meu coração parece mesmo estar em uma gaiola. Controlado. Como um marca-passo. Cada batida. Cada palpitar. A cada segundo.
EU não quero o que você quer. Eu não sinto o que você sente. Veja, eu estou preso nesta Cidade, quando de fato eu pertenço ao campo. E agora, quando começam a entrar em sua cabeça e confiscar as coisas da qual você realmente nunca deu a devida importância, você começa a se questionar sobre o significado de “importante” e “descartável”. Tudo é importante. Tudo causa diferença. Cada pensamento, cada idéia, cada reflexão, cada filosofia, cada palavra, cada coisa. Tudo é importante. Na realidade, só quando começamos a perder as coisas é que percebemos seu devido valor, posso falar isto, pois já estou no fim, e na verdade nem sei se posso mesmo confiar em minha sanidade mental.
Necessito de ajuda profissional urgente, eu perdi a mim mesmo nos labirintos das lamentações. As pessoas têm a tendência de sumir por aqui. Olho às vezes ao meu redor e não há ninguém lá. Hum... Não consigo deixar de me perguntar: Será que há alguma ilha paradisíaca escondida por aqui?
É estranho perceber, é estranho notar. Os Muros da Interrogação começam a causar cada vez menos impactos em nós mesmos. A Falácia não nos deixa mais exaustos. Nós olhamos para eles e nos exaurimos com tamanha escuridão. E eles olham para nós e se exaurem em pensar quem irão descolorir primeiro. Bastardos gananciosos. Aqui o Crime Capital é perguntar Por quê. O castigo é a língua cortada para tal palavra infame. Pouquíssimos são aqueles que contestam. Costumam idolatrar Don Quixote, que lutou a vida inteira contra o Rei. Ou quem sabe Che Guevara que libertou Cuba da ditadura. Não há diferença entre Guevara, Quixote ou os tais chamados Marginais. É tudo a mesma coisa por aqui, só o nome que sempre muda. Aqui não há heróis, há marginais. Aqui não há artistas, há marginais. Aqui não há filosofo, há marginais. Aqui não há sindicato, há grupo de marginais. Aqui não há vilões, há líderes políticos.
É correto afirmar que a poesia morreu. Pelo menos por aqui. Também e correto afirmar que a musica morreu, que os pássaros morreram. Sabe aqueles sonhos que parece que você está acordado no limite de seu pensamento, e de repente você acorda e fica feliz por ter sido apenas um sonho? Este de fato não foi um desses sonhos, pois eu na verdade nunca acordei, então como sei se estou acordado ou dormindo? Pensamentos como este infestam minha mente demente a todo segundo. Poderia redigir uma sinfonia com tais pensamentos. Aqui é o limite de tudo. Onde nada atravessa e nada retorna. É o Porto dos Desesperançados. A Pensão da Ilusão.
Há uma grande sombra que cada vez se aproxima mais pelo leste, aqueles que tem a visão consegue observar seu deslocamento. Grunhidos e gemidos infestam as noites poluídas desta Cidade de Falsos Sonhos. Ela parece chamar por nós. Nos chama por nossos nomes, cheio de promessas de conforto, felicidade, ouro e vida mansa. A tentação é sua arma mais mortal, nunca sabemos com que estamos lidando, aqui as coisas mudam todos os dias. As bifurcações nos levam sempre para os mesmos caminhos de sempre. Não há escolha na verdade, tudo levo para o mesmo fim... Quero dizer... Há uma escolha... mas poucos são os que tem coragem de escolhe-la.
Pergunto agora a você: Como combater um Deus personificado?