A tatuagem

Um conto erótico de ninethe
Categoria: Homossexual
Contém 947 palavras
Data: 26/03/2010 20:26:37

Naquele sábado, o sol não aparecera, ao contrário, no horizonte despontava um céu cinza e sombrio.

Lembrava-se de sua infância, quando acreditava ingenuamente que a razão dos dias cinzas era a tristeza de Deus.

E naquele dia, por que ou por quem Deus chorava copiosamente?

Talvez Deus chorasse por ela, que não fora grata com sua existência e a transformara em uma porcaria de vida a dois medíocre.

Estava casada há pouco mais de seis meses, depois de doze anos do fim de seu primeiro casamento e só agora compreendia o motivo de um intervalo tão grande entre uma besteira e outra.

A verdade é que o ser humano deveria aprender com os erros e não mais cometer a mesma burrada- ela sabia que o segundo casamento era a vitória da fé sobre a experiência e sempre a fé era jogada por água abaixo.

Porque as mulheres se anulam tanto quando arrumam um “perna de calça”? Essa era a pergunta que não queria calar em sua mente!

Maria Emília sempre fora tão existencialmente só, tão ela mesma, tão livre, tão independente, tão...Tão feliz.

E agora, sua vida havia se transformado em um dueto mal afinado de uma nota só que nunca parava de retumbar pelos quatro cantos daquele apartamento frio.

Depois de quase meio ano de cárcere privado, resolveu fumar um cigarro. Um não, dois, acendeu um na guimba do outro. Soltou forte a fumaça extraída de seu pulmão, cheia de nicotina e alcatrão, essa era a única maneira de sentir seu aparelho respiratório- a poluição!

Ah, o prazer do tabaco, só os que já tragaram sabem o que isso quer dizer!

Em pouco tempo, eliminou um maço de filtro amarelo, mas não tinha o mesmo prazer de outrora, nem seus cigarros traziam a liberdade roubada à fórceps.

Caminhou trôpega pela fumaça por algumas horas, adentrou uma feira temática e sentiu olhares lascivos em seu encontro, por um momento, sentiu-se viva.

Até que passou por uma pequena tenda, onde lia-se: “TATUAGEM E PIERCING- É CARO, DÓI E NÃO SAI”.

Pensou rapidamente: Igual ao casamento! Quem sabe uma coisa não compense a outra?

Tocou o sino e uma mulher avantajada atendeu a porta com um sorriso libidinoso no canto da boca.

Lembrou-se novamente de sua infância, aquela mulher lhe trazia à memória a “mulher gorila”, com sua gordura e lascívia.

Já naquela época, aquela metamorfose nojenta a fazia sentir um certo prazer misturado ao asco inexplicável para sua tenra idade.

-Bom dia, em que posso ajudá-la?

-Eu queria ver uma tatuagem?

-Você quer ver ou fazer?

-Os dois.

-Entre, fique à vontade.

Na tenda da “mulher gorila” havia outras mulheres, felizes e sorridentes, trocando confidências de suas tatuagens. Aquilo parecia uma mistura de confessionário com sala de análise.

E a tal mulher era tida como um guru-mentor responsável pela elevação do corpo e da alma.

Maria Emília foi levada a um espaço menor e afastado das demais, onde a mulher desenhou em suas costas de uma ponta à outra, flores, arabescos, galhos, um beija-flor e três borboletas.

A moça achou bonito, mas antes de agregar tais seres ao seu corpo, quis saber o motivo de tais escolhas.

E a “mulher-metamorfose” explicou: Flores são sempre flores, fazem bem em qualquer lugar. O Beija –flor é um pássaro exótico simboliza liberdade e fragilidade, é o único pássaro que não anda em bando, vive só, como nós. E a borboleta significa a metamorfose, a mutação, a transformação.

Complexo demais para sua pobre cabeça em turbilhão, sem pensar, mandou que a mulher gravasse em seu corpo tais divagações.

Era uma dor fina e forte, mas quando se tem uma dor n’alma, a dor física até que cai bem, parece que suplanta a outra.

A mulher deslizava a máquina por sua costas e os dedos em seu dorso na tentativa de amenizar o desconforto das agulhas e aquilo provocava um êxtase na vítima.

A cada agulhada, Maria Emília se sentia mais viva, era como se as suas vísceras fossem sendo furadas e isso provocava uma onda de libído jamais sentida em todos esses anos.

De repente, a mão da tatuadora escorregou e deslizou por suas coxas, alcançado sua vagina completamente molhada.

A “mulher-macaco” largou a máquina e agachou-se entre as pernas de sua presa, sugando seu clitóris com brutalidade, arrancando gemidos contidos.

Nesse momento, a sala foi invadida por uma loira em forma de monumento, que imediatamente pôs-se a engolir os seios da vítima.

As três iniciaram uma cópula frenética, como se fossem amantes a anos a fio.

Maria Emília, que há seis meses guardava seu gozo escondido em sua alma, jorrou seu líquido vaginal na boca das duas repetidas vezes.

Assim, iniciou-se um poderoso triângulo sexual, que deu origem a centenas de tatuagens espalhadas por seu corpo.

Seu parvo marido não entendia aquela mudança absurda provocada em sua esposa e lembrava-se sempre da explicação dada à primeira tatuagem: seriam as borboletas as culpadas?

Quando acabou o espaço em seu corpo para os desenhos, ela não conseguia mais ficar longe da mulher gorila e sua cúmplice, abandonou o sujeito, aprendeu o ofício e foi tatuar outras mulheres.

Contudo, os respectivos maridos jamais entenderam as transformações que um simples rabisco gerava em suas mulheres e nem tampouco, compreendiam o porquê de tantas e tantas gravuras em corpos tão pequenos, afinal, aquilo era caro, doía e não saía!

Elas também não contavam. Guardavam para si o segredo daquela arte milenar.

E todas apareciam misteriosamente com flores, beija-flor e borboletas.

Eles davam-se por satisfeitos com a simples explicação de que o mistério se devia à força das borboletas! Devia mesmo ser as borboletas! Esses bichos não valiam nada mesmo, mudavam da água pro vinho!

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Comentários

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O começo achei bom, mas depois foi muito direto, aliás completamente direto, o q faz um conto são os detalhes.

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Condordo apenas em colocar mais detalhes,mas muito bom,bem escrito.Não desista.

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Não se percebe muito bem, mas se escrever com mais clareza, puser mais detalhes e escrever com paixão... Nota 3 pelo esforço

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