Aqueles três dias em que fomos no motel foram os dias mais felizes da minha vida até então. Tive comigo, dentro de mim e eu dentro dele o meu amor, o cara que tinha mudado toda a minha cabeça a respeito dos relacionamentos. Porque foi isso o que aconteceu: o Khieu representava para mim um troço completamente novo. Já tinha experimentado o amor e tinha sofrido quando ele acabou, mas com o Khieu era um troço diferente. No último dia no motel, lá pelo meio do dia paramos de foder ou fazer sacanagem. Não era porque estivéssemos cansados ou saciados, na nossa idade não se cansa nem o tesão diminui. Paramos porque queríamos ficar quietos, um junto do outro, fazendo carinho, sentindo que éramos dois caras que se amavam e que eram uma só alma em dois corpos. Prestamos atenção na nossa respiração, na forma que falávamos, de como éramos com os olhos fechados. Brincamos um com o outro, dizendo coisas engraçadas só pelo prazer de ver o outro rir. A nossa felicidade era absoluta. Mas no final do dia tudo acabou. Depois da ultima foda que foi meio desesperada porque sabíamos que troço estava acabando e já vestidos e prontos para sair e ir para o carro o Khieu falou: “Rafael, o destino nos deu um ao outro e eu tenho certeza que ele não vai nos separar. O troço pode custar, pode ser difícil e vai ser difícil, mas ele vai nos reunir de novo e aí vai ser para sempre. Confia nisso.” Eu não respondi nada porque me deu vontade de chorar.
Com o passar dos dias aquele excesso de felicidade se transformou num tormento. Eu não conseguia tirar o Khieu da minha cabeça. E agora não era apenas a lembrança dele. Era mais do que isso. Eu sentia o Khieu o tempo todo, mas um sentir sofrido porque era apenas na minha cabeça e o meu corpo reclamava a falta dele. Claro que ele sempre conseguia vir de carro até a minha casa e nós fazíamos uma porção de sacanagem. Tínhamos desenvolvido técnicas mais ou menos eficientes de transar dentro do carro. Nos beijávamos, nos abraçávamos, chupávamos um ao outro, bebíamos as nossas porras, metíamos um no outro. Aquilo não era suficiente, mas era o que a gente tinha por enquanto.
Um dia o Adriano me telefonou. Para quem não se lembra o Adriano era o negão motorista que “vendia” trazer o Khieu para ficar comigo e o preço era o japa chupar o pau dele. Atendi o telefone e ele falou: “O Khieu mandou dizer que não vai dar mais para encontrar voce. Disse para voce telefonar para o Wagner que ele te conta tudo.” E desligou o telefone. Fiquei alucinado. Liguei imediatamente para o Wagner e o celular deu fora de área e foi assim durante três dias. Uma tarde eu estava em casa estudando e o telefone toca. Era o negão: “Rafael, desculpa, vi que voce telefonou várias vezes mas eu fui contratado por uns gringos e estava em Búzios onde fiquei fodendo eles durante três dias, mas recebi uma grana que vai resolver as minhas coisas quase que o ano inteiro. Aliás o Ronaldo também foi e te mandou um beijinho saudoso. Já sei o que voce quer. Vamos nos encontrar amanhã de noite. Voce vem aqui na minha casa a aproveita para conhecer o Tommy, o meu moleque.”
Eu fui. O Wagner abriu a porta e atrás dele estava o molequinho mais engraçadinho do mundo. Tinha uns três anos mais ou menos. Pretinho como o pai, de cabelinho supercurto, quase raspado. Magrelinho. Tinha os traços finos do Wagner e um sorriso que era uma graça. Estava acabando de jantar. Chamou a minha atenção o jeito educado que o moleque comia. Não fazia bagunça, não espalhava comida como a molecada dessa idade costuma fazer. Quando ele acabou se levantou da mesa e foi levar o prato dele para a cozinha. Aí o Wagner mandou: “Agora banho e depois cama para encontrar com o anjo do sono que já está esperando por voce.” Ele foi para o banheiro e nós fomos atrás. Chegando lá ele tirou a sandália que pôs arrumada encostada na parede, tirou a camiseta e a bermuda que ele deixou arrumadinha numa banqueta, tirou a cuequinha, foi na privada, mijou sem pingar uma gota para fora, abriu a água entrou no chuveiro, se ensaboou sozinho, tirou o sabão, tudo de olho fechado para o sabão não entrar no olho dele, depois se secou e vestiu um pijaminha que o Wagner entregou pra ele. Foi se encaminhando para o quarto dele. Na porta parou e ficou esperando o Wagner se abaixar para beijar ele. Aí se virou para mim e perguntou: “O que voce quer que eu “fala” para o anjo do sono?” Eu respondi: “Diz pra ele que eu estou sentindo muita falta dele porque ele tem muito tempo que não vem me visitar.” Ele aí me abraçou, encostando a carinha nas minhas pernas. Pausa. Eu sei que falar do molequinho num conto erótico não tem nada a ver, mas é que eu quero que vocês saibam a graça que o Tommy é. Foda-se. Continuando. Fomos para sala e o Wagner falou: “Rafael, eu sei tudo o que rola entre voce e o Khieu. Sei que vocês se encontram e ficam de sacanagem no carro, sei dos três dias que vocês foram no motel.” Eu perguntei: “Como é que voce sabe de tudo isso?” Ele respondeu: “Porque eu sou pago pelo Azevedo para não sair do pé do Khieu...” Eu interrompi: “Caralho!!!” Ele continuou: “...mas eu não contei nada disso para o Azevedo. Inventei umas histórias e tudo bem. Mas aconteceu uma coisa diferente. Depois que vocês passaram os tais três dias fodendo no motel, o Khieu quando volta para casa depois de se encontrar com voce no carro está tendo dificuldade de foder o Azevedo. É moço e tudo, tem facilidade do pau subir, mas ele está tendo dificuldade em ficar de pau duro para meter no cu dele. Acaba conseguindo, mas custa pra cacete. E o Azevedo está super desconfiado de que ele está de transa com alguém, até porque isso só acontece nas noites que ele chega mais tarde da escola. Então agora eu não só tenho só de ficar seguindo ele como tenho de ir no carro junto com Khieu, na ida e na volta da escola, assim como em todas as vezes que ele tem de sair de casa.” Eu perguntei: “E o Khieu sabe de tudo isso?” Ele respondeu: “Sabe porque eu contei tudo para ele, como contei que não ia dar mais para vocês se encontrarem.” E eu: “E como o Khieu reagiu a isso?” E o Wagner: “Ficou desesperado, chorou pra caralho. Olha, Rafael, o moleque gosta pra caramba de voce.” Eu corrigi: “Ele não gosta só. Ele me ama, assim como eu amo o Khieu. Acredita, Wagner, é um amor que eu nunca senti igual, é um amor doido, quase irracional. Se eu ficar sem esse cara eu acho que eu vou enlouquecer.” E o negão: “Mas não tem jeito.” Eu retruquei: “Tem sim. Ele pode dar um pé na bunda do Azevedo. Claro que vai perder toda a boa vida que ele tem, mas ele pode ser virar. Ele mesmo disse que fala com voce ou com o cara que agencia vocês e entra pra vida. Eu acho isso uma merda, vou ficar muito mal sabendo que o Khieu está fodendo com outros, mas estou até topando porque a gente vai ter um ao outro. E com o tempo as coisas vão melhorar. Dentro de ano e meio eu me formo e começo a trabalhar e logo, logo ele também acaba o supletivo e pode ter um empreguinho decente que eu ou o meu pai vamos arranjar para ele. E aí, vou te dizer, Wagner, a gente vai casar.” O Wagner ficou um tempo calado, olhando para a minha cara. Aí falou: “Sem chance.” Eu mandei: “Sem chance como? Só se o Khieu não gostar de mim como eu gosto dele e não topar, o que eu duvido.” Aí o Wagner disse: “Voce conhece a história de como o Khieu conheceu o Azevedo e como é que ele veio para cá e como são as coisas?” Eu respondi: “Não sei de nada. Sei que ele conheceu o Khieu no Paraná, trouxe ele para cá e sustenta ele e ele mete na bunda do velhote.” E o Wagner: “Não é só isso, simples assim. Tem muito mais coisa. Escuta o que eu vou te contar e no fim voce vai entender porque o Khieu não pode dar um pé na bunda do Azevedo. O pai do Khieu é do Cambodja e veio para cá tem uns vinte e tantos anos. Foi para Londrina e depois de muito esforço conseguiu comprar umas terras, uma fazendola que não era pequena, mas longe das fazendas enormes que tem por lá. Trabalhava nas terras dele e ganhava um dinheirinho que permitia ele morar na cidade. Ele era solteiro e ia levando a coisa legal, conseguiu mesmo mandar vir o pai dele, avô do Khieu, que era chinês mas morava no Cambodja. Até que conheceu a mãe do Khieu, uma baiana bonita, de olhos verdes que ele herdou. Num instante o Khieu nasceu e logo depois vieram mais outros três filhos, tudo de enfiada, um seguidinho ao outro. Passou-se um tempo, o Khieu foi para a escola e quando ficou mais velho entrou para um clube e ficou treinando vôlei nas divisões de base. Parece que o japinha tem o maior talento para o troço...” Eu interrompi: “Wagner, não chama o Khieu de japonês que ele detesta.” O Wagner riu e continuou: “... Tudo bem. O pai do Khieu ia levando a vida, inclusive com a ajuda da mãe dele que em negócio de bordado é foda. Como é comum nesses casos o pai do ja..., digo Khieu, não tinha acumulado nada: o que ganhava investia nas terras e o resto usava para sustentar a família e pagar os financiamentos do banco. Até que uns anos atrás deu uma perda grande nas terras, ou seca ou inundação, isso eu não sei, e a safra foi para o caralho. Aí começou o de sempre: refinanciamentos, juros sobre juros e o caralho. O fato é que o pai dele se fodeu, e o banco tomou tudo dele, fazenda, casa na cidade, tudo, absolutamente tudo. Com isso eles tiveram que se mudar para um troço meio afavelado, uma merda, acho até que o barraco onde eles passaram a morar nem de tijolo era. E minúsculo, dormiam todos juntos, o avô inclusive. Como eles ainda conseguiam comida eu não sei. Os meninos que estavam na escola tiveram que sair e jogar vôlei o Khieu teve de esquecer. O teu amigo...” Eu interrompi de novo, dessa vez de propósito para deixar mais uma vez as coisas claras: “Meu amigo não, o amor da minha vida!” “E o Wagner: “...Que seja. Ele estava com dezesseis anos e já era lindo como agora. Um dia um fazendeirão daqueles de Londrina, podre de rico e que tinha tido um problema sério no coração e tinha sido salvo pelo Azevedo, resolveu dar um super churrasco na fazenda. Não foi um troço simples. Pelo contrário. Convidou Deus e todo o mundo, do Paraná, de Goiás, de Mato Grosso e de São Paulo. Gente pra caralho. Chamou também o Azevedo como convidado de honra, mandou até um jatinho pegar o viadão aqui no Rio. É evidente que para atender a tanta gente contratou um mundo de garçons e ajudantes. Nessa leva estava incluído o Khieu. Esse que de roupa rasgada e ranho no nariz já era lindo, agora, todo arrumado, ficou um acontecimento. De um jeito ou de outro o Azevedo prestou atenção nele e nem pensou duas vezes: começou a dar em cima do garoto. Essa parte eu não sei muito bem como rolou, mas numa hora ele conseguiu chupar o pau do moleque. O Khieu, que em matéria de sexo o máximo que sabia era mijar porque era absolutamente virgem, na frente e por trás, gostou do troço. Pulando muito detalhe porque eu já estou ficando rouco de tanto falar, o fato é que o Azevedo conseguiu conhecer a família do Khieu e fez um arranjo com eles. Comprou uma fazenda, pôs o pai do moleque para explorar em regime de meia e ainda dá não sei quantos salários mínimos pra o cara se sustentar, inclusive o avô que teve um derrame e hoje em dia vive fora do ar, em cima de uma cama e nem comer sozinho consegue. Mas isso tudo, repito, sob a condição do Khieu vir morar com ele e comer ele quando ele tem vontade. Aqui meteu o carinha na escola e dá tudo o que ele quer, qualquer coisa que o Khieu pense, ele ganha. Tem duas coisas que voce não sabe: o Khieu é inteligentíssimo, tem uma memória de elefante, basta ler uma coisa que ele não esquece mais. Além disso o Khieu nasceu um cara super sofisticado, eu até desconfio que é um troço que ele trouxe de outra encarnação. Tem uma sensibilidade foda. Assim aprendeu a se comportar, a se vestir, a entender de tudo. Sabe comer, conhece vinho como poucos. Uma festa organizada pelo Khieu (e ele organiza todas que o Azevedo dá) parece um troço europeu. Mas o Azevedo sabe o que ele tem nas mãos e sabe também que está ficando velho e outra oportunidade de transar com uma maravilha como Khieu ele não vai ter chance. Pode pagar miché que nem eu, quantos quiser porque dinheiro ele tem para isso, mas acontece uma coisa, e aí é que o troço complica: ele se apaixonou pelo garoto. É doido por ele, absolutamente alucinado. Assim ele mantem o Khieu numa gaiola de ouro. Ele não pode ir para nenhum lugar sozinho, não pode se relacionar com ninguém. Apesar do Adriano que leva ele de carro pra todos os lugares e fica esperando para trazer ele de volta para casa, ultimamente o Azevedo começou a desconfiar que estava rolando alguma coisa e aí me contratou para ficar de olho no Khieu e eu fiquei. Até que um dia o Khieu saiu para ir no Clube Marimbás. Eu segui ele e vi que ele tinha se encontrado com um cara, que depois eu soube que era voce. Passou-se um tempo o Adriano levou ele até uma casa de dentro da qual saiu voce que entrou no carro. O troço se repetiu várias vezes. Eu logo saquei o que estava ocorrendo, mas resolvi ficar na minha porque era um injustiça que aquele ja..., quero dizer, garoto lindo e na flor da idade não tivesse um pouco de sexo de verdade, além do cu do Azevedo. Não conseguia sacar era como ele tinha conseguido fazer a cabeça do Adriano para colaborar. Apertei o negão e ele contou que para isso ele fazia o Khieu chupar a piroca dele, uma pica minúscula, suja e fedida, sei disso porque eu fiz o negão por a piroquinha para fora para eu ver.” A família africana do Adriano deve ser uma tribo de pigmeus, pelo menos na pica...” E parou rindo pra caralho. Depois recomeçou: “Depois teve aquele lance da viagem do Azevedo e os três dias no motel, o que me obrigou a ficar em pé, debaixo de um sol foda, durante o tempo todo. Mas o troço ficou foda porque o Khieu se apaixonou por voce, está absolutamente doido e, como decorrência natural, passou a ter nojo do Azevedo, razão pela qual ele está suando sangue para conseguir ficar de pau duro e meter no velho. Mas não pode fazer nada porque se ele se largar quem se fode é a família dele porque o Azevedo vai acabar com tudo. Ajudei vocês também porque depois que eu conheci voce naquele surubão em Itaipava eu gostei muito de voce, achei voce um cara muito legal e, como eu te disse, queria, e quero, ser seu amigo.” Aí parou e ficou olhando na minha cara. Eu queria uma de duas coisas: ou chorar pra caralho ou me atirar pela janela. Não fiz nenhuma das duas e mandei: “Mas, Wagner, voce podia deixar tudo como está. Segue o Khieu mas deixa a gente se encontrar. Não é o que a gente quer ou precisa, mas vai quebrando o nosso galho.” E ele respondeu sério, duro: “Nem pensar. A grana que o Azevedo me dá é muito importante para eu poder continuar a educar o Tommy. E aí vou ser franco: mesmo que eu goste muito do Khieu e de voce, e gosto muito mesmo, trata-se do meu filho e pelo bem estar dele eu faço qualquer coisa. De modo que eu não vou arriscar. Se conforma, cara, o caso de vocês acabou. Falei isso para o Khieu exatamente como estou falando para voce. Acabou. Vai a luta e arranja outro cara para voce foder e até se apaixonar. Voce é um cara muito bonito e não vai faltar cara que queira voce.” Eu estava absolutamente confuso. Precisava de tempo para pensar. Aí então resolvi dar mais corda para o Wagner: “Aí, Wagner, o Azevedo só dá o cu?” O cara respondeu: “Exclusivamente passivo. Chupa o pau do Khieu e depois dá a bunda para ele. O Khieu nem vê o pau do Azevedo e é absolutamente virgem no rabo.” Eu pensei comigo: era, enquanto me dava uma puta vontade de chorar ao saber que tinha sido lá no motel que o Khieu tinha levado uma pica no rabo pela primeira vez e que tinha sido por isso que ele tinha sangrado quando eu meti nele. Mas continuei com o papo: “O Azevedo paga tudo para o Khieu, mas tudo mesmo?” Ele respondeu: “Absolutamente tudo. Livros, roupas – ele só veste roupa comprada fora – qualquer coisa que ele pensar ou pedir, até pó e maconha que ele manda comprar, mas o Khieu só pode usar em casa.” Fiquei calado um tempão até que falei: “Wagner, vou te pedir uma coisa.” E ele: “O que é?” E eu: “Queria me encontrar mais uma vez com o Khieu.” E o Wagner: “Não. Sem chance.” E eu: “Por favor, só uma vez. Não vai ser dentro do carro, vai ser na rua, em pé, na frente de todo o mundo. Só queria ouvir a voz dele mais uma vez. Por favor, Wagner, faz essa caridade.” O negão ficou calado, pensando e finalmente disse: “Mas comigo junto, ouvindo tudo.” Eu respondi: “Que seja. Transa isso para mim, escolhe até o lugar.” Ele encerrou o papo: “Vou falar com o Khieu e te telefono.” Na porta da rua eu perguntei para o negão: “Wagner, voce nunca esteve apaixonado por ninguém?” Ele respondeu seco: “Não.”
Eu saí absolutamente doido. Entrei no carro que tinha estacionado na porta do prédio do Wagner e fiquei chorando. Chorei tanto tempo que um carro da policia parou desconfiado que eu estava puxando fumo. Fizeram toda aquela lenga lenga: mandaram eu abrir o vidro, mandaram eu saltar, um entrou e ficou fungando para ver se sentia cheiro, me revistaram, pediram documentos. Eu chorando o tempo todo, até que um notou e perguntou: “O que aconteceu? O senhor está doente, passando mal?” Eu respondi: “Levei um pé na bunda da pessoa que eu mais amo no mundo.” O cara aí falou: “Entendo, isso é foda. Pode ir doutor e desculpa o incômodo.”
Tenho de fazer uma pausa para falar de uma pessoa. È o meu avô, pai da minha mãe. Ele é um velho de 75 anos e o cara mais do caralho que eu conheço. Já me livrou de poucas e boas. Toda a vez que eu me meto em confusão corro para ele. Conto tudo e ele me ouve na maior paciência e normalmente ele me ajuda, me dando idéias. Ele é o meu porto seguro, a única pessoa em quem eu confio. A minha mãe eu venero como se fosse uma santa, mas não confio muito não. O meu pai é amigo, mas faz o gênero distante e o meu irmão... Bem, meu irmão é um adolescente metido de quinze anos.
Assim arranquei com o carro com a intenção de ir para casa. Aí me veio a idéia. Peguei o celular e liguei para o meu avô: “Vô, sou eu, Rafael. O senhor já estava dormindo?” Ele respondeu que não e eu emendei: “Posso ir até aí conversar com o senhor?” Ele perguntou: “Se meteu em confusão? Rola polícia?” Respondi que não, mas que precisava pra caralho falar com ele. Ele disse que eu podia ir que estava me esperando. Continuava a chorar e chorando entrei na casa do meu avô. Ele se assustou: “Rafael, o que está acontecendo? Senta aí que eu vou buscar um copo d’água para voce.” Eu respondi: “Vô, rola um troço mais forte, uma vodka?” Ele foi pegar e me entregou. Eu me agarrei nele e se estava chorando passei a chorar mais ainda, soluçava direto. Ele deixou um pouco e mandou: “Agora se acalma, chorar desse jeito não adianta nada, só serve para molhar a minha camisa. Toma sua bebida, tenta se acalmar e me conta o que aconteceu.” Fui tentando me controlar e falei: “Vô, voce sabe que eu sou gay...” Ele me interrompeu: “É ainda aquele troço com o Fabio?” A pergunta dele mostrava que ele sabia tudo de mim. Eu respondi: “Não. É pior.” E ele: “Se apaixonou e o cara não quer nada com voce ou mandou voce a merda.” Eu respondi: “Não. É pior.” E ele: “Voce pegou AIDS?” E eu: “Não. É pior.” Ele aí parou, ficou pensando um tempo e mandou: “Rafael, voce sabe que voce é o neto de quem eu mais gosto. Eu sei que voce é gay, sei há muito tempo até porque voce nunca se incomodou de esconder isso, trazia o Fabio aqui numa boa. Mas ouve uma coisa muito séria. Gay para mim é um macho como outro qualquer porque na minha opinião um cara é macho pela sua atitude, pela forma como ele age, e não pelo gosto sexual que ele tem, nem o que ele faz entre quatro paredes. Então voce é macho igualzinho a todos os outros. Ia esquecendo. Macho tem de gostar de futebol e voce gosta de futebol. Então fala aí como o macho que voce é.” Deu uma risadinha. Eu aí abri as comportas. Contei tudo para ele, absolutamente tudo, sem faltar nada. (quem quiser saber de tudo que nem meu avô passou a saber leia o conto “Khieu”) Quando eu acabei ele deu uma risada. Eu achei estranho, mas ele mandou: “Voce acaba é de foder comigo porque o Azevedo é o meu médico. Aliás, viado ou não é um puta médico e o que voce quer é meter o chifre nele.” Eu respondi: “Não quero meter o chifre em ninguém, tanto que não me importo que o Khieu continue vivendo com o Azevedo. Quero apenas ter o Khieu comigo porque eu amo ele. Só isso.” E o meu avô, incrédulo: “Só isso? Voce está arranjando um jeito de foder não só com o seu amado mas com a família dele inteira e ainda diz que é ‘só isso’? Olha, Rafael, vê se dá para pensar direito. O problema do Khieu eu e voce de uma maneira ou de outra podemos resolver: alugar um apartamentinho para ele morar não é problema, hoje mesmo ele poderia se mudar para um meu que o inquilino se largou. Está decoradinho e é uma graça. Emprego eu ou o seu pai arranjamos, mesmo que ele ainda não tenha acabado o curso básico. O problema está em que o Azevedo vai fazer com a família dele. Eu não posso gastar a grana que o Azevedo gasta com eles, voce sabe disso. Aí é que está o problema. E te digo mais. Nesse momento o Khieu pode até topar mandar um ‘foda-se’ para a família dele, mas no longo prazo, quando ficha cair e eles estiverem fodidos ele vai por a culpa em voce e aí todo esse amor de que voce fala vai para o caralho. É assim que vai acontecer. Pode escrever isso.” E eu: “E aí, vô? A família do Khieu continua na boa, o Khieu continua na boa de Rolex no pulso e todo bonito com roupa importada, tomando vinho e dando jantares. Se gente ficar separado ele vai sofrer, é certo que vai sofrer, mas num instante ele se acostuma. E eu fico aqui, fodido, sofrendo como um cão.” Ele me interrompeu: “Se voce diz que ele pode se acostumar a não ter voce, por que voce não pode se acostumar a não ter ele?” Eu respondi, certo do que eu estava dizendo: “Porque o meu amor por ele é diferente. Completamente diferente de todos os outros caras por quem eu me apaixonei. Inclusive o Fabio que foi o maior deles. É uma coisa que eu nunca senti antes. Não estou exagerando ou mentindo para voce.” O meu avô ficou calado pensando. Levantou-se foi no bar, serviu um uísque para ele, perguntou se eu queria mais uma vodka que eu aceitei. Ficou de costas para mim olhando para a janela. Até que voltou a se sentar do meu lado e falou: “Solução a curto prazo não existe. Aliás, voce está pensando somente em transar com o Khieu, não é isso?” Eu respondi: “Não, vô. Não é só transar. É ter ele comigo, é amar ele.” Ele falou: “Tudo bem, eu acredito, mas nesse momento voce quer é ter ele nos seus braços, não è?” Eu respondi: “Nesse momento é assim.” Ele aí falou: “Tudo bem. Não está vindo idéia nenhuma na minha cabeça, mas vou pensar com calma. Vai agora para casa. Tenta dormir, toma até algum remedinho para se acalmar se for preciso. Amanhã me telefona.” E foi me acompanhando até a porta. Quando eu dei nele um beijo de boa noite ele disse: “Voce falou que o tal de Wagner sabe de tudo e atualmente é o cão de guarda do Khieu, pago pelo Azevedo. Não é assim?” Eu respondi: “É.” E ele: “Se eu tiver que falar com o Wagner como é que eu faço?” Eu disse: “Toca o telefone para ele...” Abri o meu celular e dei o telefone do negão para o meu avô e perguntei: “O que é que voce quer com o Wagner? Ele não vai poder ajudar em nada.” O meu avo deu uma puta risada: “Não é nada disso. É que depois que eu fiquei velho e o meu pau custa uma eternidade para subir, quando sobe, eu dei de gostar de negro de pau grande, porque voce sabe que nesse caso não se precisa ficar de cu duro.” E bateu a porta na minha cara.
Passei uma noite de condenado. Não dormi um minuto. Tentei uma punheta e o pau não subiu. Dei uma esporrada com ele mole mesmo, batendo uma de dois dedos. De tudo, o que mais me machucava é que o Khieu tinha dado a bunda pela primeira vez comigo. Tinha sangrado na prega e não reclamou, ainda falou que estava dando o sangue dele para mim. Porra!!!!!! De manhã me levantei e fui para a faculdade, enfrentar uma aula de Direito Constitucional cujo professor era chato pra caralho e ainda por cima tinha mau hálito. Fiquei esperando o chamado do Wagner e nada. No fim do dia telefonei para o meu avô. Ele, com uma certa impaciência mandou: “Calma, netinho. Quer uma solução simples e rápida para um problema difícil? Espera. Assim que eu tiver alguma novidade eu te falo. Enquanto isso fica dando no saco do seu irmão.” E desligou o telefone. Passaram-se uns dez dias. Numa tarde, logo depois do almoço, o Wagner me telefonou: “Te encontro no shopping xxxxxxx na porta do cinema que está levando o filme xxxxxxxx na sessão que começa às seis horas.” E desligou. Na hora marcada eu estava lá. No meio daquela confusão de monte de gente comprando picoca e esperando a sala abrir vejo o Wagner vindo com o Khieu. O meu impulso foi partir para cima dele para abraçá-lo ali mesmo. O Wagner falou baixo e sério segurando forte o braço do Khieu: “Olha o mico, olha o mico.” Me segurei. O Wagner foi pegar as entradas. Tinha marcado três poltronas no fim da sala. Sentamos. Assim que passou aquele monte de anuncio e a sala escureceu de vez o Wagner, que estava sentado entre mim e o Khieu, falou: “O banheiro é ali atrás.” Eu entendi a indireta e como estava sentado na ponta me levantei imediatamente e fui para o banheiro. Quando eu entrei tinha um cara saindo. Fiquei esperando o Khieu. Ele entrou e me olhou com um olhar que ao mesmo tempo era sofrido e doce. Peguei ele pela mão e entramos numa cabine. Fechei a porta e abracei o Khieu. Ele me abraçou. Não conseguíamos fazer mais nada a não ser nos apertar com força e falarmos o nosso nome. Khieu e Rafael era só o que conseguíamos dizer. Numa hora ele procurou a minha boca. Eu entreabi a minha deixando a língua dele entrar. Não, estou narrando errado. Eu suguei a língua do Khieu para dentro da minha boca. Sentir o corpo fino do carinha nos meus braços é alguma coisa que eu não consigo descrever. Meti a mão por debaixo da camiseta dele sentindo aquela pele quente e delicada. Ele fez o mesmo comigo. Meteu a mão nos meus culhões. O meu pau tinha endurecido direto. Numa hora eu consegui dizer: “Temos duas horas sozinhos, meu amor.” Ficamos naquele amasso. Ele afastou a cabeça e falou: “Quero ver a sua cara!” Eu respondi: “E eu os seus olhos, Khieu.” Para isso nos afastamos um pouco, mas logo nos grudamos de novo. Eu então levantei a camiseta dele e comecei a chupar os peitinhos. Numa hora ele falou com urgência: “Rafa (me chamou assim pela primeira vez na vida) se afasta um pouco para eu poder por o pau para fora, ta pintando de eu gozar e eu não quero melar a minha roupa.” Eu me afastei e, tal como ele, pus o cacete duro para fora. Ficamos esfregando as cabeças dos paus, das quais escorria melação, uma na outra. Depois voltei para os peitinhos do Khieu. Ele suspirava, gemia mesmo. Aí eu me abaixei, abri a bermuda dele, abaixei a cueca e caí de boca no pau do Khieu. Sentir aquele cheiro e aquela textura era um sonho. Numa hora ele tremeu e gemendo de boca fechada gozou. Eu engoli a porra dele o mais que eu pude. Assim que acabou de gozar ele abriu a minha bermuda e abaixou a minha cueca como eu tinha feito. Depois falou: “Cospe o que sobrou de porra aqui na minha mão.” Eu sem entender direito atendi a ordem dele. Ele então, com a mão toda molhada de porra passou no meu cacete me punhetando bem de leve. Aí disse: “Senta na privada, minha vida.” Eu entendi e sentei, esticando o corpo para trás. O meu pau estava durão, empinado, apontando para o céu. Ele então veio sentando em cima de mim e segurando o meu pau encaminhou ele para o cuzinho. Custou um pouquinho para encaixar direito mas logo entrou e ele deu um gemido, dessa vez alto. Aí largou o corpo e a minha pica escorregou para dentro dele. Eu passei os meus braços pelo corpo dele e encostei a cabeça nas costas do Khieu. Ouvia ele respirar ofegante e achei que ouvia o coração dele batendo disparado. Ele começou a rebolar na minha pica. Eu tentava ajudar no vai e vem movimentando o meu corpo para cima e para baixo. Num instante eu gozei. Sentia a minha porra escorrer dentro dele e só dizia: “Meu Khieu, meu amor, não me falta, não me falta!” E ele falando baixinho, com o maior carinho: “Goza em mim, deixa a sua porra me inundar, me mela todo, Rafael.” Aí foi se levantando devagarinho. Ficou em pé novamente. Eu fiz o mesmo, nos abraçamos e sentíamos a parte de baixo do nosso corpo uma na outra. Eu passei a mão por trás dele e agarrei aquela bunda linda e fiquei apertando. Ele me beijava direto, enfiava a cara no meu pescoço e lambia. Lambia também o meu rosto. Eu fazia o mesmo. De vez em quando nos afastávamos apenas para nos dizermos o nosso nome e que nos amávamos e voltávamos a nos beijar. Ele levantou a minha camiseta e caiu de boca nos meus peitinhos. Eu sentia como se tivesse levando pequenos choques elétricos no corpo inteiro. Numa hora ele foi descendo, deu um beijinho no meu umbigo, desceu mais e enfiou a cara nos meus pentelhos. Respirou fundo para eu sentir o bafo quente dele e depois meteu o pau na boca e puxando a pele para trás ficou fazendo um vai e vem forte e rápido. Dessa vez o gozo custou mais um pouco para vir, mas acabou vindo e eu gozei feito um alucinado, um gozo longo que não acabava nunca. Assim que acabei eu falei: “Vem meter em mim, Khieu querido!” Ele cuspiu no próprio pau enquanto eu ficava de pé, apoiando as mãos na parede e abrindo bem as pernas. Senti ele encostar a pica no meu anel e forçar a entrada. Senti o cacete penetrando em mim. Ele forçou mais e o troço foi entrando cada vez mais fundo. Eu senti os pentelhos dele esfregando na minha bunda. Ele começou um vai e vem, devagar no começo e aumentando o ritmo depois. Ele tentava gemer baixo mas quase não conseguia. Eu sentia o pau dele espetando o meu intestino. Demorou a gozar que nem eu, mas finalmente deu uma tremida e encostou o corpo todo nas minhas costas. Eu rebolava. Ele gemia: “Rafa, Rafa” Eu sentia ele me inundar de porra. Até que ele parou de se movimentar e ficou parado ofegando, ainda todo cravado em mim. Aí tirou o pau de dentro. Eu ia me virando mas ele falou: “Não se mexe!” Eu fiquei parado e ele se abaixou e afastando as minhas nádegas começou a lamber o meu cu. Eu fiz força para expulsar a porra que estava dentro de mim e o que saiu o Khieu lambeu todinho. Depois ficou de pé e eu falei: “Vem aqui, senta no meu colo pra gente descansar e namorar um pouco, tem tempo ainda para a porra do filme acabar.” Ele então perguntou: “Por que eu no seu colo e não voce no meu?” Eu, apesar do coração partido (eu estava de coração partido) resolvi dar uma sacaneadinha nele e respondi: “Porque voce é magrela e é mais levinho do que eu.” Ele deu uma risadinha, mas sentou no meu colo enquanto eu sentava na privada. Ele passou a mão pela minha nuca e falou: “Rafa, eu te amo muito, muito mesmo.” E eu: “Também meu molequinho querido. Não me abandona, não fica longe de mim.” Ele ficou de olho cheio d’água quando eu falei isso. Em seguida falou: “Eu nem imaginava que a gente ia se encontrar. O troço ficou foda pra gente. O puto do Azevedo meteu o Wagner para tomar conta de mim. Tá pagando a ele para isso. Mas hoje o negão me surpreendeu me trazendo aqui. Não me disse nada, apenas falou para a gente sair mais cedo porque que tinha que comprar um troço para o molequinho dele. O troço está tão foda que se o Wagner tiver algum programa marcado eu não posso sair de casa, nem para ir na aula.” Nessa hora eu falei: “O Wagner me contou tudo, me disse que a gente não ia se encontrar nunca mais. Eu ainda falei para ele que voce podia dar um pé na bunda do Azevedo e ir trabalhar. Naquele momento eu não sabia, mas quando eu conversei com o meu avô ele disse que até arranjava um apartamento para voce morar de graça. Mas aí o Wagner me contou tudo sobre a sua família, dizendo que voce não ia topar ficar comigo e foder com ela.” Ele respondeu: “Eu não posso. Tem minha mãe e o meu pai, tem os meus irmãos e ainda o meu avô que está fodido. Eles estão sobrevivendo às custas do Azevedo...” Eu interrompi: “Com o dinheiro do Azevedo, mas as custas de voce, melhor dizendo, de nós que nos amamos pra caralho e não podemos ter um ao outro.” Ele puxou a minha cabeça contra a dele e falou no meu ouvido: “È impossível que o destino apronte uma dessas conosco. Eu ainda acredito que vai acontecer alguma coisa em nosso favor.” Eu então falei. “Vamos mudar de assunto porque aqui não só a gente não vai conseguir bolar nada como também eu quero voltar e te abraçar, a segurar no seu pau e a beijar na sua boca.” Ele na mesma hora encostou os lábios nos meus e eu segurei no pau dele e comecei uma punhetinha bem vagarosa. Ficamos assim uns minutinhos. Logo escutei alguém entrar, e logo outro e mais outro, sinal de que o filme tinha acabado. Aí falei: “Vamos limpar as nossas bundas que ainda deve estar escorrendo porra delas.” Ele pegou um papel higiênico e limpou a minha bunda e eu fiz o mesmo com ele. Levantamos as nossas bermudas e eu abri a porta. Os caras que estavam mijando olharam para nós, alguns dando uns risinhos de deboche, mas eu caguei. Fui em direção à porta e o Wagner já estava lá. Pegou no braço do Khieu e disse: “Vamos.” Olhou na minha cara e mandou: “Até mais, Rafael.” E se largaram me deixando lá com cara de babaca.
Eu tinha tido a chance de mais uma vez ficar com o Khieu. Como e por que o Wagner tinha feito aquilo eu não sabia, mas desconfiei que tinha dedo do meu avô, só podia ser. Mas dentro da minha desgraça eu estava feliz. Tinha amado e sido amado pelo Khieu. Liguei para o meu avô no ato mas a empregada dele atendeu e disse que ele tinha saído para jantar com uns amigos e ia voltar tarde. Fui para casa para não sofrer na rua. Chegando lá ainda tive que agüentar o Tiago, meu irmão, que estava naquelas noites dedicadas a me encher o meu saco. O puto, estava crescendo, já tinha pentelho pra caralho, pau de grandinho para grande mas continuava a me encher o saco como se fosse criancinha. Finalmente me desvencilhei dele, fui para o meu quarto e tomei um banho antes do qual ainda passei a mão na minha bunda para ver se tinha sobrado algum melado do Khieu para eu poder lamber e sentir o gosto da porra dele. Mas não tinha saído mais nada. Me deitei e fiquei lá pensando em nem sei o que. Acabei dormindo.
Quando acordei a primeira coisa que eu fiz foi telefonar para o meu avô. Ele não deu papo dizendo que tinha um compromisso e já estava atrasado, mas que eu fosse na casa dele no fim da tarde. Fui na aula, fiquei de bobeira o resto do dia, só me lembrando do meu amor. No fim da tarde eu cheguei na casa do meu avô. Assim que eu entrei perguntei: “Como é que voce conseguiu convencer o Wagner?” Ele riu e disse: “Dei o cu pra ele.” Eu disse então: “Deixa de bobagem, dar o cu para o Wagner não é nenhum favor, ele cobra para por na bunda dos caras. Fala sério.” Ele respondeu simplesmente: “Dinheiro.” E eu: “Dinheiro como?” Ele explicou: “Liguei para ele, convidei para almoçar e ficamos trocando idéia. Logo ficaram claro algumas coisas: primeiro que ele gosta muito de voce. Depois que apesar disso ele não estava a fim de sacanear o Azevedo e perder a grana que estava ganhando para não deixar o Khieu sozinho. Eu então dei a idéia de abrir uma conta em nome do filho dele. Que se ele, sempre que pudesse e com toda a segurança, desse um jeito de voce e o Khieu se encontrarem eu depositava uma grana para garantir o futuro do molequinho. Ele não topou de cara, fazendo jogo duro, mais por medo do que por outra coisa. Eu fui levando o papo nessa linha, insistindo no troço. Ele acabou respondendo que topava, mas sem nenhum compromisso. Topava se não tivesse em perigo o “emprego” dele. Acabou falando uma coisa que eu também acho: que isso era a pior solução porque vocês iam ficar alimentando um amor impossível, que o melhor seria vocês pararem de vez de se ver e com o tempo irem esquecendo um do outro...” Eu interrompi, exaltado: “Nunca! Isso nunca vai acontecer, Vô!” Ele respondeu seco: “Isso é troço do seu coração e no coração ninguém mexe. Por falar em coração amanhã eu vou no seu “sogro”. E eu: “Que porra de sogro, caralho?” Ele respondeu: “O Azevedo. Já estava com a consulta marcada para levar uns exames que ele pediu.” Eu na maior ingenuidade, que era resultado direto do meu desespero mandei: “Voce vai falar com ele também?” Ele respondeu, até meio puto: “Que merda é essa que voce está falando? Falar o que com o Azevedo? Dizer para ele que o meu neto é apaixonado pelo amante dele e que ele tire o time de campo e deixe o caminho aberto para vocês? Tá maluco?” Eu caí em mim e disse: “Desculpa, Võ, pela babaquice da pergunta. De qualquer forma muito obrigado pelo galho que voce quebrou com o Wagner. Aliás, quer saber? Estou achando o Wagner meio escrotinho de aceitar dinheiro de voce.” O meu avô pegou no meu braço e, sério pra caramba, falou: “Não diz isso nunca mais. O Wagner gosta muito de voce, por ele quebrava o seu galho na boa, mas o negão é duro, detesta ser garoto de programa, mas fica fodendo os caras para garantir a sobrevivência dele e do molequinho dele, então o dinheiro que eu prometi vai ajudar. Tem mais uma coisa. Ele estará sempre disposto a trocar uma idéia com voce para te dar uma força. Ele mesmo falou isso. E, nesse caso, é muito melhor voce conversar com ele do que comigo porque eu não entendo desse troço de foda e amor entre homens e ele entende. Mas, igual a ele, vou estar sempre disposto a conversar com voce. Voce sabe disso.” Eu achei que o papo já tinha ido longe demais e me despedindo dele com um beijo e mais um muito obrigado me larguei.
Eu estava então naquela situação. Quando e se desse eu me encontrava com o Khieu. No fundo era uma merda porque a cada encontro eu achava o Khieu mais bonito e amava mais ele. A gente se encontrava sempre em lugar escroto, na maioria das vezes nos banheiros de cinema. O que eu conheço de banheiro de cinema no Rio de Janeiro nem dá para contar. Quando eu ficava muito desesperado (eu vivia desesperado) e começava a reclamar o Khieu me consolava: “Rafael é isso o que a gente tem e pronto.” Passou-se quase um ano. Nesse tempo aconteceram algumas coisas mais marcantes: primeiro que eu comprei um celular e dei para o Wagner dizendo: “Pega esse celular e esconde. Quando voce estiver com o Khieu e der pé liga para mim e põe o Khieu para falar comigo.” Ele topou. Um dia liga o meu telefone e era o Khieu: “Oi, minha vida.” Eu respondi com uma puta vontade de chorar: “Khieu!” Ele mandou: “Rafa, temos três minutos para falar, mas dá tempo para eu dizer que eu te amo cada vez mais.” Eu respondi, já ai rindo: “Sabia que quando voce me chama de Rafa me dá tesão?” Ela mandou, rindo também: “Então vai ser Rafa para o resto da vida.” E nossos papos telegráficos eram assim. O que valia era que eu podia ouvir a voz do Khieu. Outra coisa importante foi que um dia o Wagner me contou que o avô do Khieu tinha morrido e que o Azevedo tinha diminuído a mesada que ele dava em um sexto. Nesse dia eu falei a coisa mais escrota que eu já falei na minha vida inteira: “Se é assim bem que aquela família de merda podia morrer toda num desastre. Aí o Khieu vinha viver comigo porque não ia precisar mais do merda do Azevedo.” O Wagner ficou puto pra caralho. Sabem o que ele fez? Me pegou pelo braço com uma puta força e entrou comigo na primeira Igreja que a gente passou. Entramos ele me forçou a me ajoelhar dizendo: “Pede perdão a Deus pelo que voce disse, porra.!” Eu que já estava arrependido pra caramba do que tinha dito pedi perdão, falando em voz alta para o Wagner ouvir. De outra vez o Wagner me falou: “Amanhã o Khieu faz vinte anos.” Eu fiquei feito um doido: “Pelo amor de Deus, Wagner, dá um jeito da gente estar junto amanhã. Pelo amor de Deus!” Ele respondeu: “Não dá porque o Azevedo vai dar uma festinha para ele. Vamos todos subir para Itaipava e, além da festinha, vai rolar uma surubazinha.” Chorei pra caralho, o Wagner me consolou como pode e a coisa ficou nisso. Finalmente um dia o Wagner me falou: “Amanhã vai dar para vocês se encontrarem, mas não vai ser em banheiro de cinema, vai ser numa cama de verdade.” Eu mandei: “Como assim?” Ele explicou: “Vai ser no apartamento de um amigo meu que está me devendo uns favores. Mas não se iluda, vai ser pelo tempo que dura um filme, nem um minuto a mais. Se vocês não descerem em duas horas eu subo, ponho a porta abaixo e arranco o Khieu de lá.” E assim foi. O que eu posso dizer foi que nós fodemos tanto, nos amamos tanto, metemos um no outro tanto que eu passei três dias de rabo ardendo e o Khieu também. Mas eu pude olhar para o Khieu pelado, pelado mesmo, nu como veio ao mundo e ele estava mais lindo e tesudo do que nunca.
Para encerrar o capítulo: Um dia o Azevedo morreu. Ele era um dos passageiros daquele avião da Air France que se estabacou no meio do Atlântico. O Khieu estava livre! Mas para ele ficar comigo foi muito complicado e isso eu vou contar depois.
FIM