1 - Na portinha
Essas não são memórias completas de um travesti. Não vou contar as histórias todas porque passei, mas também não quero iludir ninguém. Ser travesti é barra pesada, é fogo, é ser discriminada por todos, mesmo pelos homossexuais e pelos machos que te taram, e até pelos que te comem. Isso tudo é verdade. Apanhei, fui escravizada, me droguei e também fui drogada a força, fui pedaço de carne pra vontades nojentas de um monte de gente, mas nada disso me interessa contar. Só faço esse aviso porque, de propósito, vou contar aqui só aquilo que quero contar, o lado bom e gostoso, o erótico, o tesão, o sexo selvagem, os raros carinhos, o pouco namoro, os sonhos. os muitos gozos. Então, olha, é contar que todo mundo tem que saber que esse mundo é brabo, mas que aqui vou contar o seu lado côr de rosa.
Fui criada pela minha Avó. Meus pais morreram em acidente de carro quando eu tinha uns cinco anos, e eu era filho único. Por brigas de família, acho que pioradas pelo trauma do acidente, a família de meu pai nunca mais me visitou. Minha Avó materna, viúva nova ainda de funcionário público, morava sozinha num apartamento de dois quartos e dependências na Rua Santa Clara, em Copacabana, num pequeno prédio de seis apartamentos, com saída para a escadaria que leva a várias casas no alto, nos fundos de um casarão, e fui morar com ela e com as roupas da minha Mãe que ela guardava, e que eu aprendi a usar bem cedo ainda.
Tem um monte de coisas sobre a minha Avó, mas o que ficou mesmo é o quanto ela era sensual. Foi vendo seus gestos, sua delicadeza, o quanto ela era fêmea e puta, que me espelhei nela desde o início. Minha Avó tinha 49 anos quando fui morar com ela, e me lembro dela transando em casa com homens até quase uns 70. A vizinhança, claro, a odiava, mas ela não tava nem aí, e nem se reprimia. Eu e a Ceição, a empregada de confiança de minha avó, que a acompanhou a vida toda, cansamos de ouvir ela dando, gemendo, gritando e gozando no pau dos homens que levava para casa. Claro, aquilo me ouriçava muito. Acho que assim, muito antes de ir pra escola e trocar impressões com os outros, eu aprendi que dar era uma coisa boa pelo exemplo da minha Avó.
Os machos que comiam minha Avó não eram namorados, nem amantes, e muito menos michês ou garotões. Minha Avó nunca pagou um garotão, embora tenha sim pegado uns filhos de amigas, até porque nós não tínhamos grana para isso. O apê era pequeno mas dela, e a pensão era magrinha pra pagar o condomínio, a Ceição e as contas da casa e minhas. Eram homens que ela pegava, conhecia, e que aproveitava. Não se deixava dominar por nenhum deles, e sempre que algum tinha ciúmes minha Avó dava um pé na bunda e ficava um bom tempo sem dar para ele. Ela mesma falava que homem era tudo camarão: como era gostoso comia o corpo, mas tinha que jogar a cabeça fora porque só tinha merda.
Eu quando ainda era menino tinha cabelos pretos e olhos quase pretos de tão escuros, e sempre tive a pele branquinha e delicada. E sempre fui gordinha, tipo fofinha gostosa, mas quase sem barriga. E esse sem barriga não é de graça não, pois desde criança até hoje me custa muito não ficar barriguda. Branquelinho, gordinho, delicado, pele clarinha, e morando no Rio, ficava muito assadinha mais da metade do ano com o suor que me irritava. Tinha irritação sempre no reguinho e nas dobrinhas das virilhas, onde ficava vermelho ardia e coçava sempre. Não bastasse ser delicadinho, na escola todo mundo me sacaneava porque vivia coçando o reguinho por causa disso.
Quando chegava da escola ia direto pro banho. Sempre demorei horas no banho, e isso também era um problema prá Vovó. Mas ela tinha a maior paciência comigo. Eu saía do banho enroladinha na toalha na altura dos peitinhos, como via ela fazer, e ela me fazia deitar na cama prá ela botar uns chumaços de algodão com óleo, ou com polvilho Granado, nas minhas virilhas e no reguinho. Esse gesto, de sair do banho e deitar na cama antes de me vestir, repito até hoje. Mas o que queria contar é que ela me fazia esses cuidados quase todo dia até uns dez anos de idade, e nessas horas brincava com meu saquinho e luluzinho dando beijinhos e botando na boca. E também me prendia um algodão bem na portinha do cuzinho. Lembrar isso é importante porque esses carinhos me davam muito prazer, embora na época eu nem ficasse com o lulu durinho, e eles também me marcaram de um jeito que só percebo hoje, boneca quarentona, olhando pra trás.
Era também peladinha no banho, aí pelos 8 ou 9 anos, que eu brincava de me transformar em menina. Tenho a testa, o triângulo abaixo da cintura e acima do meu toquinho, muito gordinha e alta, e ficava brincando de enfiar o meu lulu pelo avesso, para dentro da testa, coisa q consigo fazer até hoje com ele mole. Ficava brincando de ser menina, e menino, e nem sonhava o quanto isso me seria útil - kkkkkk.
Depois que me vestia, almoçávamos as três, e dormíamos eu e Vovó juntinhas, na cama dela. Antes de dormir a gente sempre se agarrava um pouco, de brincadeirinha. As primeiras vezes que fiquei com o lulu, meu toquinho, durinho, foi me esfregando nela nessas horas. Depois, na maior parte dos dias, minha avó saía pra bater perna, como dizia, e muitas vezes ia à praia no fim da tarde, seu horário preferido. Eu ficava com Ceição. Era quando eu pegava as roupas da minha Mãe, e da minha Vó também, maquiagem, e me vestia e brincava de dar shows. Nossa sala tinha um estrado com uma marquesa antiga num canto, que eu usava como palco. Via antigos musicais na sessão da tarde, e imitava as cantoras. Não lembro de motivo, nem quando comecei a vestir roupas de mulher, mas deve ter sido aí pelos oito anos, mais ou menos, e isso me dava muito prazer também.
Com o passar do tempo, sempre que voltava da escola colocava roupas que me deixassem sentir menina. Camisetinhas de alça e shortinhos fininhos, e comecei a usar calcinhas também. Na época tava na moda uns tamancos que era bisex, e eu adorava ir na rua comprar alguma coisa de tamanquinhos, shortinhos finos sempre curtinhos e camiseta.
Não lembro que idade tinha quando tive a primeira pegação com um menino da escola. Lembro que estávamos eu, Moisés, que era um outro menino viadinho, e o Tinoco, conversando na escadaria perto do meu prédio, de tarde. O Tinoco era um mulato claro, de cabelo sarará, que era de umas duas séries na nossa frente na escola, mas todo mundo gostava dele, e nós também, e era comum brincarmos juntos. A gente, até então, se dava bem, mas naquele dia acho que o Tinoco tinha metido na cabeça que queria comer nós dois.
Ele foi bonzinho, como sempre era, mas em certo momento propôs uma brincadeira de todo mundo botar o pinto para fora. Nós três tínhamos pintinhos, acho que o dele devia ser poquinha coisa maior, mas eu e o Moisés morríamos de vergonha, mesmo o Moisés já tendo batido uma punheta pra um outro menino, como soube depois. O Tinoco então colocou o dele para fora, e estava molinho e era pequeno. Me perguntou o que eu faria e eu acho que por causa dos carinhos da minha Avó falei na hora: "Que bonitinho! Deixa eu dar um beijinho?"
Aquilo assustou os dois, mas pra mim era normal.O Moisés, mais safado que eu, que era bobinho ainda, falou: "Ih, Tinoco, o Nandinho nem sabe, é sem maldade. Não faz isso com ele não!"
Mas o Tinoco tinha se ouriçado com o meu pedido, e me puxou pelo braço. Segurei sua perna e dei uns beijinhos bobos no seu pauzinho, que começava a endurecer e mudar. Foi a parte gostosa do dia, embora muito rápida. Ele então disse que eu não sabia brincar disso ainda, mas que a gente podia brincar de outra coisa, que era sanduíche americano. Eu não tinha a menor idéia do que tava acontecendo, mas tava gostando, e falei que topava, excitadinha.
Numa das laterais da escadaria tinha um prédio com pouca gente morando, e um muro entre ele e a escada, e abaixo do muro de um lado não tinha casas, e do outro quase não dava pra nos ver. O Tinoco me levou pra lá, me pediu para ficar segurando o muro com as duas mãos e empinando o bumbum para trás, e me agarrou por trás e ficou sarrando. Eu não tava entendendo nada, e achava estranha a brincadeira, mas do meu lado o Moisés começou a se punhetar com a mão dentro do short, vendo a gente, e o Tinoco gemia no meu ouvido dizendo que minha bunda era muito gostosa, e que ele ia gozar nela. Eu nem sabia o que era gozar. Ficamos assim uns minutos até que ele, que ia me agarrando cada vez mais forte, e se esfregrando na minha bunda grande cada vez mais rápido, disse que estava gozando. Não lembro de ter sentido nem o pau duro dele na minha bunda, por cima dos shorts, nem acho que ele tenha gozado de verdade. O Moisés, do nosso lado, terminou a punheta sem gozar também. Mas o Tinoco me beijou a nuca, beliscando meus peitinhos e me arrepiando muito, e disse que tinha adorado,e que eu era muito gostosa. Era a primeira vez que me chamavam no feminino e eu adorei, assim como adorei o Tinoco ter gostado. Era só o ínício de uma longa vida de viadagem, que vou dividir com vocês!