[Caro leitor, para melhor compreensão do conto sugiro que leia os contos: “O começo”, “O começo II”, “Entre nós” e “Mariana”, pois esse conto é uma continuação dos anteriores. Uma ótima leitura e espero que gostem e, por favor, comentem isso me ajudará a melhorar os próximos contos.]
Às vezes eu penso que vivemos em um sonho, um sonho frio em um lugar distante, onde tentamos falar de amor sem que as palavras tenham que ser ditas. Tenho a impressão que esse sentimento tão procurado por todos os seres humanos também não passe de um sonho, de uma utopia que criamos para não nos sentirmos vazios.
Não gosto de falar e nem de escrever sobre amor, me sinto inapto para isso. O amor não é algo que me remeta a boas lembranças ou a alegrias. O amor me faz lembrar tristezas e decepções, e de dor, muita dor, não a dor como a conhecemos, no sentido físico, mas a dor dos sentimentos, da alma ou como queiram chamar. Antes de aprendermos a amar temos que aprender que o amor machuca, dói e faz sofrer e se não estivermos prontos para isso, não estamos pronto para amar.
Não sei direito o que é o amor, mas eu classificava o que eu sentia pelo Pedro como amor e lembro-me que senti a minha alma se partir em mil pedacinhos quando percebi que o que ele sentia por mim não era o mesmo amor que eu sentia por ele. Mas seria isso possível? Existir vários tipos de amor? Acho que sim, pois o amor que eu sentia por ele é diferente do amor que eu sinto pelos meus pais.
Sim eu sei, estou parecendo melancólico demais para estar escrevendo em uma página para contos eróticos, mas eu sempre fui melancólico e talvez isso afaste as pessoas de mim, talvez essa tristeza que tenho em meu interior assuste quem tenta se aproximar e isso me faz mal, porque sou um adolescente e quero ter pessoas perto de mim, não muito perto, apenas o necessário para não me sentir muito só.
Dias atrás eu vinha da escola pensando na aula de filosofia que tinha acabado de assistir onde meu professor havia dito algo que me fez refletir, ele disse que “as pessoas nascem para amarem e serem amadas”. Isso me pareceu romântico o bobo na hora, mas indo para casa isso me veio à mente e me perguntei “será que todos temos o direito de amar?” As pessoas dizem que amam alguém tão facilmente, será que sabem o que é o amor, ou apenas dizem isso de forma retórica?
Perguntas, perguntas e mais perguntas, tenho milhares delas na cabeça e as respostas são escassas e insuficientes. Por muitas vezes me pego pensando nas duvidas que me assombram e em meus devaneios tento formar o tipo certo de amor, pois tenho pensado muito nisso ultimamente.
E nesse dia mesmo dia enquanto voltava da aula parei na pracinha que eu e o Pedro costumávamos nos encontrar, sentei no banco que sentávamos para conversar e uma solidão profunda se espalhou pelo meu corpo, senti como se essa solidão tivesse um peso real, e ali fiquei com minha companheira, pensando, não percebi o tempo passar e só voltei à realidade quando alguém falou comigo, um rapaz alto creio que 1.80cm cabelos pretos moreno claro uns vinte e poucos anos.
“Posso me sentar aqui?” perguntou ele pela segunda vez, respondi que sim com a cabeça, ele sentou-se e não falou mais nada, apenas olhava para cima contemplando os pássaros, as arvores e tudo que se podia contemplar naquele lugar. Eu fiquei constrangido, pois não o conhecia e havia muitos outros bancos ao redor, ele poderia ter escolhido outro, e não sabia se eu deveria ficar ou ir embora.
“Não é magnífico ver como a natureza é simples e maravilhosa?” disse o desconhecido interrompendo a batalha que acontecia em minha mente entre ficar ou não. Eu o olhei e disse que era esplendido, não tinha certeza do que ele estava falando então achei que isso bastaria.
Ele me olhou de forma divertida e disse: “Por que um garoto tão jovem está com um olhar tão triste?”. Eu não estava entendendo nada, quem era ele e por que estava me tratando com tanta intimidade?
Eu não o respondi, apenas olhei para o chão, ele riu e disse: “Me desculpe, sou mesmo muito expansivo, me chamo Caio, e você?”. Disse meu nome ainda desconfiado, e ele percebendo disse: “não se assuste, nós não nos conhecemos, ao menos você não me conhece, por vários dias tenho percebido que você vem a essa praça e fica sentado nesse banco absorto em seus pensamentos, sem prestar atenção em mais nada, tanto que nunca reparou minha presença.”
Realmente eu nunca tinha reparado nele por ali, o que não me surpreendia, pois eu andava tão mergulhado em mim mesmo que tinha passado a não reparar mais em minha volta. Mas ele reparara em mim, havia me observado. Por quê?
“Pensar muito não é bom sabia? Isso pode nos fazer perder as melhores coisas da vida.” Disse o Caio de forma simples e afável. Nesse momento já começava a me sentir mais a vontade e ele prosseguiu: “Bem como já disse, me chamo Caio, tenho 24 anos e trabalho em uma revista de variedades, faço a parte de arte e curso jornalismo. E quem é você?” perguntou ele me olhando fixamente.
“Julian, tenho 16 anos sou estudante do 3º ano médio.”respondi ele de forma rápida.
Ele voltou a contemplar a paisagem e ficou em silencio com por alguns segundos, “Julian. Agora sei seu nome” disse ele repentinamente. Eu simplesmente o olhei por alguns segundo e então levantei-me. Pedi licença e disse que estava na hora de eu ir.
“À vontade Julian, nos vemos amanhã?” essa pergunta me pegou de surpresa e não tive resposta para dar a ele, apenas sorri de forma desajeitada e comecei a me afastar. “Ei Julian...”, me chamou ele quando eu já estava a uns passos de distancia, “...vou te esperar aqui amanhã” concluiu ele quando o olhei.
Quem era ele? E por que me tratava daquela forma?
Eu não sabia, mas estava curioso. Queria saber quem era aquele desconhecido simpático e misterioso e já tinha decidido voltar no dia seguinte.
Após chegar em casa tomei um banho, meu pais me perguntou onde eu estava e por que havia demorado tão para voltar de escola, respondi que estava caminhando um pouco e não percebi o tempo passar, jantamos e eu fui para o um quarto.
Deitei-me na cama e dormi, dormi como há dias não dormia e ao acordar eu estava descansado e ansioso para que as horas passassem rapidamente para eu poder ir a pracinha.
Para a minha infelicidade a aula da matemática do professor Afonso pareceu durar 3 dias e quando soou o sinal eu sai quase que correndo e na porta trombei com alguém, e para minha surpresa era o Pedro “opa ta indo onde com tanta pressa” perguntou-me ele. Eu e o Pedro nos tratávamos cordialmente, ele estava com a Marina e eu estava machucado por isso, mas jamais deixaria que isso transparecesse, sorri rapidamente para ele e o desviei.
Ao chegar à praça percebi que o Caio já estava lá. “Eu estava com medo que você não viesse, que bom que veio” disse ele. Eu o cumprimentei e sentei-me, fiquei um tempo em silencio e então do nada perguntei “o que você quer?” bem assim, sem rodeios ou preparações e eu me assustei comigo mesmo, porém ele riu de forma natural e respondeu: “quero conhecer você”, disse ele fazendo uma pausa e me olhando depois prossegui: “mas não conhecer no sentido comum da palavra, quero te entender e compreender, quero saber quem é o garoto dos olhos tristes” disse ele me olhando, senti que ele estava me instigando a ter uma reação, mas eu não tive, apenas permaneci sustentando o olhar incisivo dele.
Estávamos sentados no mesmo banco, ele se aproximou e senti seu braço tocar o meu, foi uma sensação estranha e agradável. “Somos iguais”, disse ele, eu não entendi o que ele quis dizer com isso. O olhei e disse: “não sei porque achas que somos iguais, não vejo nada sequer parecido em nos dois” ele tinha o rosto sereno e alegre, então segurou minha mão, eu me retrai instintivamente e tentei puxá-la, porem ele a reteve dizendo “ nossos sentimentos são iguais, e isso é o mais importante, você está fascinado por mim e eu por seus sentimento.” Ele falava de forma dúbia, eu não sabia o que pensar, estava confuso.
Ele estava segurando minha mão ainda, e em um movimento suave e rápido senti seu lábios nas pontas dos meus dedos, “tens os dedos longos, ótimos para tocar piano, e estás com as mãos geladas. Está nervoso?” perguntou ele.
“Não” menti. Ele sorriu para mim, e eu percebi que estava mesmo fascinado por ele,era enigmático e isso me atraia. Ele me olhou e disse: “tenho que ir, tenho uma dissertação para fazer” tirou algo do bolso e me entregou. “Esse é o meu numero, quando quiser falar comigo pode ligar, a qualquer hora e eu atenderei. Basta ligar”
Após dizer isso levantou, eu o olhei, seus olhos eram indecifráveis, ele me encarou de volta por mais alguns segundos viro-se e se afastou.
Tudo mudaria novamente em minha vida, era apenas uma questão de tempo.
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