O GÓTIGO DE NARCISO

Um conto erótico de ESPELHOS
Categoria: Homossexual
Contém 891 palavras
Data: 30/08/2010 14:22:20
Última revisão: 30/08/2010 14:24:43

O GÓTICO DE NARCISO

Tudo começou nos espelhos...

Assim como a vida em si começa no ventre da mãe, que com seus olhos cintilantes e sorriso receptivo refletem o amor, o carinho, o encanto... Encantamento... Essa palavra é a fonte de tudo o que vem de mim... Quem disse que os espelhos são frios e sem vida? Quem disse que não posso tocar nos meus reflexos quando deles me aproximo? Sou fascinado pelo meu reflexo, sim! Porque eu sou ele, ele é eu... Eu sei muito bem a quem e o que miro ao olhar para os espelhos, desde que descobri a inebriante fascinação do meu reflexo. A minha imagem refletida jamais me pareceu um estranho de mim, porque sempre fui apaixonado por mim mesmo... Eu me envaideço na frente dos espelhos porque, olhando de relance para trás, flerto com a minha própria imagem. Um flerte enamorado de mim mesmo, onde tento elucidar os mistérios do eu... Um eu que me atrai, que me seduz...Às vezes pode até mesmo se afigurar como um estranho de mim, mas é justamente esse estranho que arregaça e expõe a minha verdadeira personalidade, da mesma forma em que se arregaça o prepúcio de um pênis, expondo a glande... - A parte mais tórrida e sensível do corpo masculino... E entre a morbidez e a admiração eu me pergunto: -Quem te ensinou a sorrir com tanta graça e beleza, a ponto de ver refletido na tua face, as luzes do paraíso? Quem te ensinou a olhar com esses olhos tão penetrantes, a ponto de ver as profundidas abissais do auto-erotismo à flor da pele?... O meu coração é a terra adubada na qual a semente do amor próprio fora plantada; e esse amor se apossou de todo o meu olhar, de toda a minha alma, que identificada e se sentindo bem encarnada, passou a amar o corpo encarnado e de todas as minhas partes íntimas... Não!... Eu não estou perdido por só ter olhos para mim! E jamais fui consumido pela inveja da constante comparação com os outros, porque a comparação para mim nunca existiu. Eu vivencio a minha idade com a beleza dos meus dias.

E foi assim... Naquela tarde sombria, sem a luz do sol, sem o brilho do dia, que resolvi me despir de toda indumentária e ornamentos, para me deliciar com o fascínio da minha imagem refletida no espelho. Acaricei meu rosto, meus lábios, meus mamilos, meu umbigo, minha virilha... Meu pênis!

Lubrifiquei, então, minhas mãos... E untadas de óleo perfumado, expus a minha glande massageando-a... Ao mesmo tempo em que dedicava carinho tão suave e plural aos meus testículos, entreguei-me à contemplação do intumescimento... Meu pênis já não era mais um pênis, era um falo... Um Phallus... Um Fascinum... Um ícone sagrado! Tão duro e pulsante... Uma fonte prestes a jorrar o doce deleite do prazer e da degustação! Detive-me! Não... Ainda não era hora de aspergir tanta abundância; e por mais que quisesse saborear tanta viscosidade, preferi a tortura que oscila entre a plena manifestação das glândulas sexuais e o gozo em si... E com os dedos ainda mais oleosos, massageei simultaneamente, com movimentos circulares, o meu umbigo e a glande do meu pênis. Um prazer erótico-pornográfico perturbador... E delicadamente balcuciei: Eu me amo... Eu me adoro!.. Não preciso de você... Não preciso “do nós”... Não preciso “do vocês.”.. Eu necessito de mim! Eu e meu corpo!... Eu e meu pênis!.. Eu não quero “vocês”!... Eu não desejo o doce amargo do encontro-tato-penatração de corpos... É imundo... É nojento!... Eu me basto!

Não... Eu não sou egoísta, nem tão pouco detenho-me às amarras da preocupação comigo mesmo: Eu simplesmente me amo... E me amo a tal ponto de me usar como ponto de referência em torno da qual toda a minha existência se organiza, apesar de ser consciente de que não sou o único ser vivente e de que o mundo não foi construído somente em benefício de mim... E Mesmo com toda essa consciência, eu prossegui abarcado de afetos e emoções por mim mesmo... Longe de estranhamentos e de falhas de adaptações... Apenas me recuso a ver o mundo de outro modo em que não seja eu mesmo o próprio ponto de vista! Eu me delicio com a profusão de minhas atitudes caracterizadas pelo meu extremo individualismo... Não vivo do passado, nem tampouco me preocupo com o futuro... Eu sou Eu! Adulto... Desenvolvido... E altamente auto-erotizado! O meu altar é meu corpo e a beleza que nele vejo refletida, e os meus olhos são os súditos que revereciam tamanha devoção.

Penso somente no meu corpo e no meu reflexo com extrema satisfação; e não preciso investir na libido dos outros para satisfazê-los e me satisfazer, já que há muito tempo encontrei a satisfação em si dentro de mim mesmo... Eu, somente eu deve existir! E dentro dessa máxima jamais me preocupei com o processo gradual e ascendente da destruição do outro(s), me proibindo de qualquer relação afetiva-sexual com o mundo exterior. E entre o narcisismo triunfal e o libidinal, eu ergo o meu pênis entusmecido diante do espelho, e declaro: Eu sou poderoso!

E na total entrega desde o deleite da contemplação do meu corpo até a ejaculação do meu sêmen, eu provo e degusto o meu licor precioso dizendo: Eu sou somente meu... E de mais ninguém!

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